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História Halo (Camren) - Não Entra


Escrita por: lmfs13

Capítulo 9 - Não Entra


Fish deu um grunhido mostrando quem era o dono do território e saiu da sala, farejando furiosamente embaixo e em volta da porta da frente. 

— O que ela está fazendo aqui? — resmungou Normani. 

— Quem é? — sussurramos Ally e eu em uníssono. 

— Nossa heróica representante da escola. — Normani estava descontando seu sarcasmo em mim. 

— Lauren Jauregui está lá fora? — perguntei incrédula, me olhando furtivamente no espelho que fica em cima da lareira. Embora fosse cedo, eu já estava com meu pijama estampado de vaquinhas, o cabelo preso para cima com uma piranha. Ally reparou e pareceu achar graça da minha demonstração de vaidade. — Por favor, não deixem ele entrar. Estou horrorosa — implorei. 

Eu não parava de me mexer, constrangida, enquanto minhas irmãs pensavam no que fazer. Após a cena que eu tinha feito na festa de Dinah, Lauren Jauregui era a última pessoa que eu queria ver. Na verdade, ela era exatamente quem eu mais queria evitar. 

— Ela já foi embora? — perguntei, passado um minuto. 

— Não — disse Normani. — E parece não ter a intenção de ir. 

Acenei furiosamente para que Fish se afastasse da porta. 

— Venha cá garoto! — murmurei, tentando assobiar baixinho entre os dentes. — Pare com isso, Fish! 

Fish fingiu que não me ouviu e enfiou o nariz mais embaixo da porta. 

— O que ele quer? — perguntei a Normani. 

Minha irmã parou um instante, com o rosto assumindo uma expressão fechada. 

— Bem, acho que é muita presunção. 

— O quê? 

— Há quanto tempo conhece essa garota? 

— Pare com isso, Mani. Isso é uma invasão de privacidade! — respondi secamente. 

— Francamente... — Ally se levantou, fazendo que não com a cabeça. — Acho que ela já deve ter nos ouvido falar. E, além disso, não podemos simplesmente ignorá-la. Ela ajudou muito a Camila ontem à noite, lembra? 

— Pelo menos espere eu subir — sibilei, mas ela já estava à porta, puxando Fish e ordenando que ele sossegasse. Quando Ally voltou para a sala, veio acompanhada de Lauren, que estava com a mesma cara de sempre, a não ser pelo cabelo, ligeiramente despenteado pelo vento. Satisfeito com o fato de Lauren não ser uma ameaça, Fish voltou à posição recostada no sofá com um suspiro fundo. Normani acusou a presença de Lauren com um mero movimento de cabeça. 

— Eu só queria ver se a Camz está se sentindo bem — disse Lauren, sem ligar para a recepção fria de Normani. 

Reconheci que esta era minha deixa para dizer alguma coisa, mas as palavras me escapavam.

— Obrigada mais uma vez por trazer a minha irmã para casa — disse Ally entrando na conversa, a única de nós que se lembrara das boas maneiras. — Gostaria de beber alguma coisa? Eu já estava indo fazer um chocolate quente. 

— Obrigada, mas não posso demorar — disse Lauren. 

— Bem, pelo menos sente um pouquinho — disse Ally. — Normani, pode me dar uma mãozinha na cozinha? 

Normani a seguiu com relutância. 

Deixada sozinha com Lauren, eu estava consciente do quão absurdamente paradas devíamos parecer, sem televisão à vista, meus irmãs fazendo chocolate quente e eu pronta para ir me deitar às oito horas. 

— Belo cachorro — disse Lauren. 

Fez menção de tocar em Fish, que farejou cautelosamente sua mão antes de esfregar o nariz nela com entusiasmo. Parte de mim tinha a esperança de que Fish grunhisse, assim eu teria pelo menos um motivo para encontrar algum defeito em Lauren. Mas ela parecia passar por todos os testes sem nenhum arranhão. 

— Eu o achei hoje — eu disse. 

— Achou? — Lauren ergueu uma sobrancelha. — Tem o hábito de adotar animais abandonados? 

— Não — eu disse indignada. — A dona dele ia se mudar para um lar de idosos. 

— Ah, ele deve ser o cachorro de Alice Butler. 

— Como você sabe? 

— Cidade pequena. — Lauren deu de ombros. — Fiquei preocupada com você ontem à noite. 

Ela fitava o meu rosto com atenção. 

— Agora estou bem — respondi trêmula. Tentei encontrar seus olhos, mas fiquei tonta e desviei o olhar. 

— Você poderia ser mais cautelosa com as pessoas que considera suas amigas. 

Havia uma intimidade na maneira que ela falava comigo que fazia parecer que nos conhecíamos há muito tempo. Era inquietante e empolgante ao mesmo tempo. 

