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História Hades (Camren) - A Espada de Miguel


Escrita por: lmfs13

Notas do Autor


Último capítulo 😢😢

Capítulo 34 - A Espada de Miguel


Eu ainda tinha alguns minutos antes de sair. Hanna e Tucker me deixaram sozinha, compreendendo que eu precisava de um tempo para organizar meus pensamentos. Não consegui me controlar e comecei a me projetar quase antes de eles fecharem a porta. Queria ver Lauren uma vez mais; queria que o rosto dela fosse a última coisa que eu visse antes de entregar uma parte preciosa de mim mesma. Sabia que se conseguisse manter a lembrança dela em minha mente, conseguiria passar por isso. Minha família já havia chegado ao Alabama. Era um trajeto de apenas uma ou duas horas, mas me surpreendi ao saber que elas chegaram ali tão depressa. Até onde eu sabia, Broken Hill era uma cidade calma muito parecida com Venus Cove. A estação de trem fora desativada. Os bancos de madeira pontuando as paredes de tijolos aparentes estavam repletos de lixo, e a antiga bilheteria estava vazia. Havia ervas daninhas entre os trilhos e corvos espalhados pelo solo seco. Aquele local devia ter sido charmoso, repleto de vida. Estava claro que, desde o acidente de trem que tirara tantas vidas, os moradores já tinham partido, e agora o local não passava de uma sombra do que já tinha sido. O carro parou ao lado dos trilhos enferrujados, e minha família saiu. Ally farejou o ar, e tentei imaginar se ela conseguia sentir o cheiro de enxofre emitido pelo portal que ficaria perto dali.

— Este lugar me dá arrepios — comentou Dinah, ainda dentro do carro.

— Fique onde está — pediu Normani, e ela não reclamou.

— E agora? — perguntou Lauren. — Alguma ideia do que estamos procurando?

— Pode ser qualquer coisa — respondeu Normani, inclinando-se e mantendo a palma da mão direita acima da terra. — Mas acho que deve estar nos trilhos.

— Como você sabe disso?

— A terra é sempre mais quente em cima de um portal para o Inferno.

— Entendi — suspirou Lauren. — Então, agora precisamos encontrar um jeito de abri-lo.

— Esse é o problema — disse Ally. — Nosso poder combinado não é suficiente. Precisamos de reforço.

— Droga. —  Lauren chutou o chão com a ponta do coturno, e pedregulhos se espalharam. — Para que viemos aqui?

— Miguel não nos teria mandado para cá por nada — murmurou Ally. — Deve haver algo que ele quer que façamos.

— Ou talvez ele seja apenas um idiota — respondeu Lauren.

— Isso mesmo — disse alguém atrás deles. Todos se viraram a tempo de ver um arcanjo se materializar, com sua forma imponente cobrindo os trilhos.

Ele tinha a mesma aparência da primeira vez em que o vimos: cabelos loiros e brilhantes, os membros muito maiores do que os de um ser humano normal. Suas asas estavam retraídas.

— De novo, não — escutei Dinah resmungar no carro e se encolher.

Normani e Miguel se entreolharam como guerreiros, abaixando a cabeça em reverência.

— Seguimos as suas orientações, irmão — disse Mani. — O que quer que façamos agora?

— Vim oferecer minha ajuda — respondeu Miguel. — Trago comigo a arma mais poderosa do Céu e do Inferno. Ela pode abrir o portal com a mesma facilidade com que se abre uma garrafa.

— Obrigado por ter nos dado essa informação essencial tão cedo — disse Lauren, com bom humor.

— Eu deveria decidir quando seria a hora certa — respondeu Miguel, olhando para ela. — O grupo se reuniu para discutir essa questão imprevista. Lúcifer conhece o poder do anjo refém e pretende usá-lo para alcançar seus objetivos.

As palavras de Miguel me alertaram. O fato de ele saber disso significava que, durante todo o tempo, eu não estava sozinha. O Céu me observava o tempo todo. Poderia ainda ter esperança?

— Como ele planeja fazer isso? Camila não é uma marionete — protestou Ally.

— Não sabemos como — disse Miguel. — Mas é perigoso deixar a essência divina nas mãos de qualquer demônio. O objetivo de Lúcifer é causar um Armagedom, uma batalha final, e ele espera usar o anjo como vantagem. As forças do Céu devem agir.

