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História Hades (Camren) - Tédio no Tennessee


Escrita por: lmfs13

Capítulo 26 - Tédio no Tennessee


Sem MGK para me fazer companhia, só havia um jeito de esquecer o desconforto físico. Arranquei da mente todas as preocupações e me concentrei na projeção. Fechei os olhos com força, para meus pensamentos saírem daquele pesadelo. A transição ocorreu com facilidade, como mudar de canal. Senti uma rajada de vento e então tive a sensação de que meu corpo estava caindo como uma pedra quando surgi na forma de espectro. Antes de a escuridão dar lugar à luz, escutei uma voz, distante a princípio, mas cada vez mais próxima. Consegui ouvir o som familiar de um motor embaixo de mim e sentir o cheiro de couro misturado a sândalo. Teria reconhecido isso em qualquer lugar: era de um certo Chevy Bel Air conversível, de 1956. A tensão em meu peito se desfez de imediato, e respirei fundo, aliviada. Estava no carro de Lauren. Quando assumi minha forma astral, percebi que estava sobrevoando o banco de trás do carro, no espaço entre ela e Dinah. Elas estavam o mais distante possível uma da outra, olhavam a paisagem em silêncio pela janela. A tentativa de reconciliação de algumas horas antes fora apenas temporária. Ally e Normani sentavam na parte da frente, caladas, aliviadas por se afastarem de quaisquer conflitos. Ao observar a estrada do lado de fora, percebi que estávamos em território desconhecido. Elas já deviam ter saído de Venus Cove. Com certeza não estavam perdendo tempo.

— Estamos quase chegando — avisou Normani. 

Parecia uma mãe tentando acalmar as filhas excitadas. Escutar a voz dela trouxe uma onda de nostalgia pela vida que eu tinha antes de MGK aparecer e estragar tudo.

— Estamos quase atravessando a fronteira do Tennessee.

— Não sei por que não pudemos vir de avião como qualquer pessoa normal — resmungou Dinah.

— Não íamos atravessar um estado de avião — respondeu Ally com calma, apesar de eu achar que sua paciência estava chegando ao fim. 

Dinah se remexeu e cutucou a minha costela com o cotovelo. Foi meio desconfortável. Acreditei se tratar da força de seu corpo humano vivo colidindo em minha forma de espectro. Automaticamente, me afastei dela.

— Ai, sabia que não deveria comer todas aquelas balas no caminho — reclamou passando a mão na barriga. 

Ela vestia uma calça de moletom cor-de-rosa e uma blusa com capuz combinando. Os cabelos estavam presos num rabo de cavalo no topo da cabeça, e uma mala rosa-shock fora enfiada embaixo do banco diante dela. Não consegui conter um sorriso, já que Dinah diria ter se vestido adequadamente para a ocasião. Ninguém respondeu ao comentário dela. Acho que não havia muito a dizer a respeito de balas com a mente tomada de preocupação por sequestros demoníacos e sinais apocalípticos. O carro continuou pela estrada, e Lauren encostou a testa na janela. Parecia ansiosa, como se precisasse de algo além de esperar no banco de trás de um carro.

Olhei pela janela e observei a zona rural da Geórgia. Fiquei surpresa com sua beleza. A Terra parecia ter vida própria, e uma vegetação rica se espalhava diante de nós como um manto. Havia bordos vermelho-vivo em crescimento, formando dosséis que ofereciam sombra nos pontos em que seus galhos se uniam. Avistei asclépias e trevos-do-campo lilases pontilhando o veludo verde. Conforme viajávamos, vi a terra ser coberta por galhos de sicômoro.

O céu acima de nós estava limpo, apenas algumas nuvens espalhadas, como lírios sobre a superfície de um lago azul. As coisas pareciam mais simples na estrada, e me senti mais perto da natureza. Lembrei meu antigo lar no Reino. Algo naquele lugar me fazia ficar mais conectada a ele, como não me sentia havia muito tempo. Suspirei profundamente e Lauren, que se distraía com a paisagem, endireitou-se e olhou para Dinah.

