Acordei com um toque gélido em minha perna por baixo dos lençóis. Apenas a afastei e tentei voltar a dormir. Porem logo senti o mesmo toque gélido, mas dessa vez não bastou apenas tocar minha perna. Aquela sensação passou a se espalhar por minha perna e a subir por esta. Esperei um pouco para ver se a sensação passava, mas não rolou.
Gemendo de preguiça, sentei-me na cama e olhei para o relógio. Eram apenas cinco horas da manhã e era domingo. Olhei para o lado e vi Takumi deitado na cama ainda dormindo. Assim que eu iria acordar meu colega de quarto, senti uma frieza subir ainda mais a minha perna, já adentrando minha roupa.
Ergui o lençol e passei a procurar a causa daquela sensação gélida em meu corpo.
– Eu já falei que não é para adentrarem minhas roupas assim. O papai não gosta quando vocês entram aí. – Falava, já retirando o réptil de cor alaranjada de baixo do lençol. O pequeno ofídio apenas se enroscou em minha mão e passou a subir meu braço lentamente. Me levantei da cama e procurei por Nagni em meio aos lençóis, a encontrando perto do meu travesseiro. Levei as duas para o aquário e as coloquei lá cuidadosamente.
– Fiquem aí. O papai vai buscar comida. – Fechei o aquário e saí do quarto.
Fui até a cozinha, peguei dois ovos e voltei ao meu quarto.
Coloquei um ovo ao lado de cada uma e fui ao banheiro fazer a minha higiene. Assim que saí, pude ver que Nagni e Mamba já haviam comido os ovos. Me dirigi até o guarda roupa pegar alguma roupa e procurar por um pirulito enquanto pensava no que iria fazer até todos acordarem. Poderia treinar alguma coreografia, mas não estou afim de dançar agora. Poderia voltar pra cama e dormir, mas não vou conseguir dormir de novo. Vasculhei cada canto do meu guarda roupa e não encontrei um pirulito se quer, nem um chicletezinho de nada.
Meu Zeus, onde estão os meus doces? Comecei a jogar todas as minhas roupas para fora do guarda roupa em puro desespero. Nada, nem mesmo uma balinha de café. Corri até o criado e procurei nas gavetas. Nada. Já estava começando a me irritar. Eu havia deixado os doces acabarem, agora vou ter que esperar até o comércio abrir para poder comprar doce.
Me joguei em minha cama, gemendo de frustração. Não tinha nenhum doce em meu quarto e já estou com uma vontade enorme de comer doces. Olhei para as minhas cobras. Todas de barriga cheia e seu dono aqui, com desejo de doce. Às vezes eu queria ser uma cobra e ficar no aquário, só esperando trazerem a minha comida.
AQUÁRIO.
Corri até o retângulo de vidro e levantei a pedra que tinha nele. Embaixo desta, tinha um pirulito dentro de uma bolsinha plástica. Meu pirulito de emergência. Eu sabia que um dia ele seria muito útil.
Rasguei a bolsa e o plástico do doce, o colocando na boca imediatamente. Fechei os olhos ao sentir o doce colorido ser acolhido por minha língua. Essa sensação era perfeita. Olhei para minhas cobras que tentavam sair do aquário e sorri para elas.
– Vocês cuidam tão bem do papai. – Retirei o doce da boca para em seguida saborea-lo novamente.
Olhei em volta procurando algo para fazer, mas não encontrei nada que me desse vontade de fazer. Nessas horas era o Takumi que me dá uma luz do que fazer, mas ele estava dormindo. E ainda eram cinco e treze. Decidi apenas colocar o fone de ouvido e ficar sentado na cama ouvindo música e jogar algum MMORPG. Coloquei numa playlist e a primeira música a tocar fora “Follow Me” do Topp Dogg. Abri meu notebook e fui jogar Gunz 2 enquanto esperava a hora passar.
Meu pirulito acabou, mas como eu não tinha mais doce nenhum, tive que me contentar e esperar o tempo passar. Assim que deu seis e uma da manhã, enjoei do jogo e deixei o computador de lado. Já havia ficado chato ficar sentado esperando.