— Como Camz se encaixa nisso? — quis saber Lauren.

— Ela é um catalisador, se quer saber — explicou Miguel. — Os demônios querem dar início a uma guerra em grande escala, mas nunca nos rebaixaremos a esse nível. Vamos mostrar a eles o poder do Céu sem derramamento de sangue.

— Você ia nos ajudar, não ia? — disse Lauren, de repente. — Por que não fez isso desde o começo?

Miguel inclinou a cabeça de leve.

— Quando uma criança quebra um brinquedo e os pais dela logo compram um novo, que lição ela aprende?

— Camz não é um brinquedo — Lauren começou a dizer, mas Normani pousou uma das mãos no ombro dela.

— Não interrompa um anjo do Senhor.

— O Céu sempre pode intervir — continuou Miguel. — Mas Ele escolhe o momento certo. Somos apenas Seus mensageiros. Se Nosso Pai corrigisse todas as coisas erradas do mundo, ninguém aprenderia com seus erros. Recompensamos a fé e a lealdade, e vocês demonstraram os dois. Além disso, a missão ainda não terminou. O Céu tem planos para você.

— Planos para mim? — repetiu Lauren, mas Miguel a olhou intensamente.

— Não vamos estragar a surpresa.

Foi um choque escutar o que Miguel tinha a dizer. Ele conhecia os chefões do Reino, e eu duvidara que meu resgate fosse prioridade para ele. Mas, pelo visto, Lúcifer estava jogando um jogo mais perigoso do que eu percebera. Miguel parecia pensar que estávamos à beira da guerra e que o Céu precisava reafirmar seu domínio. Eu ainda não tinha ideia de como ele planejara entrar pelo portal, mas ele parecia confiante em suas habilidades.

— O portal? — lembrou Ally, ansiosa para não perder mais tempo. — Estamos aqui por um motivo.

— Muito bem — disse Miguel, e de debaixo de sua túnica ele retirou um objeto tão claro e glorioso que Lauren virou o rosto.

A espada longa e flamejante pulsou na mão de Miguel, pronta para agir. Ela refletia azul nas extremidades e parecia elegante demais para seu propósito de destruição. Ao longo do cabo dourado, havia letras entalhadas num idioma que nenhum ser humano conseguia entender. As letras brilhavam com uma luz azul-clara. A espada estava viva, como abençoada por um espírito.

— A Espada de Miguel — disse Normani num tom estranhamente reverente que eu nunca a vira usar. — Há muito tempo não a via.

— Ela existe de verdade? — perguntou Lauren.

— É mais real do que você pensa — respondeu Mani. — Miguel já se revoltou contra eles antes.

Lauren pensou por um momento.

— É claro — disse ela, por fim. — Está no livro do Apocalipse. "Então houve guerra no Céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e o dragão e os seus anjos batalhavam." 

Foi Miguel quem o jogou no Inferno pela orientação de Nosso Pai.

— Bom trabalho — disse Lauren, e Miguel ergueu uma sobrancelha.

— E você acha que pode voltar?

— Vamos ver, não é? — Foi o que Miguel disse.

Ele se levantou no meio dos trilhos. A espada em sua mão vibrou tão alto que quase fez as aves próximas voarem.

— Ei, cara — disse Lauren, aparentando desconforto. — Desculpe por tê-lo chamado de idiota. Foi mal.

Miguel assentiu com delicadeza para indicar que não havia mágoas. Ergueu a espada acima da cabeça de modo que a luz do sol refletiu em sua superfície prateada.

— Em nome de Deus, exijo que você...

A voz dele saiu reverberante, mas logo começou a ficar mais fraca. Eu estava desaparecendo, voltando a Hades. Tentei permanecer por mais tempo. Precisava desesperadamente ficar e ver se a espada de Miguel abriria o portal. Mas o toque do telefone puxou-me de volta ao meu corpo físico. 

— Alô? — atendi, com dificuldade para segurar o telefone e quase o derrubei. 

— O Sr. Baker a espera na recepção — informou a recepcionista. 

Percebi que o tom de voz dela havia mudado desde a última vez em que conversamos. Naquele momento, fora respeitoso. Agora, tinha sido presunçoso.

— Diga-lhe que já estou descendo.