— O que foi? — perguntou enquanto ela a fitava.

— Por favor, não faça isso — pediu Lauren.

— O quê?

— Não respire no meu ouvido desse jeito.

Dinah mostrou-se ofendida.

— Você acha que eu sou maluca? Por que sopraria no seu ouvido? 

— Eu disse respirar.

— Ah, entendi. Quer dizer que não posso mais respirar?

— Não foi isso o que eu disse.

— Espero que saiba que morrerei sufocada se não puder respirar.

Lauren inclinou-se para a frente. 

— Pessoal, por favor, quero dirigir — implorou. 

— Uma de vocês pode ficar sentado aqui atrás para ser torturado. 

— Nem estou falando! — protestou Dinah, com raiva.

— Está falando agora — resmungou Lauren.

— Se tivéssemos ido de avião, já estaríamos lá.

— O piloto teria derrubado o avião cinco minutos depois de você começar a falar.

—Ainda assim seria mais seguro do que ficar dentro desta bomba.

— Ei! — Ela sempre se irritava quando as pessoas criticavam o carro. — Ele é vintage.

— É um monte de ferro-velho vintage. Não sei por que não pegamos o jipe.

Eu estava me perguntando a mesma coisa. Acho que pegar o Chevy tinha sido ideia de Lauren. Talvez isso a conectasse mais a mim. Tínhamos muitas lembranças daquele carro, e talvez ela quisesse levá-las consigo ao sair da cidade para deixar sua vida para trás. Mas Lauren não contaria isso a Dinah. Então...

— Você não saberia o que é um carro clássico nem se caísse em cima de um.

— Babaca — murmurou ela.

— Cabeça de vento.

Ally se virou e olhou para as duas.

— Vocês acordaram de mau humor hoje? Parem com isso.

Dinah ficou envergonhada, e Lauren suspirou alto e afundou-se outra vez no banco de trás. Alguns minutos de paz transcorreram até Normani parar num posto de gasolina. Lauren saiu correndo para dentro da loja, antes mesmo de minha irmã desligar o motor. Pensei em segui-la, mas sabia que ela só passaria o tempo livre analisando chicletes e revistas antigas até ter que voltar para o carro. Dinah lhe lançou um olhar zangado quando saiu para procurar o banheiro. Acompanhei minhas irmãs quando se aproximaram de um homem, cujo avental estava manchado de óleo, que olhava dentro do capô de um caminhão enferrujado. Percebi que, apesar das manchas de óleo no rosto, possuía também olhos brilhantes e atitude alegre. Mastigava tabaco, e uma canção antiga de Hank Williams tocava num rádio portátil ali perto.

— Olá — Ally tentou se apresentar. — Que belo dia hoje.

— Olá — respondeu o homem, que largou as ferramentas para dar atenção total a Ally. — Com certeza. — Ele pensou em apertar a mão dela, mas voltou atrás quando viu suas unhas bem-feitas. 

De perto, vi seus olhos azuis bondosos e seu sorriso meio torto. 

— Prazer em conhecê-la. — A voz grossa se tornava melódica com o sotaque sulista. Era delicioso de escutar, e de todas as vozes do mundo a dele era a mais musical.

— Qual é o seu nome? — perguntou Normani, e Ally lançou-lhe um olhar. 

A mania que ela tinha de pular as amenidades às vezes tornava a conversa meio sem pé nem cabeça.

— Earl — respondeu o homem, passando a mão pela sobrancelha.

— Em que posso ajudar?

— Estamos procurando a abadia de Maria Imaculada no condado de Fairhope — disse Ally. — Você sabe onde fica?

— Com certeza, moça. Fica a mais ou menos 120 quilômetros daqui.

Lauren, que veio da loja participar da conversa, fez um rápido cálculo mental e suspirou.

— Que ótimo — murmurou ela. — Mais uma hora de estrada.

Ally olhou para ela sem dar muita atenção.

