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História Halo (Camren) - Brincando Com Fogo


Escrita por: lmfs13

Capítulo 27 - Brincando Com Fogo


No momento seguinte, MGK virou as costas e desapareceu, voltando pelo mesmo caminho que havíamos feito. 

Permaneci ali, grudada ao chão, um arrepio perpassando meu corpo. Perguntei a mim mesma se teria interpretado mal a ameaça implícita nas suas palavras de despedida. Mas sabia que não. De repente me senti como se a noite estivesse me sufocando. De duas coisas eu tinha certeza: primeiro, MGK sabia a verdade a nosso respeito; segundo, ele era perigoso. Percebi que estava totalmente cega por não ter enxergado isso antes. Desejara de tal maneira ver seu lado bom que ignorei os sinais evidentes denunciando o contrário. Esses sinais faiscavam como luzes de neon. 

Alguém agarrou meu cotovelo, e prendi a respiração. Vi, com alívio, que era Dinah. 

— O que está havendo? — perguntou ela. — Vimos você pela janela. Está com MGK agora? Você e Lauren brigaram? 

— Não! — explodi. — Não estou com MGK, nem pensar! Ele só... Não sei o que houve... Preciso ir para casa. 

— O quê? Por quê? Você não pode ir embora, E a pós-festa? — quis saber Dinah, mas a essa altura eu já tinha saído dali em disparada. 

Encontrei Normani e Ally sentadas à mesa dos professores e as chamei de lado. 

— Temos que ir embora — pedi, puxando o braço de Mani. 

Fiquei na dúvida se ela já sabia ou não o que tinha acontecido ou se apenas sentiu a urgência em minha voz. O fato é que não fez nenhuma pergunta. Ela e Ally recolheram silenciosamente seus pertences e saíram comigo. No jipe, a caminho de casa, as duas ouviram caladas enquanto eu explicava o ocorrido com MGK e repetia as palavras ditas por ele ao se despedir. 

— Não acredito que fui tão burra — gemi, pondo a cabeça entre as mãos. — Eu devia ter notado... Eu devia ter percebido. 

— A culpa não é sua, Camila — disse Ally. 

— Qual é o meu problema? — indaguei. — Por que não vi logo? Vocês sentiram algo de errado, não foi? Vocês souberam, assim que ele pôs os pés lá em casa. 

— Sentimos uma energia negativa — admitiu Mani. 

— Por que não disseram nada? Por que não me impediram de sair com ele? 

— Não tínhamos certeza — justificou Normani. A mente dele estava bem-defendida, era praticamente impossível obter alguma informação. — Podia não ser nada de mais, e não quisemos preocupar você à toa. 

— Humanos problemáticos às vezes têm auras negativas — acrescentou Ally — devido a uma série de experiências: tragédias, luto, sofrimento... 

— E más intenções — acrescentei. 

— Também — admitiu Normani. — Não queríamos que você tirasse conclusões apressadas, mas se esse rapaz sabe o que somos é bem provável que ele seja... Bem, que seja mais forte do que um humano normal. 

— Mais forte quanto? 

— Não sei — respondeu Normani. — A menos que... Você não acha que a Lauren... 

Lancei um olhar furioso na direção da minha irmã. 

— Lauren jamais contaria a alguém o nosso segredo — disse eu. — Não acredito que você sequer tenha coragem de pensar nessa possibilidade. A esta altura, já devia conhecê-la o suficiente. 

— Certo. Digamos que Lauren não tenha nada a ver com isso. Existe algo nesse MGK que não é natural. Posso sentir, e você também, Camila. 

— Então, o que fazemos? — perguntei. 

— Precisamos ter paciência — respondeu Normani. — Os fatos vão se desenrolar de forma natural. Não podemos nos apressar. Se ele é mesmo perigoso, vai se revelar mais cedo ou mais tarde. 