Desliguei e voltei para a cama, suspirando alto. Não sabia o que pensar. Miguel estaria realmente prestes a invadir o portal e me salvar? Não ousei acreditar naquilo. Hesitei por alguns minutos, pensando no que fazer. De uma coisa eu tinha certeza: não podia deixar MGK descobrir o que eu acabara de testemunhar. Precisava ir adiante com o acordo como se nada tivesse acontecido. Torci para que minhas habilidades como atriz fossem boas. Encontrei-o na recepção do hotel Ambrosia. Ele retirara a jaqueta de motoqueiro usual e a trocara por um fraque com abotoaduras prateadas, numa tentativa de bancar o herói romântico. Mas sabíamos que, apesar das belas roupas, não havia nada de romântico no acordo. Tucker e Hanna ficaram do lado de dentro do hotel, atrás das portas giratórias, com a expressão séria enquanto eu me acomodava no banco traseiro da limusine de MGK, e atravessamos os túneis de Hades. Acenei para eles pela janela de trás, tentando passar a mesma mensagem de esperança que eles haviam me dado. O carro finalmente parou na entrada do que parecia ser uma caverna. Saí e olhei ao redor.

— Essa é a sua ideia de encontro romântico? — perguntei. — Por que não escolheu me ver no armário de vassouras?

— Espere. — MGK sorriu brevemente. — Você ainda não viu nada. Vamos? — Ele estendeu o braço e me levou para a escuridão. 

Dei-lhe o braço enquanto me levava por um túnel curto que se abria como mágica para uma câmara ampla de pedra. O local fora organizado especialmente para a ocasião. Por um momento, só consegui pensar que era um espaço estranhamento belo. Parei e olhei.

— Você organizou tudo isso?

— Eu mesmo. Quero lhe proporcionar uma noite inesquecível.

Olhei ao redor, surpresa. O andar da caverna subterrânea estava repleto de água rasa da cor de opala. Pétalas de rosa e velas flutuavam na superfície, lançando uma luz brilhante contra a parede de pedras cheia de fissuras que levava à terra seca. No centro, havia uma grande cama coberta por cetim dourado e travesseiros de franjas. As peças de pedra estavam decoradas com tapeçaria e imagens de um mundo esquecido. Espelhos de molduras douradas cobriam todos os espaços vazios, refletindo a luz numa pirâmide brilhante espetacular. As notas de uma ária eram emitidas por alto-falantes ocultos. MGK transformara o local sombrio e úmido num mundo subterrâneo fantástico. É claro, o ambiente não mudava nada. Havia algo meio escondido pela água. Era uma estátua de mármore da Vênus de Milo sem braço. Pela neblina, um líquido escuro descia por suas faces de pedra e pousava com uma gota rítmica na água abaixo. Demorei um pouco para perceber que a estátua chorava lágrimas de sangue. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, MGK estalou os dedos, e uma gôndola decorada apareceu diante de nós. 

— Você primeiro — disse ele, oferecendo-me o braço para me dar apoio. 

