1. Spirit Fanfics >
  2. Halo >
  3. O encontro.

História Halo - O encontro.


Escrita por: Tyciih

Capítulo 2 - O encontro.


Capítulo 02 — O encontro.

Escrito por: Tyciih.

 

 O cheiro de café expresso inundava a lanchonete. 

 O ambiente era bem aconchegante, com paredes de concreto queimado, lustres iluminando pontos específicos, cadeiras de couro preto e mesas de madeira. Um pouco afastado da bancada onde os pedidos eram feitos, havia uma máquina de fliperama, onde duas crianças pequenas disputavam para ver quem era a melhor. E próxima da máquina, havia uma outra de dança, daquelas onde a pessoa tem que pisar no piso certo, seguindo o bailarino do visor.

 Baekhyun ficou maravilhado, e sua expressão de felicidade com um misto de surpresa fora notada por Chanyeol, que tocou em seu ombro e o incentivou a ir até a máquina vazia de dança que piscava luzes coloridas.

— Vai lá, eu vou fazendo o nosso pedido enquanto isso. Você tem que provar a torta de morango daqui, é deliciosa! — disse Chanyeol.

 Baekhyun assentiu com a cabeça e andou a passos rápidos até o brinquedo. Comprou as fichas que o ligava com uma moça que se aproximou dele, dizendo como funcionava. Ele podia escolher inclusive a música que dançaria, e decidiu escolher uma da qual já conhecia a coreografia de cor.

 Chanyeol fez o pedido, deixou as mochilas de ambos em uma mesa qualquer e foi para o lado do baixinho, observar sua dança.

— Uau! Você realmente leva jeito para a coisa. — Suspirou.

— Quer tentar? Não é tão difícil. — Baekhyun já ofegava. 

 Sem ao menos ouvir a resposta do mais velho, Byun pegou na mão do maior e o puxou para perto. Segurou em sua cintura e começou ensinando os passos que ele tinha que dar com os pés. Chanyeol aprendeu com muito mais facilidade que Yifan, e pouco tempo depois já dominava o brinquedo.

 Baekhyun observava satisfeito, com os braços cruzados rente ao peito. 

 A partida que tinha colocado a ficha se encerrou, e para que continuassem dançando teriam que comprar mais. No entanto, perceberam que os pratos que tinham pedido já estavam dispostos na mesa onde Chanyeol havia deixado as mochilas, e aquela era a hora de descansarem um pouco e lanchar.

— Este lugar é demais, nunca tinha vindo até aqui antes — disse Baekhyun, antes de levar uma garfada de torta até a boca e deliciar-se com o sabor doce. 

— Descobri ele há pouco tempo atrás. Teve uma época que eu fiquei sem internet e eu precisava dela para mandar uns e-mails, foi quando descobri esse lugar. Mas depois, quando minha internet voltou, eu continuei vindo até aqui porque é um lugar tranquilo para estudar. — Chanyeol tomava longos goles do suco de laranja.

— Pode apostar que eu virei mais vezes só para dançar naquela belezinha. — Sorriu.

— E eu virei para te ver dançar, o que acha? 

— Só me ver dançar, Hyung? Você tinha que dançar junto comigo, vamos, será divertido! Não é porque eu que te ensinei, nem nada, mas hoje você foi um excelente dançando. — Tocou levemente na mão de Chanyeol, que retribuiu o aperto.

 O clima entre os dois não poderia estar melhor, ambos sorriam alegres, comiam e conversavam sobre coisas aleatórias pelo tempo que se estendeu. Mas nem tudo acontece do jeito que a gente quer e Baekhyun podia afirmar isso quando viu Wu Yifan adentrar a lanchonete, com uma cara horrível. E o pior de tudo: ele vinha em sua direção.

 Não adiantava mais fugir do Wu, afinal ele já tinha visto o menor. 

 Baekhyun então entendeu o que se passava. "Merda, eu o deixei esperando, hoje eu tinha ensaio com ele e nem mesmo me lembrei de desmarcar, ele deve estar irado", pensou tardiamente. 

 Yifan se aproximou da mesa e abriu um sorriso sádico para Baekhyun, que engoliu em seco. Chanyeol, no entanto, continuou comendo como se nada tivesse acontecido e como se o Wu não estivesse parado ao lado da mesa dos dois.

