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História Hades (Camren) - Atitudes Sangrentas


Escrita por: lmfs13

Capítulo 25 - Atitudes Sangrentas


Quando amanheceu em Hades, eu não estava preparada, e MGK também não. Vozes do corredor quebravam o silêncio e nos tiravam de nosso estado, parecido com um transe. Fiquei surpresa ao ver que não tinha pregado os olhos a noite toda. Ainda estava sentada sob os cobertores, tensa, os joelhos flexionados contra o peito. MGK levantou-se do sofá, olhando para a porta com uma expressão ameaçadora.

— Eles chegaram — disse com um tom de voz sombrio.

Quando a porta se abriu, vimos Diego, Asia e outros demônios que reconheci vagamente. Nada menos do que quatro guarda-costas enormes os acompanhavam.

— Vocês trouxeram reforços, não é? — disse MGK, com os olhos brilhando de fúria.

— O Grande Pai imaginou que vocês pudessem resistir. — Diego lhe deu um sorriso amarelo e se virou em minha direção.

— Levem-na!

Os guardas enormes entraram no quarto, e logo senti suas mãos grandes em meus braços, arrancando-me da cama com facilidade, como se eu fosse uma boneca de pano. Ainda estava descalça e de camisola. Lutei quando eles amarraram meus braços com uma corda e a usaram para me arrastar quarto afora.

— Não a machuquem! —MGK deu um passo em minha direção, e os outros demônios atacaram, segurando-o de imediato.

Foi assustador ver os próprios irmãos e irmãs se voltando contra ele com tamanha rapidez. No caos, MGK desapareceu de vista, e só consegui escutar um coro de gritos. O medo estava começando a me dominar, e eu não conseguia parar de tremer.

— Mila! — Escutei MGK me chamando, a voz tomada de desespero. — Mila, não permitirei que eles façam isso! — Mas eu não acreditava naquilo e senti que ele também não. Não havia convicção em sua voz.

Os guardas me arrastaram de qualquer jeito pelo corredor e foram para a recepção. Os outros nos seguiram, conversando casualmente. Quando olhei para Asia, ela piscou para mim. Na recepção, Tucker apareceu de repente, com o rosto abatido. Percebi, pelo seu olhar assombrado, que ele já havia recebido a notícia. Tentei não olhar para ele quando passamos. Não queria fazer com que ficasse ainda pior.

— Mila! — gritou, quando a procissão passou por ele. Saltou, tentando passar pelo grupo de demônios para chegar até mim. Nash estalou os dedos, e, com um barulho forte, as pernas de Tucker se encolheram. Ele gritou, e escutei seus ossos se quebrando quando ele caiu no chão. Tentei me virar para olhar para ele enquanto me levavam pelas portas giratórias de vidro.

— Tudo bem, Tuck — disse. — Ficarei bem! — Olhei com fúria para Nash, que caminhava ao meu lado. — Cure-o — pedi com a voz fraca. — Sua vingança contra mim nada tem a ver com ele.

— Você não está em condições de fazer exigências — respondeu Nash, animado.

Uma frota de Escalades pretos esperava por nós no túnel fora do hotel. Fui empurrada bruscamente para dentro de um deles, o da frente, e caí sentada entre Asia e Diego. De perto, eles cheiravam a fumaça de cigarro, bebida alcoólica e perfume forte. Tentei acalmar a respiração, dizendo a mim mesma que não ia morrer. Alguma coisa aconteceria, alguém viria me salvar. Isso tinha que acontecer.

— Leve-nos ao Nono Círculo — disse Diego ao motorista. — E pegue a estrada de trás.

— Pelo menos você vai conseguir ver a casa do Grande Pai — disse Asia. — Que tratamento VIP não é?