Andei com cuidado pelo cais, e ele me acompanhou. A gôndola passou pela água brilhante até chegar a uma plataforma de pedra. Saí, sem me importar em segurar a barra do vestido, que se arrastava pelos degraus. MGK caminhou até a cama e passou os dedos sobre a manta. Ele me chamou para ficar ao seu lado. Ficamos um diante do outro em silêncio. O desejo no rosto dele me fez estremecer. Não senti nada além de um grande vazio. Minhas emoções se retraíram totalmente; meu corpo funcionava no piloto automático. Precisava permanecer calma e alheia enquanto a salvação chegava. Se viesse mesmo. Não me permiti pensar no que aconteceria se o plano de Miguel não desse certo. Se o fizesse, gritaria ou tentaria afastar MGK. Então, fiquei parada e esperei. Ele estendeu os braços e passou os dedos compridos e finos pelos meus braços. Eram dedos habilidosos, e, alguns minutos depois, a alça do vestido caiu e deixou meu ombro à mostra. Ele se inclinou para a frente e pressionou os lábios quentes contra a minha pele, passando pela clavícula e pelo pescoço. Segurou-me pela cintura, puxando-me contra seu corpo. Ao encostar os lábios nos meus, o beijo foi intenso. Tentei não pensar em como Lauren me beijava — suave e lentamente, como se o beijo fosse o prêmio em si, não o prelúdio para algo mais. Senti a língua de MGK forçando a abertura dos meus lábios e fazendo pressão para entrar na minha boca. Seu hálito quente era sufocante. Quando as mãos começaram percorrer o meu corpo, ele não pareceu perceber que eu não reagia muito. Então, num movimento fluido, ele esticou o braço e desceu o zíper da parte de trás do meu vestido, que caiu no chão quando menos esperei, e fiquei diante dele vestindo nada além de minha roupa íntima transparente. Ele se afastou por um momento, ofegante como se tivesse corrido numa maratona, e então me deitou na cama e se inclinou, observando-me com uma expressão curiosa. Abaixou-se e escorregou a mão na parte interna da minha coxa, traçando círculos lentos com o polegar. Começou a me beijar num trajeto que ia do pescoço até os seios e o estômago enquanto abaixava o corpo para se aproximar do meu. Onde estavam Miguel e os outros? Um pensamento ruim me ocorreu. A sua espada pode não ter conseguido abrir o portal, ou talvez Miguel tivesse mudado de ideia. Apenas alguns minutos eram necessários para mudar o destino; qualquer coisa poderia ter acontecido no tempo que perdi. Senti meu coração começar a bater mais depressa e comecei a transpirar. MGK correu um dedo pelo suor e sorriu com satisfação. Levou um dos meus dedos aos seus lábios e chupou-o de leve.

— Está se divertindo, afinal? — perguntou ele.

Minha boca estava seca demais para que eu conseguisse falar, mas forcei-me a responder.

— Podemos acabar logo com isso?

Eu tinha quase certeza de que ele desejaria prolongar a experiência o máximo possível, mas sua resposta me surpreendeu.

— Podemos fazer como você quiser. — Ele tirou a camisa e a jogou no chão, de modo que seu peito nu ficou diante de mim. Ele abaixou a cabeça e senti seus dentes mordiscarem minha orelha. — Estamos apenas começando — sussurrou, indo para baixo e passando a língua sobre minhas costelas. — Você está achando intenso? Espere para ver, vou levá-la à loucura. Você ficará prestes a explodir.

Tremi de medo quando ele me tocou. Havia uma centena de coisas que queria dizer, mas forcei-me a ficar calada. Em minha mente, uma voz berrava: E se elas não vierem? Conforme os minutos foram passando, ficou cada vez mais claro que não viriam. Tentei me desligar. Estiquei o braço e deixei um dedo descer pelo peito de MGK. Ele estremeceu e se apertou contra mim.

— Estou nervosa — sussurrei, tornando a minha voz a mais inocente que consegui. — Nunca fiz nada assim antes.

— Porque você estava com uma amadora — disse. — Não se preocupe, vou cuidar de você.

Não consegui pensar em mais nada para atrasar o inevitável. Não havia sinal de Lauren nem de minha família. Era tarde demais; não havia mais o que fazer. Eu me deitei e fechei os olhos, aceitando o meu destino.

— Estou pronta.

— Estou pronto há muito tempo — respondeu MGK e senti suas mãos subirem pelas minhas pernas.

De repente, escutei um som parecido com um ronco forte do fundo da caverna. Era como se a rocha em si estivesse sendo aberta. O som ecoou pelas paredes, fazendo MGK sentar-se ereto, de repente em alerta, os olhos escuros analisando o ambiente ao redor. Parecia que o teto acima de nós estava prestes a ruir. Eu me sentei, esforçando-me para tentar escutar um som confortante. MGK disse vários palavrões um pouco antes de a parede mais distante explodir numa torrente ensurdecedora de pó e pedras, e um conversível Chevrolet Bel Air 1956 passar pelo buraco aberto. O carro pareceu voar quase em câmara lenta ao entrar na caverna e parar a metros de onde estávamos, com o barulho de um trovão. O corpo do carro era comprido, como eu me lembrava, com os faróis acesos e a pintura azul-clara arranhada pelo mergulho que acabara de dar.

— Lauren? — sussurrei.

