Trinta minutos. O ponteiro do relógio acabara de dar meia volta desde que Allison começou a encará-lo enquanto sua mãe falava sem parar. Allison parou de prestar atenção nas palavras que a mulher proferia nos primeiros cinco minutos, após isto seus ouvidos capturavam apenas alguns múrmuros indecifráveis. Sua visão fez um percurso que passava pelos ombros da senhora Argent e finalizava no relógio pendurado na parede do quarto que Allison se hospedava na casa da tia até encontrar um apartamento. Sentada sobre a cama, a menina apenas balança a cabeça brevemente em alguns momentos.
Seus pensamentos viajaram para outra dimensão. Nesses trinta minutos ela conseguiu cantar mentalmente quatro músicas inteiras, pensar na roupa que vestiria para sair com os novos amigos que fez nestes setes dias que estava em Los Angeles, também conseguiu relembrar dos momentos engraçados que passou com estes novos amigos, o que involuntariamente fez a menina sorrir.
—Posso saber do que você está rindo? — indaga Victoria com os braços cruzados sobre o peito. — Allison!
— Hm? — Allison pergunta confusa, área, sem saber o que estava acontecendo. — O que? Não. Não estou rindo. — A menina se recompõe, ajeita-se na cama e arruma seu cabelo quando volta a realidade.
— Você estava ouvindo o que eu falava?!
— Claro — responde e balança a cabeça confirmando. — Sobre a Maya, o Scott e tal, eu fui a responsável por destruir uma família, essas coisas...
— E você fala isto com esta naturalidade, Allison? Quando você perdeu a vergonha na cara? A Allison que eu conhecia não era assim.
A menina Argent faz careta demonstrando impaciência. Sua mãe não parava de falar daquele assunto e ela sentia-se esgotada. Não aguentava mais ouvir exatamente as mesmas coisas, repetidas vezes.
— Talvez você conhecia a Allison errada. Eu não perdi a vergonha na cara, pois eu nunca tive. Eu gostei do Scott e fiquei com ele mesmo. Você não precisa ficar repetindo isto, porque eu já sei exatamente o que eu fiz. Sinto muito te decepcionar, mas eu sou assim — resmunga as palavras sem antes medi-las.
— Assim como? Uma vadia?
— Defina como quiser. — Allison dá os ombros, indiferente. Ser chamada de vadia não a ofendia. Ela simplesmente não se importava. Allison escutou pessoas insignificante dizerem isto a ela diversas vezes, e até mesmo adjetivos piores, desde os seus dezesseis anos. Perdeu as contas de quantas vezes foi chamada de vadia anteriormente apenas por admitir sem nenhum constrangimento que adorava beijar e transar. Ser chamada de vadia certamente não era algo que conseguiria atingi-la.
— Uma criança vai crescer sem pai e a culpa é sua, como você pode não se mostrar sensível com isto?! — Victoria esbraveja.
— Se eu não tivesse ficado com o Scott, ele teria ficado com outra mulher, a “traição” — ela faz aspas com a mão — aconteceria de qualquer maneira, até mesmo porque eu não fui a primeira pessoa que ele ficou enquanto ele estava com a Maya. Se o Scott amasse a Maya, ele não teria olhos para outras pessoas e certamente nunca teria nem me dado chances de aproximação.
— E é este cara que você diz gostar, Allison? Um cafajeste?
— Um cafajeste e uma vadia, somos a combinação perfeita, nós nos merecemos, você não acha? — Allison diz com sarcasmo.
Victoria ainda se mostrava incrédula às palavras que ouvia a filha proferir.
— Você não se sente nenhum pouco mal, por saber que a Maya está em um péssimo estado emocional por sua causa? Ela está chorando sem parar desde que o Scott foi embora. Ela terá um filho e está sozinha.
— Ela logo irá superar, relaxa. Ela não deve ser dependente de macho nenhum para sobreviver, ela deve ser independente. Nós não precisamos de ninguém, além de nós mesmo. Ainda mais ela, ela é rica, certamente o Scott parará de fazer falta muito em breve.
