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História Halo (Camren) - Calmaria Antes da Tempestade


Escrita por: lmfs13

Capítulo 17 - Calmaria Antes da Tempestade


Meu relacionamento com  Lauren pareceu ter ficado mais profundo após o jantar com a minha família. Sentimos que havíamos recebido autorização para expressar nossas emoções sem medo de retaliações. Começamos a pensar e a agir em sincronia, como uma única entidade ocupando corpos distintos. Apesar do esforço consciente de não nos afastarmos de todos à nossa volta, às vezes isso era inevitável. Chegamos a tentar determinar períodos específicos para passar com outras pessoas, mas, quando fazíamos, as horas se arrastavam e nosso comportamento parecia tão artificial que em menos de uma hora já estávamos juntas de novo. 

Lauren e eu adotamos o hábito de almoçar juntas na nossa mesa particular, nos fundos da cantina. De vez em quando, alguém aparecia para contar uma piada ou pedir informações sobre uma regata de barcos a remo, mas raramente esboçavam uma tentativa de partilhar a nossa mesa ou comentar nosso relacionamento. Em vez disso, as pessoas orbitavam à nossa volta, mantendo uma distância respeitosa. Se acaso sentiam que havia segredos entre nós, ao menos se mostravam educados o suficiente para não se intrometerem. 

— Vamos sair daqui — disse Lauren, juntando seus livros. 

— Não até você acabar seu trabalho. 

— Já acabei. 

— Você escreveu três linhas. 

— Cuidadosamente ponderadas — argumentou Lauren. — Qualidade conta mais que quantidade, sabia? 

— Só estou tentando fazer você não perder o foco. Não quero ser responsável por distraí-la e desviá-la dos seus objetivos. 

— É meio tarde para isso — brincou Lauren. — Você é uma baita distração e uma péssima influência. 

— Que absurdo! — brinquei. — É impossível para mim ser má influência para alguém. 

— Não diga! Por quê? 

— Porque sou a personificação da bondade. Sou tão boa que dói! 

Lauren franziu as sobrancelhas enquanto refletia sobre a minha declaração. 

— Humm... — acrescentou, passado um momento. — Vamos ter que tomar alguma providência quanto a isso. 

— Qualquer desculpa vale para escapar do dever de casa! — concordei. 

— Talvez seja porque tenho o resto da vida para correr atrás dos meus objetivos. Quem sabe quanto tempo terei com você? 

Senti o clima leve abandonar a conversa tão logo foram ditas essas palavras. Em geral driblávamos o assunto que quase sempre provocava confusão, como acontece com as coisas que escapam à nossa esfera de controle. 

— Não vamos pensar nisso. 

— Como posso evitar pensar nisso? Você não fica acordada matutando? 

A conversa ia tomando um rumo que não me agradou. 

— Claro que penso nisso — respondi. — Mas não vejo motivo para estragar o tempo que passamos juntas. 

— Acho que devíamos estar fazendo alguma coisa a respeito disso — disse ela com raiva. Sabia que essa raiva não era dirigida a mim, e ela rapidamente se transformava em tristeza. 

— Devíamos ao menos tentar. 

— Não há nada a fazer — emendei baixinho. — Acho que você ainda não entendeu com o que estamos lidando. Não dá para brincar com as forças do Universo! 

— E onde fica o livre-arbítrio? Ou será que é só um mito? 

— Não está se esquecendo de um detalhe? Não sou como você; por isso essas regras não valem para mim. 

— Talvez devessem valer. 

— Talvez... Mas o que vamos fazer? Um abaixo-assinado? 

— Não tem graça, Camz. Você quer ir para casa? — indagou Lauren, os olhos fixos nos meus.

Sabia que ela não estava se referindo à Byron. 

— Não acredito que está me fazendo essa pergunta. 

— Então por que o assunto não incomoda você tanto quanto incomoda a mim? 

— Se eu soubesse um jeito de poder ficar aqui, acha que eu pensaria duas vezes? — perguntei, alterando um pouco a voz. — Acha que eu estaria disposta a abandonar a coisa mais importante da minha vida? 