O para-brisa estava coberto de poeira, mas, um momento depois, a porta do motorista se abriu e uma pessoa saiu dali. Ela era exatamente como eu me lembrava: alta, cabelos pretos e olhos verdes. Em seu pescoço, vi o crucifixo brilhando. Atrás dela, Ally e Normani saíram do carro, parecendo pilares dourados na câmara escura. A expressão delas era séria, e os olhos estavam fixos em MGK. Um vento soprou e seus cabelos esvoaçaram. Demorei um pouco para perceber que as asas delas estavam abertas, como sempre acontecia antes de um conflito. Estavam eriçadas, como as asas de uma águia, formando sombras de três metros nas paredes de pedra. Estavam fortes e majestosas como sempre, mas senti que o fato de estarem no Inferno enfraquecia-as. Não tinham nada a ver com o lugar, e logo seus poderes começariam a diminuir. Não havia sinal de Miguel... Supus que ele tivesse aberto o portal e desaparecido. Mas a espada dele brilhava na mão de Normani. Também não vi Dinah. Provavelmente a deixaram no Alabama — aquela parte da missão seria perigosa demais para ela. O rosto de Lauren estava tomado de alívio. Ela deu um passo à frente e estendeu o braço na minha direção, mas parou ao ver como eu estava vestida. Analisou a cama, as flores e os lençóis desarrumados. Nós nos entreolhamos, e sua expressão de dor me fez sentir como se me dessem um tapa na cara. A princípio, ela se mostrou confusa, e então irada, e depois estranhamente impassível, como se a montanha-russa de emoções que a invadia fosse forte demais para ela aguentar. Foi MGK quem interrompeu o silêncio primeiro.

— Não! — Ele saltou em minha direção e me pegou com tanta força que gritei de dor. 

Isso pareceu colocar Lauren em ação.

— Tire as mãos imundas dela! — rosnou Lauren. 

Tentou correr, mas Ally e Normani a contiveram. MGK olhou para elas como um animal feroz, os olhos arregalados de ódio e pânico.

Normani contraiu os lábios numa expressão de zombaria que eu já vira antes.

— Você achou, de fato, que sairia ileso? — perguntou com a voz suave, tornando-a ainda mais ameaçadora.

— Vocês não deveriam estar aqui — disse MGK. — Como entraram?

Normani deu um passo à frente e girou a espada num arco, testando seu peso nas mãos.

— Digamos apenas que tivemos reforços inesperados.

MGK silvou como uma serpente, espalhando perdigotos pelo ar.

— Você não entenderia, mas cuidamos de nossos semelhantes — disse Normani.

Senti os dedos de MGK apertarem meu ombro. 

— Ela é minha — disse ele. — Não podem tirá-la de mim. Eu a ganhei.

— Você enganou e mentiu — disse Normani. — Ela é nossa, e viemos buscá-la. Solte-a antes que tenhamos que forçá-lo.

Por um momento, MGK ficou totalmente parado. Então, de repente, me senti sendo erguida, com os dedos dele ao redor de meu pescoço. Estava pendurada, e a pressão na minha garganta era quase insuportável. Meus pés se debatiam sem parar, e me esforcei para puxar todo o ar que conseguia.

— Eu poderia quebrar o pescoço dela num instante — avisou.

— Pare com isso — disse Lauren e, antes que pudessem detê-la, ela se lançou para a frente e atacou MGK com o ombro direito, como se estivesse num campo de futebol. 

Surpreendido, MGK me soltou e me joguei na cama, ofegante. Os dois caíram de costas na água. MGK parecia não acreditar na intensidade do ataque. Lauren se virou, acertando um soco certeiro na mandíbula dele. Eles se atracaram de novo, rolando pelas rochas nas sombras enquanto tentavam conseguir o controle. Escutei MGK gemer diversas vezes com os golpes, ele não jogava limpo e, assim que ele se recuperou por um momento, passou uma das mãos pelos cabelos, e Lauren correu pela caverna e pulou na cama ao meu lado. MGK estalou os dedos e correntes de ferro se materializaram, prendendo-nos ali. Ele se aproximou como um predador esperando pela caça. Ficou perto de nós por um momento e deu um soco no olho esquerdo de Lauren, que virou a cabeça para o lado. Eu a vi fazer uma careta, mas ela não deu a MGK a satisfação de saber que estava ferida. Gritei e tentei me livrar das correntes quando MGK acertou um soco na mandíbula de Lauren, e o sangue escorreu de seu lábio cortado. Então, uma força ergueu MGK e o jogou no chão da caverna. As correntes que nos prendiam desapareceram. Lauren gemeu e rolou para o lado, encarando-me.

