História Half a Heart - Anjo da guarda

Nunca pensei concretamente na minha morte, desde quando eu descobri sobre a doença na minha cabeça só passava o fato de ir embora, magoar as pessoas e fim. Mas eu vim percebendo que se tratava de muito mais, morrer não significava desaparecer, significava não estar mais ali com as pessoas que gosta ou não poder fazer mais o que gosta, significava parar no tempo, congelar e sair da sua vida que você sempre foi acostumado a ter... para uma, talvez, nova vida.

Sempre tive medo da morte, meus planos quando pequena era viver para sempre e mudar o mundo, claro isso antes do meu pai sair de casa. Quando tudo entre minha família aconteceu, eu me vi desacreditada nessa historia de planos. Meus pais tinham planos: casar, ter filhos, formar uma família, ficarem bem profissionalmente e viverem felizes para sempre, só que na vida deles não existiu o felizes para sempre... mentira, até existiu durante alguns anos e ai acabou. Como toda historia a deles acabou e por isso eu comecei a desacreditar em planos, em historias e até mesmo em pessoas.

Cresci de uma maneira totalmente diferente que a minha mãe tinha imaginado, eu era a filha rebelde abandonada pelo pai, que aparentemente não teria um futuro pela frente, alguns chegavam a dizer  que eu iria me drogar, me prostituir e acabar com uma vida. Com a minha vida. Não tiro a razão deles, se eu tivesse continuado do jeito que eu estava com certeza sairia de casa, iria morar com algum cara que iria me bater, me drogaria, beberia até não aguentar o fato da minha vida ser uma merda e acabaria me matando. Sim eu me mataria.

Só que por algum motivo tudo mudou, tudo mudou no dia em que eu cheguei daquela festa e a minha mãe brigou comigo, me deixou de castigo, tudo mudou a partir do momento que eu a desobedeci encontrei meu namorado com outra... tudo mudou quando a minha melhor amiga -  a pessoa por quem,  com certeza se eu pudesse, daria a vida!  - morreu em um acidente no qual eu estava dirigindo, tudo mudou quando eu reencontrei meu pai. E foi ai que minha vida tomou um rumo, eu encontrei pessoas que gostavam de mim de verdade, pessoas que eu tinha certeza que eu podia confiar, eu criei uma historia, isso mesmo igual aquela que eu tinha desacreditado e por fim eu criei planos. E como uma bomba, tudo desmoronou na minha cabeça, novamente.

Eu voltava a descobrir que não conseguiria ter um futuro, que de uma forma ou outra no plano divino eu morreria, se não fosse por um suicido seria por uma doença, eu descobri que ali eu não havia escolha.

- Gabi? – a voz da Margaret me fez abrir os olhos.

- Oi – disse sorrindo

- Como você está? Preparada? – ela sentou do meu lado

- Eu não sei... eu estou com medo.

Margaret pegou minha mão e sorriu, ela estava com os olhos vermelhos. Olhei ao redor e meus pais estavam adormecidos no sofá e o Liam estava sentado na poltrona dormindo também, eles estavam ali por mim... eu precisava ter força por eles.

- Confie em Deus, Gabi... você vai sair dessa.

Ela disse chorando.

- Quando eu te conheci – comecei a falar – acho que já disse até isso, mas eu achei que a culpa do casamento dos meus pais terem acabado fosse sua, mas depois de um tempo percebi que não foi, a relação deles já tinha esfriado – respirei fundo – e meu pai achou em você alguém que o fizesse feliz e minha mãe conseguiu achar alguém que a fizesse feliz agora, então me desculpa por tudo o que eu te disse, sei que precisou eu ficar doente pra isso, mas me desculpa...

- Não Gabi, não precisa pedir desculpas minha querida – ela beijou minha cabeça, você não imagina o quanto é especial.

Sorri e dei um abraço nela.

- Margaret, posso te pedir uma coisa?

Ela assentiu

- Entrega isso pras meninas quando elas chegarem, se eu estiver... bem você sabe, se eu não resistir – disse apertando as cartas – e entrega isso para o Liam... porque eu não vou ter coragem...

Ela pegou os dois envelopes da minha mão e guardou-os no bolso.

- Descansa vai, você vai precisar relaxar.

Fechei meus olhos e tentei me concentrar só em uma coisa: minha vida.

[...]