Mordi o lábio e não respondi. Tentei me concentrar no deslizar do carro enquanto ele passava pelos túneis subterrâneos cheios de buracos de Hades. O medo havia subido da barriga para meu peito e passava pela garganta, interrompendo o fluxo de ar. Engoli em seco, determinada a não lhes dar a satisfação de me verem descontrolada. Para chegar ao Nono Círculo, tivemos que viajar mais a fundo e, quando os carros pararam, vi que estávamos num grande e antigo anfiteatro no centro da Terra, onde havia areia vermelha. O local estava preparado como se toda a população de Hades tivesse sido convidada para testemunhar aquele acontecimento importante. Lúcifer e os outros sete Originais ocupavam o camarote na fileira mais alta, onde assistiam aos movimentos com atenção, como se esperassem por um show. Empregados humanos enchiam as taças deles e lhes ofereciam pratos de comida. Numa plataforma elevada no meio da arena, havia uma estaca comprida de madeira. Sua base fora fincada no chão. Um monte de gravetos secos e palha foram organizados numa pirâmide ao redor da estaca. O material inflamável chegava à metade, onde calculei que ficaria a minha cintura. O executor não era uma figura medieval encapuzada como eu esperava, mas um homem de terno, as roupas tão antiquadas que poderia se passar por caixa de banco. Apenas o rosto pálido e encovado e os lábios sem cor faziam com que ele parecesse a morte em pessoa. Quando suas mãos magricelas me pegaram, senti arrepios, pois estavam geladas. Apesar de parecer fraco, eu não era páreo para a força que ele tinha. Desamarrou os meus braços e prendeu as minhas mãos para trás, de modo que fiquei presa à estaca. Fiquei imóvel enquanto ele amarrava cordas ainda mais grossas nos braços, na cintura e nos pés. Amarrava tudo com tanta força que as cordas marcavam e cortavam a minha pele.

Os gravetos e a palha tocavam meus pés descalços e meus tornozelos, e eu não conseguia me mexer nem um centímetro. A multidão observava os preparativos com uma ansiedade crescente. Tentei olhar para cima para evitar ver o que acontecia com o corpo. Mesmo assim meus pensamentos seguiram um rumo assustador. Quanto tempo levava para alguém morrer carbonizado? Minutos ou horas? O corpo queimava por partes, dos pés para cima? Será que eu desmaiaria de dor antes de minha pele começar a derreter? Quando se convenceu de que eu estava bem-amarrada, o executor recuou um passo para analisar o trabalho. Alguém na multidão entregou-lhe uma lata enferrujada de gasolina, e ele começou a despejar o líquido na palha. Senti o cheiro cáustico subir e fazer arder as narinas. Meu coração batia com tanta pressa que pensei que ele fosse explodir dentro do peito. O gosto metálico do medo encheu a minha boca, mas não gritei, chorei nem implorei por misericórdia. Minha mente e meu corpo estavam inquietos, mas não me permiti expressar o terror. O executor sussurrou no meu ouvido: 

— Isto é o que acontece a quem serve o mestre errado. O Céu faliu, você não soube? — Ele saltou da plataforma. 

Lúcifer ficou em pé, e a multidão calou-se no mesmo instante. Ele olhou ao redor por um momento, absorvendo tudo com os olhos, até os mínimos detalhes. Não disse nada, apenas ergueu a mão devagar, um sinal para que a execução começasse. Foi o gesto mais simples e casual, mas com ele a multidão gritou em polvorosa. O poder dele sobre aquelas pessoas era absoluto. Era assustador ver como todos o temiam e o adoravam. Quando pedia silêncio com um gesto, o resultado era instantâneo: qualquer som desaparecia, como se alguém tivesse apertado um botão. O ápice da ansiedade da multidão se deu quando o executor acendeu um palito de fósforo comprido, segurou-o por um segundo e soltou-o com um gesto teatral em cima do monte cheio de gasolina. As chamas se espalharam com rapidez. Em seu assento, vi um sorriso de satisfação no rosto de Lúcifer, enquanto MGK se debatia para fugir dos demônios que o seguravam. Asia mordia o lábio, apenas para controlar a animação.