— Oi, Cara, não sabia que você frequentava este lugar, ele geralmente é tão vazio e nunca tinha visto ninguém da escola aqui — disse, estendendo a mão para o baixinho.

 Baekhyun não sabia o que fazer com a mão do outro parada à sua frente, mas decidiu dar um high five, e pela cara de satisfação do Wu, aquele era mesmo o movimento que esperava receber em troca de sua mão estendida.

— Vou estar sentado a algumas mesas daqui, próximo da máquina de dança. Ah, você sabe como eu adoro jogar nessa coisa! — Levantou uma sobrancelha sugestivamente. "Okay, ele definitivamente estava irado", pensou Baekhyun.

 O Wu deu um tchauzinho com a mão e foi se sentar afastado dos dois.

 Chanyeol limpou a garganta. O clima tinha se tornado estranho e o menor à sua frente parecia uma estátua.

— Desculpa se ele é seu amigo, mas eu não vou muito com a cara dele — confidenciou o Park. — Ele estuda na mesma sala que eu, nós nunca nos falamos, porém isso não quer dizer que eu não observe o que ele faz com as outras pessoas. Ele parece um predador, apenas esperando uma presa fácil para atacar. Se eu fosse você, tomava cuidado perto dele — sussurrou o final, tampando parte da boca para que não houvesse leitura labial por parte do Yifan e se aproximando levemente de Baekhyun.

— Sei bem a fama dele, não se preocupe. — Baekhyun assentiu de leve com a cabeça.

 O Byun sentiu o celular vibrar no bolso de trás da calça.

— Ele ainda está olhando para cá — disse Chanyeol, como quem não quer nada, bebendo o último resquício do suco em seu copo.

 Baekhyun pegou o aparelho, com medo que fosse alguma ameaça direcionada para si. Ao desbloquear o aparelho e entrar no Kakao Talk suas suspeitas se concretizaram. O Wu havia lhe mandando a captura de tela que tinha feito do computador, uma parte da conversa específica onde Baekhyun assumia sua homossexualidade para PC. 

 Um calafrio subiu por sua espinha. Aquilo não podia estar acontecendo, não ali, não agora, não na frente de Chanyeol.

 O Byun não era do tipo de pessoa que levava desaforo para casa e estava tudo bem. Levantou-se em um salto, a raiva borbulhando por sua veia. Pediu licença para o mais velho e foi andando até a mesa próxima da máquina de dança.

— Yifan, me desculpe por não ter cancelado o ensaio de hoje, mas para com esse showzinho que não está te levando a nada — disse entre dentes.

— Do que está falando, Byun? Eu não posso cumprimentar um amigo de longa data numa lanchonete que eu frequento muito? É errado? — Seus olhos desafiavam Baekhyun, como quem dizia "eu duvido você levantar a voz comigo quando seu amigo está logo ali e ele com certeza não sabe que você é gay".

— Você não percebe que o que está fazendo é errado? Você está tirando de mim a oportunidade de me abrir para as pessoas quando eu estiver preparado. Já passou pela sua cabeça que eu poderia ter pais homofóbicos que se ficarem sabendo disso, tudo iria para o espaço? — Foi inevitável não levantar a voz.

— Tá bom, Cara — disse, em resposta.

— Não, não está nada bom! Depois de toda a ameaça barata que você jogou em cima de mim, nem mesmo um pedido de desculpas com você ajoelhado e me oferecendo quinhentas barras de ouro adiantaria, sabe por quê? Porque apesar de não ter falado para ninguém, não ainda, nessa semana eu realmente cogitei a ideia de me abrir para os amigos e familiares só para que eu pudesse informa-los primeiro, para que não ficassem sabendo a partir da boca de terceiros. Você já pensou que eu poderia simplesmente te dar aulas de dança de graça? Ao menos pensou em me perguntar?

 Baekhyun não percebeu quando Chanyeol se aproximou dos dois, muito menos percebeu que lágrimas escorriam por sua face.

 Chanyeol segurou no braço do mais novo e então limpou as maçãs de seu rosto.