— Tem algum lugar onde podemos nos hospedar perto da abadia? — perguntou ela.

— Tem um hotel na estrada — respondeu Earl. Ele olhou para Aly de cima a baixo, de seu trench coat e botas de montaria até os cabelos loiros bem-arrumados. — Mas não é muito chique, não.

— Sem problemas — disse minha irmã. — Pode nos falar sobre a abadia? 

Earl pigarreou de leve e desviou o olhar, o que logo chamou a atenção de Normani.

— Ficaríamos muito agradecidas se você puder nos contar o que sabe — disse Normani numa voz cheia de charme. Ela sempre conseguia um efeito hipnótico com ela.

— Sim, sei uma coisa ou outra sobre o local — disse Earl, hesitante. — Mas não tenho certeza se vocês querem mesmo saber.

Minhas irmãs se inclinaram para a frente, curiosas.

— Pode confiar. — Ally o incentivou, sorrindo para o homem de modo a deixá-lo com as pernas bambas. — Ficaríamos felizes com qualquer informação que puder nos dar. Não conseguimos descobrir muito sozinhas.

— Não conseguiram porque tudo foi trancado por um feitiço — disse Earl, secando a sobrancelha de novo.

— Como assim? — perguntou Ally, franzindo o cenho.

— Trabalhando num posto de gasolina, acabo escutando certas coisas. — Earl continuou a falar num tom de conspiração: — Muitas pessoas vêm aqui e falam. Não que eu escute escondido, mas às vezes ouço coisas sem querer. Essa abadia sobre a qual vocês estão falando... Tenho uma sensação ruim em relação a ela. Há alguma coisa errada ali.

— Por que diz isso? — Normani o pressionou com a voz baixa e intensa.

— Costumava ser um local muito bacana — continuou ele. — Víamos as irmãs pela cidade o tempo todo, visitando pessoas e dando aulas de catecismo. Mas, uns dois meses atrás, houve uma tempestade de raios, a pior que já vimos. Depois disso, as irmãs não saíram mais. Dizem que uma delas ficou doente por causa da tempestade e não podia ser perturbada, por isso elas se trancaram dentro da abadia. Desde então, nenhuma alma nem entra nem sai dali.

— Como uma tempestade de raios poderia fazer alguém adoecer? — perguntou Lauren. — Não é possível, a menos que a mulher tenha sido atingida.

— Sim, não faz o menor sentido — respondeu Earl, balançando a cabeça com tristeza. — Mas passei pela abadia uma noite quando fui fazer uma entrega perto dali. Posso dizer que não havia nada de normal no que vi.

— Pode nos dizer o que viu? — Normani ficou tenso, e vi na expressão dela que já sabia a resposta e não gostava nem um pouco dela.

— Bem — Earl franziu o cenho e pareceu envergonhado, como se os outros fossem questionar sua sanidade. — Estava voltando para a cidade quando passei pelo lugar e pensei ter ouvido alguém gritar, mas não parecia um ser humano. Parecia um uivo de animal selvagem. Então, saí do carro, tentando decidir se deveria chamar a polícia, e vi que todas as janelas do andar de cima da abadia tinham sido cobertas e havia arranhões na varanda da frente, como se algo tivesse tentado entrar... Ou sair.

Ally virou a cabeça para olhar para Normani.

— Ele poderia ter nos alertado — sussurrou ela, e percebi que se referia a Miguel. — Estamos despreparados para isso. — Vi quando ela olhou para Dinah, que passava gloss nos lábios, usando a janela do carro como espelho.

— Sinto muito, moça, não quis assustá-la. — disse Earl depois de pensar um pouco. — Não sei onde estou com a cabeça.

— Não, fico feliz por ter contado — disse Ally. — Pelo menos sabemos o que esperar.

— Talvez você possa nos ajudar com mais uma coisa — pediu Normani com tom sério. — A irmã que ficou doente na noite da tempestade... Como se chamava?

— Acredito que seja a irmã Mary Clare — respondeu Earl com seriedade. — Uma pena. Ela era uma pessoa legal.


