História Hanahaki - Like flower petals in the air

As palavras do enfermeiro não deixavam a cabeça de Jin.

Era claro que ele tinha um trilhão de coisas mais importantes para se preocupar, como todas as matérias que precisava revisar para aquela semana de provas, entretanto ainda assim ele não podia deixar de tirar as palavras da sua mente.

Seria aquele seu destino? Torna-se um homem frio e sem sentimentos? Aquilo não tornavam as coisas simplesmente fáceis de mais?

- Jin? – sua mãe se sentou ao seu lado, segurando em sua mãos uma caneca preenchida de chá. – Você parece distraído. – a mulher lhe sorriu de modo gentil, estendendo a mão para acariciar a bochechas do filho.

Jin não pode evitar em sorrir, sua mãe era sua maior inspiração. A mulher de apenas 36 anos era a pessoa mais forte que conhecia, mãe jovem e solteira, que não contava com o apoio nem mesmo dos próprios pais, ela sempre batalhou muito para dar o melhor a Jin e ele agradecia todos os dias a ela por isso.

- Omma... Você já se apaixonou por alguém? Tanto que pensou que pudesse morrer se fosse recusada? – a pergunta saiu de modo inocente, mas mesmo assim Jin viu sua mãe franzir as sobrancelhas, quase como se tivesse sido pega de surpresa ou simplesmente estivesse estranhando aquele tipo de pergunta vinda do filho.

- Ora...- ela mulher pareceu pensar. – É claro que já. – riu. – Na sua idade é normal se interessar por várias pessoas, não é? – a pergunta tinha um duplo sentido obvio e a expressão curiosa de sua mãe não mentia suas intenções com ela, mas para o azar da mulher, Jin estava pensativo de mais par perceber aquilo.

-E você já viu alguém realmente morrer por isso? – ele perguntou, fazendo uma expressão tão aprensiva que a mulher não pode evitar em rir, se perguntando o que diabos estava se passando pela cabeça de sua criança.

- Não realmente. – ela respondeu entre uma risada, bagunçando levemente os cabelos do filho. – As pessoas tendem a pensar que vão morrer quando seu primeiro amor não é correspondido e os jovens acham que nunca vão ser capazes de se apaixonarem novamente...mas tudo isso passa Jin... Não há nada na vida que seja para sempre. – os olhos castanhos da mulher não deixavam o rosto bonito do filho, mas Jin não parecia estar olhando para ela. – Mas...- ela afastou a mão dos cabelos de Jin, colocando-a no queixo, em uma pose pensativa. – Havia uma lenda em minha espoca de escola...

- Uma lenda? – aquilo sim havia chamado a atenção do menino. – Que tipo de lenda?

A mulher fechou os olhos, como se buscasse se lembrar, os abrindo ao conseguir.

- Era uma lenda sobre amor não correspondido, as minhas amigas tinham muito medo de que isso acontecesse com elas...tão bobas. – ela parecia estar se divertindo com as lembranças, entretanto aquilo apenas deixou Jin ainda mais intrigado.

- Mas o que acontecia? – Jin a observava com quase ansiedades. – Com as pessoas que não eram correspondidas?

- Hm...Algo como uma doença, se não me engano...- ela inclinou levemente a cabeça. – Acho que era uma metáfora para esse sentimento de “nunca ser capaz de amar de novo”...Não me lembro bem, sempre achei um pouco exagerado...

- Hanahaki?

- Hm? – a mulher o encarou com curiosidade.

- A doença. – Jin insistiu. – Se chamava hanahaki?

A mulher franziu as sobrancelhas mais uma vez.

- Algo assim...- a mulher confirmou. – Acho que envolvia flores...talvez fosse alguma lenda japonesa no final das contas...- ela estralou os dedos. – Sim, hanahaki, a doença das flores! Oh? Vocês ainda falam sobre essa lenda?

- Sim...os meninos estavam falando de algo assim...- a mulher notou a expressão triste no rosto do filho.

- É apenas uma lenda Jin. – ela se levantou, deixando um beijo na testa do filho. – Não precisa se preocupar com isso, sim?

- Eu sei omma...-  ele se forçou a sorrir. – Desculpa estar te enchendo de perguntas, você deve estar cansada do trabalho.

- Seokjin, pare de se preocupar comigo, eu sou sua omma!

Jin não resistiu em rir.

- Desculpa omma.

Era claro que ele gostaria que sua mãe estivesse certa, mas as flores ainda estavam saindo.

A semana de provas passou mais lentamente do que Jin gostaria e foi mais cansativa do que ele e seus amigos esperavam, de modo que quando olhou pela janela de sua sala e viu a chuva fina que caia , ele desejou jogar-se naquela grama verde molhada e deixar que a água levasse com ela todo o cansaço que sentia naquele momento, mas acabou descartando a ideia ao se lembrar de como seria complicado chegar em casa completamente molhado.

- Seokjin! -  Jin se sobressaltou ao ser chamado.

- Vocês querem me matar de susto? – perguntou, obsevando o amigo soltar uma risada.