— Porra, Yifan, você nunca está satisfeito, não é mesmo? — era a vez de Chanyeol vociferar. — Vem, Baek. — Segurou na mão do menor. — Vamos sair daqui o mais rápido possível.

 Os dois estavam quase na porta dupla de vidro da lanchonete quando o Wu falou de seu lugar, alto o suficiente para que ambos pudessem ouvir.

— Eu tinha desistido da ideia, Byun. Eu tenho um irmão que é gay, eu não sei o que passou pela minha cabeça porque eu o adoro, e o fato de gostar de outros caras não diminui o amor que sinto por ele, nem o da minha família. A foto que te mandei agora era a única que eu tinha e eu juro que depois que te mandei pelo celular, imediatamente a apaguei. Na verdade... — Parou, não sabia se ainda estava sendo ouvido. Mas Baekhyun estava parado, com a mão na maçaneta, incapaz de empurra-la. Foi Chanyeol que o tirou de transe, abrindo a porta e puxando o menor junto a si. Saíram juntos da lanchonete. Yifan terminou a frase baixinho, apenas para si: — Eu vim na intenção de te falar que eu não queria mais as aulas de dança. — Permaneceu comendo o seu lanche. — Todos dizem que minha cara é ameaçadora demais — murmurou consigo mesmo, rindo como um bobo logo em seguida.

 

 

— Me desculpe pelo show de agora pouco — murmurou.

— Que nada, Baek, ele é um idiota. E não tem problema você ser gay, sério, você continuará sendo meu amigo. — Baekhyun sentiu um aperto no peito. — Aliás... — Chanyeol limpou a garganta. — Eu também sou gay, não que eu esteja falando isso só por causa daquela situação de agora há pouco, eu realmente sou gay.

 Os dois andavam lado a lado, próximos a uma ponte de pedras e de algumas cerejeiras.

 Baekhyun se virou para o mais velho, admirado.

— É sério? E sua família sabe? 

— Sabe. Bem, não foi fácil me assumir no início. Meus pais nunca tinham tocado no tema antes, eu realmente não fazia ideia de qual seria a reação deles. Será que eles me aceitariam? Me expulsariam de casa? Eu não fazia ideia mesmo!

— Eu tenho medo... De dizer... E eles gostarem menos de mim.

— Baekhyun, eles são sua família, não tem como eles te odiarem, no máximo não vão aceitar a sua sexualidade, mas com o tempo, se você mostrar para seus pais que você continua sendo Byun Baekhyun, o filho deles, então eles te aceitarão.

— Você acha mesmo?

— Claro! Os pais costumam não gostar porque têm medo da sociedade não nos aceitar. Acha que é fácil para um pai ver o filho apanhando na rua apenas por gostar de alguém do mesmo sexo? Quantos pais não perderam seus filhos por conta disso!

— E qual foi a reação de seus pais? 

— Não vou mentir, eles não ficaram felizes, não soltaram fogos de artifícios nem fizeram um bolo de quatro andares para me parabenizar, mas olha só, também não me expulsaram de casa. Com o tempo eles se acostumam e não é como se eles passassem vinte e quatro horas por dia pensando "Puxa, meu filho é gay". 

— E com seus amigos?

— Ah, com eles foi muito mais fácil. Eles estão mais acostumados, para eles não é uma coisa de outro mundo. Gerações diferentes. — Fez uma careta que acabou tirando um sorrisinho tímido de Baekhyun.

— Hyung, eu tentarei me abrir hoje, se tudo der errado você estará aqui para me apoiar? 

— Mas é claro! Você ainda tem a mim.

 

 

De: [email protected]

Para: aquijazumdanç[email protected]

Assunto: Acho que descobri quem você é.

 

 Querido, Holic...

 Não fique bravo, não é como se eu estivesse procurando saber quem é você antes da hora de nos encontrarmos de verdade, mas acabou sendo inevitável.

Descobri sua identidade secreta de super-herói. E quer saber! Não sei por que não tínhamos marcados para nos encontrarmos antes, acho que era um medo bobo do outro não gostar de nossa aparência.

 Enfim, assim que visualizar este e-mail me responda, estou preocupado com você, não que eu precise, mas se abrir para os pais é um perrengue. Boa sorte!

