História Hands to Myself - Estou cansada;

 A escuridão da noite abraçava Beacon Hills. Poucos dias para a esperada chegada do verão o clima já não era frio, a temperatura era deveras agradável, perfeita para se encontrar com os amigos e distrair a mente com pizza, conversas descontraídas e risadas altas.

 Na sala do apartamento do Peter Hale, o pequeno grupo de amigos comiam as pizzas que Peter havia comprado a pedido da filha Malia, do sobrinho Derek, do genro Isaac e da sobrinha de consideração Allison.

 — Coitada da Kate com vocês morando na casa dela — comenta Peter ao ver Malia, Isaac e Allison devorando os pedaços de pizza.

 — Iremos comprar a nossa própria comida, pai — diz Malia.

 — E não será por muito tempo — completa Allison. — Vamos ficar na casa da tia Kate até cada um de nós conseguirmos alugar um bom apartamento, com um bom preço e uma boa localidade.

 — Vocês viverão de fast food? — questiona Peter.

 — Não, eu sei cozinhar, o Theo também — conta Isaac.

 — Eu e a Malia lavaremos toda a louça — fala Allison.

 — E nós quatro dividiremos todas as outras tarefas domésticas — diz Malia. Isaac e Allison assentem.

 — Mas, quando eu for morar oficialmente sozinha, será um problema, sou péssima cozinheira — confessa Allison. — Ou a minha saúde irá para o lixo, ou eu falirei indo ao restaurante sempre, ou, a minha melhor alternativa, irei atrás dos meus amigos mendigar comida.

 — Ainda bem que a Paige sabe cozinhar como ninguém — comemora Derek.

 — Ainda bem mesmo, pois antes você aparecia quase toda noite no meu apartamento para jantar, né, seu vagabundo — expõe Isaac olhando para o homem moreno.

 — Melhores amigos servem para isto. — Derek dá os ombros.

 — Concordo plenamente com o Derek. — A Argent sorri.

 — Outra folgada. — Isaac fala e ri. — Falando nisto, Peter, o melhor sogro que eu poderia ter, você sabe que são muitos gastos para morar sozinho, além das tarefas domésticas e cuidar da alimentação... então, eu e a Malia estávamos pensando em morarmos juntos para ajudarmos um ao outro. — O loiro exibe um largo sorriso olhando para o pai da namorada.

 — O que? Não. — Peter nega em um movimento com a cabeça.

 — Por que não? — indaga Malia.

 — Não é obvio? — o Hale mais velho olha para a filha.

 — Não vejo o problema, pai.

 — Como não? Derek, o que você acharia se a Cora falasse que iria morar com o novo namorado dela?

 — Eu... — Derek passa seus olhos claros pela prima sentada sobre ao sofá ao lado da amiga de cabelos negros e depois para o melhor amigo sentado no chão ao lado das pernas da namorada. Ambos olhavam para ele, pediam silenciosamente por ajuda. — A Cora não namora. Porém, eu e a Paige nos conhecemos há dois anos, estamos namorando há cinco meses e já moraremos juntos. A Malia e o Isaac, apesar de terem apenas um mês de namoro, eles se conhecem desde crianças e são melhores amigos há oito anos, portanto acho que não há problema dos dois morarem juntos, além de tudo o Isaac é um homem confiável e cuidará muito bem da Malia.

 Malia sorri agradecendo ao primo e recebe um sorriso de volta.

 Peter estreita os olhos, em uma clara expressão insatisfeita.

 — Malia, vocês querem pular a fase do namoro e ir direto para uma quase vida de casado? Morar junto não é fácil assim, irão existir vários momentos ruins, aparecerão vários problemas, se vocês brigarem e não sentirem vontade de olhar para a cara do outro não tem para onde fugir, vocês terão que continuar dormindo sob o mesmo teto...

 — Se um dia eles brigarem a este ponto, a Malia pode fugir para o meu apartamento até fazerem as pazes, sem problemas — fala Allison.

 — Por que vocês duas não dividem um apartamento? — sugere Peter.