- Você que estava ai todo distraído. – o mais baixo reclamou. – Cara, vamos comer no MC a duas quadras daqui, quer ir?

- Ah Hoseok... – Jin suspirou, pensando que aqueles planos eram bem diferentes do que havia imaginado para o seu dia. – Na boa, estou cansado...

- Hey, sem drama Kim Seokjin, não se esqueça de que hoje é meu aniversario. – o tom de voz era quase de desaprovação e Jin não pode resistir em suspirar antes de se voltar ao amigo.

- Kim Namjoon, eu não me lembro de ter obrigação de sair com você no seu aniversario, não é como se eu fosse a sua namorada. – Era claro que Jin queria apenas fazer uma brincadeira com aquelas palavras, mas ele percebeu o quanto havia sido duro  de mais quando notou a expressão assustadas de seus amigos.  – Eu...estou brincando? – a afirrmação saiu quase como uma pergunta, a voz cheia de arrependimento.

- Então, acho melhor nós irmos logo, porque essa torta de climão vai descer bem melhor com um refri gelado. - foi a vez de Taehyun se pronunciar, enquanto puxava Hoseok pela mãos na frente para fora da sala.

- Namjoon...- Jin se adiantou em se levantar, entendendo a mão para pegar o braço do amigo e evitar que ele saísse na sua frente, mas o outro apenas se livrou de sua mão antes que fosse capaz de toca-lo.

- Se você não quer ir Hyung, você pode apenas dizer isso... – ele se virou. – Não é como se você fosse a minha namorada.

Seokjin suspirou enquanto o observava sair, se permitiu dar um forte tapa em sua própria testa, perguntando-se quando exatamente havia se tornado tão idiota ao ponto de dizer aquilo.  Terminou de arrumar seus matérias sem pressa, conformado com o fato de que seria melhor não ir para a lanchonete depois daquilo.

Pegou seu celular em mãos, observando o contato do melhor amigo, sabia que deveria se desculpar, mas não tinha vontade de ligar, tinha medo de que piorasse ainda mais as coisas e acabasse estragando o aniversario do amigo mais do que já havia conseguido.

“Feliz aniversario.” – enviado as 16:50.

“So...Me desculpa. “ – enviado as 16:51.

Se permitiu levantar de sua mesa, os olhos ainda observando mais uma vez o tempo chuvoso, que agora não lhe parecia mais tão tranquilo quanto anteriormente, provavelmente porque ele se lembrou de que não tinha trago sua sombrinha e provavelmente teria que esperar a chuva passar para conseguir voltar para casa, ao menos se quisesse chegar sem contrair mais nenhuma outra doença pulmonar.

Pensar nisso o fez lembrar de Yoongi.

Ele havia evitado a enfermaria durante os ultimo dias e teve sucesso em sua tarefa de evitar completamente o enfermeiro e tudo que o fizesse se lembrar de sua doença, seu corpo parecia reagir bem quando se esquecia de seus problemas, naquele dia ele ainda não havia sentido o gosto de nenhuma pétala de flor e pela primeira fez em muito tempo, não teve que sair da sala no meio da aula e correr para o banheiro para se livras das pétalas que saiam em suas crises de tosse.

Mas apenas voltar a pensar sobre aquilo o fazia se sentir novamente sem ar, porém Jin estava cansado de saber que não seria capaz de fugir por muito tempo de seus problemas.

Os corredores da escola já estavam vazios quando teve coragem de deixar sua sala e não se surpreendeu ao perceber onde seus pensamentos o levaram e se surpreendeu muito menos ao abrir a porta da enfermaria e encontrar Yoongi ali, mexendo pacificamente em seu celular.

- Olha só se não é o meu aluno favorito...- Jin se perguntou se o enfermeiro estava tentando ser sarcástico, mas desistiu de tentar entender o que se passava na mente do de cabelos negros.   – Já esta no meu horário de saída...- o enfermeiro continuou, observando-o novamente de cima a baixo. – Precisa de alguma coisa?

Jin se perguntou se precisava, porque ele apenas havia seguido seus instintos e se deixado chegar ate ali, mas não sabia exatamente o que queria fazendo isso.

- Você tem vida social? – perguntou, mas uma vez imaginando o que estava tornando seu humor tão acido naquele dia.

- Surpreendente, não? – ele arqueou uma das sobrancelhas para as palavras de Jin.

- Desculpa...eu...

- Não esta se sentindo bem. – o enfermeiro completou, como se aquilo fosse obvio.

- Não...- Jin concordou, suspirando ao se sentar na cadeira em frente a que ele estava. – Ando pensando sobre tudo isso e ... Eu não estou me sentindo como antes...- tentou explicar. – A cada minuto que penso sobre essa doença as coisas parecem piorar e agora eu estou dizendo coisas horríveis sem pensar nas consequências...eu estou perdendo os meus sentimentos?

Jin observava o outro a cada palavra que dizia, mas Yoongi parecia tão desinteressado como sempre.