 Ps: Para me encontrar no festival de dança basta ir até o camarim da terceira série. Eu estarei ajudando com o figurino e maquiagem de um grupo da minha turma que irá se apresentar, são uns amigos meus, enfim, não vem ao caso agora. 

 

 

 Baekhyun respirou fundo antes de resolver bater na porta da frente da casa de Sehun. Sua mente estava nublada e a única coisa que conseguia pensar era que daquele dia não passava: iria se assumir para o melhor amigo. Talvez estivesse com um pouco de culpa por ir até a casa de Sehun antes de ir para a própria casa e se assumir para os pais, mas eles não precisariam saber que não eram os primeiros a ficarem sabendo.

 Contou até cinquenta. 

 "Tudo bem, Baekhyun, agora você está exagerando um pouco, afinal Sehun não vai te comer vivo... O máximo que pode acontecer é ele parar de falar com você e te excluir da vida dele completamente... Ai, meu Deus, não está nada bem!", se martirizava, ainda sem ter batido na porta.

— Certo, ideia idiota — murmurou; girando nos próprios calcanhares e se afastando da casa do Oh.

 No entanto, no meio de seu caminho de volta para casa — que nem ficava tão longe assim da casa do amigo —, ouviu o barulho da porta atrás de si se abrindo e foi quando ouviu a voz de Sehun lhe chamando.

— Baekhyun? Eu te vi pela câmera que fica na entrada, por que você não bateu? Aconteceu alguma coisa? — perguntou, se aproximando do baixinho, que recuou uns longos passos.

— Ahn... Eu ia te convidar para jantar lá em casa, mas daí eu lembrei que meus pais iam comemorar o aniversário de casamento e foram sair sozinhos. Sabe, meu irmão foi dormir na casa da namorada e só volta amanhã, então pensei melhor e... Sozinhos, não sabemos cozinhar e tals. — Não conseguia sustentar um contato visual.

 Baekhyun continuou andando para trás, pisando na grama fofa do jardim do Oh.

— Ei espera, não ande de ré assim. — Sehun tentou agarrar o cotovelo de Byun, mas fora tarde demais, Baekhyun já tinha tropeçado em um gnomo de jardim e caído na grama molhada.

 Se não bastasse a umidade do orvalho, os regadores do jardim se ligaram automaticamente, terminando de empapar todo o uniforme de Baekhyun, que não tinha trocado de roupa desde que voltara do colégio.

 Sehun estendeu a mão e ajudou o baixinho a se levantar, mas o estrago já estava feito e além das roupas molhadas, agora estava com sujeira de barro e quiçá uns cocôs velhos de cachorro.

— Você está bem? — perguntou Sehun, ajudando a bater nos tecidos molhados, como se isso fosse tirar a sujeira; que até sairia se fosse apenas poeira.

— Fica tranquilo, não me machuquei, nem nada — murmurou.

— Ei! — Sehun segurou no queixo de Baekhyun, obrigando-o a levantar o rosto e olhar para si. — Vamos, entre, a gente precisa trocar essa sua roupa. E nem me venha falando que sua casa fica a dois quilômetros da minha ou algo assim, não vou deixar você andar com esse tempo e com roupas molhadas. — Segurou na mão do Byun e o levou para dentro.

 Baekhyun se sentia culpado, muito, muito, muito culpado. Como ele conseguia cogitar em algum momento da sua vida que Sehun pararia de ser seu amigo apenas porque era gay. Estava subestimando demais o melhor amigo, e não era isso que queria.

— Por que estamos entrando pela porta dos fundos? Nunca entramos por aqui — Quis saber o menor.

— Minha mãe está na cozinha, e eu não acho que você esteja muito a fim de falar com mais alguém, você está péssimo.

 Mais uma vez se sentia culpado. Sehun o conhecia melhor do que ninguém. E sabia que ele percebeu algo de estranho em si, mas Sehun não era do tipo de pessoa que insistia quando alguém não queria contar algo. Era a melhor pessoa para contar segredos, porque escutava, o tempo todo quieto, sem abrir a boca em momento algum, e depois de ouvir o que o outro tinha para falar, ele guardava, e guardava muito bem.