Lauren se virou para me olhar os olhos verdes faiscando, os lábios cerrados. 

— Eles, sejam lá quem forem, não deveriam ter controle sobre a nossa vida — respondeu. — Não estou a fim de perder você. Já passei por isso antes e farei o que for preciso para evitar que aconteça de novo. 

— Lauren... — comecei, mas ela pôs os dedos sobre os meus lábios. 

— Responda a uma pergunta apenas. Se quisermos lutar, quais são as nossas opções?

—Não sei!

— Mas existem opções, alguém para pedir ajuda, algo que a gente possa tentar, mesmo que seja um tiro no escuro? — insistiu ela. 

Olhei dentro dos seus olhos e vi uma urgência que jamais estivera ali. Lauren era sempre tão calma e bem-humorada... 

—Camz, preciso saber. Existe uma chance, ainda que pequena? 

— Talvez — disse eu. — Mas tenho medo de descobrir. 

— Também tenho, mas não podemos pensar assim. Precisamos ter fé. 

— Ainda que não dê em nada? 

— Você mesma disse que havia uma chance — respondeu Lauren, entrelaçando seus dedos nos meus. — É tudo de que precisamos. 


Ao longo das últimas semanas, vinha me sentindo meio culpada por ter me afastado de Dinah, mas ela não via problemas em se encontrar comigo apenas quando Lauren estivesse ocupada com outra coisa. Sabia que ela não devia gostar do fato de Lauren estar monopolizando meu tempo e minha atenção, mas Dinah era realista e achava que as amizades deviam ficar em segundo plano quando um relacionamento começava — sobretudo se o relacionamento fosse tão intenso quanto o meu com Lauren. Aparentemente, ela tinha superado a irritação que Lauren lhe despertara no início, e embora estivesse longe de aceitá-la como sua amiga, parecia disposta a vê-la como amiga minha. 

Uma tarde, Lauren e eu estávamos a caminho da cidade quando vimos Ally à sombra de um carvalho com um aluno do terceiro ano da Bryce Hamilton, um rapaz de cabelo escuro. Ele usava um boné de beisebol ao contrário e as mangas da camisa arregaçadas para exibir os braços musculosos. Não parava de sorrir de modo sugestivo enquanto falava. Nunca vi minha irmã tão sem graça. Estava imprensada pelo rapaz e segurava uma sacola de compras com uma das mãos, enquanto com a outra prendia, nervosamente, uma mecha de cabelo atrás da orelha, dando a nítida impressão de que procurava um jeito de escapar dali. 

Cutuquei Xavier. 

— O que está havendo ali? 

— Acho que Troy Ogletree finalmente tomou coragem para convidá-la para sair — respondeu Lauren. 

— Você o conhece? 

— Sim, é aquele mesmo garoto que me chamou para conversar na cantina aquele dia, não se lembra?!

— Não é o tipo de pessoa com quem Ally conversaria. 

— Bem, não é de se admirar — concordou Lauren. — Ele é um completo idiota. 

— O que podemos fazer? 

— Ei, Ogletree — chamou  Lauren, — Posso falar com você? 

— Estou meio ocupado — respondeu o rapaz. 

— Já soube da novidade? — indagou Lauren. — O treinador quer todo mundo na sala dele hoje à noite depois do jogo. 

— Ah, é? Para quê? — perguntou sem se virar. 

— Não sei ao certo. Alguma coisa sobre a escalação para as eliminatórias da próxima temporada. Quem não se apresentar será cortado. 

Troy pareceu assustado. 

— Preciso ir agora — disse ele. Mas não se preocupe, gatinha, a gente se vê depois. 

Ally abriu um sorriso agradecido para Lauren quando o garoto se afastou. 


