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História Hades (Camren) - Mal me Quer


Escrita por: lmfs13

Notas do Autor


Tentem entender a Mani, ela não é igual a Camz

Capítulo 29 - Mal me Quer


Já era madrugada quando os quatro voltaram ao hotel Easy Stay. Apesar de Dinah estar menos pálida, parecia tomada pelo cansaço. Lauren também estava exausta e carente de sono. Apenas minhas irmãs pareciam tranquilas e calmas como sempre. O único sinal do estresse pelo qual haviam acabado de passar eram as roupas amassadas. A força de Ally havia se regenerado quando elas voltaram, mas eu sabia que a noite fora difícil para ela. Devia ser frustrante, pensei. A força e o poder dela no Reino eram enormes. Mas, pelo que percebi, quanto mais os anjos permaneciam na Terra e se misturavam aos seres humanos, mais finitos seus poderes pareciam se tornar. Na primeira oportunidade, Lauren correu para o quarto sem dizer nada a ninguém. Quis segui-la para ficarmos a sós por um momento. Eu me imaginei deitada ao lado dela na cama, com a cabeça recostada em seu peito, como costumávamos fazer. Concentraria toda a minha energia para que ela soubesse da minha presença; ofereceria a ela algum conforto assim como a deixaria me confortar. Mas Ally e Normani iam planejar o próximo passo, e eu precisava me preparar se quisesse continuar com elas.

— O que houve com ela? — perguntou Dinah assim que Lauren fechou a porta.

— Deve estar abalada pelos acontecimentos de hoje — disse Ally ao colocar a chave na fechadura. — Precisa de um tempo para absorver tudo isso. — A ingenuidade de Dinah a irritava de vez em quando. 

Por algum motivo, Dinah ainda estava perto das minhas irmãs. As duas escolheram não perguntar o que ela queria. Talvez quisesse sair daquela missão de salvamento. Talvez tivesse assumido mais do que o combinado e estivesse pronta para voltar para casa.

A porta do quarto era marrom. Com um suspiro pesado, Normani a abriu e acendeu os interruptores do corredor. Uma luz forte e o zunido do ventilador de teto tomaram o quarto. As duas camas de solteiro eram cobertas com edredons finos de flores, com criados-mudos e abajures de franjas combinando. O carpete tinha um tom salmão desbotado, e as cortinas no varão de metal cobriam uma única janela retangular.

— Tem seu charme — disse Ally com um sorriso irônico.

Apesar de minhas irmãs estarem acostumadas ao luxo de Byron, o ambiente que as cercava não era relevante. Podiam estar numa suíte do hotel Waldorf Astoria que não faria diferença.

— Vou tomar um banho — disse Ally, pegando uma nécessaire e indo em direção ao banheiro. 

Dinah a observou se afastar, mordendo o lábio e remexendo-se com ansiedade. Normani a observava com olhos penetrantes. Ela tirou a jaqueta e a pendurou nas costas de uma cadeira. A blusa branca e justa acentuava seu corpo perfeito. Dinah não conseguia desviar o olhar do corpo dela. Parecia sobre-humano, capaz de segurar um carro nos ombros quase sem esforço — isso porque era o que ela faria, caso a situação exigisse.

O som da água correndo pelos canos velhos foi ouvido no banheiro, e Dinah aproveitou a chance para conversar.

— Será que Ally ficará bem? — perguntou ela de modo estranho. 

É claro que ela não estava ali para falar sobre Ally, mas se iludiu puxando outro assunto.

— Ally é um serafim — respondeu Mani como se fosse o bastante para encerrar a conversa.

— Sim — disse Dinah. — Eu me lembro. E isso é bem bacana, não é? 

— Sim — respondeu Mani com frieza. — Isso é bacana.

Usando aquilo como incentivo, Dinah entrou no quarto e se sentou na beira da cama, fingindo examinar as unhas. Normani se recostou no batente da porta do outro lado de onde ela estava. Se ela fosse humana, se sentiria estranha ou desconfortável, mas sua compostura se alterou como sempre. Independente do ambiente, minha irmã transmitia autocontrole, como se tivesse sido assim a vida toda. Ficou em pé com as mãos nas costas e a cabeça ligeiramente inclinada para o lado, como se escutasse uma música silenciosa interna. Não prestava atenção em Dinah, apesar de estar esperando a iniciativa dela. Provavelmente conseguia escutar o coração dela batendo no peito, sentir o cheiro do suor em suas mãos... Até ler a sua mente, se quisesse. Dinah olhou para ela com nervosismo.