Barulhos de vozes no meu quarto me fizeram despertar, olhei em volta e parecia que todos tinha burlado as regras de “Não pode muita pessoa em quartos” e entraram sem nem pedir. Meus pais e a Margaret estavam conversando, Carol estava abraçada com o Louis conversando com a Ariel e a Vitoria, Camila estava com o Niall, Zayn e Harry perto da janela e o Liam estava andando de um lado para o outro perto da porta. Sorri da situação e fiquei observando eles por alguns segundos, até o Liam se aproximar de mim.

- Estávamos esperando você acordar. – ele disse e todos se voltaram pra mim.

- Eii como você está? – Vih disse vindo me dar um abraço.

- Bem... vivendo – sorri, mas eles não acharam graça – vai gente por favor né? Um pouco de humor negro nessa vida não mata ninguém.

- Parou esta bem, Gabi? – Milla disse.

- Tudo bem, eu tenho uns assuntos pra resolver com você dona Ariel – disse e ela parou e me fitou, todos ficaram calados – você sem duvida é a pessoa mais esperta que existe nessa face da terra, conseguiu agir pelas minhas costas sem nem eu mesma perceber...

- Gabi eu...

- Espera eu acabar de falar – sorri – onde estava? Ah sim, você é uma pessoa que por mais chata que seja e por mais ciúmes que tenha, sempre vai estar ali pras pessoas verdadeiras e saber que você está aqui comigo, me deixa totalmente feliz porque... você significa muito pra mim e entrar naquela cirurgia sem te dizer isso seria o fim...

- Desculpa por tudo o que eu te fiz, eu simplesmente ceguei e perdi todos que eu amava, e de todos eu magoei mais você... não quero te perder Gabi.

- Você não vai me perder bobona – sorri – vem cá, me da um abraço.

Ari me abraçou e começou a chorar no meu ombro, eu fiz o mesmo, ela sem duvida era muito especial na minha vida e eu não ia deixar que nada de ruim acontecesse conosco. Não mesmo.

- Agora vocês querem noticias boas? – sorri e todos ficaram confusos. – eu estou casada.

Fiz uma cara de surpresa e ergui a mão, todos olharam automaticamente para o Liam e ele ergueu a mão também, as meninas começaram a surtar e os meninos a sorrir. Nos começamos a gargalhar da situação.

- Então quer dizer que eu ganhei uma cunhada? – Carol disse

- Tecnicamente sim.

- E eu um cunhado? – Niall disse  - se você magoar minha maninha eu te mato, independente de amizade. Ah e isso serve pra você também Harry, machuca minha gêmea e eu te machuco.

- Sim senhor – Liam e Harry disseram em um uni som.

- Larga de bobagem Niall.

Fiquei observando cada um deles, a feição de cada um, o jeito que eles falavam. Precisava ver isso, talvez pela ultima vez, eu não tinha ideia do que aconteceria comigo assim que entrasse naquela cirurgia, poderia dar tudo certo... como poderia dar tudo errado, eu poderia sair viva como eu também poderia sair morta. Minha vida estava em uma corda bamba, se eu conseguisse me equilibrar e chegar ao outro lado eu estaria bem, e se eu caísse? Era o fim.

- Eu tenho uma coisa pra dizer a vocês... todos vocês – disse incluindo os adultos que  estavam prestando atenção de longe.

Meus amigos e adultos se calaram e ficaram me observando, me arrumei na cama e sorri, mas na verdade eu queria chorar.

- Obrigada – disse – a cada um de vocês, de um jeito único e especial vocês em pouco tempo transformaram minha vida e fizeram ela valer a pena. Mãe, pai vocês me deram a vida... mãe você foi e ainda é meu anjo, me salvou das maiores burradas e foi por você também que eu reencontrei meu pai, conheci essas pessoas que se tornaram meus melhores amigos – respirei já chorando – pai você, nossa mesmo com todas nossas diferenças... você se tornou melhor que eu pensava, Margaret não tenho o que falar, a vida girou de um jeito que conseguimos nos acertar, meninos eu amo vocês, vocês que agitaram a minha vida, meu anjos e meninas eu... não tenho o que falar, encontrei irmãs...

Eles estavam chorando, limpei minhas lagrimas e olhei pro Liam.

- E você mocinho – sorri – você foi minha mudança, você me fez cair, mas me ajudou a levantar, você foi pra mim Liam o que eu sempre sonhei... meu sapo de cavalo branco e eu te amo, te amo e te amo – Disse e abracei ele.

Olhar os rostos dele, de cada um das pessoas que estavam ali, me dava chances de lembrar de cada momentos.