As chamas cresceram ao meu redor como centenas de bocas iradas, rapidamente devorando os gravetos e a palha na base da estaca. Fechei os olhos com força, esperando pelo calor, pelo começo da agonia inevitável. Orei a Meu Pai não na esperança de ser salva, mas pedindo perdão por todos os meus erros. E então esperei que as chamas fizessem seu trabalho. Não senti nada. A tortura teria começado, mas eu estava chocada demais para perceber? Muitos minutos se passaram sem nenhuma mudança. Olhei ao redor e vi as chamas lambendo tudo em todas as direções... mas elas não me tocavam. As labaredas subiam dos dois lados de meu corpo. Eu, no entanto, não estava sendo incendiada. Nem mesmo um fio de cabelo estava chamuscado. Só havia uma sensação quente enquanto o fogo tomava o espaço ao meu redor. Minha carne deveria estar derretendo, mas o fogo se recusava a me prejudicar. Quando tentava me tocar, parecia quicar e arder em outra direção. Era como se eu usasse uma armadura invisível. Por um momento, pensei ter escutado um coral de anjos cantando. O som desapareceu num instante, mas foi tempo suficiente para eu saber que não fora abandonada. Foi preciso um tempo até os espectadores perceberem o que estava acontecendo. Então, os gritos de animação se transformaram em vaias de decepção. Alguns chacoalhavam os punhos para mostrar como se sentiam enganados. Na área VIP MGK havia parado de se debater e olhava para mim com surpresa. Lúcifer pareceu confuso por um momento e se levantou lentamente, seus olhos brilhando. Dentro do anfiteatro, todos começaram a cochichar. Não consegui acreditar naquilo. O Céu estaria me protegendo? Alguém domara as chamas ou meus próprios poderes me protegiam? Não fazia ideia, mas agradeci aos poderes superiores por salvarem a minha vida. Olhei para Lúcifer e percebi como ele se sentia humilhado diante de todos os reunidos. Ele queria demonstrar poder com a minha morte, mas, sem querer, eu acabei por colocá-lo numa situação difícil. As chamas pareciam diminuir ao meu redor.

— Solte-a — ordenou ele, com uma voz grave.

O executor obedeceu, subindo na plataforma, e usou um machado para cortar as cordas, quentes demais para serem tocadas. Quando me libertei, saí de perto do fogo totalmente ilesa. Ao me afastar, as chamas devoraram a estrutura de madeira, que logo virou cinzas.

— Que diabos está acontecendo? — Asia deu um passo adiante, mais irritada do que nunca. Ela se virou para olhar para MGK. — Ela deveria ter virado churrasquinho! O que você fez?

— Nada... — Acreditei ter percebido um tremor na voz dele. — Eu... Não sei o que houve.

— Mentiroso! — gritou ela.

— Silêncio! — Lúcifer ergueu um dedo cheio de anéis. — Arakiel não participou disso. Parece que o anjo está escondendo informações. Seus poderes são maiores do que pensamos.

— E agora? — perguntou alguém.

Os olhos azuis impassíveis de Lúcifer encontraram os meus, e dessa vez não desviei o olhar.

— Arakiel — disse ele, sem nenhuma expressão. — Faça a gentileza de acompanhar a Srta. Cabello às câmaras até decidirmos o que fazer com ela.

Aparentemente, as "câmaras" eram a versão do Inferno de uma cela de prisão, e, em comparação a elas, o hotel Ambrosia parecia o paraíso. Os guarda-costas me levaram para fora da arena e me colocaram dentro de um carro. Quando percebi, estava sendo empurrada para um espaço na parede, onde só eu cabia. Era feito de pedras rachadas, e barras de ferro enferrujadas guardavam a entrada. Quando me sentei, ralei os cotovelos na parede, e minhas pernas começaram a tremer cinco minutos depois. As câmaras eram totalmente escuras, mas eu conseguia escutar sons estranhos, como passos e cadeados de metal, além de gritos abafados de desespero. O cheiro de mofo era muito forte.

Quando os guarda-costas saíram, escutei a voz de MGK pelas barras. Apesar de mal conseguir vê-lo, percebi uma mistura de alívio e confusão na voz dele.

— Como você fez isso? — perguntou ele, sorrateiramente. Escutei o tilintar dos anéis quando ele envolveu as barras com as mãos. — Conte-me a verdade.

— Acho que não fui eu.

— Bem, não admita isso a ninguém, entendeu? — disse. — É a única cartada que nos resta.

— O que você vai fazer?

— Não sei ainda, mas falarei com meu Pai... Vou tentar convencê-lo a soltar você. Talvez as coisas sejam diferentes, agora que ele viu como você é especial.

Não respondi. Estava cansada demais pela confusão daquele dia.

— Deixe comigo — completou.

Alguns instantes depois, escutei quando ele se afastou e fiquei sozinha na escuridão.


Notas Finais


Alguem ajudou ou foi a própria Camz?
Já vou postar o próximo.


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