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História Hades (Camren) - Codependente


Escrita por: lmfs13

Capítulo 3 - Codependente


No dia seguinte, eu e Dinah nos sentamos com as outras meninas no pátio à esquerda do colégio, local que se transformara no nosso novo ponto de encontro preferido. Dinah estava diferente desde a perda de sua melhor amiga, no ano anterior. A morte de Veronica, pelas mãos de MGK, foi um aviso à minha família. Não tínhamos calculado a extensão dos poderes dele até o dia em que ele cortou a garganta de Veronica para nos enviar uma mensagem. Desde então, Dinah se afastou do seu velho círculo de amigos e perdeu o sentimento de lealdade. Aliás, eu teria feito o mesmo e não me importei com as mudanças. Sabia que o colégio traria lembranças dolorosas a Dinah e resolvi apoiá-la como pudesse. E o nosso grupo era mais ou menos igual ao anterior. Eram meninas com as quais costumávamos sair, mas que nunca foram muito próximas. Elas conheciam as mesmas pessoas e fofocavam sobre as mesmas coisas. Por isso, entrosar-se era muito fácil. O clima estava tenso no grupo a que Veronica pertencera, e eu sabia que Dinah não ficaria tranquila ao lado delas. Qualquer dia, do nada, as conversas poderiam ser interrompidas de forma constrangedora, gerando uma pausa e fazendo com que todas pensassem a mesma coisa: "O que diria Vero neste momento?" Mas ninguém tinha coragem suficiente de dizer o seu nome em alto e bom som, e eu pressentia que as coisas nunca voltariam a ser como antes para aquelas meninas.

Elas queriam que tudo voltasse ao normal, mas sempre deixavam a impressão de que faziam muita força para isso. Riam alto demais, e as piadas pareciam ensaiadas. Tudo o que diziam ou faziam parecia uma constante lembrança da ausência de Veronica. Ela e Dinah eram as principais do grupo, exercendo o papel de autoridades em muitas ocasiões. Mas Vero não estava mais ali, e Dinah parecia perdida. Conclusão: as outras meninas tinham perdido as mentoras e não sabiam o que fazer. Era duro vê-las tentando vencer a dor em grupo. Dor que não conseguiam articular por causa do medo ou de emoções incontro- láveis. Eu queria pedir que não enxergassem a morte como um fim, mas como um recomeço, e explicar que Veronica só tinha atravessado para um novo plano existencial, que nada tinha a ver com o aspecto físico. Queria explicar que ela continuava por ali, mas que se transformara num ser livre. Queria conversar com elas sobre o Céu e sobre a paz que a amiga encontraria lá. Mas, claro, dividir esse tipo de conhecimento seria impossível. Eu estaria simplesmente revelando o nosso segredo mais importante e expondo a nossa presença na Terra. Na verdade, seria chutada do grupo de imediato, considerada uma louca. As novas amigas se reuniam ao redor de bancos de madeira, sob um arco de pedra que chamavam de seu. Aliás, uma coisa que nunca mudou foi a natureza territorial do grupo. Caso alguém de fora cruzasse a área por acidente, não ficaria muito tempo ali. Os olhares de desaprovação garantiriam que o intruso fosse logo embora. Nuvens cinzentas sempre rolavam sobre as nossas cabeças, mas as meninas nunca buscavam abrigo, exceto em casos excepcionais. Como sempre, sentavam-se perfeitamente penteadas e vestiam saias passadas a ferro, buscando os fracos raios de sol que conseguiam vencer as nuvens e banhar o pátio com uma luz diáfana. Não poderiam perder a oportunidade de melhorar seus bronzeados.