Quando chegamos em casa, Ally se ofereceu para preparar um chocolate quente, mas recusei. Subi para o quarto e tirei o vestido com a sensação de que um grande peso tinha caído sobre meus ombros. As coisas vinham correndo tão bem, e esse garoto ameaçava destruir tudo. Arranquei as pérolas do cabelo e tirei a maquiagem, me sentindo de repente nada mais que uma impostora. Era tarde demais para ligar para Lauren, embora eu soubesse que falar com ela me faria bem. Em vez disso, vesti meu pijama e me enfiei na cama, abraçada com um bicho de pelúcia que Lauren me dera de presente. Deixei que as lágrimas corressem dos meus olhos fechados e molhassem o travesseiro. Não estava mais com raiva nem amedrontada, mas simplesmente triste. Queria tanto que as coisas pudessem ser mais fáceis e simples. Por que a nossa missão envolvia tantas complicações? Eu sabia que era uma postura infantil, mas só conseguia pensar na injustiça daquilo tudo. Meu cansaço me obrigou a adormecer, mas eu estava convencida de que uma tempestade estava a caminho. 

Lauren não me ligou durante todo o fim de semana. Supus que ela não estivesse a par do incidente na festa de formatura, e eu não quis estressá-la. MGK tinha me deixado tão agoniada que sequer parei para pensar por que Lauren não ligava. Raramente passávamos mais de algumas horas sem nos falarmos. 

Por outro lado, não precisei esperar muito para ter notícias de MGK. Na segunda de manha, na escola, quando abri meu armário, um pedaço de papel escapou e caiu lentamente, flutuando até o chão, como uma pétala enrugada. Apanhei o papel, achando que era um bilhete de Lauren, que me faria suspirar de paixão ou rir como uma bobinha. Mas a caligrafia não era a dela, mas aquela, elaborada e firme, que eu conhecia da aula de literatura. Quando li o que estava escrito, meu sangue congelou nas veias. 


O anjo veio

O anjo viu

O anjo caiu 


Mostrei o bilhete a Normani, que o leu e depois amassou frustrado, sem dizer uma palavra. Tentei não pensar em MGK pelo resto do dia, mas não foi fácil. Lauren não estava na escola, e eu queria desesperadamente falar com ela. Tive a sensação de que se passara uma eternidade desde sexta-feira, com tanta coisa acontecendo. 

O dia transcorreu em meio a uma névoa. Fiquei um pouco animada durante uns cinco minutos, no almoço, quando pedi emprestado o celular de Dinah para ligar para Lauren. Mas meu estado de ânimo logo voltou a ficar encoberto quando a ligação caiu na caixa postal. Ficar sem contato com ela me deixava letárgica e pesada. Uma nuvem parecia ter se instalado em minha mente, e eu não era capaz de captar nenhum dos pensamentos que me passavam pela cabeça, pois eles desapareciam rápido demais. 

No final do dia, voltei para casa com minhas irmãs e nada de Lauren. Liguei novamente para ela de casa, mas a mensagem da caixa postal só me deu vontade de chorar. Sentei e esperei a tarde toda e durante o jantar por um telefonema ou uma visita dela, mas nada aconteceu. Será que não estava interessada em saber sobre a formatura? Qual seria o motivo do silêncio repentino? Eu não conseguia entender. 

— Não consigo falar com a Lauren — comentei com voz de choro durante o jantar. — Ela não foi à escola e não atende aos meus telefonemas. 

Ally e Normani se entreolharam. 

— Não precisa entrar em pânico, Camila — disse Ally, carinhosamente. — Existem muitos motivos que podem explicar o fato de ela não ter atendido. 

— E se estiver doente? 

— Nós teríamos sentido — garantiu Normani. 

Assenti e tentei engolir meu jantar, mas a comida grudava como cola na garganta. Não falei mais nada com Ally ou Normani, simplesmente me arrastei até a cama sentindo as paredes se fecharem à minha volta. 

Quando notei que Lauren faltara novamente à escola no dia seguinte, meus olhos começaram a arder e me senti tonta e febril. Queria me encolher no chão e esperar que alguém me levasse embora. Não seria capaz de passar mais um dia sem ela, mal aguentaria mais um minuto. Onde ela estava? Por que estava fazendo aquilo comigo? 

Dinah me viu abatida, encostada no armário. Aproximou-se e pôs a mão, delicadamente, no meu ombro. 

— Mila, tudo bem com você? 

— Preciso falar com a Lauren, mas não consigo encontrá-la. 

 Dinah mordeu o lábio. 

— Acho que você precisa ver uma coisa — disse ela baixinho. 

— O quê? — perguntei num leve tom de pânico. — Lauren está bem? 

— Está ótima — respondeu Dinah. — Vem comigo. 