— Não foi culpa da Dinah — disse. — Eu devia saber das consequências. 

— Você é muito diferente das garotas daqui — prosseguiu ela. 

— Como assim? 

— Você não sai muito, sai? 

— Pode-se dizer que sou uma pessoa caseira. 

— Acho que é uma boa mudança. 

— Eu queria ser como todo mundo. 

— Por que diz isso? Não faz sentido fingir ser alguém que você não é. Você poderia ter entrado numa fria ontem. — Ela sorriu. — Por sorte, eu estava lá para te socorrer. 

Eu não sabia se ela estava falando sério ou fazendo uma piada. 

— Como posso retribuir sua gentileza? — disse eu, no que esperava que soasse ligeiramente como um flerte. 

— Tem uma coisa que você poderia fazer... 

Ela deixou as palavras no ar sugestivamente. 

— O quê? 

— Sair comigo. Que tal no fim de semana que vem? Poderíamos ir ao cinema, se quiser. 

Eu estava muito aturdida para responder. Será que eu tinha ouvido direito? Estaria Lauren Jauregui, a garota mais inacessível da Bryce Hamilton, me convidando para sair? Qual era a resposta adequada? Onde estava Dinah quando eu mais precisava dela? Minha hesitação durou uma fração de segundo a mais, fazendo com que ela interpretasse a demora como relutância. 

— Tudo bem, se não estiver a fim. 

— Não, eu gostaria de ir! 

— Ótimo. Bem, que tal me dar seu telefone, e ponho você na agenda do meu celular? Podemos combinar os detalhes depois. 

Ela tirou um aparelho preto lustroso do bolso da sua jaqueta de couro. O aparelho ficou piscando na palma da sua mão. Eu ouvia barulho de louça na cozinha e sabia que não tinha tempo a perder. 

— É mais fácil você me dar o seu e eu ligar — respondi rapidamente. 

Ela não discutiu. Vi um jornal na mesa de centro, rasguei um pedaço do canto e entreguei a ela. 

— Eu precisava de uma caneta. 

Encontrei uma marcando a página de um livro com encadernação de couro que uma das minhas irmãs andara lendo. Lauren escreveu os números e um bonequinho rindo no papel, que eu coloquei no bolso bem a tempo de sorrir para Normani e Ally quando elas entraram trazendo uma bandeja com canecas. 

Acompanhei Lauren à porta, onde seus olhos pararam um pouco no que eu estava vestindo. A intensidade desaparecera do seu rosto e aquele meio sorriso característico voltara. 

— Por sinal, pijaminha simpático — comentou, e continuou me olhando com um ar de curiosidade. 

Fui incapaz de desviar o olhar. Poderia facilmente olhar para o rosto dela o dia inteiro sem me entediar, pensei. Os humanos supostamente tinham defeitos físicos, mas não parecia ser o caso de Lauren. Reparei nas feições dela — sua boca, sua pele macia, seus olhos — e me esforcei para acreditar que ela era real. Ela usava uma camisa esporte por baixo da jaqueta, e vi no seu pescoço um crucifixo pendurado num cordão de couro que eu não tinha notado antes. 

— Que bom que gostou — disse eu, me sentindo mais segura. 

Ela riu, e sua risada era como o sino de uma igreja repicando. 


Normani e Ally tentaram não demonstrar o susto que levaram quando contei a elas sobre minha intenção de sair com Lauren no fim de semana seguinte. 

— Acha realmente que é uma boa ideia? — perguntou Normani. 

— Por que não seria? — desafiei. 

Eu estava me deleitando com a ideia de tomar minhas próprias decisões, e não gostei que podassem minha independência tão depressa. 

— Camila , por favor, pense nas repercussões de uma atitude dessas — disse Ally calmamente, mas estava franzindo o cenho com uma expressão apreensiva, o que era raro. 

— Não há o que pensar. Vocês duas sempre exageram. 

Eu mesma não estava convencida com o meu argumento inconsistente, mas me recusei a aceitar que havia razão para cautela. 

— Acontece que sair com a namorada  não é nem nunca foi parte da nossa missão. 

A voz de Normani era cortante, e seu olhar, severo. Eu sabia que só estava alimentando suas dúvidas quanto a ser adequada para essa missão. Eu era muito suscetível aos caprichos e às fantasias dos humanos. Uma voz lá no fundo me dizia que eu devia dar um passo atrás e refletir — aceitar que uma ligação com Lauren era perigosa e egoísta, dadas as circunstâncias. Mas havia uma voz mais alta que abafava todos os outros pensamentos e exigia vê-la de novo. 