Gabriel e Ally pareciam ter aceitado Lauren. Ela não invadiu nosso espaço, mas acabou se tornando um elemento constante nele. Comecei a desconfiar de que minhas irmãs realmente apreciavam sua companhia, primeiro porque confiavam nela para ficar de olho em mim e, segundo, porque Lauren era útil quando se tratava de lidar com aparelhos eletrônicos. Normani reparara que seus alunos vinham lhe lançando olhares estranhos toda vez que demonstrava não saber ligar o DVD, e Ally queria divulgar seu programa de serviço social por meio do sistema de e-mail da escola. Ambas pediram ajuda a Lauren. Mesmo com todo o conhecimento que tinham, a tecnologia era um campo minado para elas porque mudava o tempo todo. Normani também deixou, a contragosto, que Lauren lhe mostrasse como enviar e-mails para seus colegas professores na Bryce Hamilton e lhe ensinasse como funcionava um iPod. Às vezes tinha a impressão de que Lauren falava uma língua completamente diferente, usando termos estranhos como bluetoothgigabyte wi-fi. Se fosse outra pessoa, eu simplesmente ignoraria, mas eu adorava o som da sua voz, independentemente do que ela estivesse falando. Podia passar horas observando seu jeito de andar, ouvindo-a falar, registrando tudo aquilo na memória. 

Além de nosso anjo da guarda tecnológico, Lauren assumiu tão seriamente a função de minha guarda-costas que me vi precisando lhe recordar que não era feita de vidro e que tinha me virado bastante bem antes da sua chegada. Encarregada por Normani e Ally de cuidar de mim, Lauren estava decidida a manter sua palavra e convencê-las da sua integridade moral. Era ela quem me lembrava de beber muita água e quem afastava as perguntas sobre a minha família vindas dos meus colegas de turma. Chegou a responder por mim um dia, quando o Sr. Collins perguntou por que eu não tinha conseguido terminar meu dever de casa no prazo estipulado. 

— A Camz está com uma série de compromissos no momento — explicou. — Ela vai entregar o trabalho até o fim da semana. 

Eu sabia que, se me esquecesse, Lauren terminaria o trabalho para mim e o entregaria sem que eu soubesse. 

Tornava-se ferozmente protetora quando alguém que não aprovava chegava a uma distância de meio metro de mim. 

— Não e não — respondeu, balançando a cabeça, quando um garoto chamado Shawn Mendes perguntou se eu queria "dar uma volta" com ele e os amigos uma tarde. 

— Por que não? — indaguei de mau humor. — Ele parece bem legal. 

— Não é o tipo de pessoa para ter contato com você. 

— Por quê? 

— Você faz muitas perguntas, sabia? 

— Sabia. Agora me responde. 

— Ora, porque não.

Encarei-a perplexa. 

— Isso tudo seria ciúmes? — perguntei e ela me ignorou — Você é muito bobinha mesmo... 

Se Lauren não agisse como um escudo, minha vida na Bryce Hamilton seria bem mais difícil. Tinha tendência a me meter em situações delicadas. As encrencas aparentemente me perseguiam, embora eu fizesse o possível para evitá-las. Foi o que aconteceu um dia, quando eu atravessava o estacionamento para ir à aula de inglês. 

— E aí, gatinha! 

Virei-me num pulo quando ouvi a voz atrás de mim. Era um aluno magricela do terceiro ano, de cabelo louro oleoso e pele cheia de espinhas. Estava na minha turma de biologia, mas raramente aparecia. Já o tinha visto atrás das caçambas de lixo, fumando e dando cavalo de pau em seu carro, na companhia de três outros garotos, todos exibindo amplos sorrisos maldosos. 

— Oi — respondi, nervosa. 

— Acho que não fomos devidamente apresentados — disse ele, com um sorriso forçado. — Meu nome é Kirk. 

— Muito prazer — respondi, sem encará-lo. Alguma coisa na sua atitude me deixou sem graça. 

— Alguém já lhe disse que você tem belas prateleiras? — perguntou Kirk. Os garotos atrás dele lutaram para conter o riso. 

— O quê? — indaguei, sem saber o que ele queria dizer. 

— A gente podia se conhecer melhor, o que acha? — disse Kirk, dando um passo na minha direção. Imediatamente me afastei dele. — Não seja tímida, gracinha. 

— Preciso ir para a aula. 

— Garanto que tem uns minutinhos — disse ele, com um sorriso malicioso. — Só quero uma rapidinha — completou, segurando meu ombro. 

— Não toque em mim! 

