Já era noite quando decidi ir até a sala de treino. Ainda havia alguns integrantes acordados, ou parcialmente conscientes. Dei uma última olhada ao meu redor para ver se ninguém prestava atenção em mim antes de abrir a porta.
– Onde pensa que vai numa hora dessas, Kwon MinSoo? – Ouvi TaeYang hyung dizer sem tirar os olhos da televisão.
– Estou indo até a nossa sala de treino, acho que esqueci meu casaco lá. – Me virei na direção do nosso líder.
Yang suspirou.
– Está bem. Vá logo e não deixe as câmeras te pegarem, não quero ter problemas com Hea noona por sua causa.
– Relaxa.
Então saí do apartamento direto para a sala de treino. Não estava mentindo para Yang, eu realmente não estava achando o meu casaco, mas esse não era o verdadeiro motivo de eu estar indo para lá. Não era nada importante, eu só precisava passar um tempo sozinho e aliviar o estresse. Isso também não significa que eu não goste da minha nova família, mas eu não estava mais aguentando ficar naquele quarto com Dave.
E por falar em nova família, a quanto tempo não vejo meus pais e meu irmão. Eles com certeza devem sentir minha falta tanto quanto sinto a deles, mas é por uma boa causa, a realização do meu maior sonho. A cada dia que todos treinamos juntos, mais próximo o nosso debut se torna, e com isso fico pensando em como minha vida teve algumas mudanças desde que entrei para o HBLD. Debutar em um grupo misto com um número tão grande de integrantes nunca esteve nos meus planos, mas até que isso não é ruim, afinal é com eles que eu compartilho o meu sorriso todos os dias (tirando o fato de eu querer espancar a cara dos garotos todos os dias).
A relação que tenho com as garotas até que não é tão constrangedora, elas até que são divertidas, especialmente a nossa louca maknae. Mas parando para pensar, você deve estar se perguntando sobre uma casa onde moro com mais onze pessoas de quase mesma faixa etária que eu e não tenho interesse em nenhuma delas, não é mesmo? É aqui que você se engana, mente estúpida. De todos os obstáculos que enfrentei na vida até agora, posso alistar o mais complicado deles. Não é um objeto, muito menos algo que eu consiga lidar. É algo que possui nome e sobrenome: Wu Marie.
Um obstáculo com várias definições: baixinha; sino-canadense; gorda; tímida; bipolar; delicada; insuportável; agressiva; amável; sem graça; tarada por pescoços; risonha; nossa cozinheira; happy virus; filha de Deméter; maravilhosamente bonita e minha.
Sim, minha. Essa é a única definição que ainda não é 100% verdade, mas um dia ainda irei tê-la só para mim, e eu tenho dó daquele que se tentar se aproximar dela. E vou confessar que no momento o meu alvo é o Takumi. O caso não é que eu seja possessivo (talvez um pouco), mas ele está se tornando muito íntimo dela, e não estou gostando nada disso. Ainda mais quando os dois começam a conversar em japonês, fica impossível entender o que aqueles dois estão dizendo.
O que sinto por Marie com certeza não é uma paixão monótona e muito menos platônica, a questão é que estou perdidamente apaixonado pela dona do sorriso que ocupa minha mente todas as noites. Honey é a integrante mais próxima dela, e eu sou próximo das duas, acho que isso pode ser uma vantagem, não é? Mas cara mente, não se iluda, não sou um pervertido. Assim como também não sou corajoso o suficiente para revelar meus sentimentos para qualquer pessoa. E você sabe disso melhor do que ninguém.
Tudo isso começou quando manager noona nos disse que iríamos dançar em pares, e adivinhe só com quem fui colocado? Exatamente, a baixinha do grupo! Perto dela eu fico parecendo um poste com cabelo, chega até a ser engraçado quando ela precisa se comunicar comigo olhando para cima.
Aish! Sem perder o foco, sexy Min. Vamos continuar com essa história. Desde o anúncio, Marie e eu passamos a ficarmos mais tempo juntos para treinar e nos conhecermos melhor, afinal, eu precisava me dar bem com ela de alguma forma, mas nunca ficamos sozinhos. Apenas quando ela está cozinhando. Ver ela cozinhar é a coisa mais bela que meus olhos conseguem captar, e olha que ela nem é um pacote de cookies. Cookies além de serem bonitos, são cheirosos e gostosos, o que não está longe de ser comparado à Marie. Ela também é gostosa.