Ela me levou ao terceiro andar, e entramos num dos laboratórios de informática. Era uma sala fria, com carpete cinza e sem janelas. Fileiras de computadores com as telas desligadas nos encaravam. Dinah ligou um deles e puxou duas cadeiras. Batia as unhas de acrílico na mesa, impaciente. Quando o computador entrou em atividade, ela clicou num ícone e rapidamente digitou alguma coisa na barra de ferramentas. 

— O que você está fazendo? — perguntei. 

Ela se virou para mim. 

— Lembra de quando eu falei do Facebook e de como era incrível? 

Assenti sem entender. 

— Bem, tem uma parte que não é tão incrível assim. 

— Como o quê? 

— Bom... Não tem muita privacidade, para começar. 

— Não entendi. 

Dinah queria chegar a algum lugar, mas não conseguia saber aonde, e, a julgar pela expressão dela, desconfiei que talvez não quisesse descobrir. Dinah me olhava com um misto de preocupação e temor. Ela tinha tendência a exagerar as coisas, então tentei não entrar em pânico. Nossas noções de tragédia eram totalmente diferentes. Dinah respirou fundo. 

— Muito bem... Vou lhe mostrar uma coisa. 

Ela pressionou uma tecla, e sua página no Facebook apareceu na tela. Em voz alta ela leu o slogan escrito no cabeçalho: "O Facebook ajuda você a se conectar e partilhar seus momentos com as pessoas da sua vida." 

— Só que, nesse caso, trata-se de uma coisa que não queríamos partilhar — explicou, enigmática. 

Eu já estava ficando cansada de tanto mistério. 

— Diga logo do que se trata. Não pode ser tão ruim assim — pedi. 

— Está bem, está bem. Prepare-se. 

Então ela clicou num álbum de fotos intitulado "Fotos da festa de formatura, por Ashlee Juno". 

— Quem é essa? 

— Uma garota da nossa série que tirou fotos a noite toda. 

— Espere, está dizendo aí que apareço nesse álbum. 

— Isso mesmo — confirmou Dinah. — Você e... mais alguém. 

Dinah clicou numa imagem em miniatura e esperei que a foto em tamanho real carregasse na tela. Meu coração batia disparado. O que poderia ser? Será que Ashlee conseguira pegar minhas asas com a câmera? Ou seria apenas uma foto pouco favorável que Dinah rotulara de "emergência"? Quando, porém, a fotografia encheu a tela, percebi que não se tratava de nada disso. Era pior, muito, muito pior. Fui tomada por um acesso de náusea, e, com a visão turva, tudo que pude ver foram dois rostos: o meu e o de MGK colados num beijo. Sentei-me e fixei os olhos na tela durante um bom tempo. As mãos de MGK me agarravam pelas costas, e as minhas encostavam em seus ombros, tentando empurrá-lo. Meus olhos estavam fechados, em choque. Quem não tivesse assistido à cena teria a impressão de que estava absorta num momento de paixão. 

— Precisamos nos livrar disso — gritei, agarrando o mouse. — Jogar fora! 

— Não podemos nos livrar disso — retrucou Dinah. 

— Como assim? — perguntei numa voz sufocada. — Não podemos simplesmente apagar? 

— Só a Ashlee pode tirar as fotos do Facebook dela — respondeu Dinah. — A gente pode apagar seu nome, mas todo mundo continuará vendo sua foto na página da Ashlee. 

— Mas tem que haver um jeito! — implorei. — Lauren não pode ver! — Dinah me olhou, solidária. 

— Mila, querida. Acho que ela já viu. 


Saí em disparada do laboratório e corri até chegar à rua. Não sabia onde estava Normani, mas não podia me dar ao luxo de esperá-la. Lauren tinha de ouvir a história toda, e tinha de ser imediatamente. 

A casa dela não ficava longe dali, e corri até lá, com meu senso de direção infalível mostrando o caminho. Como o dia estava bem na metade, Clara e Mike estavam trabalhando, Claire, na costureira com as damas de honra para uma prova do vestido de noiva, e os outros, na escola. Assim, quando toquei a campainha, a própria Lauren atendeu. Vestia um moletom cinza folgado e uma calça de corrida. Tinha tirado o gesso do tornozelo, mas vi que ainda se apoiava nas muletas. O cabelo estava ligeiramente bagunçado, e o rosto estampava a mesma beleza e sinceridade de sempre. Havia, entretanto, alguma coisa diferente em seus olhos. Os conhecidos olhos verdes, que sempre brilharam para mim, pareciam hostis. 