— Uau! Mais difícil do que parece! — exclamou ele, rindo e apertando meu ombro com mais força. 

— Tire as mãos dela. 

Soltei um suspiro de alívio quando Lauren surgiu à minha frente, alta, forte e protetora. Instintivamente, me aproximei dela, agradecida pela segurança da sua presença. Os cabelos preto estavam jogados para um lado, e os olhos verdes, tão conhecidos meus, faiscavam de raiva. 

— Não falei com você — disse Kirk, tirando a mão do meu ombro. — Isto não é da sua conta. 

— O que é da conta dela é da minha conta. 

— Sério? Acha que pode me fazer parar? 

— Encoste nela de novo e vai ver — avisou Lauren. 

— Quer criar confusão só por isso? 

— Foi você que pediu — disse Lauren tirando a jaqueta de couro e arregaçando as mangas. Vi o crucifixo que pendia do seu pescoço. 

— Esqueça isso — aconselhou um dos amigos de Kirk, em seguida baixando a voz. — Esta é a Lauren Jauregui. 

Ao que parece, a informação o intimidou. 

— Dane-se — concluiu Kirk, cuspindo no chão e me lançando um olhar infame antes de se afastar.

Lauren envolveu meus ombros com um braço, e eu cheguei mais perto dela, sentindo seu cheiro puro e fresco. 

— Tem gente que realmente precisa levar umas lições de boas maneiras — comentou com desprezo. Olhei para ela. 

— Você teria mesmo entrado numa briga por minha causa?

— Claro — respondeu sem hesitar. 

— Mas eles eram quatro. 

— Camz, eu enfrentaria o exército do Megatron para proteger você. 

— Quem? 

Lauren balançou a cabeça e riu. 

— Sempre me esqueço de que nossas referências são diferentes. Digamos que não tenho medo de enfrentar quatro pivetes. 


Lauren não sabia muita coisa sobre anjos, mas sabia um bocado sobre gente. Sabia identificar a intenção dos outros muito melhor que eu, e por isso era capaz de julgar melhor em quem confiar e de quem manter distância. Eu sabia que Ally e  Normani ainda se preocupavam com os desdobramentos do nosso relacionamento, mas sentiam que Lauren me dava uma força e uma autoconfiança que me deixavam mais preparada independentemente do papel que eu tivesse que desempenhar em nossa missão. Embora não entendesse totalmente qual era o nosso objetivo na Terra, de repente ela se deu conta de que não podia me desviar dele. Além disso, sua preocupação com o meu bem-estar beirava a obsessão, já que as menores coisas a afligiam, como a minha reserva de energia. 

— Não precisa se preocupar comigo — lembrei a ela um dia na cantina. — Embora Normani ache que não, sei me virar sozinha. 

— Só estou fazendo o que me cabe — respondeu Lauren. A propósito, você já almoçou? 

— Não estou com fome. Normani sempre prepara um baita café da manhã. 

— Tome, coma isto! — ordenou, jogando uma barrinha de cereal no meu colo.

Por ser atleta, ela sempre carregava um estoque delas. O rótulo me informou que a barrinha continha castanhas de caju, coco, damasco e sementes. 

— Não posso comer isto. Tem alpiste! 

— São sementes de gergelim, ricas em energia. Não quero que você apague. 

— E por que apagaria? 

— Porque sua glicose deve estar baixa. Não discuta. 

Às vezes era mais fácil não discutir com Lauren quando o que ela queria era cuidar de mim. 

— Certo, mamãe concordei, dando uma mordida na barrinha. — Por sinal, isto tem gosto de papelão. 

Deitei a cabeça nos braços dela, sentindo, como sempre, uma tranquilidade. 

— Com sono? — perguntou Lauren. 

— O Fish roncou a noite toda e não tive coragem de botá-lo para fora. 

Lauren suspirou e afagou minha cabeça. 

— Você tem o coração tão bom que acaba no prejuízo. E não pense que não reparei que só deu uma mordida na barrinha de cereal. Trate de comer tudo. 

— Lauren, que vergonha, alguém pode ouvir! 