— Ótimo que você pensa assim, pois você não verá mais o Scott.
— Ok — diz Allison, simplesmente.
— Ok? — questiona Victoria, surpreendida com a resposta que a filha dera.
— Se eu falar o contrário esta discussão nunca mais terá fim... — murmura Allison em tom quase inaudível.
— O que? — questiona Victoria sem entender o múrmuro indecifrável da filha.
— Eu não estou mais com o Scott, não é isto o que você quer? Por que continuar discutindo? Não há mais nada que eu possa fazer, mãe. Quer me deixar de castigo? Quer me bater? Pois sinceramente esta discussão só está dando voltas, sem nenhum rumo, sem fim. Você está falando exatamente as mesmas coisas há uma semana. — Era a vez de Allison cruzar os braços sobre o peito. A menina encara a mãe e aguarda.
— O mínimo que você deveria fazer era pedir desculpa à Maya.
— Se eu pedir você vai parar de brigar comigo? — questiona. — Liga para ela que eu peço.
— Eu quero que você dê desculpas sinceras, sem ironia.
— Não vou ser irônica — garante Allison e, poucos em minutos, já tinha o telefone celular da mãe em mãos. Maya estava no telefone, porém em completo silêncio. — Ei, Maya, tudo bem? Hm, que pergunta idiota, claro que não. Enfim, eu queria dizer que eu sinto muito por tudo o que eu te causei. Desculpa. Me arrependo pela vadia que fui e espero que um dia você consiga me perdoar. Mas, pense pelo lado bom, você se livrou do cafajeste que o Scott é, você merece alguém melhor e tenho certeza que irá encontrar. Não sofra por ele, você é muito melhor que isto, melhor que ele, melhor que eu. Espero que fique bem logo. Aliás, eu sei que você ficará. Eu realmente te desejo toda a felicidade do mundo. Desculpa novamente.
Sem obter nenhuma palavra em resposta da loira, a ligação é finalizada. Allison estica o braço, devolvendo o celular à mãe.
— Pronto. O que mais você quer que eu faça? — questiona Allison.
— Agora você vai me prometer que nunca mais ficará com o Scott, nem muito menos o encontrará.
— Eu não posso prometer isto.
— Allison, você vai me prometer isto sim — exige Victoria.
— Está bom, mãe. — Allison se rende.
— Promete?
— Uhum — murmura sem dizer maiores palavras, pois sabia que não cumpriria aquela promessa. Allison não tinha planos de simplesmente apagar Scott da sua vida.
Ao sair do quarto, finalmente, Victoria dá espaço para Chris conversar a sós com a filha. O homem, que anteriormente esperava na sala enquanto falava com a irmã, com o cunhado e com o sobrinho, adentra o quarto em que Allison estava e tranca a porta. O Argent senta-se na cama ao lado da filha e apenas pede para ela dar a versão dela da história.
Depositando sua confiança no pai, Allison conta tudo o que sabia e tudo o que vivenciou a ele, sem esconder nada.
— E quem te garante que o Scott falou a verdade, filha?
— Pai, eu já estive no meio de uma conversa com o pai dele, com a Maya... eu não tenho dúvidas quanto a isto, você deveria acreditar em mim. Eu sei que errei por ter ficado com um cara casado... digo, na época que eu não sabia de nada. Mas, a Maya também não é nenhuma vítima. Então, se quiser me punir, me puna apenas pelo o que eu fiz antes do Scott me contar a verdade e, claro, por eu ter mentido para você.
— Ah, Allison... eu realmente não sei o que fazer... — Chris murmura frustrado. Ele suspira, balança a cabeça em negação e passa a mão no cabelo.
— Acredita em mim, pai — pede Allison. A menina pousa sua mão sobre a do pai e segura. Olha nos olhos deles e suplica: — Por favor, pai.
— A Maya está grávida, Allison.
— O filho não é do Scott — ela contrapõe, sem pestanejar, sua voz mantinha-se firme e confiante.