Lauren não disse nada quando me viu. Simplesmente virou as costas, deixando a porta aberta. Não estava certa se ela queria que eu a seguisse, mas fui em frente mesmo assim. Encontrei-a na cozinha, comendo um prato de cereais quando bati à porta, embora fosse quase a hora do almoço. Ela não olhou para mim. 

— Eu posso explicar — comecei baixinho. — Não é o que parece. 

— Não? — indagou ela, também em voz baixa. — Acho que é exatamente o que parece. O que mais poderia ser? 

— Lauren, por favor! — insisti, contendo as lágrimas. — Existe uma explicação, me escute.

— Você estava fazendo respiração boca a boca nele? — perguntou Lauren com sarcasmo. — Colhendo amostras de saliva para uma pesquisa? Ele tem uma doença rara, e esse era seu último desejo? Não brinque comigo, Camila, não estou a fim. 

Corri para ela e peguei sua mão, mas ela a puxou de mim. Fiquei enjoada. Não era para ser assim. O que estava havendo? Não dava para aguentar a distância que eu sentia entre nós. Lauren erguera um muro invisível, uma barreira. Essa pessoa fria, desligada, não era a Lauren que eu conhecia. 

— MGK me beijou — disse eu, com veemência. — E aquela foto foi tirada um segundo antes de eu o empurrar. 

— Muito conveniente — murmurou Lauren. — Você acha que sou tão burra assim? Talvez eu não seja um anjo, mas isso não faz de mim uma completa idiota. 

— Pergunte à Dinah — insisti. — Ou à Normani e Ally. Elas dirão a você. 

— Eu confiava em você — disse Lauren. — E bastou uma noite sem mim para você me trocar por outro. 

— Não é verdade! 

— Você podia, pelo menos, ter tido a decência de me contar pessoalmente que estava tudo acabado, em vez de deixar que eu soubesse pelos outros. 

— Não está acabado! — exclamei. — Não diga isso! Por favor... 

— Você ao menos se dá conta do quão humilhante isso é para mim? Uma foto da minha namorada aos beijos com outro cara, enquanto eu fico em casa cuidando de uma concussão idiota. Todos os meus amigos me ligaram para saber se levei o fora pelo telefone. 

— Sei disso — reconheci. — Sei disso e sinto muito, mas... 

— Mas o quê? 

— Bem... você... 

— Sou uma idiota, eu sei — interveio Lauren. — Deixar você ir ao baile de formatura com MGK. Acho que confiei demais em você. Não vou cometer esse erro de novo. 

— Por que não me escuta? — sussurrei. — Por que está tão decidida a acreditar em todo mundo, menos em mim? 

— Achei que a gente tinha uma relação — disse Lauren, me olhando com lágrimas pendendo dos olhos. Ela as engoliu, zangada. — Depois de tudo por que passamos para ficar juntas, você tinha de... O nosso relacionamento obviamente não significava muito para você. 

Não consegui me conter e explodi em lágrimas. Meus ombros sacudiam com cada soluço. Vi Lauren instintivamente se levantar para me consolar, mas pensou melhor e desistiu. Seus lábios estavam cerrados, como se doesse me ver tão nervosa e não poder fazer nada a respeito. 

— Por favor — voltei a insistir, chorando. — Eu amo você. Eu disse isso a MGK. Sei que sou complicada, mas não desista de mim. 

— Preciso ficar sozinha para pensar — disse ela, sem deixar seu olhar cruzar com o meu. 

Saí correndo da cozinha e da casa de Lauren. Não parei de correr até chegar à praia, onde desabei na areia e solucei até ficar sem forças. Era como se alguma coisa dentro de mim tivesse se quebrado, como se eu tivesse me despedaçado e não houvesse reparo. Eu amava tanto Lauren que chegava a doer, e mesmo assim ela me dava as costas. Não tentei me consolar, apenas deixei a dor se instalar. Não sei durante quanto tempo fiquei ali, mas a certa altura percebi que as ondas começavam a bater nos meus pés. Não dei bola. Torci para que o mar me levasse, me atirasse para lá e para cá, me obrigasse a ficar debaixo d'água, arrancando a energia do meu corpo e os pensamentos da minha cabeça. O vento uivava, e a maré subia cada vez mais, porém não me mexi. Seria essa a maneira escolhida por Nosso Pai para me punir? Meu crime tinha sido tão grave a ponto de ser isso que eu merecia — experimentar o amor e depois tê-lo arrancado de mim, como os pontos de uma ferida? Será que Lauren ainda me amava? Será que me odiava? Ou teria simplesmente perdido por completo a confiança em mim? 