— Sinto muito — disse ela. — Sinto muito por ter deixado isso acontecer. Jurei que sempre protegeria você e a decepcionei.

Olhei para ela por um momento antes de abraçá-la e enterrar o rosto em seu pescoço.

— Você está aqui — sussurrei. — Você está aqui de verdade. Meu Deus, como senti saudades.

Ficamos abraçadas por muito tempo, até vermos minhas irmãs confrontando MGK. Ele deixara de ser um rapaz garboso e transformara-se em algo que mal lembrava um ser humano. Seus cabelos estavam despenteados, seu nariz sangrava e seus olhos brilhavam de raiva. Ally e Normani, juntas, pareciam oponentes inatacáveis.

— Solte Camila, Arakiel — avisou Normani em voz baixa — antes que isso fuja do controle.

— Você terá que me matar — disse. — E fizeram um trabalho muito ruim na primeira vez.

Normani apontou a espada de Miguel diretamente a ele.

— Não viemos despreparadas.

— Acham que não sei o que este lugar faz a vocês? — perguntou. — Cada segundo que passam aqui ficam mais fracas.

— Somos quatro — disse Normani. 

— Incluindo um ser humano e um anjo tão fácil que estava prestes a se entregar a um demônio.

Lauren saiu da cama e encarou MGK com olhar intenso.

— Não fale assim dela.

— O que foi? — perguntou. — Não tolera saber que sua namoradinha estava prestes a permitir que outro a usasse? Que desse a ela algo que você nunca conseguiu dar?

Lauren balançou a cabeça.

— Isso não é verdade.

— Pergunte a ela — disse MGK, divertindo-se.

Lauren virou a cabeça de leve para olhar para mim.

—Camz?

Não soube o que dizer. Como poderia lhe contar que estivera prestes a cometer uma traição imperdoável? Abri a boca e a fechei de novo, torcendo os lençóis.

— Acho que quem cala consente — disse MGK, feliz consigo mesmo.

Lauren fez uma careta e se afastou.

— Então é verdade. — Ela fez um movimento com a mão ao seu redor. — Tudo isto era para ele?

— Você não entende — disse. — Estava fazendo isso por você.

— Por mim? Como assim?

MGK uniu as mãos, animado.

— Oh, por favor, não é hora de discutir a relação.

— Fizemos um acordo — expliquei. — Se dormisse com ele, ele não tentaria ferir você de novo.

Os olhos de Normani se voltaram para MGK.

— Você é, mesmo, o maior verme da Terra — disse ela, com nojo. — Não culpe Camila, Lauren... Ela não sabia que ele mentia.

— Você estava mentindo? — gritei. — Ia me entregar, e você estava mentindo o tempo todo!

— Claro que sim — disse MGK. — Não se pode confiar num demônio, querida. Você, mais do que qualquer pessoa, deveria saber disso.

Antes de eu responder, Lauren se descontrolou e começou a dizer palavrões. Nunca a ouvira xingar antes, e até Normani ergueu as sobrancelhas, surpresa.

— Veja só... Quem diria... Parece que a menina bonita tem sangue correndo nas veias — debochou MGK.

— Quando vai parar de nos perturbar? — perguntou Lauren. — É a única maneira de se divertir na vida? Você é realmente tão patético?

Aproveitei que MGK estava distraído para sair da cama e correr até minhas irmãs, colocando-me atrás delas em segurança.

— Pode se esconder, Camila — disse MGK lentamente. — Mas não vai conseguir sair.

— Na verdade, irmão — disse Normani com intensidade. — É você que não vai.

De repente, as asas dela a ergueram, e rapidamente ela sobrevoou MGK, com a espada de Miguel em punho. Tudo aconteceu muito depressa, praticamente um borrão. Escutei o som do metal cortando o ar, e, quando os pés de Normani tocaram a terra firme, a espada estava dentro do peito dele. Lauren ficou boquiaberta pelo choque e correu em minha direção, segurando-me pelos ombros. MGK gritou e segurou o cabo, arrancando a espada de seu corpo e jogando-a no chão. O sangue que manchava a lâmina era mais denso do que o normal e preto como a noite. Jorrava do ferimento e formava uma poça ao redor dele, o poder demoníaco saindo dele. De repente, o sangue espumou na boca dele. Um espasmo tomou conta de seu corpo, e ele caiu no chão. Antes de MGK perder os sentidos, ergueu a cabeça e esticou o braço na minha direção. Seus olhos imploravam enquanto ele tentava dizer algo, mas sem emitir som. A princípio, não consegui entender as palavras, mas consegui assimilar algumas sílabas em sua respiração ofegante.