— Como pode saber?
— O Scott disse que não e eu acredito nele.
— Mas, eu não. Eu não acredito nele. Ele pode muito bem estar mentindo para você, Allison, ele pode estar te enganando, já pensou nisto?
— Já. Se for dele, eu quebrarei a cara, porém eu ainda prefiro confiar nele até lá.
O silêncio se estabelece no quarto por algum breve momento. Chris pensava, porém tudo parecia confuso e incerto. Ele queria acreditar na filha, e acreditava, porém não confiava nem um pouco em Scott, pois simplesmente não o conhecia. Não sabia um por cento do caráter do rapaz. Não sabia as verdadeiras intenções dele com Allison e sentia medo da filha estar sendo iludida pelo homem. Mesmo com a menina carregando aquela pose de forte e de não se importar com as consequências pois simplesmente dava o foda-se para elas, Chris temia que Allison pudesse se machucar, afinal ela ainda era a sua filha, sua garotinha. Não importasse a idade de Allison, o sentimento protetor paterno sempre viveria dentro do Chris.
— Eu realmente queria saber algo para dizer, mas eu não sei, Allison. Eu deveria brigar com você, porém eu não consigo. E sei que nada do que eu te disser será capaz de mudar alguma coisa — ele murmura enfim.
— Quer me colocar de castigo? — questiona Allison olhando para ele.
— Do que um castigo adiantará?
— Sinceramente, nada. — Ela dá uma risada curta e baixa.
— Eu deveria mandar você ficar longe do Scott.
— Eu já estou longe do Scott.
— Para sempre, Allison, não ter mais nenhum contato.
— Não, pai, nem pensar. Eu gosto do Scott, mesmo se não ficarmos juntos, eu quero ser amiga dele. Eu me sinto bem ao lado dele... ele literalmente me faz bem e eu quero a amizade dele, independente se eu seja a namorada dele ou apenas amiga.
— Você ainda pretende ficar junto a ele?
— Talvez. Como eu disse eu gosto muito daquele homem e eu não posso controlar o que eu sinto. Antes de ficar bravo comigo, lembre-se... primeiro que eu te amo. — Allison sorri largo e pisca para o pai, buscando trazer um pouco de descontração àquele clima horrível em que o quarto se encontrava. — E, segundo, lembre-se que eu sou o tipo de garota que gosta de conhecer e ficar com pessoas diferentes, ter novas experiência sem estar presa a ninguém, e se eu cogitei ter um compromisso de verdade com o Scott e abandonar esta vida, é porque ele é alguém especial. Acredite ou não, mas eu cheguei a dizer que queria ter um filho com ele e eu não estava zoando, eu falei muito sério. Além de ter deixado ele me chamar de amor e de ter vivenciado todo aquele romancezinho e melação de casal que eu queria distância anteriormente. Com ele eu caí em contradição de todas as vezes que um casal de amigos meu ficava de melação ao meu lado e eu revirava os olhos e sentia vontade de vomitar. Então, por favor, não pense que o que vivemos foi um caso só de putaria, só de desejos carnais, da emoção que proibido causava, foi muito mais que isto. Eu gosto dele e sinto que é recíproco.
— Ah, Allison. — Chris suspira. — Tudo bem, eu não posso contestar o que você sente, nem te obrigar a parar de sentir, mas... você tem que prometer uma coisa para mim.
— O que?
— Que não irá ficar com ele até este bebê nascer e eu ter a confirmação que não é mesmo dele.
— Não é dele.
— Você confia nele, eu não — resmunga Chris e encara-a com uma das sobrancelhas arqueada.
— Está bom — ela revira os olhos. — Não ficaremos juntos até lá.
— Depois que ele estiver solteiro, solteiro de verdade, e não for pai de nenhuma criança, eu não reprovarei que você tenha qualquer tipo de relacionamento com ele. Entretanto, se decidirem ficarem juntos, você não irá enfrentar a sua mãe, você vai conversar com ela, entendeu? Conversar! Sem brigas! Se este filho não for do Scott, certamente ela verá que a Maya também errou e que a culpa do fim do casamento foram dos dois, não apenas do Scott, então será mais fácil ela aceitar um possível relacionamento entre vocês dois.