– O que estou pensando? – Rio comigo mesmo ficando próximo da porta da sala de treino.
Percebo que não estou sozinho. Consigo ouvir o som baixo de uma das músicas do 4Minute sunbaenim (se não me engano, a música “Crazy”) tocando e alguns passos no chão, alguém estava treinando. “Claro que não, MinSoo, uma pessoa está na sala de treino pra bater punheta” penso comigo mesmo.
Quando abro a porta por completo tenho a visão da nossa segunda integrante mais nova dançando com o cabelo preso num coque prestes a soltar e uma blusa xadrez amarrada na cintura, suando feito um hipopótamo preso em um elevador. De quem eu estou falando? Exatamente, a rapper anã.
Apoio-me na entrada da sala e fico ali a observando dançar até que note minha presença. Sem sucesso. Ando calmamente até ela e enrolo meus braços em sua cintura, a tirando do chão indo em direção da saída. Marie começou a se debater como um peixe fora d’água enquanto fazia um escândalo.
– Para de gritar! – Disse a colocando de volta no chão.
– KWON MINSOO! EU VOU TE MATAR! – Corri para dentro da sala de treino tentando me defender da miniatura de pessoa que atirava seus sapatos em mim.
Quando Marie me alcançou comecei a levar vários tapas nos braços. Agressiva o suficiente para eu conseguir sentir dor.
– Qual é o seu problema? – Disse se jogando no chão.
Não respondi nada, apenas joguei todo o meu peso em cima dela como uma revanche por ter me espancado.
– Baleia encalhada! – Saí de cima dela, que continuou “morrendo” no chão.
– Vai se foder. – Marie disse enquanto se recuperava da nossa pequena batalha.
Nossa relação era assim. Eu a irritava e ela me xingava, e eu adorava isso. Mei não tem noção do quanto fica fofa quando seu rosto fica vermelho quando está com raiva.
– O que está fazendo aqui uma hora dessas? – Pergunto, virando o meu rosto para ela. Ambos deitados no chão.
– Eu que lhe pergunto. Por que veio até aqui?
– Existe uma coisa chamada casaco, e eu preciso do meu. – Dei uma piscadela para ela.
– Em cima das barras. – Marie por sorte era prestativa e me poupava de fazer perguntas.
Levantei-me e fui até onde ela havia indicado. Enquanto pegava meu casaco lindo ouvi seu celular tocar. Não era muito educado ouvir a conversa dos outros, mas ela nem percebeu que agora eu sabia que ela iria se encontrar amanhã com tal de YuGyeom.
– Vamos embora daqui antes que percebam que nós dois estamos fora. – Marie disse já passando pela porta.
– Mei. – A chamei.
– O que? – Disse ela colocando a blusa xadrez no corpo.
– Você precisa parar de treinar mais do que seu corpo aguenta. Ninguém aguenta treinar mais do que dez horas por dia. – Suspirei – Isso vai acabar te prejudicando.
– Soo-yah. – Sorriu. – Já ouviu falar daquele provérbio japonês?
– Qual? – Perguntei confuso.
– Treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, viva o que eles sonham! – Mei sorriu outra vez.
– Aigoo, você está passando muito tempo com o Hiro. – Reclamei, passando direto por ela.
Sua pequena mão segurou a minha, impedindo que eu fosse. Se não fosse Marie, teria rido por ser tão pequena, mas ela parece tão frágil aos meus olhos que chega a parecer a cena mais clichê de um dorama.
– Pare com esse ciúme todo e vá comigo até o apartamento. Sabe que eu tenho medo de ir sozinha. – Mei disse emburrada. Tive vontade de beijar seu biquinho, mas ela iria me dar um belo tapa na cara se eu o fizesse.
– Teve coragem pra vir até aqui, mas pra voltar precisa de mim? – Ri sarcástico. – Admita, você me ama.
– Larga de ser idiota. – Então a baixinha foi na frente.
Decidimos ir então para o terraço. Estava um pouco frio, mas pelo menos a nojenta iria parar de suar.
– Não quero voltar para o quarto tão cedo. – Reclamou.
– E por que não? – Ergui uma das sobrancelhas.