A água já estava chegando à minha cintura quando Ally e Normani me encontraram. Eu tremia, mas praticamente sem me dar conta. Não me mexi ou falei, nem mesmo quando Normani me ergueu nos braços e me levou para casa. Ally me ajudou a entrar no banho e voltou meia hora depois, vendo que eu mal sabia onde estava, inerte sob o chuveiro aberto. Normani levou o jantar para mim, mas não consegui comer. Sentei na cama, olhando para o vazio sem fazer coisa alguma, a não ser pensar em Lauren e, ao mesmo tempo, tentar não pensar nela. A separação me fez perceber o quanto eu me sentia segura com ela. Ansiava pelo toque das suas mãos, pelo seu cheiro, pela certeza de tê-la por perto. Mas agora era como se ela estivesse a quilômetros de distância e eu não pudesse alcançá-la, o que me deixava prestes a me desfazer, a não mais existir. 

Quando o sono finalmente chegou, foi um alívio, ainda que eu soubesse que pela manhã tudo começaria de novo. Mesmo dormindo, continuei a ser assombrada. Naquela noite o pesadelo foi pior. 

Sonhei que estava do lado de fora do farol da Costa do Naufrágio. Estava escuro, e eu mal podia ver em meio à neblina, mas vislumbrei uma figura encolhida no chão. Quando a pessoa gemeu e se virou, reconheci imediatamente o rosto de Lauren. Gritei e tentei correr até ela, mas dezenas de pares de mãos pegajosas me impediram. MGK saiu do farol, os olhos brilhantes e afiados como vidro partido. Ele vestia um longo casaco de couro preto com a gola levantada por causa do vento. 

— Eu não queria que chegasse a este ponto, Camila — murmurou. — Mas às vezes não nos resta alternativa. 

— O que você fez com ela? — perguntei, soluçando, enquanto Lauren se contorcia no chão. — Solte-a. 

— Estou apenas terminando o que devia ter começado há muito tempo — rosnou MGK. — Não se preocupe, não vai doer. Afinal, ela já está semimorta... 

Com um movimento, MGK pôs Lauren de pé e a empurrou para a beira do penhasco.

— Sonhe com os anjos — disse MGK, no preciso momento em que os pés de Lauren escorregaram da borda do precipício. 

Meus gritos foram engolidos pela noite. 


Os dias que se seguiram como um borrão. Não parecia que eu estivesse vivendo de verdade, apenas observando a vida de longe. Faltei à escola, e Ally e Normani não fizeram menção de me obrigar a ir. Quase não comi. Não saí de casa. Na verdade, pouco fiz durante aqueles dias além de dormir. O sono era a única maneira de escapar à dor que a saudade de Lauren provocava em mim. 

Fish foi meu único consolo. Pareceu perceber o meu desespero e passava o tempo todo comigo, me obrigando a sorrir com suas brincadeiras. Tirou peças de roupa íntima das minhas gavetas abertas e espalhou-as pelo quarto, enrolou-se no tricô de Ally precisando ser libertado e levou um pacote inteiro de biscoitos caninos para o meu quarto na esperança de ser premiado com um. Essas travessuras me faziam esquecer brevemente do silêncio interminável e o vazio que se estendia diante de mim, mas quando acabavam eu me prostrava novamente naquele coma. 

A preocupação de Ally e Normani aumentava a cada dia. Transformei-me no fantasma de uma pessoa e de um anjo. Já não contribuía com nenhum afazer na administração da casa. 

— Isso não pode continuar assim — decretou Normani uma tarde ao voltar da escola. — Não é jeito de viver. 

— Desculpe — disse eu com uma voz sem entonação. — Vou me esforçar mais. 

— Não. Ally e eu trataremos desse assunto hoje à noite. 

— Como? 

— Você vai ver — respondeu minha irmã, recusando-se a fornecer detalhes. 

Depois do jantar, ela e Ally saíram juntas, enquanto fiquei deitada na cama, olhando para o teto. Achava que nada que elas fizessem solucionaria o problema, embora estivesse grata pela tentativa. 