— Talvez não aparecer muito por uns tempos fosse mais sábio — sugeriu Ally, num tom menos severo. — Por que não colaboramos com algumas idéias voltadas para o aumento da consciência social na cidade? 

Ela soava como uma professora tentando conquistar os alunos para um projeto da escola. 

— Essas idéias são suas, não minhas. 

— Elas podem se tornar suas — insistiu Ally. 

— Quero encontrar o meu próprio caminho. 

— Vamos discutir isto quando você estiver pensando com mais clareza — disse Normani. 

— Não quero ser tratada como criança — disse eu secamente, me afastando com ar desafiador e estalando a língua para Fish me acompanhar. 

Juntos, sentamos no alto da escada, eu furiosa e Fish esfregando o focinho no meu colo. Achando que eu estava muito longe para ouvi-los, minhas irmãs continuaram a discussão na cozinha. 

— Não consigo acreditar que ela seria capaz de estragar tudo por um capricho — dizia Normani. Eu a ouvia andando de um lado para o outro. 

— Você sabe que a Camila jamais teria a intenção de fazer isso. 

Ally tentava apaziguar as coisas. Ela odiava qualquer espécie de atrito entre nós. 

— Pois então o que ela está fazendo? Será que ela tem alguma ideia do motivo de estarmos aqui? Sei que precisamos levar em conta a falta de experiência de Camila, mas ela está sendo deliberadamente rebelde e teimosa, e eu não a reconheço mais. As tentações estão aí para nos testar. Estamos aqui só há algumas semanas, e ela não consegue achar forças para resistir aos encantos de uma garota bonitinha! 

— Seja paciente, Normani. Isso ainda vai piorar. 

— Ela põe minha paciência à prova! — disse ela, mas logo se controlou. — O que você sugere? 

— Se não colocarmos obstáculos no caminho dela, esse interesse com certeza morrerá naturalmente; agora, se criarmos empecilhos, a situação ganhará uma importância pela qual vale a pena brigar. 

O silêncio de Normani levou a crer que ela estava avaliando a sabedoria das palavras de Ally. 

— Com o tempo, ela vai entender que o que busca é impossível. 

— Espero que você esteja certa — disse Normani. — Vê agora por que a participação dela nesta missão me preocupou? 

— Ela não tem a intenção de nos desafiar — disse Ally. 

— Não, mas a profundidade da emoção dela não é comum para um de nós — retrucou Normani. — Nosso amor pela humanidade deve ser desapegado. Amamos a humanidade, não formamos vínculos individuais. Camila parece amar profunda e incondicionalmente, como um humano. 

— Já notei isso — disse minha irmã. — O que significa que o amor dela é mais forte que o nosso, mas também mais perigoso. 

— Exatamente — concordou Normani. — Tamanha emoção muitas vezes não pode ser contida. Se deixarmos que se desenvolva, em breve ela pode estar fora do nosso controle. 

Não esperei para ouvir mais e fui de fininho para o quarto, onde me atirei na cama quase chorando. Uma reação tão forte como aquela me surpreendeu, e a emoção contida me deixou com falta de ar. Eu sabia o que estava acontecendo. Estava deixando a carne falar mais alto e também os sentimentos que vinham com ela. Isso provocava uma sensação de incerteza e instabilidade como uma montanha-russa. Sentia o sangue correndo nas veias, os pensamentos ricocheteando na cabeça, o estômago se contraindo de frustração. Ressentia-me profundamente de ser discutida como se não fosse mais que uma experiência de laboratório. E a insinuação delas de que eu estava fazendo algo errado, sem falar na sua falta de confiança em mim, era perturbadora... 

Por que estavam tão determinados a me proibir a interação humana que eu tanto desejava? E o que exatamente Ally queria dizer com "impossível"? Elas estavam agindo como se Lauren fosse uma pretendente que não satisfizesse aos seus critérios. Quem eram elas para julgar algo que sequer tinha começado? Lauren Jauregui gostava de mim. Seja lá por que fosse, ela me considerava digna da sua atenção, e eu não ia deixar os temores paranóicos da minha família me afastarem dela. Estava espantada com minha disposição de aceitar a atração humana que sentia por Lauren. 

Meus sentimentos por ela aumentavam numa velocidade perigosa, e eu permitia que isso acontecesse. Deveria estar assustada com tudo aquilo, mas, em vez disso, fiquei intrigada com a dor no coração que eu sentia quando pensava em deixá-la ir e com a contração de todos os músculos do meu corpo quando recordava as palavras da minha  irmã. O que estava acontecendo comigo? Será que eu estava perdendo a divindade? Será que eu estava me tornando humana? 