*** 


O resto da viagem foi mais tranquilo, enquanto Normani partia em direção ao hotel. Até mesmo eu sabia que elas não poderiam entrar na abadia sem uma estratégia. Para Ally e Normani, a fonte do problema na abadia era muito clara, mas a confusão de Dinah e Lauren estampava em seus rostos. O hotel se chamava Easy Stay Inn e ficava à beira da estrada principal, longe demais do centro da cidade para atrair turistas. Por isso, era decadente e precisava muito de uma reforma. Não havia carros no estacionamento e a placa de neon brilhava por alguns minutos e depois emitia apenas um ruído estático. Os tijolos marrons foram pintados de branco, mas a exposição ao tempo fez com que descascassem. O lado de dentro era um pouco melhor, com paredes escuras e carpete marrom. Num dos cantos do cômodo, havia uma TV ligada enquanto uma mulher pintava as unhas atrás da mesa da recepção, espiando uma reprise do Jerry Springer Show. Ficou tão surpresa com a chegada do grupo que derramou o esmalte, mas se recuperou depressa e levantou-se para receber os visitantes. Usava uma calça jeans e uma blusa justas. Tinha os cabelos ruivos ondulados e presos por uma tiara de flores. De perto, era mais velha do que aparentara a princípio. Num crachá torto, lia-se Denise.

— Posso ajudá-los? — perguntou, insegura, pensando que elas deviam estar perdidos e querendo informações. Minhas irmãs deram um passo para fazer as formalidades. Elas aparentavam, para a mulher, um casal lindo, perfeito demais para ser de verdade. Admito que as quatro pareciam fora de contexto ali. Encontravam-se próximas umas das outras, como um grupo de proteção, uma muralha contra o resto do mundo. Lauren agia cada vez mais como uma de nós. Costumava ser mais relaxada com outras pessoas, interagia naturalmente com elas, encantando-as. Naquele momento, parecia distante e reservada; de vez em quando, franzia a testa como se reprovasse algo que não conseguíamos ver. Minhas irmãs tomaram o cuidado de se vestir como viajantes comuns. Todos elas usavam óculos escuros para não chamar a atenção. Infelizmente, o efeito foi contrário. A recepcionista olhou para elas como se de repente estivesse diante de celebridades.

— Precisamos de dois quartos duplos para pernoitar — disse Normani, tensa, entregando à mulher um cartão de crédito dourado e brilhante.

— Aqui? — perguntou Denise, sem acreditar, mas logo reparou não ser muito profissional questionar. Ela riu com nervosismo. — É que não recebemos muitos hóspedes nesta época do ano. Estão aqui a trabalho?

— Estamos viajando de carro — explicou Normani de pronto.

— Pretendemos visitar a abadia de Maria Imaculada — disse Ally. — Fica perto daqui?

Denise entortou o nariz.

— Aquele lugar acabado? — perguntou com desdém. — Aquilo me dá arrepios. Ninguém vai lá há muito tempo. Mas não fica longe, é do outro lado da rodovia, descendo uma estrada de terra. Vocês não têm como vê-la daqui por causa das árvores.

Enquanto falava, olhava para Ally e Normani com inveja, e tentei enxergar tudo do ponto de vista dela. Denise se virou para Normani, com um leve toque de amargura na voz. 

— Então, você quer uma suíte de lua de mel para você e sua esposa? 

Escutei Dinah reclamar no sofá verde de vinil e sabia que ela estava tentando imaginar o que aquele hotel de beira de estrada — uma espelunca sem nenhum glamour — chamava de "suíte de lua de mel".

— Na verdade, não somos... — começou Normani, mas se interrompeu ao ver a esperança brilhando nos olhos de Denise. 

A última coisa de que ela precisava era perder tempo fugindo de outra mulher apaixonada. — Não somos exigentes demais — completou com cuidado. — Um quarto simples será o suficiente.

— E para vocês duas? — perguntou Denise, inclinando a cabeça na direção de Lauren e Dinah.

