História Hallelujah - A vingança - Camila

  Depois do sinal tocar corri em direção à capela para mais uma torturante hora de reza. Fui para a fila e comecei a procurar Ally no meio de todas aquelas garotas.  Infelizmente não estava conseguindo ver nada por ser mais baixa que todas as garotas ali. Me coloquei na ponta dos pés e estiquei meu tronco o máximo possível assim facilitando minha busca pela outra baixinha.

  Olhava para todo o lado e não a encontrava em lugar nenhum. Talvez ela estivesse mais na frente ou muito no fundo. Desisti de procurar e comecei a caminhar para dentro da capela junto com o grande grupo de garotas em minha volta. Entrei e fui para o meu lugar de sempre, bem no fundo. 

  Passada meia hora ouço a grande porta de madeira da capela ranger dando sinal da entrada de alguém. Era Ally e não parecia bem. Ela veio em minha direção e se colocou do meu lado sem falar uma palavra. Já tinham se passado cinco minutos e ela não tinha dito uma palavra, ficava apenas de cabeça baixa e não emitia nenhum som. Toquei seu ombro e recebi um "hum" em resposta.

 - Aconteceu alguma coisa lá fora? - perguntei preocupada.

 - Não. - respondeu ela. 

  Foi uma resposta curta e simples demais, ou seja, ela está mentindo. Outro ruído da porta abrindo chamou minha atenção e olhei enquanto ela se abria. Era Beatriz entrando, mas dessa vez ela estava sozinha. Comecei a juntar os acontecimentos e olhei de novo para Ally que agora estava tremendo de uma forma estranha.

 - Ally, olha para mim. - falei da forma mais reconfortante possível.

  Ela ia olhar, mas se arrependeu de repente e continuou do jeito que estava. Voltei a falar o mesmo e ela apenas negou com a cabeça a baixando ainda mais. Desisti de ser gentil e peguei seu queixo com força virando seu rosto para mim. Olhei bem e suspirei olhando seu rosto totalmente machucado. 

 - Lá fora vamos ter uma conversa, ok? - falei a abraçando.

 - Ta bom. - falou retribuindo o abraço.

  Depois dessa conversa não voltamos a trocar palavras e apenas nos concentramos nos nossos próprios pensamentos. 

  Me lembrei da conversa que tive com Lauren sobre eu precisar enfrentar aquelas garotas e agora acho que é isso mesmo que vou fazer. Desde que entrei aqui Ally me parecia a garota mais confiante e corajosa de todas, mas olhar para ela do jeito que ela está agora me deixa com muita raiva daquelas garotas por estragarem o jeito louco que ela tinha.

  O toque insuportável do sino me tira de meus pensamentos. Me levanto e junto com Ally vou até à saída. Pego a mão dela e a puxo para longe das outras garotas, parando debaixo de uma árvore grande.

 - Foi a Beatriz que fez isso com você? - falei

 - Sim. - ela falou de cabeça baixa.

 - Foi só no rosto? - falei levantando o rosto dela.

 - Não. - ela levanta um pouco a blusa - Também tem na barriga. 

  Dava para ver vários hematomas em sua barriga e do jeito que estavam escuros Beatriz usou muita força.

 - Por que ela fez isso? - falei baixando a blusa dela.

 - Por sua causa.

  Paralisei depois de ouvir aquilo. Eu não fiz nada, como podia ser por minha causa?

 - O quê? - falei ainda não acreditando.

 - Ela falou que você e a sua amiga a irritaram. - ela fez uma pausa - Então ela me encontrou sozinha e descarregou a raiva em mim.

  Uma onda de raiva, medo e outros sentimentos misturados invadiu meu corpo. Eu não sabia o que fazer ou falar para ela, estava extremamente desconfortável com aquela situação.

 - Ela falou que isto é apenas uma amostra do que ela fará com você. - Ally falou.

  Agora sim eu estava com mais medo que nunca. Aqueles planos de enfrentá-las foram jogados no lixo pelo medo que estava sentindo naquele momento. O que vou fazer agora?

 - Desculpa Ally, você não tem culpa de nada. - falei a abraçando.

 - Eu não te culpo. - Ally sorriu - Você não tem culpa que a Beatriz seja um monstro.

  Sorri depois de saber que Ally não estava brava comigo, mas agora faltava saber o que iríamos fazer a partir de agora. Não podemos nos esconder delas até sairmos daqui, mas se as enfrentarmos vamos virar saco de pancada. Uma ideia veio na minha cabeça e acho que essa ideia vai nos ajudar.

 - Ally, o que você acha de falarmos com Lauren?  - falei olhando para ela

 - Seria uma boa ideia, mas o que ela vai fazer? - Ally suspirou – Ela vai embora amanhã. 