- E eu prometo que vou prende-los em meu coração... e sempre vou lembrar de vocês... eu prometo.

Uma batida na porta fez todos se assustarem, haviam meu medico e uma equipe de enfermeiros, ele se aproximou olhou para todos e olhou para mim.

- Está na hora Gabi.

Vitoria Pov.

Os médicos pediram para sairmos enquanto preparavam a Gabi para cirurgia, ninguém poderia ficar no quarto e ninguém poderia acompanha-la. A cirurgia duraria cinco horas ou mais, era uma cirurgia perigosa. Sentei perto do Harry e ele agarrou minha mão. Eu estava com medo, estava com medo por ela, não queria perder minha melhor amiga, não podia perde-la.

Encostei minha cabeça no ombro dele e comecei a chorar. Era difícil saber que você poderia perder uma pessoa tão especial na sua vida.

- Vai ficar tudo bem, acredita amor – Harry disse.

- Será mesmo Harry?

Ele me abraçou e me pressionou contra o seu peito. Minha garganta estava tampada de tanto chorar, eu queria gritar. Sim, queria só não podia. Minha mãe se aproximou de mim e me abraçou forte, eu precisava de um colo de mãe naquela hora, por mais que a minha não fosse a mais perfeita de todas ela era a única que me reconfortava como ninguém.

- Não chora amor – mamãe pegou minha mão e me guiou até um canto.

Com um sinal, ela pediu para Cah, Milla e Ari se aproximarem, formamos um circulo em volta dela e a mesma sorriu singelamente.

- Vocês tem que acreditar... – ela respirou fundo – a Gabi pediu pra entregar isso a vocês... ela disse que era pra entregar caso... vocês sabem, mas preferi entregar logo.

Minha mãe deu um beijo na minha cabeça e saiu, estava com um pequeno envelope branco em minha mãos, era uma carta. Olhei para meninas e elas pediram para eu abrir logo, assim fiz! Retirei o papel de dentro e abri com cuidado.

“Bom e aqui estou eu deitada em uma cama de hospital esperando os enfermeiros trazerem os meus remédios, estava olhando para o teto então pensei “Porque não?” e agora estou escrevendo para vocês, minhas amigas, minhas irmãs, minhas salvadoras. Estranho falar isso agora né? Sempre achei que minha ida para o Tennessee fosse algum castigo divino por eu ter pego naquele volante embriagada, mas só agora eu percebi que não. Estava planejado. Por um momento achei que isso fosse egoísta da minha parte porque Malu precisou morrer, para eu poder viajar para a cidade do meu pai e assim conhecer todos vocês.

Eu podia contar aqui todos os motivos para amar vocês pra sempre, mas decidir resumir. Meninas, passamos ótimos e felizes momentos juntas e agora vamos nos separar, sei que deve ser doloroso pra vocês mais do que pra mim, sinto muito... Não queria em nenhum momento machucar vocês, ou fazer vocês chorarem por minha causa, se eu pudesse eu juro, juro mesmo que retiraria esse tumor de merda da minha cabeça e voltava correndo pra vocês. Poxa vida, porque logo agora depois que eu encontrei elas você resolve me levar? Não vou mentir dizendo que eu não estou chorando, eu estou chorando muito, só por pensar que não vou mais ouvir risadas da Camila, ou as frescuras da Vitoria, ou as birras da Ariel e ate mesmo as broncas da Carol... Droga!

Vocês sempre ficaram do meu lado enquanto eu estava ai, me ajudaram sempre que precisei, agora é minha vez de retribuir. Eu posso ter ido embora, mas vou sempre estar com vocês... Best friends forever lembra? Vocês foram meus anjos, agora é a minha vez de ser o anjo de vocês. Fiquem bem, porque só assim eu ficarei bem.

Amo vocês com tudo que é mais sagrado.

Gabi.”

Terminei de ler me engasgando com as lagrimas, Camila, Ariel e Carol estavam no mesmo estado que eu, naquele momento percebemos o quanto ela era especial na nossas vidas. Na verdade já sabíamos, mas aquilo comprovou, a Gabi era o nosso anjo e ela não podia ir embora, não podia nos deixar... não podia.

Liam Pov.

Isolar era a minha mais nova graça, não ia conseguir ficar perto de ninguém, eu precisava ficar sozinho comigo nós meus próprios pensamentos. Gabi já estava a duas horas em cirurgia e nós não tínhamos noticia desde a hora que saímos do quarto, eu estava realmente com medo do que pudesse acontecer com a minha pequena. Não queria que ela fosse embora... não queria perde-la.