— Você foi incrível hoje.

Normani devolveu o olhar, surpresa com o elogio.

— Estava cumprindo o meu dever — respondeu com a voz baixa.

Pela expressão de Dinah, a voz dela a afetava de maneiras que eu não compreendia. Tudo o que ela falava a penetrava fisicamente. Dinah estremeceu de leve e cruzou os braços.

— Está com frio? — perguntou minha irmã. 

Sem esperar pela resposta, ela tirou a jaqueta do encosto da cadeira e a colocou sobre os ombros dela. A gentileza pareceu mexer com Dinah, a ponto de ela ter que se esforçar para não ficar emocionada.

— Estou falando sério — insistiu ela. — Sempre soube que você era maravilhosa, mas hoje foi diferente. Parecia um ser de outro mundo.

— Mas eu sou de outro mundo, Dinah — respondeu Mani sem se alterar.

— Mas ainda está conectada ao meu mundo, certo? — perguntou Dinah. — Quero dizer, às pessoas. Como a Lauren e a mim?

— Meu dever é proteger pessoas como você e Lauren. Desejo a vocês apenas saúde e felicidade...

— Não é isso o que estou dizendo — interrompeu Dinah.

— O que está querendo dizer? 

Ela a fitou com a intensidade pungente de alguém determinado a entender um raciocínio diferente.

— Acho que você poderia querer mais. Nesses últimos dias, tenho sentido que... Talvez... Você pode ter sentido...

Saí da cama e me ajoelhei ao lado de Dinah. Tentei lhe enviar uma mensagem de alerta, mas ela estava absorta demais pela presença de Normani para perceber a minha presença. Não, Dinah, não faça isso. Você é esperta. Pense bem. Normani não é o que você gostaria que fosse. Está prestes a cometer um erro enorme. Você só acha que a conhece. Você imagina que existe mais do que existe de fato. Se está ferida agora, saiba que só vai piorar. Vá conversar com Lauren primeiro. Espere um pouco... Você está cansada. Dinah, escute! Normani virou a cabeça devagar na direção dela. O movimento foi quase robótico. 

— Talvez sinta o quê? — perguntou com curiosidade.

Dinah suspirou, já estava cansada de jogar verde. Levantou-se de modo a se colocar bem na frente dela.

— Você age como se não tivesse sentimentos, mas sei que tem! — disse ela com confiança. — Você sente muito mais do que demonstra. Você pode amar alguém, até apaixonar-se se quiser.

— Não sei o que está tentando dizer, Dinah. Valorizo a vida das pessoas — disse Mani. — Quero defender e proteger os filhos de Meu Pai. Mas o amor sobre o qual você fala... Não sei nada sobre ele.

— Pare de mentir para si mesma. Consigo ver além de você.

— E o que exatamente você consegue ver? — Mani ergueu uma sobrancelha, já sabendo o rumo que a conversa tomaria.

— Alguém como eu! — exclamou Dinah. — Alguém que quer se apaixonar, mas que tem medo de deixar acontecer. Você gosta de mim, Mani... Admita!

— Nunca neguei isso — disse Normani com delicadeza. — Seu bem-estar é importante para mim.

— E mais do que isso — insistiu Dinah. — Tem que ser! Sinto algo incrível entre nós e sei que você também sente.

Normani se inclinou para a frente.

— Ouça com atenção. Você, de alguma forma, entendeu errado. Não estou aqui para...

Antes que Mani pudesse terminar, Dinah saltou para a frente e quase colou seu corpo no dela. Os braços de Dinah a envolveram pela cintura, e seus dedos seguraram a blusa dela. Os olhos dela se fecharam num instante de puro êxtase quando seus lábios se tocaram. Dinah a beijou com fervor, longamente, intoxicada por ela. Desejava que Mani a tocasse e pressionou seu corpo contra o dela. Estremeceu com a intensidade do gesto, o corpo todo se esforçando para se aproximar ainda mais. O quarto ficou sobrecarregado de uma energia estranha, e, por um momento, pensei que algo entre elas explodiria as paredes do quarto do hotel. E então vi o rosto de Normani. Apesar de não ter se afastado de Dinah, ela não estava retribuindo o beijo. Mantinha os braços rígidos ao redor do corpo, os lábios sem reação, recusando-se a entregar-se. Era como se Dinah beijasse um boneco de cera. Normani permitiu que ela prosseguisse por um momento, mas logo se livrou de suas garras. Ela relutou e então recuou e se jogou na cama.