— Credo! — reclamou Dinah. — De jeito nenhum vou dividir um quarto com ela.

Denise olhou com simpatia para Lauren.

— Briguinha de namoradas? — perguntou ela. — Não se preocupe, querida, são os hormônios. Vai passar.

— Ela é a garota dos hormônios — replicou Dinah. — Humor totalmente instável.

— Vocês precisam de itens extras? — perguntou Denise. — Toalhas, xampu, acesso à internet?

— Que tal uma mordaça? — perguntou Lauren, baixinho, olhando para Dinah. 

— Puxa, que maturidade da sua parte — disse ela, irritada.

— Não vou falar sobre maturidade com uma menina que acha que a África é um país — disse Lauren.

— E é, sim — insistiu Dinah. — Assim como a Austrália. 

— A palavra certa é continente.

— Se eu escutar mais um pio de vocês duas... — avisou Ally.

Denise balançou a cabeça, divertindo-se.

— Não voltaria a ser adolescente nem por todo o dinheiro do mundo. — Sua tentativa de melhorar o clima foi ignorada pelas duas. Ela esperou que a tensão se desfizesse ou que alguém expressasse alguma frustração, cansaço ou irritação. No entanto, elas só ficaram olhando para ela, envolvidos demais nas próprias preocupações para dar atenção. — Bem, aproveitem a estadia — completou, hesitante.

Normani inclinou-se para a frente para pegar as chaves e o cartão de crédito que Denise lhe entregava. Os dedos dela tocaram a mão de Denise por acidente, e o corpo dela reagiu ao toque. Pareceu inclinar-se involuntariamente na direção dela e levou a mão à boca. Então se recostou na cadeira, como se um raio de energia intoxicante a tivesse deixado totalmente exausta. Ela fitou os olhos brilhantes de Mani e estremeceu.  Normani afastou os cabelos que lhe tinham caído no rosto e deu um passo para trás.

— Obrigada — disse, com educação, e saiu da recepção. 

Ally caminhou ao lado dela com a leveza de uma fada. Lauren e Dinah acompanharam sem dizer nada. Havia um restaurante ao lado do hotel, e, como estava quase anoitecendo, elas foram para lá. O local estava vazio, exceto por um caminhoneiro solitário sentado no canto mais distante e uma garçonete séria, que mascava um chiclete enquanto limpava os balcões preguiçosamente. Os dois olharam surpresos quando a porta se abriu e Normani e as outras entraram. O caminhoneiro não demonstrou curiosidade, cansado demais para observá-las em detalhes, e a garçonete a princípio pareceu chocada e, depois, irritada por ter que atender mais clientes. Assim como Denise, ela não estava acostumada a trabalhar muito.

Eu me demorei olhando ao redor: era simples, mas limpo e confortável. Havia um balcão que se estendia por uma parede, com banquinhos de estofado redondo e vermelho organizados em fila. O chão era de linóleo preto e branco, e as cabines revestidas de vinil vermelho. Havia um velho pôster de Elvis Presley na parede acima do balcão: ele sorria para nós, a jaqueta com a gola levantada e os olhos brilhantes. Recortes de jornal com notícias de Fairhope cobriam a parede mais distante do lugar. As quatro escolheram a mesa mais afastada de ouvidos curiosos e se sentaram. 

— Vocês vão me dizer o que está acontecendo? — perguntou Lauren, sem perder tempo.

— Miguel não nos contou muito — suspirou Ally. — Estamos entrando nisso sem saber muita coisa, por isso precisamos nos concentrar agora.

— Tem alguma coisa naquele convento... — comentou Normani como se pensasse alto. — Algo que ele quer que encontremos. Ele não nos mandaria até aqui se não fosse uma pista quente.

— Está dizendo que pode existir um... — Lauren hesitou e abaixou a voz — ... Um portal sobre o qual não sabemos?