Ela pegou a barrinha e a ergueu no ar fazendo um ruído com a boca. 

— Vai ser bem mais vergonhoso se começarmos a brincar de aviãozinho. 

— O que é isso? 

— Uma brincadeira que as mães fazem para obrigar crianças teimosas a comerem. 

Soltei uma gargalhada e, aproveitando a oportunidade, Lauren enfiou a barrinha direto na minha boca. Ela adorava contar histórias da sua família, e eu adorava ouvi-las. Sempre que ela falava, eu ficava praticamente hipnotizada prestando atenção. Ultimamente suas histórias giravam em torno do casamento da irmã mais velha, o qual se aproximava. Muitas vezes eu a interrompia com perguntas, louca para saber detalhes omitidos. De que cor eram os vestidos das damas? Qual o nome do priminho escolhido para levar as alianças? Quem preferia uma orquestra em lugar de um quarteto de cordas? Os sapatos da noiva seriam de cetim branco? Quando não sabia a resposta, ela prometia investigar. 

Enquanto eu comia, Lauren explicou que a mãe e a irmã batiam de frente naquele momento quanto aos preparativos do casamento. Claire, a irmã, queria uma cerimônia no jardim botânico local, mas a mãe achava isso “primitivo” demais. A família Jauregui era assídua da paróquia de Saint Mark, com a qual tinha uma relação de longa data. A Sra. Jauregui queria que o casamento fosse lá. Na última briga, ameaçara não comparecer à cerimônia se ela não acontecesse na Casa de Deus. Segundo ela, os votos não seriam válidos se não fossem feitos em um lugar santificado. Por isso, as duas acabaram cedendo — a cerimônia aconteceria na igreja, e a recepção, num salão à beira-mar. Lauren riu quando me contou a história, achando graça nas maluquice da sua família. Não pude deixar de pensar em como a mãe dela se daria bem com Normani. 

Às vezes me sentia muito distante desse lado da vida de Lauren. Era como se ela levasse uma vida dupla: uma parte que partilhava com a família e os amigos, e a outra que era basicamente seu profundo envolvimento comigo. 

— Você já pensou que não servimos uma para a outra? — perguntei, apoiando o queixo nas mãos e tentando interpretar a expressão no rosto dela. 

— Não, não penso nisso — respondeu Lauren sem um segundo de hesitação. — Você pensa? 

— Bem, sei que não era para isto acontecer. Alguém lá em cima pisou feio na bola. 

— Não somos um erro — insistiu Lauren. 

— Não, mas burlamos o destino. Não foi isso que planejaram para nós. 

— Fico feliz com a escorregadela, você não? 

— Por mim, sim... 

—Mas...? 

— Mas não quero me tornar um fardo para você. 

— Você não é um fardo. Às vezes é irritante e nunca ouve conselhos, mas fardo, jamais!

— Não sou irritante. 

— Esqueci de dizer que também não é muito boa em avaliar o caráter das pessoas, inclusive o próprio. 

Despenteei o cabelo dela, sentindo a maciez dos fios em meus dedos. 

— Você acha que a sua família gostaria de mim? — indaguei. 

— Claro. Eles confiam, quase sempre, nas minhas escolhas. 

— Sim, mas e se me acharem esquisita? 

— Eles não são assim, mas por que não descobre isso você mesma? Apareça lá em casa para conhecê-los este fim de semana. Eu ia mesmo convidar você. 

— Não sei — me esquivei. — Não me sinto à vontade com gente desconhecida. 

— Eles não são desconhecidos — retrucou. — Eu os conheço a vida toda. 

— Desconhecidos para mim. 

— Eles são parte da minha vida, Camz. É muito importante para mim que eles conheçam você. Já ouviram um bocado a seu respeito. 

— O que contou a eles? 

— Como você é legal. 

— Não sou tão legal assim. Se fosse, não estaríamos nesta situação. 

— Garotas legais demais nunca me atraíram. E aí, você vai? 

— Vou pensar no assunto. 

Eu tinha esperado esse convite e estava disposta a aceitar, mas parte de mim temia se sentir diferente deles. Depois do que ouvi sobre sua mãe conservadora, estava com medo de ser avaliada. Lauren percebeu a expressão em meu rosto. 