 — Eu amo a Malia, amo muito, amo demais esta garota, você nem imagina, porém eu quero a experiência de morar realmente sozinha, tio. Além disso, a Malia e o Isaac estão na fase muito amorzinho, querem ficar juntos e precisam de privacidade. Imagina eles querendo ficar juntos no apartamento comigo lá. E, se algo der errado, é só desistir de morar junto e procurar um apartamento separado, simples assim.

 Peter pensa por algum momento e respira fundo.

 — Tudo bem — ele se rende.

 — Obrigada, pai — Malia sorri.

 — Obrigado, Peter — agrade Isaac e sorri também.

 — Só não apareça grávida.

 — Por favor, Peter Hale, as chances de você me dar um irmão são muito maiores que as chances de eu te dar um neto — fala Malia encarando o pai. — Aliás, falando em gravidez, Allie, quer falar como foi a sua conversa com o Scott agora?

 — Que Scott? — pergunta Peter com curiosidade, olhava para as duas meninas que dividiam o mesmo sofá.

 — Você deve conhece-lo como senhor McCall, o nosso professor de inglês. Ele já foi em uma reunião de pais e deve ter falado com você... ele tem pele bronzeada, cabelo preto, olhos escuros, todo gato, gostoso, uma voz que meu Deus, ouviria por horas... — Allison esboça um sorriso. — E se for te ajudar a lembrar, ele tem um sensacional e inconfundível maxilar torto.

 — Acho que sei...

 — Então... nós dois estávamos juntos — conta.

 — O Chris e a Victoria sabem disto? — ele questiona e Allison nega com a cabeça. — Seus pais não gostarão de te ver com um professor?

 — Meus pais não gostarão porque ele é casado e a mulher dele está grávida.

 — E por que vocês estão falando isto na minha frente?

 — Porque certamente você não se importará, afinal você é o adulto e pai menos responsável que conhecemos e o que mais se parece com um jovem que faz um monte de merda como nós — responde Derek.

 Peter entreabre a boca, se mostrando ofendido. Allison, Malia e Isaac movimentam a cabeça concordam com o que Derek acabara de dizer.

 — É isso que eu recebo em troca depois de pagar pizza para esses jovenzinhos ingratos. — Peter balança a cabeça em negação. E os quatros riem. — Entretanto, eu prefiro continuar não sabendo para não acabar sobrando para mim quando a Victoria souber disto.

 O Hale mais velho se levanta da poltrona, pega a chave do carro que deixou em cima do balcão da cozinha e anda em direção à porta.

 — Vou sair. Não precisa me esperar, voltarei tarde — diz antes de sair e recebe um aceno de despedida de todos.

 — E aí, como foi com o Scott?

(...)

 Com a aflição e nervosismo dominando o corpo, em cima do telhado da casa da família Argent, Scott dá duas batidas na janela da menina de belas covinhas profundas na bochecha. O McCall a via através do vidro uma vez que a cortina estava aberta e não impedia a visão perfeita do quarto preto e branco. A televisão se encontrava ligada, porém Allison dormia, seu corpo magro era coberto até o pescoço pela coberta branca, enquanto a cabeça se afundava no travesseiro macio.

 Scott bate na janela novamente, torcendo mentalmente para ela acordar, mais que isto, ele torcia fortemente para ela não estar brava ou algo semelhante. Desta vez, aparentemente funcionou, já que os olhos de Allison abriam lentamente. A menina move a cabeça devagar e leva sua visão até a janela, encontrando Scott ali.

 Allison espreme os lábios e a respiração do moreno falha por um momento ao pensar que Allison não iria deixa-lo entrar, porém logo ele pode respirar com um pouco mais de alívio, pois ela tirou as cobertas de cima de si, levantou-se, andou até a janela e abriu.

 Em silêncio, Scott adentra o quarto. Allison fecha a janela e rapidamente volta a se deitar na cama, na mesma posição em que se encontrava anteriormente. A menina levanta a coberta, convidando-o para se juntar a ela, e o moreno assim faz. Eles ficam deitados um de frente para o outro.

 — Você já soube, não é? — começa Scott, vacilante.