Levantei da cama com esforço e fui ao banheiro me olhar no espelho. Definitivamente, eu estava diferente. Mesmo vestindo meu pijama folgado, dava para ver que eu emagrecera muito em questão de dias. Meu rosto encovado e os ossos aparentes perto do pescoço comprovavam isso. O cabelo parecia sem brilho nem graça, assim como meus olhos, grandes, sombrios e tristes. Meu rosto estava sem vida e, em vez de uma postura ereta, eu me vi encurvada, como se mal pudesse suportar meu próprio peso. Perguntei-me se algum dia seria capaz de colar os pedaços da minha vida na Terra, estilhaçada no instante em que Lauren me abandonou. Ocorreu-me por um momento que ela não tinha rompido formalmente o namoro, mas deixara isso implícito. Eu tinha visto a sua expressão. Não éramos mais namoradas. Voltei para a cama arrastando os pés e me encolhi debaixo do edredom. 

Cerca de uma hora mais tarde, alguém bateu na porta do quarto, mas mal ouvi a batida em meio ao miasma que me envolvia. Bateram de novo, dessa vez com mais força. Ouvi a porta se abrir e alguém entrar. Cobri a cabeça com o travesseiro. Não queria que me obrigassem a descer. 

— Nossa, Camz! — exclamou a voz de Lauren. — O que está fazendo consigo mesma? 

Fiquei imóvel, recusando-me a acreditar que era mesmo ela. Prendi a respiração, convencida de que quando erguesse a cabeça o quarto estaria vazio. Mas então ela voltou a falar. 

— Camz? Normani explicou tudo... O que MGK fez e como ameaçou você. Meu Deus me desculpe. 

Sentei-me na cama. Lá estava ela, usando uma blusa branca folgada e uma calça jeans desbotada, alta e bonita, exatamente como na minha memória. O rosto estava um pouco mais pálido que o habitual, e ela tinha olheiras — os únicos sinais de sofrimento. Percebi que se encolheu quando viu como eu estava exausta e abatida. 

— Achei que nunca mais fosse ver você — sussurrei, olhando-a de cima a baixo, a fim de provar a mim mesma que ela era real e que viera me visitar. 

Lauren se aproximou da cama e pegou minha mão, apertando-a contra o peito. Estremeci com seu toque e fitei aqueles olhos verdes tão cheios de preocupação. Não consegui impedir as lágrimas. 

— Estou aqui — murmurou Lauren. — Não chore. Estou aqui. — Ela repetiu essas palavras vez após vez, e deixei que me envolvesse em seus braços. — Eu jamais devia ter deixado você sair da minha casa daquele jeito. Mas estava zangada. Achei... Bom, você sabe o que eu achei. 

— Sei — concordei. — Você podia ter confiado em mim e me deixado explicar. 

— Tem razão. Eu amo você e devia ter acreditado quando me contou a verdade. Não sei por que fui tão burra! 

— Pensei que tinha perdido você para sempre — sussurrei, com as lágrimas ainda rolando em meu rosto. — Achei que você tinha desistido de tudo porque fracassei, porque destruí a única coisa importante para mim. Esperei por você, mas você não apareceu. 

— Desculpe. — A voz de Lauren falhou. Ela engoliu em seco e olhou para as mãos. — Faço o que for preciso para você ficar bem. Eu... — Impedi que continuasse pondo um dedo sobre seus lábios. 

— Está tudo bem agora. Quero esquecer que isso aconteceu. 

— Claro — concordou ela. — Como você quiser. 

Ficamos deitadas em silêncio na minha cama durante algum tempo, felizes na companhia uma da outra. Continuei segurando forte a sua blusa, como se tivesse medo de que ela sumisse. Lauren me contou que Normani e Ally foram à cidade para nos dar espaço para esclarecer tudo. 

— Sabe — começou Lauren — ficar sem falar com você esses dias foi a coisa mais difícil que já fiz na vida. 

— Sei muito bem como foi — emendei, baixinho. — Eu só queria morrer. 

Ela me soltou bruscamente. 

— Nunca pense nisso, Camz, não importa o que aconteça. Eu não tenho esse valor. 

— Acho que tem, sim — discordei, e ela suspirou. 

— Não digo que não entendo — admitiu. — Parece o fim do mundo, não é? 