— Não, Dinah. Isso não pode acontecer.

Normani ficou triste com a demonstração de afeto. Franziu o cenho, pensativa, olhando para Dinah do mesmo jeito que analisava dilemas mortais. Usara a mesma expressão quando conversou com Earl no posto de gasolina e, outra vez, ao analisar as marcas na varanda da abadia. Seus olhos estavam sérios enquanto ela pensava numa solução para um problema antes inexistente. Dinah assumiu um olhar estranho quando entendeu a indiferença dela. Normani franziu o cenho enquanto tentava entender aquela forte atração que era unilateral. Dinah não compreendeu a situação, e vi o exato momento em que a humilhação tomou o lugar da paixão. Ela corou e se retraiu diante do olhar inquisitivo de Normani.

— Não acredito que entendi tudo tão errado — murmurou ela. — Nunca faço isso.

— Sinto muito, Dinah. Peço desculpas se disse ou fiz algo para confundi-la.

— Você não sente nada? — perguntou ela com mais raiva. — Você precisa sentir alguma coisa!

— Não tenho sentimentos humanos — respondeu. Então pensou um pouco antes de dizer: — Nem Ally. — Talvez ela esperasse que Dinah se sentiria melhor se soubesse que aquele tipo de investida também não seria retribuído por sua irmã. Se sim, não teve o efeito desejado.

— Pare de agir como se fosse um robô ou coisa assim — rebateu ela.

— Se é o que prefere pensar sobre mim...

— Não é! Prefiro pensar que você é real, não uma mulher de lata sem coração!

— Meu coração não passa de um órgão vital que bombeia sangue por este corpo — explicou Normani. — Não sou capaz de dar o amor que você quer.

— Mas e a Mila? — perguntou — Ela ama a Lauren e é uma de vocês.

— Camila é uma exceção. Uma exceção bem rara.

— Por que você não pode ser uma exceção também? — insistiu Dinah.

— Porque não sou como a Camila — explicou ela de modo sério. — Não sou jovem e inexperiente. Existe algo na constituição de Camila, uma falha ou um ponto forte, que permite que tenha sentimentos humanos. Eu não. — Estava envolvida demais naquela tensão, por isso não sabia se deveria me sentir ofendida ou não.

— Mas estou apaixonada por você — choramingou Dinah.

— Se você acha que me ama, então não sabe o que é amor — disse. — O amor precisa ser retribuído para ser real.

— Não entendi. Não sou atraente o suficiente, é isso?

— Bem, com isso, você apenas confirma a minha opinião — suspirou Normani. — Um corpo não passa de um veículo. As emoções mais profundas são sentidas pela alma.

— Então é a minha alma que não satisfaz as suas expectativas?

— Não seja ridícula.

— O que há com você? — Dinah estava revoltada. — Por que não me quer?

— Por favor, tente aceitar o que estou dizendo.

— Está dizendo que não importa o que eu faça, o quanto tente, você nunca vai sentir o mesmo por mim?

— Estou dizendo que você está se comportando como uma criança, porque é isso o que você é.

— Então é porque você acha que sou nova demais — tentou ela desesperadamente. — Posso esperar. Posso esperar até você se sentir pronta. Farei o que for preciso.

— Pare com isso. Esta discussão terminou. Não posso dar a você a resposta que quer escutar.

— Diga-me por quê. — A histeria de Dinah só crescia. — Diga-me o que tenho de errado a ponto de você nem querer me dar uma chance!

— Você deveria sair agora. — A voz de Normani estava séria. Já não tentava mais consolá-la.

— Não! — gritou Dinah. — Diga o que eu fiz!

— Não é o que você fez. - Mani começava a ficar irritada. — Mas, sim, o que você é.

— O que isso quer dizer? — Dinah tinha a voz embargada.