— Mesmo que exista, não há como abri-lo sem um demô... — Normani se interrompeu ao olhar para o estabelecimento vazio. A garçonete estava ocupada conversando com um amigo ao telefone — ... Sem um demônio. Eles são os únicos que sabem abrir.

— Mas vamos à abadia esta noite? — perguntou Dinah, com voz de personagem de filme de espionagem. Ela se sentia rejeitada e queria contribuir de alguma forma. 

Lauren revirou os olhos para as palavras que ela escolhera, mas não fez nenhum comentário. Percebi que ela queria evitar conflitos.

— Vamos quando escurecer — respondeu Ally. — Não queremos que nos vejam.

— Não vai ser meio assustador à noite?

— Pode ficar no hotel — respondeu minha irmã com calma. — Mas o convento talvez seja menos assustador.

— Por favor, não mudem de assunto. — Lauren estava ficando irritada. — Vocês ainda não me contaram o que o cara do posto de gasolina disse. — Ela se inclinou para a frente e apoiou os cotovelos em cima da mesa. — O que ele falou a respeito da tempestade de raios?

Ally e Normani se entreolharam. 

— Talvez não seja o melhor momento para tratar desse assunto — respondeu Ally, olhando de relance para Dinah. — Na verdade, acho melhor vocês duas ficarem no hotel. Mani e eu saberemos lidar com a situação.

— Até parece que vou ficar no hotel — retrucou Lauren. — O que eles estão escondendo?

— Vocês não precisam se preocupar comigo — disse Dinah num tom prático que eu nunca escutara antes. — Já vi muitas coisas sobrenaturais e esquisitas. Consigo enfrentar.

 Normani colocou as mãos sobre a mesa e olhou para elas com atenção.

— Com certeza vocês nunca viram o que verão hoje.

— Mani... — disse Lauren. — Sei que está preocupada, mas estamos juntas nisso agora. Estou mais envolvida do que vocês pensam. Precisam confiar em mim... — Ela olhou para Dinah do outro lado da mesa e corrigiu-se: — Precisam confiar em nós.

— Tudo bem — cedeu Normani. — A tempestade de raios, o uivo, os arranhões na varanda... Tudo isso aponta para uma coisa.

— Nenhum humano poderia causar esse tipo de prejuízo sozinho — acrescentou Ally. — Estamos falando sobre freiras, irmãs que dedicaram a vida a servir a Deus. Pensem nisso o que poderia fazer com que essas mulheres se trancassem e ficassem distantes do mundo? O que poderia ser a pior coisa para elas?

Dinah parecia distante, mas Lauren pensava sem parar. Seus olhos verdes se arregalaram quando finalmente juntou as peças.

— Não! — exclamou ela. — É sério?

— É o que parece — respondeu Mani. 

— Então, nós lidamos com isso antes — disse Lauren. — Não foi exatamente o que MGK fez ano passado?

Mani balançou a cabeça.

— Aquilo foi leve se comparado a isto. Eles eram apenas espíritos mobilizados por um tempo para causar danos. O que acontece agora é o lance real e cem vezes mais forte... E mais perigoso.

— Por favor, alguém pode me explicar sobre o que vocês estão falando? — Dinah quis saber, irritada por tantas vezes ser ignorada.

 Normani suspirou fundo.

— Estamos lidando aqui com um caso de possessão demoníaca. Espero que estejam prontas.

O silêncio que se deu a seguir foi interrompido apenas pelo bater de um lápis contra um bloquinho de papel, enquanto a garçonete esperava para anotar o pedido.

— Em que posso ajudá-las? — perguntou. 

Ela era de uma beleza incomum, loira e com corretivo facial em excesso. Sonhava com uma vida muito mais glamorosa do que trabalhar num restaurante de fim de mundo sem nada para fazer além de observar os carros na estrada. Minha família continuou séria, e a garçonete ergueu uma sobrancelha, com impaciência. Dinah foi a primeira a voltar à normalidade e abrir um sorriso amarelo. 

— Vou querer um frango frito e uma Coca-Cola — pediu ela, com meiguice. — Pode trazer o ketchup?



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