- Não esta perdendo os seus sentiomento Seokjin. – ele revirou os olhos. – Eu lhe disse que a cirurgia retirava os sentimentos, não a doença...- ele pareceu pensar. – Deixe-me explicar de modo mais fácil...Imagine que as flores que estão dentro de você precisam se alimentar de algo. Temos água, mas não temos luz dentro do seu corpo, então elas precisam de um alimento diferente, no caso, esses alimentos são os seus sentimentos. – ele disse calmamente. – Quando esta com raiva, quando esta triste, quando esta feliz, todos esses sentimentos fortalecem as flores e quanto mais você as alimenta, mais elas ocupam espaço no seu pulmão.

Jin pensou se as palavras do enfermeiro faziam sentido, mas não sabia o que pensar sobre elas, então apenas o deixou continuar.

- Quando a cirurgia é feita, digamos que é como se ela arrancasse todas as flores e suas raízes, mas com isso ela acaba...metaforicamente, claro, puxando os seus sentimentos para fora.

- Você disse que se o meu “amor não correspondido” passasse a ser correspondido a doença iria se curar... – o menino questionou. – Isso não geraria ainda mais alimento para as flores?

- Supostamente. - Yoongi concordou. – Eu conheço poucos casos de “curas naturais” para a hanahaki. Mas aparentemente os sentimentos do amor correspondidos são intensos o suficiente para matar as flores.

- Como quando regamos de mais as flores?

- Sim, uma boa comparação. – Yoongi concordou e Jin quase acreditou ver algo como um sorriso em seu rosto. – Como estão as suas pétalas?

- Como estão? -  Jin se perguntou o que exatamente o outro queria dizer com aquela pergunta. – Elas estão saindo com menos frequência...mas em maior quantidade, sem sangue a algum tempo, mas estão maiores e as vezes eu me engasgo, quase como se  quisesse sair uma flor inteira e não consigo correr como antes, eu perco facilmente o ar. – explicou tudo o que podia se lembrar.

- Ainda não saiu nenhuma flor inteira?

- Não, isso é bom?

Yoongi deu de ombros.

- Não é ruim, significa que elas ainda não estão maduras, você ainda tem algum tempo para se decidir.

- Me decidir?

- Jin, você precisa decidir se vai ou não tentar a cirurgia. A cada dia que passa o seu pulmão esta mais cheio de flores, se continuar assim elas vão te sufocar, você não vai ter uma segunda chance. – ele se levantou, pegando o que parecia ser a chave de um carro. – Agora eu preciso realmente sair, combinei de lanchar um uns amigos.

Jin concordou suavemente com a cabeça.

- Desculpe te atrasar. – pediu, abrindo um suave sorriso, não sabia exatamente porque, mas naquele momento ele sentia quase como se a presença do enfermeiro lhe fizesse bem, como se ele se tivesse se tornado um amigo, o único com o qual ele podia desabafar sobre todas as angustias e aflições que sentia.

Porque sim, Seokjin estava angustiado, não apenas por sua doença, ele estava angustiado em pensar em seu futuro, angustiado em pensar que estava se afastando de seus amigos, em pensar em sua mãe sozinha, em pensar que poderia nunca mais ser capaz de sentir ou amar algo, em pensar que perderia aquilo que sentia por Namjoon, em pensar que havia magoado seu amigo, tinha medo, muito medo de tudo aquilo que acontecia, ele estava tão perdido e tão confuso e não sabia o que fazer.

Não havia a quem recorrer e ter respostas o aliviava de uma forma que não conseguia explicar.

- Você que uma carona? - a pergunta atraiu  um olhar surpreso de Jin. – Você não pode se molhar, posso te deixar em casa se quiser...

- Ah, não, eu preciso ir em um lugar... – não queria atrasar Yoongi ainda mais para seu compromisso, eles nem eram próximos a esse ponto.

- Eu te deixo lá. – o enfermeiro disse como se fosse obvio. – Não estou afim de ficar cuidado de ninguém doente amanha por causa da chuva. – ele arqueou uma de suas sobrancelhas. – E eu também estou indo por Mc Donnalds.

- Como você sabe que eu...? – ele parou sua perguntar ao notar o obvio, seus lábios entreabrindo-se em um perfeito “O” que fez o outro abrir um meio sorriso sarcástico. – Você conhece o Namjoon. – completou, como se aquilo fosse obvio.

- Conheço. – Yoongi concordou. – Ele te trouxe aqui quando passou mal, se lembra? – revirou os olhos. – Mas na verdade quem me chamou foi o Hoseok e o Taehyung, somos amigos de infância. – completou, indicando a porta para Jin.

- Então você sabe...

- Quem é seu amor não correspondido?  - mais uma vez o enfermeiro completou suas palavras e dessa vez o rosto de Jin se pintou completamente de vermelho. – Na verdade é um pouco obvio...mas eu também sou um excelente stalker. – Jin imaginou se aquilo era algum tipo de piada, mas decidiu deixar para lá e simplesmente seguir Yoongi para fora.