A festa do Dia das Bruxas, marcada para sexta-feira, animava a todos, gerando uma grande excitação. Aconteceria numa casa abandonada na saída da cidade, propriedade que pertencia à família de um veterano do colégio, Liam Payne. O bisavô dele construíra a casa em1868, anos depois do fim da Guerra Civil. Ele foi um dos fundadores da cidade, e, embora a família não a frequentasse havia anos, as leis de proteção do patrimônio histórico impediam a demolição. Por isso, estava vazia há muito tempo. Era uma velha casa rural cercada de varandas e envolta por campos e uma estradinha deserta. Os locais a chamavam de A Casa do Espanto — ninguém nunca saiu ou entrou lá — e Liam dizia já ter visto o fantasma do avô numa das janelas do segundo andar. De acordo com Dinah, seria perfeita para a festa. Quase ninguém passava por ali, só gente perdida ou caminhoneiros. Além do mais, estava afastada o suficiente da cidade para que ninguém reclamasse do barulho. A ideia surgiu num grupo pequeno, mas de alguma maneira todos na escola ficaram sabendo e conseguiram convite. Eu me sentei ao lado de Dinah, cujos cachos loiros estavam presos no topo da cabeça, num coque desajeitado. Sem maquiagem em seu rosto com a exceção de um pouco de gloss, para chamar a atenção de Normani. Eu imaginava que ela deixaria essa fixação na minha irmã para trás, mas a verdade é que o sentimento parecia cada vez mais forte. Eu preferia Dinah sem maquiagem, pois ficava mais bonita ao natural, e não parecendo dez anos mais velha.

— Vou me vestir de aluna malcriada — disse Ariana.

— Em outras palavras, vai se fantasiar de você mesma? — Dinah bufou.

— Por que não nos conta qual é a sua ideia brilhante, Dinah?

— Vou de Sininho.

— De quê? 

— A fada de Peter Pan.

— Não é justo — interrompeu Bella. — Nós combinamos que todas iríamos de Coelhinhas da Playboy!

— É tão antiquado... — comentou Dinah, jogando a cabeça para trás. — Sem contar que é meio ridículo.

— Meninas... — interrompi, chamando-as — acho que as fantasias deveriam ser assustadoras, certo?

— Ah, Mila — retrucou Selena, com um suspiro —, será que a gente não lhe ensinou nada?

Eu abri um sorriso amarelo.

— Poderiam refrescar a minha memória?

— Basicamente, a história se resume a um grande... — começou Bella.

— Vamos dizer apenas que se trata de uma oportunidade de nos reunirmos com representantes do sexo oposto — explicou Dinah, interrompendo e encarando Bella. — Nossas fantasias devem ser assustadoras e sexy.

— Vocês sabiam que o Dia das Bruxas costumava ter algo a ver com Samhain? — perguntei. — E sabiam que as pessoas tinham muito medo disso?

— Quem foi Sam Hain? — perguntou Bella, perdida.

— Não foi uma pessoa, mas uma coisa — respondi. — E essa coisa se manifesta de forma diferente em cada cultura. Mas, em essência, as pessoas acreditam que, numa única noite do ano, o mundo dos mortos se encontra com o mundo dos vivos. Nessa noite, os mortos podem caminhar ao nosso lado e possuir os nossos corpos. E as pessoas se vestem de forma assustadora para afastá-los.

O grupo me observava com profundo respeito.

— Meu Deus, Mila. — Selena tremeu. — Que maneira de nos assustar.

— Vocês se lembram daquela sessão espírita no sexto ano? — perguntou Megan, e as meninas assentiram.

— O quê? — perguntei, incapaz de mascarar a minha descrença.

— Uma sessão espírita é quando...

— Sei o que é uma sessão espírita — respondi. — Mas vocês não deveriam fazer esse tipo de coisa.

— Eu avisei, Megan! — gritou Bella. — Avisei que seria perigoso. - Lembra quando a porta se fechou com força?

— Claro que lembro. Foi a sua mãe.

— Não poderia ter sido ela. Minha mãe estava dormindo àquela hora.

— Enfim... Acho que deveríamos repetir na sexta-feira. — disse Ariana, com as sobrancelhas arqueadas — O que vocês acham, meninas? Topam?

— Eu, não — respondi, decidida. — Não quero me envolver com isso.

As meninas trocaram olhares, como se não engolissem bem a minha recusa. 