— Camila, perdoe-me.

A pena fez com que me aproximasse dele. Fui guiada por um desejo de oferecer o conforto que pudesse.

— O que está fazendo? — Escutei a voz de Lauren atrás de mim, mas estava distraída demais com a tristeza dos olhos de MGK. 

Ele podia ter me atormentado em Hades, mas eu sabia que tudo aquilo surgia do desejo de ganhar meu afeto. Talvez, no fundo, ele só quisesse ser amado. No mínimo, não deveria morrer sozinho. Estranhamente, uma parte de mim queria ter a chance de se despedir.

— Camila, não!

Meus dedos quase tocaram a mão de MGK quando de repente fui puxada para trás. Caí no chão e vi duas asas brilhantes batendo sobre a minha cabeça. Normani, percebendo o que eu estava prestes a fazer, havia atravessado a caverna para me impedir.

— Fique para trás. Se você tocá-lo agora, ele vai levá-la para a morte.

Fechei o punho e a pressionei contra o peito. Então havia entendido errado de novo. Pelo jeito, MGK continuava mentindo até o fim. Ele ainda me olhava fixamente quando seu corpo se remexeu mais uma vez e então ficou parado. Observamos a luz desaparecer de seus olhos até ficarem estáticos olhando para o espaço.

— Acabou — sussurrei, precisando dizer as palavras em voz alta para acreditar nelas. Ally e Mani me envolveram num abraço apertado. — Obrigada por virem me salvar.

— Somos uma família — respondeu Mani como se fosse a única explicação necessária.

Olhei para Lauren e segurei seu rosto com as mãos. Seus olhos estavam marejados e, quando ela me tocou no rosto, percebi que eu estava chorando em silêncio.

— Eu amo você — disse apenas, afirmando um fato inegável.

Poderia ter dito muito mais coisas, mas, naquele momento, aquilo era suficiente. Era só o que importava.

— Amo você também, Camz. Mais do que pode imaginar.

— Precisamos sair depressa — alertou Normani, orientando todas nós em direção ao carro. — O portal não permanecerá aberto por muito tempo.

— Espere. — Resisti enquanto elas tentavam me levar ao carro. — E Hanna e Tuck?

— Quem? — perguntou Ally, confusa.

— Meus amigos, eles cuidaram de mim enquanto estava aqui. Não posso simplesmente deixá-los.

— Sinto muito, Camila. — Os olhos de minha irmã estavam repletos de pesar verdadeiro. — Não podemos fazer nada por eles.

— Não é justo — gritei. — Todo mundo merece uma segunda chance.

— Os demônios estão vindo. — Normani segurou a minha mão. — Eles sabem que estamos aqui e que o portal está começando a se fechar. Devemos sair ou ficaremos presas.

Assenti em silêncio e as segui, com lágrimas quentes escorrendo pelo rosto. Normani assumiu o volante e me recostei em Lauren no banco de trás. Olhei para trás mais uma vez e vi o corpo de MGK boiando na água. As coisas pelas quais me havia feito passar provavelmente me assombrariam pelo resto da vida, mas ele não podia mais me afetar. Queria sentir raiva, mas apenas sentia pena dele, que morreu como vivera, sozinho e sem ter conhecido o amor.

— Adeus, MGK — sussurrei e virei o rosto, escondendo-o no peito de Lauren. 

Senti quando ela beijou o topo da minha cabeça e seus braços fortes me apertaram quando Normani deu partida no Chevy e correu em direção ao buraco na caverna que já estava começando a se fechar. Só estava pensando numa coisa quando a escuridão desapareceu e voltei para a minha amada Terra. Estava voltando para a vida que conhecia, a vida da qual sentia falta e para a qual desejava voltar, mas ali nos braços de Lauren eu já estava em casa.


Notas Finais


Caaaalma que tem epílogo haha
Ainda não é o fim!!


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