Encostei minha cabeça na vidraça, dava para ver o jardim daqui estava chovendo e a chuva caia em tão alto volume que alagava a grama, fechei os olhos e me lembrei do dia em que eu salvei ela de cair da barranceira com a bicicleta, também estava chovendo... eu cuidei do pé dela, e brigamos como sempre. Acho que foi ali que eu comecei a me apaixonar por ela e não queria aceitar, afinal nós odiávamos não odiávamos?

Não, não dava, eu não conseguia imaginar nada parecido a viver sem ela. Poderia ser idiota, mas ela entrou na minha vida do jeito mais imbecil possível e não poderia sair dela tão cedo. Eu não lutei pra conquista-la atoa.

- Pensando?

Assustei-me com a voz da Margaret, ela estava com as mãos dentro do sobretudo branco e olhava para fora da janela assim como eu. Ela se aproximou e apontou para o banco.

- Acho que eu nunca vou esquecer a cena de ontem – ela sorriu – foi até engraçado.

- é, pode ser – respirei fundo

- Liam, você não pode perder as esperanças...

- Eu não perdi, é que... se algo acontecer com ela eu não sei o que vai ser de mim...

- Acho que se algo acontecer ela não iria querer que você ficasse mal, ia querer que você lutasse... porque ela lutou até o final... – ela respirou e tirou um envelope do bolso. – ela escreveu isso para você...

Margaret me entregou o envelope e saiu, olhei o tinha sua letra na freste escrito “Para a pessoa que mais me fez feliz”, respirei fundo e abri.

“Oi amor, tudo bem? Sei que não deveria estar fazendo isso, porque por mais que eu tente sei que no fundo no fundo esta te machucando. Desculpa. Mas eu não sabia se eu teria chance de te dizer tudo o que eu tenho pra te falar, tudo o que eu tenho comigo desde o dia que eu te conheci, então, por favor, ao fim dessa carta me perdoe.

Eu sempre te amei, pode parecer mentira, mas não... Eu sempre senti algo forte desde a primeira vez em que eu te vi... Sei que no fundo você sentiu também, sempre brigamos né? Era divertido tentar te irritar, ai tudo mudou quando você começou a namorar com a Ari... eu me vi com ciúmes, muito ciúmes, eu nunca te disse... mas eu que juntei o Zayn e a Ari... só pra assim poder tentar ter uma chance com você, você me perdoa? Talvez se eu não tivesse feito tudo isso você estaria com ela e seria mais fácil de dizer adeus. Droga Liam, eu não quero dizer adeus... Porque as consequências insistem em me afastar de você?

Tudo bem... Vamos falar de agora, eu agradeço a todos os anjos, Deuses, a Malu por ter te colocado na minha vida porque só assim eu conheci o que as pessoas chamam de amor verdadeiro, um amor puro, foi esse o amor que eu senti por ti, um amor único. Eu te amei e eu te amo, e vou te amar por toda eternidade... Me perdoa por não fazer o nosso futuro acontecer, quando eu tiver lá em cima vou mexer meus pauzinhos para colocar alguém bem legal na sua vida e assim você cumprir nossos planos com ela, eu juro. Eu vou te levar comigo pra sempre e mesmo que exista vida pós a morte ou não, eu vou levar esse amor pra sempre. Você me mudou Liam, você me fez ver o quanto é bom viver e eu te agradeço isso pra sempre.

Te amo por toda eternidade.

Gabi.”

Abracei a carta contra o meu peito e comecei a chorar. Ela estava se despedindo, senti um braço ao redor de mim, era a Camila. Ela deve ter me visto e correu até mim, abracei Camila e desabei no seu ombro coisa que eu nunca tinha feito. Nunca chorei na frente de alguém e agora... ela estava de despedindo de mim, era isso?

Gabi Pov.

Estava escuro, não conseguia ver nada, dava para escutar barulho de carros com ambulância. Escutei uma voz me chamar, uma duas e três vezes, mas não conseguia ver quem era, até tudo ir clareando de pouco em pouco, pisquei três vezes e consegui ver, eu estava em um campo florido, não tinha a mínima ideia de como tinha ido parar lá, só sei que eu estava lá.

Ai meu Deus! Será que eu já tinha morrido? Eu morri? Não, não,não,não. Bati na minha cabeça três vezes e nada, comecei a ver que talvez eu estivesse morta mesmo, então era ali o céu? Eu precisava sair daquilo!