 A mesma coisa acontecia quando alguém ficava desconfortável perto de Sehun do nada: ele percebia que alguma coisa não ia bem, que provavelmente aquela pessoa queria contar algo — se fosse uma menina, talvez esse algo fosse uma declaração —, mas não insistia.

 Subiram juntos sorrateiramente as escadas e foram até o quarto. O maior fechou a porta e a trancou, para se certificar que sua mãe não entrasse de repente e pegasse os dois de surpresa. Viver dezessete anos com ela fazia Sehun saber direitinho qual seria a reação da mais velha se visse Baekhyun daquele jeito, todo sujo, e sabia também que não seria a melhor das reações.

— Deixe-me pensar um pouco... Olha, pode ser que fique larga, mas eu posso te emprestar esta blusa e este moletom, não se preocupe em... — Foi impedido de terminar de falar quando sentiu braços delgados contornando seu quadril.

— Me desculpe, Sehun-ah, me desculpe... — Não conseguia controlar as lágrimas que rolavam, e os soluços vieram como consequência. 

— Por que está se desculpando? — Mordeu o lábio inferior, ainda na mesma posição: parado de frente para o guarda-roupa com Baekhyun lhe abraçando por trás.

— Porque eu sou um amigo ter-ríve-l. — Seus soluços impediam que falasse certo.

— Você é o amigo mais maravilhoso que alguém poderia ter, como pode se achar um amigo terrível? Eu daria de tudo para ser como você, e não estou falando da boca para fora.

— S-sé-rio?

— Mas é claro que sim. Oras, quem é a pessoa que sabe dançar como ninguém? Que sabe me fazer sorrir quando só quero me enfiar debaixo das cobertas e mofar ali? Que fica me ouvindo falar da garota por quem estou apaixonado sem insistir em saber a identidade dela? Ou que não me chama de gay por suspirar pensando nela? — Baekhyun soltou o abraço.

— Bem, eu! — Riu sem graça. — Sehun... Eu preciso te contar uma coisa!

— Troque de roupa e me diga depois, se você pegar um resfriado eu ficarei me sentindo culpado. — Fez um biquinho, que despertou mais algumas risadinhas de Byun. — Viu, você já está melhorando!

— Tudo bem, vou me trocar, não saia daqui — disse, fazendo um movimento com as mãos que sinalizava que estava proibido a saída dali — os dedos indicadores cruzados, formando um X —, mesmo sabendo que de forma alguma seu melhor amigo ousaria colocar um pé para fora do quarto.

 Baekhyun tirou a roupa encharcada e vestiu as roupas limpas de Sehun, que exalavam um cheiro bom de amaciante. Colocou o uniforme sujo em uma sacola plástica preta — uma que recebeu do maior antes de adentrar no banheiro. E então saiu do quarto, mais calmo e decidido de que aquela era realmente a hora.

 Sehun estava deitado em sua cama de casal, deixando um espaço enorme para que Baekhyun se deitasse também, e foi o que o menor fez.

— Sabe quando éramos mais novos e eu decidi que eu pintaria meu quarto de rosa? Meus pais falaram que era cor de menina e me proibiram, mas você estava lá para me defender e você até passou a gostar de rosa desde então! — disse Baekhyun. Fez uma pausa, mesmo sabendo que o outro não falaria nada, mas apenas para que ele assimilasse as informações. Sehun assentiu com a cabeça e Baekhyun prosseguiu. — Alguns anos depois, no natal dos nossos doze anos, enquanto você queria um carrinho de controle remoto ou um Godzilla de brinquedo, eu queria o diário da Barbie ou um unicórnio. Cheguei a escrever uma carta para o papai Noel falando meu desejo, meus pais pediram para ler e me olharam com uma cara feia. Me explicaram que o papai Noel não dava presentes de meninas para meninos e vice-versa, mas na época me pareceu tão injusto. Por que unicórnios eram coisas de garotas? Por que eu não poderia me fantasiar montado em um no meio de uma briga de espadas?

 Durante as pausas que Baekhyun dava, o único barulho audível era o do ventilador de teto.

— E então, quando completamos quinze anos e era a época onde os jovens resolviam dar o primeiro beijo, eu surtei e disse que seria boca virgem para sempre, que nunca beijaria uma garota.