 - As freiras não vão nos ajudar em nada e as outras garotas também têm medo delas. - suspiro – Lauren pode nos dar conselhos sobre o que fazer. Temos que tentar.

  Ally se deu por vencida e concordou. Voltamos para perto das outras garotas procurando Lauren e ao mesmo tempo fugindo de Beatriz e suas capangas. Ela não estava do lado de fora por isso fomos até dentro da escola procurar.

  Uns minutos se passaram e finalmente encontramos Lauren sozinha na cantina, ela estava sentada em uma mesa comendo enquanto olhava para o lado de fora. Corri até ela e me coloquei na sua frente.

 - Lauren, precisamos de ajuda.

  Ela engoliu e perguntou:

 - O que foi?

  Puxei a Ally para o meu lado.

 - Ta vendo o rosto da Ally? Foi a Beatriz que fez isso.

 - Aquela menina que parece um traveco? – ela perguntou.

 - Essa mesmo. – Ally riu.

 - Fiz você rir, já é um começo. Querem que eu faça eu o que?

 - A gente não sabe o que fazer. – eu suspirei - Então pensamos que você poderia nos dar algum conselho.

- Não queremos nos esconder delas para sempre. – Ally falou.

  Lauren larga o sanduiche que estava comendo.

 - Parece que vamos ser três contra três então.

 - Como assim? - Ally fala - A gente não sabe lutar!

 - Bem, então precisamos de dois pedaços de pau bem grandes. – Lauren se levanta – Vamos.

 - Vamos onde? – corro para acompanhar a Lauren - Pode explicar o que está planejando fazer?

 - Pegar aquelas meninas, não é óbvio? – ela responde.

 - Pegar como? – Ally perguntou apavorada- Você quer que eu fique pior do que já estou?

  Lauren suspirou e revirou os olhos.

 - To vendo que eu vou ter que fazer tudo sozinha.

  Nós saímos para o jardim e Lauren parou perto das portas de entrada da escola.

 - Vai mesmo. – eu falei - Acha que a gente consegue bater em alguém?

  Lauren me ignorou e pegou a tampa da lata de lixo ao lado da porta de entrada.

 - Vou precisar disso.

 - Não acha que está exagerando? – Ally perguntou.

 - Quer continuar sendo saco de pancada? – Lauren perguntou - Se quiser me avisa que vai poupar meu esforço.

 - Mas e se isso as irritar ainda mais?

  Lauren a ignorou, pois nessa hora viu Beatriz e suas amigas andando pelo jardim. Ela começou a andar na direção das três.

 - Ei, traveco! – Lauren gritou – Esqueceu a tampa!

  Lauren bateu com a tampa da lata de lixo na cara de Beatriz que caiu no chão e depois acertou um chute na barriga de uma das gêmeas e usou a tampa para empurrar a outra que tentou partir pra cima dela. Beatriz começou a se levantar, mas Lauren bateu com a tampa nas costas dela e ela caiu de novo.

  A gêmea que tinha sido empurrada a agarrou pelo braço com força e ela deixou a tampa da lata de lixo cair. Lauren deu um soco no rosto dela com a outra mão. A que tinha levado um chute na barriga agarrou Lauren por trás e eu fui tomada por um instinto primitivo e pulei em cima das costas dela.

  Comecei a puxar seus cabelos com força até ela largar Lauren. Beatriz tinha conseguido se levantar, mas apenas puxou a outra gêmea pelo braço e saíram correndo. A que eu estava puxando os cabelos conseguiu me jogar no chão e saiu correndo atrás das outras duas.

  Lauren se virou sorrindo para mim:

 - Não foi tão difícil, foi?

 - Foi bem legal. – eu ri.

  Ally ainda estava paralisada e de boca aberta com tudo que tinha acontecido.

 - Só coloque toda a culpa em mim. – Lauren falou – Não vão acreditar que vocês tem alguma coisa a ver com isso. Falem que fui só eu

  - Obrigada Lauren... – Ally falou.

 - De nada. Se elas voltarem a incomodar, digam que vão falar pra mim.  

 - Onde você aprendeu a lutar tão bem? – eu perguntei.

 - É o tipo de coisa que a vida ensina. Eu me meto em muitas brigas mesmo.

 - É... Obrigada e desculpa se te incomodamos.

 - Sem problema, foi divertido.

 Acompanhamos Lauren de volta à cantina e ficamos um pouco conversando. Depois disso Lauren disse que queria descansar então ela foi até seu quarto e eu levei Ally até à enfermaria para cuidar das feridas dela. Com a ideia da vingança até tinha esquecido que ela estava machucada, acho que não sou uma boa amiga. 

  Cuidei das feridas dela, fui buscar um pouco de gelo para ela colocar no olho e voltamos para o nosso quarto para finalmente podermos descansar.