(...)
Após um mês com o endereço em mãos, Scott estava aqui. Em frente à provável casa que a mãe dele morava. Ele enrolou por longas semanas sem coragem para ir encontrar a mulher que colocou-o no mundo. Encarava todos os dias o papel que o Sheriff Stilinski, pai do Stiles, deu a ele com o endereço que encontrou. Melissa não morava tão longe da cidade que ele cresceu, na verdade, ela morava assustadoramente perto, em uma pequena cidade vizinha. Saber disto só o deixou ainda mais angustiado. Ela também estava na Califórnia, porque nunca foi vê-lo desde que separou do Rafael?
De qualquer maneira, Scott enfim decidiu parar de encarar o papel com o endereço escrito e agora estava aqui. Aqui e com medo do que iria encontrar e de como seria recebido por sua mãe que não via desde que tinha cinco anos. Mal se lembrava da sua aparência ou da sua voz. Rafael McCall havia extinguido todas as fotos em que ela participava, ajudando assim que qualquer lembrança dela desaparecesse da memória de Scott. A única coisa que sabia era que ela havia ido embora com outro homem, abandonando-o sem piedade – pelo menos era isto que o senhor McCall contara ao filho.
— Aperta a campainha logo, Scott. — O Stilinski, parado bem ao lado do McCall, já estava ficando impaciente. Eles estavam há exatos seis minutos parados em frente à porta de maneira e Scott não sentia coragem para apertar a campainha, bater na porta ou apenas chamar.
— E se ela não estiver em casa? Ela talvez esteja trabalhando, ou voltando do trabalho, as pessoas geralmente estão voltando do trabalho a esta hora.
— Então, a gente vai ficar aqui parado em frente à porta mesmo? Deixa que eu aperto a campainha, seu bundão... — O Stilinski estica seu braço e aperta a campainha, porém nada aparece acontecer. Ele franze o cenho e aperta novamente, uma, duas vezes. — Esta porra está quebrada... — resmunga e bate na porta, porém ninguém aparece. — Qual é. — Ele revira os olhos.
— Eu disse, ela deve estar trabalhando, vamos embora — fala Scott, porém é ignorado pelo amigo.
Stiles sai de frente da porta e anda até uma janela que ficava ao lado. O Stilinski se posiciona em frente à janela e por sorte a cortina não estava completamente fechada, o homem de cabelos castanhos coloca seus olhos ali para poder ver dentro da casa.
— O que está fazendo?! — indaga Scott.
— Sua mãe eu não sei, mas tem alguém em casa sim, uma moça — o Stilinski fala, enquanto olhava pela janela — com um fone de ouvido, deve ser por isso não nos escutou.
— Saí daí! Nem sabemos se a Melissa mora aqui mesmo, seu pai não nos deu certeza.
— Ela é bonita, se a sua mãe não morar aqui, para não perdermos a viagem totalmente, vamos pedir o telefone desta garota. — Stiles sorri com perversão.
Scott revira os olhos.
— Por que será que isto já não me surpreende? Acho que só me surpreenderia se você saísse de um lugar sem ficar ou tentar ficar com alguém.
— Eu sou solteiro, bebê, não estou fazendo nada de errado. — Stiles olha para o amigo e pisca. Porém, logo, volta seu olhar para a janela. O Stilinski bete no vidro da janela e acena em uma tentativa bem sucedida de chamar a atenção da moça.
— Stiles! — reclama Scott. — Vamos embora, outro dia voltamos, não quero mais fazer isto hoje.
— Tarde demais, ela já me viu — informa Stiles.
Em pouco tempo, Scott observa a maçaneta movendo-se e em segundos a porta é aberta, relevando atrás dela uma jovem magra, alta, com um rosto de traços delicados e pele perfeitamente bronzeada. Seu cabelo possuía um degradê de cores que começava castanho na raiz e terminava loiro nas pontas, possuía também belas ondas e um cumprimento médio, chegava até a altura dos seios dela. Usava um curto vestido de alcinha estampado e uma botinha preta.