– CheSyeo estava roncando feito um porco sofrendo antes de eu sair de lá. – Comecei a rir da fala dela, a forma na qual se referia à amiga muitas vezes era hilária.
– Dave não estava muito diferente. – Soltei uma risada abafada pela manga da minha blusa.
– A minha sorte é que depois ela some de madrugada. Provavelmente vai encontrar o tal namorado.
– Não consigo imaginar uma CheSyeo namorando. – Marie riu da minha cara de nojo. – Você também não.
– YuGyeom não é meu namorado. – Mei riu mais uma vez da minha cara, desta vez de espanto. – Pensa que não sei que ouviu minha ligação?
– Miane. – Disse cabisbaixo fingindo arrependimento.
– Vou começar a te encher quando estiver com JungKook. – Marie aproximou-se do meu pescoço e fiou cheirando aquela área. Qualquer um que visse aquela cena agora estaria boquiaberto, mas eu não queria lhe tirar dali. Era tão bom.
– O que JungKook tem a ver com o assunto? – Sorri.
– Ele é seu amigo assim como YuGyeom é o meu, se eu não posso ter você também não pode. – Quando ela falava eu podia sentir seu hálito quente. Marie era maluca.
– A diferença é que eu e JungKook somos homens, você e YuGyeom são do sexo oposto.
– E...?
– E isso significa que ele possa ter interesse em você.
Sua cabeça encostada no meu ombro com o rosto virado para o pescoço fez com que seus dentes entrassem em contato com a minha pele quando soltou um pequeno riso. Suspirei com o leve arrepio que senti naquele momento. Era uma das coisas que eu adorava que ela fizesse, especialmente quando ela resolvia mordiscar. Essa era Marie, uma tarada por pescoços. O que me deixava triste era ver que ela fazia aquilo com todos, e a possibilidade dela fazer isso com o até então amigo YuGyeom era grande. O que eu precisaria fazer para ela notar meus sentimentos por ela? Por que ela não demonstrava corresponder? Era tão difícil assim me apaixonar por alguém que sinta o mesmo por mim?
– Mei-yah. – A chamei, mas ela não tirou sua cabeça de onde estava para me olhar. – Quem é YuGyeom?
– Como você é lerdo, MinSoo. – Começou a rir. – Conhece o GOT7?
Não. Infinitas vezes não. Marie não podia ser amiga deles! Realmente, sou muito lerdo.
– Já conheceu o Jackson? – Perguntei após cair na realidade.
– Sim, ele é bem divertido.
– Mais bonito e sexy do que eu? – Me gabei.
– Sobre isso eu já não sei se posso afirmar. – Isso é bom, não?
– Me diga, você gosta do YuGyeom?
– Ele é apenas um amigo, MinSoo! – Marie levantou-se do bando que estávamos sentados. – Além do mais, pare de se preocupar demais com o que não deveria.
Ela estava indo embora, mas como sou mais rápido, consegui impedi-la, a trazendo diretamente de encontro ao meu corpo. Parecia até um sonho, porque estava sentindo meu lábios levemente entrarem em contato com os seus.
– YOU HUUUUUUURT MEEEEEEEEE. – Ouvi uma voz muito bem conhecida entrar no terraço cantando uma das canções do EXO sunbaenim. Marie me empurrou com toda sua força e raiva indo em direção da amiga.
“Queria CheSyeo, poderia, por favor, para de interromper os momentos mais maravilhosos da minha vida? Grato, MinSoo” pensei ao olhar para a maknae que possuía um sorriso malicioso nos lábios.
– Vocês iam se beijar? Oh, miane. Com licença. – Honey disse ainda com aquele semblante em sua face.
– Estou indo com você. – Marie disse seca.
– Marie, por favor...
– Eu te odeio. – A última visão que tive foi de seu rosto irritado e os olhos marejados. Honey olhou para mim curiosa, mas não disse nada, apenas saiu ao lado de Marie.
“Parabéns MinSoo, você conseguiu fazer a Marie ficar realmente com raiva de você. Era isso o que queria?” eu pensava. Estava com tanto ódio de mim mesmo que seria capaz de me jogar dali, mas não o fiz.
Voltei para o nosso andar pelas escadas mesmo, entrando no apartamento e batendo a porta do quarto que dividia com Dave, o que acabou o acordando.
– O que aconteceu? – Ele perguntou sonolento.
– Eu a conheci.
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