— Qual é o problema? — perguntou. 

— Se sua mãe é religiosa, talvez reconheça um anjo caído quando vir um. 

Depois que as palavras saíram da minha boca, me dei conta de como soavam idiotas em voz alta. 

— Você não é um anjo caído. Precisa ser tão melodramática? 

— Sou um anjo caído, sim, comparada a Ally e Normani. 

— Bem, acho difícil minha mãe notar. Tive que enfrentar o pelotão de Deus, lembra? E não fugi da raia. 

— Nisso você tem razão. 

— Combinado, então. Pego você no sábado por volta das cinco. Sua aula de literatura já vai começar. Vou andando com você até a sala. 

Enquanto eu recolhia os livros, o barulho de um trovão ecoou pela cantina, e a luminosidade que penetrava pelas janelas se foi. O céu escureceu, prenunciando chuva. Não era novidade para ninguém que o bem-vindo calorzinho da primavera estava com os dias contados, mas ainda assim a mudança era decepcionante. O período chuvoso era implacável nessa parte do litoral. 

— Tem chuva vindo — observou Lauren, olhando para o céu. 

— Adeus, sol — suspirei. 

Nem bem falei e as primeiras gotas grossas começaram a cair. As nuvens pesadas tomaram todo o céu, e a chuva despencava em pancadas constantes, martelando o telhado da cantina. Vi os alunos correndo pelo pátio, protegendo os rostos com as pastas. Uma dupla de alunas da primeira série ficou do lado de fora, deixando-se ensopar e gargalhando histericamente. Teriam problemas quando finalmente fossem para a aula, ensopadas. Vi Normani a caminho do centro de música, com uma expressão preocupada. O guarda-chuva que segurava tinha sido vergado pela ventania. 

— Você vem? — indagou Lauren. 

— Vamos apreciar um pouquinho a chuva. Não tem grande coisa acontecendo na aula de literatura no momento. 

— Essa é a Camz malvada falando? 

— Acho que precisamos rever sua definição de malvada. Qual o problema de faltar a esta aula para ficar com você? 

— Para depois sua irmã me acusar de ser uma influência ruim? Nem pensar. Aliás, ouvi dizer que chegou um aluno novo. Veio de Cleveland, Ohio. Acho que está na sua sala. Não está curiosa? 

— Não muito. Tudo de que preciso está bem aqui — completei, passeando com o dedo por seu rosto, sentindo cada contorno. 

Lauren afastou meu dedo, beijando a pontinha antes de devolvê-lo, decidido, ao meu colo. 

— Talvez esse garoto seja dos seus. Dizem que já foi expulso de três escolas e mandado para cá a fim de se encontrar. Talvez porque não há nada por aqui que possa metê-lo confusão. O pai é um magnata da mídia, ou algo no gênero. Está interessada agora? 

— Talvez... Só um pouquinho. 

— Então, vá para a aula de literatura e veja com seus próprios olhos. 

— Está bem, Lauren, mas já tenho uma consciência, e ela já me dá um bocado de trabalho. Não preciso de outra. 

— Também te amo, Camz. 


Mais tarde, repassando os acontecimentos desse dia, via a chuva e o rosto de Lauren. Aquela mudança no tempo também marcou uma mudança em nossas vidas, uma mudança que nenhuma de nós poderia prever. Até então, minha vida na Terra envolvia pequenos dramas e a angústia da juventude, mas eu tava prestes a aprender que aqueles eram problemas infantis comparados ao que nos aguardava. Acredito que aquilo o que passamos serviu para nos ensinar um bocado a respeito do que é importante na vida. Acho que não poderíamos ter evitado, pois fazia parte da nossa história desde o início. Afinal, as coisas vinham correndo bastante bem, e era de se esperar que houvesse alguma pedra no caminho. Só não contávamos que ela fosse tão grande. 

A pedra veio de Cleveland e tinha nome: Richard Baker, ou como era chamado MGK.


Notas Finais


MGK chegando para abalar nosso casalzinho...
Até o próximo capítulo 😊


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