— Oi — a garota diz em um cumprimento simpático.
— Oi — responde Stiles e sorri para ela. Contudo, Scott manteve-se calado. Stiles balança a cabeça em reprovação e cutuca o amigo com o ombro, incentivando-o a dizer algo.
— Oi. Hm... A Melissa mora aqui? — pergunta Scott, balbuciando e com a voz trémula. Com a confirmação recebida, Scott faz um novo pedido: — Eu queria falar com ela, você pode chama-la, por favor?
— Ela está tomando banho, mas daqui a pouco desce — ela informa. — Querem entrar e esperar? — convida-os, já dando espaço para eles passarem.
— Não, obrigado — nega Scott.
— Sim — aceita Stiles.
— Vamos esperar aqui fora — diz Scott e olha para o melhor amigo, repreendendo-o com o olhar.
— Tudo bem, você pode ficar aqui fora, mas eu vou entrar — fala Stiles e sorri para o McCall. O Stilinski dá alguns passos para frente, até chegar à porta. — Licença. — Adentra a casa e fica ao lado da moça que de ria da cena que assistia. Stiles olha para o melhor amigo que permanecia parado no mesmo lugar e esboça outro sorriso para ele.
— Se quiser entrar também, tudo bem, garanto que eu não mordo — a garota diz olhando para o homem de maxilar torto.
— Não entendo o porquê das pessoas dizerem isto, mordidas são realmente boas — reflete Stiles.
— Gosta de mordidas? — ela pergunta em um ar descontraído.
— Você não? — o homem de cabelos castanhos sorri e ergue uma sobrancelha, fazendo-a rir. — Isto definitivamente foi uma resposta. Ele também adora uma mordida... e arranhões, chupões... nos últimos meses, quando ele estava com a garota dele, o corpo dele vivia cheio de marcas.
Scott fuzila o amigo com o olhar, irritado com a capacidade que Stiles possuía de colocá-lo sempre em situações constrangedoras. Stiles e a garota riam da cara que o McCall fazia.
— Vai entrar? — questiona Stiles.
— Se você prometer calar esta boca — resmunga Scott.
— Prometo.
Scott, por fim, adentra a casa e, imediatamente, passa seus olhos pela sala, analisando o local. Era um ambiente pequeno, humilde, porém muito confortável e familiar. Scott chegou a ponderar se ele seria uma criança feliz crescendo aqui e involuntariamente chegou a uma resposta afirmativa.
— Então... — sem querer que um silêncio se estabelecesse ali, Stiles resolve começar uma conversa descontraída. — Qual é o seu nome mesmo?
— Elena — responde ao fechar a porta.
— Eu sou o Stiles.
— Stiles? — Elena olha para ele e franze a testa.
— Apelido. Meu nome é Mieczyslaw. — Stiles dá os ombros.
— Ok. Prefiro Stiles. — Ela sorri.
— Todos preferem — ele sorri de volta. — Mas, então, Elena, o que você é da Melissa?
— Filha... E eu poderia saber quem são vocês? — questiona, porém depois que ela respondeu que era filha da Melissa, Stiles não pode escutar mais nada.
— Caralho, Scott, você tem uma irmã! — ele profere, chocado, olhando fixamente para Elena com os olhos caramelos esbugalhados.
— Scott? — questiona Elena. — Scott McCall?
Contudo, Scott não participava da conversa. O homem havia sido atraído para uma parede que carregava alguns porta-retratos. Na maioria das fotos Elena estava presente, em algumas ela aparecia sozinha, outras com Melissa, outras com pessoas que aparentavam ter a mesma faixa etária que ela, provavelmente amigos. Porém, a atenção de Scott se prendeu às duas fotos que a garota não estava. Nestas duas fotografias Melissa aparecia com um pequeno menino nos braços e Scott pôde reconhecer-se ali. Era ele. Definitivamente, era ele. E mesmo ainda existindo a possibilidade do reencontro deles não ser algo consideravelmente agradável, ele sentiu-se ligeiramente feliz. Feliz por Melissa ter guardado uma pequena recordação dele e não ter simplesmente o apagado da sua vida.