Resolvi sair do quarto pra ver se alguém já havia acordado. O apartamento estava tão quieto que parecia que ninguém morava ali. Acabei me empolgando com “MAMA” do EXO e tentei fazer o passo da coreografia, mas acabei escorregando por estar de meias e cai de cara no chão. Fiquei algum tempo no chão, alisando o rosto, vendo se não havia quebrado nada e gemendo de dor. Eu já devia imaginar, estava a tempo demais me locomovendo sem cair.
Me levantei e caminhei até o quarto. Fiquei em pé ao lado da cama de Takumi e me estiquei ao máximo. Juntei as mãos como se fosse dar um mergulho, fiquei nas pontas dos pés e deixei o meu corpo cair para o lado, acertando Takumi. O outro gemeu, mudando de posição.
– O que é? – Perguntou com a voz sonolenta.
– ANNYEONGHASEYO, TAKUMIII! – Falei alto, mas não o suficiente para ser um grito.
– Que horas são? – Indagou ao me encarar e lutando contras os próprios olhos para manter eles abertos.
– São exatamente seis e doze da manhã. Previsão de manhã ensolarada para este domingo. Manhã perfeita para me dar um doce e fazer com que eu me divirta. – Me mantive deitado sobre o abdômen dele, fazendo uma cruz com nossos corpos.
– Caramba, Kyth. É domingo e você me acorda às 6 da manhã? – Resmungou indignado, empurrando-me para o lado e me fazendo cair sentado no chão.
– A gente tem que acordar cedo todos os dias para não perder o ritmo. – Sorri, erguendo o indicador.
– A Hea nonna nos deu um dia de folga. Me deixa dormir até tarde, por favor. – Takumi me deu as costas enquanto se enrolava mais ainda em meio aos lençóis.
– Ah, Takumiiiiiiiiii! – Reclamei, voltando a me jogar sobre ele na cama. – Eu estou entediado, vamos fazer alguma coisa. – Eu permanecia deitado sobre Takumi enquanto mexia em seu rosto com uma mão e com a outra, cócegas em seu pé, já que ele estava encolhido na cama.
– Já sei o que vamos fazer. – Avisou-me, me fazendo sentar na cama para encara-lo.
– O quê? – Estava animado e com altas expectativas.
– Vamos dormir, Kyth. Dormir. – Se acomodou melhor sobre o colchão.
– Ah, qual é? Vamos jogar alguma coisa, eu deixo você ser o Player One. – Ofertei-lhe, mas ele nem se moveu muito menos respondeu. – Takumi? – O chamei.
– ... – Novamente, sem resposta.
– Takumi. – Voltei a chama-lo.
– ... – Nada.
– TAKUMI! – Gritei e Takumi levantou assustado.
– O QUÊ? – Berrou olhando para os lados.
– VAMOS JOGAR STRIKER GO COMIGO! – Gritei novamente e ele me encarou feio.
Sem responder nada, meu amigo apenas voltou a se deitar. Entendi seu ato, somado ao seu olhar de antes como um “não me acorde mais, caso queira viver”.
Acabei por ficar em dúvida se o chamava novamente ou não. Bom, se eu o acordasse novamente, o máximo que poderia ocorrer seria levar um chute do Takumi, mas se eu não acordasse, ficaria no tédio... Mas e se eu acordasse outra pessoa para jogar comigo? Não, o resto dos garotos me jogariam pela janela. O MinSoo me penduraria de ponta a cabeça na janela. As garotas me espancariam, só a Marie já me jogaria contra a parede várias vezes, como se estivesse tirando a poeira de um tapete. A Honey? Essa me daria uma sequência digna de raio X do Mortal Kombat. É, é melhor o Takumi.
– Hey, Takumi. – O cutuquei usando o pé. Nem deu tempo de colocar o pé no chão e ele já jogou o travesseiro em meu rosto, me derrubando no chão.
– Me deixa dormir. – Ordenou o outro, voltando a se enrolar corretamente.