— Baekhyun, se está tentando dizer que é gay... Olha, não precisa, isso é bem óbvio. — Riu da cara de surpresa que o menor fez.

— Que horror! Nem me deixou terminar meu relato super emotivo. Mas é, em suma, era isso mesmo que eu iria falar.

 Os dois ficaram em um silêncio confortável, embalados pela brisa do ventilador.

— Não acha que ele pode cair a qualquer instante? — Baekhyun riu, tentando recomeçar uma conversa que não fosse a de pouco tempo.

— Sabe que eu sempre vou te amar, né?

 O baixinho quis chorar, mas dessa vez não era de tristeza.

 

 

 Falar com Sehun era a parte fácil, talvez tenha sido até por isso mesmo que resolvera falar primeiro para o melhor amigo do que para os pais. Realmente tinha medo da rejeição das pessoas que o criaram. Não queria esconder dos mais velhos a vida inteira, mas sentia que por agora não era muito saudável contar para eles. Não enquanto estivesse correndo o risco de ser expulso de casa e não ter onde cair duro.

 Sehun o aconselhou a falar com eles quando tivesse ido para a faculdade, numa cidade maior e não mais sob o teto dos pais. Sehun sempre dava bons conselhos e Baekhyun não seria louco de não segui-los.

 O nervosismo que se espalhava por todas as veias do baixinhos naquela instante não era pelo fato de que iria se assumir, mas sim porque estava no camarim, a alguns passos do palco e de um apresentação que seria importante para sua vida em diversas proporções.

 Os olhos que estariam sobre si não era o que mais lhe deixava ansioso, era apenas um olhinho específico. Não tirava da cabeça que aquele concurso seria o ponto de encontro dos dois, que ficaram por tanto tempo anônimos.

 Baekhyun arrumou as vestes pela bilionésima vez, passou os dedos penteando os cabelos para trás, retocou a maquiagem, só faltava uma única coisa... Ele não fazia ideia de qual seria a ordem das apresentações. Tinha que ensaiar uma última vez, e de preferência num lugar silencioso.

— Você está com a lista da ordem dos participantes? — perguntou para a organizadora do concurso, uma garota ruiva que andava de um lado para o outro ajudando a todos.

— Não... Na verdade ela está no camarim que a terceira série está usando. Estou muito ocupada, você pode ir lá sozinho pegar, não pode?

— Vivi! Não estou achando os figurinos da primeira série C, onde estão? — Alguém a chamou.

— Tenho que ir. — Deu uma batidinha rápida no ombro de Baekhyun e saiu correndo.

 Baekhyun se encaminhou até a sala indicada pela mais velha, bateu na porta e então ela se abriu. A garota que abriu a porta era muito bonita, um rosto tão jovem que Baekhyun não poderia dizer que era do último ano.

— Quem é você? — perguntou, e mesmo tentando expressar desgosto, sua voz parecia melodiosa demais.

— Deixa ele entrar, Hyunjin, ele é meu amigo. Entra aí, Baekhyun. — Chanyeol se aproximou, tomando a mão do menor e o puxando para dentro da sala.

— Eu vim buscar a lista da ordem dos participantes... Como era o nome mesmo? AH! Vivi. Bem, a Vivi disse que estaria aqui — disse.

 A garota de antes, Hyunjin, entregou a planilha ainda com uma cara de desgosto.

 Assim que Baekhyun foi saindo do camarim, teve sua mão segurada por Chanyeol.

— Espere aí, eu vou com você! 

 Logo que saíram da sala, Baekhyun começou a dizer:

— Sua namorada não parece ter gostado de mim.

— Namorada?

— Ah, me desculpe... Você é gay... — Mordeu o lábio inferior.

 Baekhyun entrou em uma sala vazia com grandes espelhos, só era um pouco mal iluminada, mas daria para o gasto.

— Baekhyun! — Chanyeol aumentou a voz, adentrando a sala logo atrás do menor.

— Me desculpe, Hyung, eu estou nervoso hoje. A apresentação, você sabe... Você se importa de me deixar um pouco a sós para treinar? — Lançou um sorriso sem graça, não queria ter que expulsar o Park dali, mas estava passando por um momento muito crítico.