— O fim de toda a felicidade — acrescentei. — De tudo que conhecemos. É o que acontece quando transformamos alguém em tudo. 

Lauren sorriu. 

— Acho que não fomos muito espertas. Mas eu não voltaria atrás. 

— Nem eu. — Fiquei calada alguns momentos e depois cutuquei os dedos dela com a pontinha do nariz. — Lauren... 

— O quê? 

Inclinando a cabeça, ela encostou seu nariz no meu. 

— Se uns diazinhos de afastamento quase nos mataram, o que vai acontecer quando... 

— Agora não — interrompeu ela. — Acabei de recuperar você. Não quero pensar em perdê-la novamente. Não vai acontecer. 

— Você não vai poder impedir — insisti. — Ser um jogadora de rúgbi não significa ter poderes para enfrentar as forças do Céu. Não há nada que eu deseje mais do que ficar com você, mas tenho muito medo. 

— Uma mulher apaixonada é capaz de feitos extraordinários — afirmou Lauren. — Não me importa que você seja um anjo, você é o meu anjo e não vou deixar que vá embora. 

— E se não nos derem nenhum aviso? — indaguei, desesperada. — E se um dia eu acordar e estiver de volta ao lugar de onde vim? Já pensou nisso? 

Lauren apertou o olhar. 

— Qual você pensa que é o meu maior medo, Camila? Será que sabe como me assusta a possibilidade de um dia chegar à escola e não encontrar você? De vir aqui atrás de você e ninguém atender a campainha? Ninguém na cidade ia saber para onde você foi, com exceção de mim, que terei a certeza de não poder trazer você de volta. Por isso não me pergunte se já pensei nisso, porque a resposta é sim, e diariamente. 

Ela tornou a se deitar e olhou zangada para o ventilador de teto, como se toda a situação fosse culpa daquele aparelho com espátulas giratórias. 

Enquanto a observava, percebi que todo o meu mundo estava ali na minha frente, tinha um metro e sessenta e sete de altura e estava deitada na minha cama. Percebi, ao mesmo tempo, que jamais poderia deixá-la. Jamais poderia voltar para casa, porque ela era a minha casa. E fui tomada por um desejo estranho e avassalador de me aproximar dela o máximo possível, de me fundir a ela numa promessa de que eu jamais permitiria que nos separássemos. 

Levantei da cama e comecei a roçar o tapete com os dedos dos pés. Lauren me lançou um olhar curioso. Devolvi seu olhar sem dizer uma palavra e lentamente tirei a blusa e a deixei cair no chão. Não senti nem um pingo de vergonha, apenas uma grande sensação de liberdade. Tirei a calça do pijama e deixei que se enroscasse aos meus pés, ficando exposta e vulnerável diante dela, deixando que ela me visse totalmente indefesa. 

Lauren não disse nada. Isso teria quebrado o mantra do silêncio que preenchia o quarto. Um segundo depois, ficou em pé e imitou meus movimentos, deixando a blusa e o jeans se amontoarem no chão. Aproximou-se de mim, e suas mãos percorreram as minhas costas. Suspirei e me deixei mergulhar em seu abraço. O toque da sua pele na minha fez uma onda de calor correr por todo o meu corpo, e a abracei ainda mais forte, sentindo-me plena pela primeira vez em dias. 

Beijei seus lábios macios e passei as mãos em seu rosto, sentindo os contornos familiares. Seria capaz de reconhecer o formato do seu rosto em qualquer lugar; podia lê-la como um cego lê em braile. Seu cheiro era puro e doce, e eu apertei meu peito contra o dela. Aos meus olhos, Lauren não tinha um único defeito, mas não me importaria se tivesse. Eu a amaria ainda que ela tivesse alguma deformidade ou fosse uma mendiga maltrapilha, apenas porque era Lauren. 

Voltamos a deitar na cama e assim permanecemos até ouvirmos os passos de Ally e Normani lá embaixo — só nós duas, abraçando uma a outra. Dinah acharia isso loucura, mas queríamos o contato. Queríamos nos sentir como um só ser, em vez de dois indivíduos autônomos. As roupas nos escondiam. Sem elas, não havia como nos escondermos, como encobrir qualquer parte de nós. E era isso que queríamos — ser nós mesmas de forma completa e nos sentirmos absolutamente seguras.


Notas Finais


Amo o final desse cap ❤


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