– Mas eu quero jogar Counter Striker Go com você. – Supliquei fazendo beicinho e cruzando os braços.
– Você quer jogar Counter Striker? – Perguntou, virando o rosto para me fitar melhor.
– Quero. – Respondi animado. Ele vai jogar comigo. SAIREI DO TÉDIO.
– Então chama a Honey. – Voltou a fechar os olhos.
– Mas ela não vai acordar tão cedo. – Argumentei, voltando a sustentar um bico em meus lábios.
– Então chama o MinSoo. – Apenas trocou as posições dos pés.
– Ele também vai demorar a acordar. – Me levantei e sentei-me em minha cama.
– Então chama a Lilly. – O encarei, confuso.
– A Lilly ao menos sabe o que é um Head Shot? – Indaguei e Takumi se virou, me encarando com aquela cara murcha de sono.
– Está brincando? – Perguntou-me, despertando a minha curiosidade com a sua expressão “de que planeta você veio?”.
– Ela joga? – Perguntei surpreso.
– Faz o teste. – Ficou de costas.
AH, QUAL É? FALA SÉRIO! ELE SABE QUE EU ODEIO FICAR CURIOSO. Esse filho de uma... Ai meu Zeus. E agora? Dúvida cruel: acordo a Lilly e apanho, ou morro no tédio e fico tentando acordar o Takumi sem resultado. Hm... Não sei. Talvez um café bem doce me ajude a pensar.
Corri em direção a cozinha, caindo na hora de fazer a curva após passar pela porta do quarto. Novamente fiquei alguns segundos no chão, apenas refletindo, antes de voltar a correr para a cozinha. Preparei um café, e coloquei mais açúcar em minha xícara do que o normal.
Sentei-me a mesa e fiquei refletindo sobre Lilly. Eu nunca a vi jogando. Lilly não tem cara de quem joga, sabe? Muito menos jogos com CSG. Ela parece ser daquelas patricinhas, sabe? Das que não sabem nem o que é um revólver.
– Vale a pena tentar acordar a Lilly? – Perguntei para mim mesmo enquanto bebericava um pouco mais do que o meu café.
Fiquei ali, pensando sobre a Lilly enquanto não acabava o meu café. Nesse momento reflexivo, acabei percebendo que nunca troquei uma palavra com a garota. Será que ela toparia jogar? Vou apanhar tentando acordá-la?
– Quer saber? Foda-se. Vou acordar a Lilly. – Me levantei da mesa, coloquei a xícara na pia e caminhei até o corredor feminino.
Quase caí novamente assim que subi o degrau. Procurei pelo quarto de Lilly. Assim que o encontrei, eu o adentrei silenciosamente, fechando a porta logo em seguida. A cortina da janela estava um pouco aberta, iluminando o local o suficiente para que eu conseguisse identificar Lilly deitada a minha esquerda.
Caminhei a passos lentos rumo a sua cama. Ela estava toda estirada na cama, o que era engraçado se considerarmos que é da Lilly que estamos falando. Parei ao seu lado, pensando em um jeito de acordar a garota, que dormia serenamente envolvida até cintura por seu cobertor.
Olhei ao redor, encarando o quarto das garotas. Era organizado, devo dizer, comparado ao circo que o meu e do Takumi fica de vez em quando. E foi assim, olhando ao redor para ver se consigo perceber algum hábito das duas garotas ali deitadas, que eu o vi. Tão lindo. O plástico que o envolvia era iluminado pela luz do sol que vinha da janela e refletia um pouco daquele brilho no teto do quarto. ZEUS DO CÉU. ERA UM PIRULITO. Consegui conter a minha vontade de pular a sapatear até aquele doce maravilhoso que se encontrava sobre o criado ao lado da cama de Lilly e a encarei. Será que ela iria se importar? Nah, depois eu compro outro para ela.
Dancei na ponta dos pés indo até o doce e o pegando com um tremendo sorriso nos lábios. Meu sorriso aumentou ao ver que era um dos meus favoritos. Coloquei o doce na boca e caminhei na direção de Lilly, joguei meu braços para cima, unindo as pontas de meus dedos, juntei os pés e fiquei nas pontas destes, me inclinando para o lado e deixando meu corpo cair sobre o corpo da garota.