— Elas são tão infantis — comentei com Lauren enquanto caminhávamos juntas para a aula de francês. Ao mesmo tempo, portas eram batidas, avisos dados pelos alto-falantes, conversas nos rodeavam, mas eu e Lauren continuávamos trancadas em nosso mundo particular. — Elas querem fazer uma sessão espírita e vestir-se de coelhinhas.

— Que tipo de coelhinhas? — perguntou ela, com malícia.

— Da Playboy, eu acho. Seja lá o que isso signifique.

— Interessante... — disse Lauren, sorrindo. — Mas não deixe que elas obriguem você a fazer coisas que não queira.

— Elas são minhas amigas.

— E daí? — Ela deu de ombros. — Se elas se atirassem de um penhasco, você faria o mesmo?

— Por que elas se atirariam de um penhasco?! — perguntei, assustada. — Elas estão tendo problemas em casa?

— É só uma maneira de dizer — respondeu Lauren, sorrindo.

— Boba — retruquei. — Você acha que eu deveria me vestir de anjo? Como o anjo do filme Romeu e Julieta?

— Seria um pouco irônico — respondeu. — Um anjo que se passa por humano e finge ser anjo. Gostei.

O Sr. Collins nos observava enquanto nos aproximávamos das cadeiras.

Ele parecia sentir inveja da nossa proximidade, e eu ficava pensando se o histórico de três divórcios dele não o teria transformado num homem avesso ao amor.

— Espero que vocês consigam sair da bolha do amor e aprender algo hoje — disse ele, enquanto os demais se sentavam. Sem saber o que fazer, baixei a cabeça para evitar o contato visual direto com ele.

— Não se preocupe, professor — respondeu Lauren. — A nossa bolha nos permite aprender coisas.

— Muito engraçadinha... Mas a sala de aula não é lugar para romances. Quando essa história terminar, com os corações partidos, vocês pagarão o preço pelas notas baixas. L'amour est comme un sablier, avec le coeur remplir le vide du cerveau.

Reconheci a citação do escritor francês Jules Renard. Traduzida, queria dizer: "O amor é como uma ampulheta, com o coração sendo preenchido enquanto a mente é esvaziada." Odiei ouvir aquela certeza de que o nosso relacionamento estava fadado a terminar e abri minha boca para reclamar, mas Lauren tocou minha mão por baixo da mesa e se curvou para murmurar ao meu ouvido:

— Talvez não seja uma boa ideia discutir com professores que vão dar notas às nossas provas.

Ela voltou a olhar para o Sr. Collins e com sua melhor voz disse:

— Já entendemos, professor. E obrigada pela sua preocupação.

O Sr. Collins parecia satisfeito e voltou a escrever os verbos no subjuntivo no quadro-negro. Não resisti e dei a língua às costas dele. Selena e Bella, que frequentavam a mesma aula de francês, me encontraram do lado de fora. Gentilmente, elas agarraram os meus braços.

— Que aula você tem agora? — perguntou Bella.

— Matemática — respondi, suspeitando de algo. — Por quê?

— Ótimo — comentou Selena. — Vem com a gente.

— Aconteceu alguma coisa?

— Só queremos conversar. Um papo de mulher para mulher.

— Tudo bem — concordei, tentando imaginar o que tinha feito para ser interpelada daquela forma. — Mas conversar sobre o quê?

— Sobre você e Lauren — respondeu Bella. — E acho que você não vai gostar do que vai ouvir, mas somos amigas e estamos preocupadas com você.

— Por que estão preocupadas?

— Porque não é nada saudável para vocês duas passar tanto tempo juntas — respondeu Bella.

— E isso aí — afirmou Selena. — Vocês parecem siamesas. Nunca estão separadas. Onde está a Lauren você está atrás... o tempo todo.

— E isso é mesmo um problema? — perguntei. — Ela é minha namorada. Eu quero estar ao lado dela.

— Claro, mas isso é demais. Você precisa manter certa distância — enfatizou Bella, dizendo a palavra "distância" como se fosse um termo médico.

— Por quê? — quis saber, encarando-as, perdida, e imaginando se aquilo partira de Dinah ou refletia a opinião das duas.