 — Que a Maya está grávida e está fingindo que o filho é seu? Sim, soube.

 — Você acredita que o filho não é meu?

 — Hm, eu acho que não é. — Ela dá os ombros. — É seu?

 — Não, claro que não — ele nega com rapidez e firmeza. — Eu só achei que precisaria de mais tempo para você por fim acreditar em mim.

 Scott brinca com uma mexa do cabelo dela.

 — Eu confio em você, Scott. Porém estamos na merda agora, você sabe que ninguém acreditará em você além de mim, do Stiles, da Brooke... — pensa — só nós três mesmo, eu acho.

 — Suas amigas que foram à festa, a Lydia e a Kira, acreditam no que a Maya disse, né?

 — Não sei. Quando sai da sua casa, fui direto para a casa do Theo e fiquei lá até bem tarde, o meu celular ficou com a minha irmã e eu nem tive a oportunidade de falar com elas ainda.

 — E o que o Theo e a sua irmã falaram sobre isto?

 — Ah, eles não possuem uma opinião formada sobre esta gravidez da Maya e se você é o pai ou não, e eles sequer querem formar uma. Eles só quiseram saber como eu estava e eu tranquilizei-os falando que estava bem.

 Scott assente.

 Eles ficam em silêncio por um momento, apenas observando os mínimos detalhes do rosto um do outro na pouca luz do quarto. A mão do Scott permanecia em contato com a pele dela, acarinhando a maçã rosada.

 — O que quer fazer agora? — balbucia Allison com a sua voz baixinha.

 — Eu não sei — murmura.

 — Você tem que saber, Scott — resmunga. — Seu tempo está chegando ao limite.

 — Eu sei, mas agora tem um problema novo, como você disse ninguém acreditará em mim, todos pensarão que este filho é meu.

 — Foda-se o que pensarão, Scott. Se você tem certeza que este filho não é seu, não tem o que temer. Se você ficar sempre se preocupando com o que as pessoas vão pensar, você nunca viverá de verdade.

 — Allison, a sua mãe...

 — Não, Scott, não coloca a minha mãe no meio agora, você já esperava que ela não iria gostar nada de saber de nós dois, então nada mudou quanto a isto. E, também não precisa se preocupar se ela ficará brava comigo, eu resolvo isto depois. Isto definitivamente não é motivo para você fugir de enfrentar os seus problemas e resolver a sua vida.

 Scott suspira e retoma o silêncio.

 — Do que você tem medo, Scott? Você não ficará sozinho, eu estarei ao seu lado, o Stiles estará ao seu lado, a Brooke também, e, além disto, os meus amigos te estenderão a mão e te ajudarão com qualquer coisa que precisar... a Malia, o Theo, o Derek, o Isaac, a minha irmã... todos eles. Sozinho é a última coisa que você ficará.

 — Allison, você não sabe o quanto eu me importo com família, e o meu pai é única família que me restou, eu já perdi a minha mãe e não quero perde-lo também.

 — Família não é só carregar o mesmo sangue, é muito mais que isto. Não sei como não percebe isto, mas o Stiles é muito mais sua família do que o seu pai.

 — É diferente... você não consegue me entender, amor.

 — Não mesmo. Se quer ter alguém do seu sangue, por que não procura pela sua mãe? Em menos de quarenta e oito horas seu pai teve atitudes deploráveis, ele sequer te respeita, Scott, ele tentou... — Allison pensa em dizer o que aconteceu na garagem, mas se cala. — Hm, é, enfim... ele se mostrou ser um cara bem babaca e desrespeitador, imagina como devia ser as coisas com a sua mãe, ela provavelmente se livrou dele e você deveria fazer o mesmo.

 — Se ele era tão ruim, por que ela me deixou com ele, Allison?

 — Eu realmente não sei, você deveria ir perguntar a ela pessoalmente para saber a resposta.

 — Não. E se ela não quiser saber de mim?

 — E se ela quiser? — indaga Allison e arqueia a sobrancelhas de modo desafiador. — Se ela quiser, você estará perdendo a chance de conhece-la por um medo bobo de ser negado.