Ela nem se mexeu, só gemeu baixinho e colocou a mão sobre o meu peito desnudo, diferente do que eu imaginava. Já estava até preparando-me psicologicamente para um show de gritos e tapas.
– Honey-ah, deixa eu dormir mais. – Pediu, deslizando sua mão por meu peito e o apertando uma vez ou outra.
Ok. Que porra é essa?
– Honey-ah, seus seios encolheram? – Questionou, deslizando a mão pelo local e passando a desce-la. Ok, certo, isso está muito estranho e engraçado. – sua barriga também está ficando durinha demais. Para de dançar demais com aquele viciado em doces. Está acabando com o seu corpo. – Ditou ainda com a voz sonolenta e descendo ainda mais sua mão.
Agarrei o seu pulso antes que minha brincadeira fosse longe demais.
– Annyeonghaseyo, Lilly. – Cumprimentei-a e pude ver a garota abrir os olhos rapidamente. Lilly sentou-se na cama e me encarou perplexa. Acho que o fato de estar só de moletom não a agradou.
– O que você está fazendo aqui? Por que está sem camisa? Seu pervertido. – Perguntou-me, já virando-se de costas.
– Vim aqui te convidar pra jogar Counter Striker Go. E eu odeio usar camisas em casa – respondi sorrindo ainda deitado em seu colo.
– Sai daqui, pervertido. Que horas são? – Me empurrou, ou melhor, tentou.
– São exatas seis e cinquenta e sete de uma manhã de domingo perfeita para jogar CSG comigo. – Sorri ainda mais para Lilly, retirando o pirulito da boca.
– Me acordou às seis da madrugada de um domingo qual temos folga? Some da minha vida, seu pervertido. – A garota me empurrou e eu sentei no chão
– Ah, vai. Você já acordou. Vamos jogar. O Takumi disse que você sabe jogar CSG. – Supliquei ao me sentar em sua cama para fazer bico.
– Não quero jogar, quero dormir. Sai daqui. – Lilly me chutou para fora de sua cama e voltei a cair no chão. Me levantei e voltei a me jogar sobre seu corpo enrolado.
– Lillyyyyyyyyyy, vamos jogaaaaaaar! – Eu balançava meu corpo, fazendo o dela se mover de um lado para o outro.
– Já disse que quero dormir. Não vou jogar com ninguém muito menos com um pervertido. – Ela ainda tentava me empurrar.
– Há! Eu sou o pervertido, as quem estava me apalpando era você! – Sorri, vendo a garota se sentar somente para me empurrar da cama.
– Olha, te dou um pirulito se sair daqui. – Me encarou com cara de sono. Eu nada respondi, apenas estendi a mão aberta em sua direção. Lilly se esticou até o seu criado mudo e começou a vasculhar este.
– Ué, tinha um pirulito bem aqui. – Vasculhava as gavetas e empurrava os materiais estavam sobre o criado mudo para o lado.
– Pois é. Tinha. – Retirei o pirulito da boca causando um estalo, tanto no ambiente quanto na mente de Lilly, que se virou com uma cara nada boa.
– Mexeu nas minhas coisas? – Questionou, me encarando.
Eu podia sentir que a coisa estava ficando feia. Mordi o lábio inferior e olhei para cima. Isso aí, cara. Segura na mão de Zeus e vai.
– Bom, eu estava aqui, entediado e sedento por doce, ele estava ali, solitário e com frio. Então decidi acolhe-lo por uma causa nobre. – Fui simplista e ela permaneceu a me encarar com aquela expressão “eu vou fazer você comer seu olho enquanto observa com o outro”.
Nem sei como aconteceu, só sei que em questão de segundos, eu estava no corredor e a porta sendo batida em minha cara, sendo acompanhada pelo som de chave sendo girada na porta.
É, o jeito vai ser procurar outra coisa para fazer.
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