Dormi mal aquela noite e tive meu primeiro pesadelo. Já tinha me acostumado à experiência humana de sonhar, mas isso era diferente. Dessa vez, me vi levada perante um Tribunal Celeste, com um júri formado por figuras sem rosto e com vestes pesadas. Não conseguia distinguir uma da outra. Suas expressões eram impassíveis. Olhavam à frente e não se viravam para mim, embora eu as chamasse aos gritos. Eu aguardava o anúncio do veredicto e então percebi que já havia acontecido. Não havia ninguém para falar por mim, ninguém para me defender. 

A próxima coisa de que tive consciência foi a queda. À minha volta, tudo que era familiar virava pó, as colunas do tribunal, as figuras togadas e, finalmente, os rostos de Normani e Ally. E mesmo assim eu caía, despencando numa viagem sem fim para lugar nenhum. Então tudo se imobilizou e fiquei presa num vácuo. Eu Caíra de joelhos, a cabeça abaixada, as asas quebradas e sangrando. Não conseguia me levantar do chão. A luz começou a ficar fraca até uma escuridão sufocante me envolver, tão densa que eu não enxergava minhas próprias mãos diante do rosto. Nesse mundo sepulcral, fui deixada sozinha. Via a mim mesma como o suprassumo da vergonha, um anjo caído em desgraça. 

Uma figura sombria com feições indistintas se aproximava. A princípio, meu coração palpitou esperançoso diante da possibilidade de ser Lauren. Mas qualquer esperança foi por água abaixo quando senti instintivamente que, o que quer que fosse, devia ser temido. Apesar da dor em minhas pernas e braços, arrastei-me para o mais longe possível. Suas feições se materializaram o suficiente para eu ver que o sorriso naquele rosto era um sorriso dominador. Nada mais restava a fazer, a não ser deixar ser consumida pelas sombras. Isso era perdição. Eu estava perdida. 


Pela manhã, as coisas pareciam diferentes, como geralmente acontece. Uma nova sensação de estabilidade me inundava. Ally entrou no quarto para me acordar, o perfume de frésia acompanhando-a como amas em seu encalço. 

— Achei que você poderia querer um café — ofereceu. 

— Estou aprendendo a gostar de café — disse, e dei um gole na xícara sem fazer careta. Ela sentou-se com rigidez na beira da cama. 

— Nunca vi Normani tão zangada — comentei, ansiosa para resolver as coisas com ela. — Sempre achei que ela era meio que... infalível. 

— Já pensou alguma vez que ela pode estar estressada por motivos próprios? Se as coisas não forem bem, ela e eu seremos as responsáveis pelo fracasso. 

As palavras dela bateram em mim como um golpe físico, e senti meus olhos se encherem de lágrimas. 

— Não quero perder o bom conceito de vocês. 

— Não perdeu — disse tranquilizando-me, — Normani apenas quer te proteger. Ela só deseja poupar você de qualquer coisa que possa lhe causar sofrimento. 

— Não consigo ver como sair com a Lauren poderia ser uma coisa ruim. O que você acha... honestamente? 

Ally não era hostil como Mani, e, quando veio me dar a mão, vi que ela já havia perdoado minha transgressão. Mas sua postura rígida e a boca contraída me diziam que sua posição não mudara. 

— O que acho é que precisamos ter cuidado para não começar o que não podemos continuar. Não seria muito justo, seria? 

As lágrimas que eu andara contendo então jorraram. Fiquei ali sentada sendo dominada pela angústia enquanto Ally me envolvia nos braços e afagava minha cabeça. 

— Fui uma idiota, não fui? 

Deixei a voz da razão falar mais alto. Eu mal conhecia Lauren Jauregui e duvidava que reagisse com um mar de lágrimas se descobrisse que não poderia me ver por uma razão qualquer. Eu estava agindo como se tivéssemos feito um pacto uma com a outra, e de repente tudo aquilo me pareceu meio absurdo. Talvez estivesse sendo influenciada por Romeu e Julieta. Eu tinha a sensação de que havia uma ligação profunda e insondável entre mim e Lauren, mas talvez eu estivesse errada. Seria possível que tudo fosse fruto da minha imaginação? 

Estava em meu poder esquecer Lauren. A questão era: será que eu queria? Não havia como negar que Ally estava certa. Não éramos desse mundo e nada do que ela tinha ou podia oferecer dizia respeito a nós. Eu não tinha direito de me meter na vida de Lauren. Nosso papel era ser mensageiros, arautos da esperança e nada mais. 

Quando Ally foi embora, tirei o número do telefone de Lauren do bolso, onde tinha ficado a noite inteira. Abri o rolinho de papel e lentamente o rasguei em pedacinhos do tamanho de confetes. Fui até a minha estreita sacada e joguei os fragmentos ao vento. Fiquei observando com tristeza enquanto eram levados embora.


Notas Finais


Seria o fim?


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