 — Se ela quisesse me conhecer, ela teria me procurado, ela teve praticamente vinte anos para isto, eu era criança, um adolescente, como eu iria procurar por ela?

 — Agora você é um adulto e pode muito bem fazer isto. Quer que eu vá com você?

 — Não, Allison, não vou a lugar algum.

 — Saiba que você está sendo bem trouxa. Pior que o seu pai ela não deve ser, talvez no mesmo nível, mas se ela for, tacamos o foda-se, damos meia volta e vamos embora, quem estará perdendo um filho maravilhoso é ela.

 — Olha, você pode ter esta visão ruim do meu pai, mas ele não é uma má pessoa. Ele só está um pouco perdido e precisa achar o sentido da vida dele.

 — Ah, Scott, tudo bem, você não quer perder o seu pai, mas eu também não posso perder a minha liberdade. Eu já briguei por ti tantas vezes, lutei por nós, entretanto eu não posso fazer isto por você, não posso ir lá e obrigar a Maya assinar os papéis do divórcio. Você sabe que eu irei me mudar para Los Angeles, então se você não fazer nada até eu ir embora de Beacon Hills, será impossível continuarmos juntos. Você não arranjou uma solução, então precisa decidir se quer enfrentar tudo, inclusive o risco de perder o seu pai... o que é ridículo, perder o pai, porque ele não irá aceitar a sua liberdade, mas enfim, o que decide?

 — E-Eu... — ele gagueja, inseguro.

 — Aliás, Scott... — ela interrompe. — Você quer continuar comigo? Ou, não sei, eu fui somente a sua diversão momentânea, como uma quebra de rotina? Tudo bem, se sim, eu vou superar, só não mente para mim.

 — Não, Allison, eu já falei que te amo, eu não estava mentindo. Eu te amo de verdade e quero continuar com você sim, para sempre.

 — Então, fica comigo... Fica comigo, Scott — pede Allison em uma voz baixinha e, sem intenção, faz uma carinha meiga olhando para ele.

 — Fico, amor — ele diz, sorri e sela seus lábios ao dela, entretanto Allison não corresponde, em vez disto ela move um pouco a cabeça para trás e muda sua posição, deitando-se de barriga para cima e passa a encarar o teto.

 — Você vai sair daqui e voltar para dormir sob o mesmo teto que a Maya, vai continuar mantendo as aparências para os outros... — murmura, frustrada, após não ouvir a firmeza na voz de Scott. O homem espreme os lábios e suspira.

 — Me dá um tempo.

 — Mais tempo do que eu já te dei?

 — Por favor.

 Allison revira os olhos com irritação.

 Em um pulo, ela sai da cama, marcha até a janela e abre-a.

 — Tchau, Scott, vá dormir na sua casa com a Maya. Só volte aqui quando você não for mais voltar para lá. — Cruza os braços sobre o peito e aponta para a janela em um movimento com a cabeça mandando-o embora. — Não ficarei aqui com você, se no próximo lugar público que você estiver você continuará fazendo o papel de marido ao lado da Maya. Cansada desse nosso caso escondido. Minha paciência e compreensão acabaram. Aliás, mais que isto, só me dirija a palavra novamente quando você for inteiramente meu, caso contrário não tenho interesse em trocar qualquer sílaba com você.

(...)

 — Vocês terminaram, Allie? — questiona Isaac.

 — Acho que terminar não é a definição certa, pois nunca tivemos a chance de começar nada de fato. A gente só... a gente só tinha algo, algo realmente bom que poderia virar algo verdadeiramente foda, porém eu não posso levar isto para frente sozinha, eu preciso que ele queria também, não com palavras, mas sim com atitudes. No entanto, se ele quiser seguir o caminho mais fácil e continuar com a vida que ele tinha, não há nada que eu possa fazer.

 — E você está bem? — pergunta Derek.

 — Estou... só estou cansada de Beacon Hills... quero me mudar e começar a minha vida em Los Angeles o quanto antes — diz em uma voz baixinha e sem ânimo. Deita sua cabeça para trás, escorando no encosto do sofá. Espreme os lábios e encara o teto pensativa.