Eu passei o verão inteiro sendo amiga daquelas meninas, mas era um pouco cedo para aquele tipo de conselho. Por outro lado, eu era adolescente havia menos de um ano e de alguma forma me sentia balançada pela experiência das duas. Certo, eu e Lauren éramos muito próximas, qualquer idiota notaria isso. Mas será que éramos estranhamente próximas? Para mim, a nossa relação não parecia estranha, já que tínhamos passado por tantas coisas juntas. Mas aquelas meninas não sabiam de nada disso.

— É um fato comprovado — disse Selena, interrompendo a minha linha de raciocínio. — E posso demonstrar. — Ela pegou a bolsa, tirando dela um exemplar da revista Seventeen. — Encontramos um teste que você deveria fazer.

Ela abriu a revista e procurou o teste. A imagem na página mostrava um casal jovem sentado frente a frente, mas amarrados por correntes nos pulsos e nos tornozelos. O teste se chamava: "Seu relacionamento é codependente?"

— Não somos assim — respondi. — O importante é o que sentimos... e não o tempo que passamos juntas. Além do mais, não acredito que um teste de revista possa medir os sentimentos de alguém.

— A Seventeen é ótima para dar dicas... — afirmou Selena.

— Tudo bem, não faça o teste — interrompeu Bella. — Mas responda algumas perguntas.

— Manda — disse eu.

— Qual o seu time?

— Dallas Cowboys — respondi, sem hesitar.

— E por quê? — perguntou Bella.

— Porque é o time da Lauren.

— Sei... — disse Bella. — E quando foi a última vez que você fez alguma coisa sem a Lauren?

Eu não entendia porque ela soava como um juiz num tribunal, mas respondi:

— Faço muita coisa sem ela.

— Sério? E onde ela está neste momento?

— Num treinamento de primeiros-socorros no ginásio — respondi, sem pestanejar. — Estão ensinando reanimação, mas ela já aprendeu isso no projeto de salva-vidas.

— Certo — disse Selena. — E o que ela vai fazer na hora do almoço?

— Tem um encontro marcado com os amigos do polo aquático — respondi. — Lauren quer treinar um menino novo, que vai jogar na defesa.

— E na hora do jantar?

— Vamos para a minha casa, comer costela grelhada.

— E desde quando você gosta de costela grelhada? — perguntaram, erguendo as sobrancelhas.

— A Lauren gosta...

— Não tenho mais nada a dizer — comentou Bella, escondendo o rosto com as mãos.

— Você tem razão: a gente passa mesmo muito tempo juntos — respondi. — Mas o que tem de errado nisso?

— Não é normal. Eis o que está errado — respondeu Selena, pronunciando muito bem cada palavra. — Suas amigas também são importantes. E parece que você não se importa com a gente. Todas as meninas sentem a mesma coisa, até a Dinah.

Fiquei calada, pois finalmente entendi o propósito daquela conversa. As meninas estavam se sentindo negligenciadas. É verdade que muitas vezes eu recusava seus convites para ficar com Lauren. Para mim, era uma decisão de estar com a minha família, mas talvez eu tenha sido um pouco insensível. Entendi e jurei ser mais atenciosa.

— Sinto muito. E obrigada por terem sido honestas comigo. Prometo que vou me comportar melhor.

— Ótimo! — comemorou Bella. — E poderia começar participando de um evento só para meninas que planejamos para o Dia das Bruxas.

— Claro — assenti, louca de vontade de entrar em acordo com elas. — Eu adoraria. O que é?

Antes de terminar a pergunta, porém, tive um pressentimento de que acabara de cair numa armadilha. — Nós queremos nos comunicar com os mortos, lembra? — começou Selena. 

— Uma sessão espírita — esclareceu Bella, animada. — Incrível, não acha?

— Incrível — respondi, perdida. Na verdade, "incrível" não estava na lista das diversas palavras que eu tinha em mente para descrever aquela ideia.


Notas Finais


Será que isso vai acabar bem??
Até o próximo capítulo 😊
Não esqueçam de favoritar


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