- Você está bem? Normal ou fumou alguma coisa? – ouvi uma voz familiar

- Maria Luiza? – falei virando.

Era ela mesmo, ao vivo e a cores. Malu estava vestida toda de branco um vestido que ia até o pé, que por sinal estavam descalços, seu cabelo ruivo estava trançado e decorado com flores rosas, ela sorria para mim. Era ela mesmo, fiquei boquiaberta. Corri ao seu encontro e quando abracei percebi que ela estava solida, não era um sonho. Ali era real, eu estava com a Malu.

- Como você... Onde eu estou?

- Digamos que você esta em um campo – ela sorriu e agarrou meu braço – vem vamos caminhar.

Ficamos de braços dados até chegarmos a uma arvore, eu conhecia aquela árvore, era mesma que estava na cachoeira, sentamos de baixo da mesma e eu respirei fundo. Ar puro, eu podia sentir a brisa boa e gelada batendo nos meus cabelos, eu podia me sentir leve.

- Eu sabia que a gente ia se encontrar – ela disse ainda de olhos fechados – só não sabia que ia durar tanto tempo.

- Tanto tempo? Malu você aparecia nos meus sonhos.

- Ah aquilo? Aquilo não era eu, eu entende? – ela sorriu – eu só estava fazendo um jeito de você não acabar com o meu trabalho.

- Trabalho?

Ela piscou e levantou, a luz do sol que batia nela parecia que não chegava perto da luz que a mesma emitia, era uma coisa extraordinariamente perfeita. Malu girou um pouco e depois voltou ao meu encontro, ela estava mais alegre do que eu lembrava que ela era.

- Todos nós temos uma missão na vida – ela começou a falar – a minha missão era você e eu entendi isso quando... bem... sofremos aquele acidente, eu cuidava de você em vida e continuei cuidado de você na morte...

- Espera, você esta dizendo que é meu anjo da guarda?

- Eh... não completamente, eu tenho que te dividir com outro anjo – ela gargalhou – mas eu digamos, sou a principal.

- Isso é loucura!

- Meu amor, a vida é uma loucura.

Ela levantou novamente e me deu a mão. Caminhamos mais um pouco e chegamos a uma espécie de riacho, a agua era tão azul, tão azul que dava para ver tudo os peixes que nadavam por debaixo, eu me aproximei para ver mais de perto, aquilo era inacreditável... tudo aquilo. Olhei pra Maria Luiza e ela estava sentada mexendo na água.

- Sabe o quanto foi difícil convencer a tia Ana a te fazer ir para o Tennessee? – ela respirou fundo – tive que mexer muito com a cabeça dela.

- Foi você? Por que você isso Malu? – disse sentando ao seu lado.

- Porque eu sabia o que seria de você em Nova Iorque... você se culparia, até não poder mais... eu precisava te salvar... e te salvei – ela sorriu e encostou a cabeça no meu ombro – te fiz conhecer novas pessoas, em novos ares, e te fiz encontrar o Liam.

- Meu Deus...

- É eu sei, já pode me agradecer e dizer que me ama – ela gargalhou.

- Eu senti saudades...  e você não imagina o quanto eu te amo Malu, te amo mesmo – abracei ela forte.

Ela se separou de mim e eu vi as lagrimas nos seus olhos. Reencontrar minha melhor amiga naquele lugar magico, era melhor do que comer chocolate quente no inverno. Não consegui desgrudar dela um instante, acho que conversamos sobre tudo, tudo mesmo.

- Gabi – ela disse um pouco seria

- Sim – disse pegando umas pedrinhas.

- Eu preciso te falar uma coisa.

- Fale

- Eu tenho que ir... – ela disse olhando para os pés.

- Como assim? Porque? E eu?

- Já passou meu tempo aqui... mas você pode vir comigo? É só você querer...

- Não estou entendendo

- Você tem uma escolha.

- Que escolha?

- Você pode preferir vir comigo e nunca mais nós separarmos ou pode escolher ficar...

Ai que eu me toquei, eu não estava morta... eu estava no meu subconsciente e estava quase para morrer. Conseguia sentir as palpitação no meu peito diminuírem, era por isso que ela estava sem tempo. Então eu tinha uma escolha... entre viver ou morrer? Olhei para Malu, minha melhor amiga desde sempre, eu tinha acabado de reencontrar ela... e talvez já iria perde-la... Minha cabeça deu voltas, meu olhos se encheram de lagrimas, Malu me estendeu a mão.

- Vai ficar ou você vem comigo?