— Você é um ser humano. — Os olhos da minha irmã brilhavam. — É natural sentir desejo, vontade, orgulho. Durante toda a sua vida, você vai lutar contra esses instintos. Meu Pai lhes deu o livre arbítrio. Ele os escolheu para comandar a Terra, e veja o que vocês fizeram com ela. Este mundo está em ruínas, e estou aqui apenas para restaurar a glória Dele. Não tenho nenhum outro propósito ou interesse. Você acha que sou tão fraca para ser seduzida por um humano de olhos apaixonados que não passa de uma criança? Nós somos diferentes em todos os aspectos. Posso tentar entender sua maneira de ser, mas nunca, em tempo algum, você vai conseguir compreender a minha. Por isso é que seus esforços aqui são inúteis, Dinah.

Normani observou impassível enquanto as lágrimas começaram a rolar, borrando a maquiagem e sujando o rosto de Dinah. Ela as secou furiosamente com as costas das mãos.

— Eu... — Seus soluços a fizeram gaguejar. — Eu odeio você.

Dinah se mostrou tão vulnerável que desejei ter feito algo para mostrar que ela não estava sozinha. Se estivesse ali na forma física, também gostaria de dar um chute na canela da minha irmã por sua falta de sensibilidade.

— Pelo seu bem — disse Normani de modo distante — talvez o ódio seja melhor do que o amor. 

— Não importa para você, de qualquer modo — soluçou Dinah. — Eu não importo.

— Isso não é verdade — disse Mani. — Se a sua vida estiver ameaçada, é uma preocupação minha. Se corre perigo, se alguém a prejudica, você pode contar comigo para protegê-la. Mas, nas questões amorosas, não posso ajudá-la. 

— Você podia pelo menos tentar. Poderia desafiar a sua programação como Mila fez e ver o que acontece! Como pode saber se vai dar certo ou não?

Ela estava se demonstrando tão convicta que quase torci para o coração de Mani derreter. Mas ela apenas abaixou o olhar como se tivesse cometido um grave pecado. 

— Para a sua informação, Deus quer que as pessoas sejam felizes. — Dinah continuou a desafiar. Tive a sensação de que ela estava tentando criar um caso, como vira nos debates da escola. — Crescer e multiplicar, não é? Eu me lembro muito bem disso das aulas de catecismo.

— Essas instruções foram dadas ao homem — disse Normani com a voz baixa.

— Então você não pode ser feliz? Não pode querer uma vida?

— Não é uma questão de querer. É uma questão de desígnio — respondeu Normani, e Dinah parecia derrotada. — Você precisa de alguém que a ame como você merece. Prometo cuidar de você todos os dias de sua vida. — A voz dela estava suave. — Vou cuidar para que você sempre esteja em segurança.

— Não! — Dinah estava gritando como uma menina mimada. — Não é o que eu quero. — Ela balançou a cabeça com veemência, soltando algumas mechas em seu rosto pálido.

Dinah envolveu-se demais em seu turbilhão de emoções para perceber que a expressão de Normani mudou quando ele olhava para ela. Em seu rosto, vi um desejo forte de alcançá-la: uma criatura estranha e problemática que ela não compreendia. Ela ergueu a mão lentamente, como se estivesse prestes a secar as lágrimas dela, e então Ally entrou no quarto usando um roupão de banho. Ficou surpresa com a comoção, e Normani logo abaixou a mão, com o rosto voltando a ser a máscara impassível de sempre. Um instante depois, Dinah saiu do quarto, chorando em silêncio. Ally lançou a Mani um olhar de compreensão.

— Fiquei tentando imaginar quanto tempo demoraria para essa conversa acontecer.

— Você sabia? Por que não me disse nada? Talvez eu tivesse lidado melhor com a situação.

— Duvido — disse Ally pensativa. 

Se havia alguém que podia entender Mani, esse alguém era ela. Quando Mani permanecia complexa e incompreensível para as pessoas e para os anjos, Ally sempre era capaz de ler seus pensamentos.

— O que devo fazer agora? — Era raro Normani pedir conselhos sobre qualquer assunto, mas a natureza do amor adolescente era um mistério total para ela.

— Nada — respondeu Ally. — Essas coisas acontecem. Ela vai superar.

— Espero que sim — respondeu minha irmã, cuja voz me deixou em dúvida se ela pensava só em Dinah, mesmo.

Ally se deitou e apagou a luz. Normani sentou-se na beira da cama, com o queixo apoiado na mão, olhando para a escuridão. Ficou ali, sem se mexer, muito tempo depois de Ally ter adormecido.


Notas Finais


Nao odeiem a Mani
Até o próximo capítulo


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