— Baekhyun... Me diga com sinceridade: por que foi até o camarim da terceira série? — Estava ansioso, assim como o baixinho.

— Por que isso de repente? Fui pegar a planilha. Só.

— Ai, essa... Doeu... — Chanyeol fitou os próprios pés. — Tudo bem, vou deixar você treinando sozinho.

 Assim que Chanyeol saiu, Baekhyun começou a ensaiar, mas o ensaio não durara muito, uma vez que logo foi chamado.

 A apresentação correu bem, não errou nenhum passo e o Halo foi executado com maestria, a maldita manobra que sempre errava nos ensaios.

 Baekhyun viu Yifan na plateia, que depois o parabenizou e o encorajou, dizendo que ganharia o primeiro lugar do concurso com toda a certeza do mundo.

 Entretanto, a pessoa que Baekhyun mais queria ver, não parecia estar ali. Onde PC estava afinal. Não fazia ideia de como seria o rosto de seu confidente, mas também não via ninguém que parecesse minimamente com a imagem que tinha criado em sua mente. E não via mais ninguém que estivesse procurando outra pessoa.

 Baekhyun saiu da sala de apresentações e foi para o lado de fora do colégio, ali a internet pegava melhor, portanto resolveu entrar no e-mail para perguntar o que PC estava trajando naquele dia, talvez aquilo ajudasse.

 Percebeu que havia uma mensagem não lida e sua euforia borbulhou. "Ele também deve estar me procurando", pensou.

 Ao abrir o e-mail seu coração teve um sobressalto. 

 PC pedia para que se encontrassem no camarim da terceira série.

 Espera! Camarim. Terceira série.

 "Baekhyun... Me diga com sinceridade: por que foi até o camarim da terceira série?", as lembranças o atingiram como um tapa muito forte.

 Não! Não! Não podia ser. Era óbvio: PC = Park Chanyeol.

 Ao constatar que podia ter feito um erro catastrófico e magoado a pessoa que mais amava, correu novamente para o interior do colégio, à procura de Chanyeol.

— Ai, meu Deus... Finalmente... Te... Achei. — Seu fôlego entrecortado não permitia que a frase saísse completa. Apoiou as mãos no joelho e permaneceu arfando naquela posição.

— Parabéns... Você ganhou o primeiro lugar! — Chanyeol realmente parecia magoado.

— O quê? 

— Eu disse: Parab... — Foi cortado pelo menor.

— Eu ouvi. Eu só... Olha, me desculpa, eu fui um idiota te expulsando daquele jeito, sério. Me perdoa?

— Vai perder o seu lugar se não for buscar o prêmio. — Olhava para algo distante, atrás de Baekhyun.

— Pouco me importa o prêmio agora. Na verdade, a única coisa que eu queria mesmo está bem aqui: na minha frente. O meu prêmio é você, Chanyeol!

 O maior arregalou os olhos.

— Me perdoe por não ter visto o e-mail antes! Sério, me assumir tomou todo o meu tempo que eu nem consegui acessar a inter... — Foi interrompido pelo maior.

 O beijo que Chanyeol depositou nos lábios de Baekhyun o pegou de supresa. Mas era uma surpresa boa, muito melhor que o prêmio de primeiro lugar, com toda a certeza.

 Baekhyun enroscou os dedos nas mechas de cabelo da nuca do Park, que por sua vez, envolveu a cintura do menor com o braço direito, puxando-o para mais perto.

 Precisaram se separar para buscar fôlego.

— Parece que quem buscou o prêmio no seu lugar foi a Hyunjin. — Sorriu.

— Aish, por que eu nem te namoro ainda e já estou com ciúmes? — Levou os dedos até o próprio cabelo e o bagunçou.

— Ainda? — Debochou. — Quer dizer que se eu te pedisse neste exato momento em namoro, você aceitaria? — Mordeu o lábio inferior.

— Mas é claro que sim. — Baekhyun ficou nas pontas dos pés, alcançando mais uma vez os lábios do mais velho e depositando ali um selar rápido.

— Posso te confidenciar uma coisa? — murmurou, como se fosse segredo. — Eu tenho o namorado mais bonito do colégio.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...