Seu momento de distração foi interrompido quando ele sentiu o corpo da garota colidir com o dele. Os braços magros envolveram-no em um forte abraço sem a menor timidez.
— Eu sempre quis te conhecer — ela diz com uma imensa alegria na voz. O sorriso estampado nos lábios finos era gigantesco e, mesmo sem Scott possuir a visão do rosto dela, ele pôde sentir que ela sorria. Então, automaticamente, ele levou seus braços em torno dela para retribuir o abraço e também sorriu.
Os sorrisos de ambos contagiaram positivamente Stiles que assistia-os a pouco metros de distância, o Stilinski sentiu-se imensamente feliz ao ver aquela cena. Scott não carregava mais a expressão de medo e insegurança no rosto, ele parecia feliz e isto animou Stiles.
— Você sabe quem eu sou? — pergunta Scott quando ela desfaz o abraço.
— Claro, a Mama sempre falou de você para mim — ela responde com um sorriso. — Ela ficará tão feliz em te ver.
— Então... ela se importa comigo... — diz Scott em um pensamento alto.
— Claro que se importa. Ontem foi aniversário dela e, como todos os anos, de presente ela apenas ora desejando que você um dia a perdoe. Eu não moro mais aqui por causa da faculdade, cheguei hoje e vou leva-la para jantar, você quer vir conosco? — Ela mantém os seus olhos alegres fixados no irmão mais velho que ela sempre quis conhecer. — Vocês. Vocês dois, por favor venham com a gente — ela corrige-se ao olhar para Stiles. — Vocês são o que? Amigos?
— Melhores amigos — responde Stiles e se aproxima deles. — E, sim, vamos. Né, Scott?
O McCall assente, atordoado, tentando assimilar tudo.
— Eu pensei que quando ela foi embora com o seu pai, ela me apagaria da vida dela... — murmura Scott.
— Quando ela foi embora com o meu pai? — Ela franze o cenho. — Você sabe que o meu “pai” — ela faz aspas com a mão, afinal não o considerava como tal — é o seu pai, né? O Rafael.
— É? Quantos anos você tem? — questiona Scott.
— Dezenove.
— A Melissa estava grávida quando foi embora... — o McCall conclui.
— Isto está muito errado. Scott, qual foi a versão da história que o seu pai te deu? — pergunta Elena.
— Ele só disse que a minha mãe deixou-nos e foi embora com o amante dela.
— Ah, claro — a menina revira os olhos. — Por que será que eu não estou surpresa?
— O que aconteceu de verdade? — indaga Scott curioso.
— O seu pai... — começa, porém logo se interrompe, deixando-o confuso. Ela acena com a cabeça, indicando para ele olhar para trás. — Acho que a Mama é a melhor pessoa para te dizer.
Scott olha para trás e encontra a mulher das fotos que ele olhava minutos atrás. O homem sente uma falta de ar, seu estomago embrulha e um suor frio começa a surgir em seu corpo. Ela estava ali. A mãe dele estava ali.
— Scott... — murmura Melissa.
A mulher permanecia no mesmo estado em que Scott se encontrava, ela não acreditava no que estava vendo.
A boca entreaberta, logo forma um sincero sorriso e, em segundos, Melissa corre para abraça-lo. Um abraço que ela guardava há anos. Melissa sonhava com este abraço por todos os anos que não pôde chegar perto do próprio filho. E agora que ele estava aqui na casa dela, ela não pode se segurar, abraçou-o com toda a força e vontade que possuía.
O segundo abraço que Scott recebia hoje conseguiu passar-lhe sentimentos ainda maiores, sentimentos os quais ele não conseguia sequer explicar. Ele sentiu uma felicidade diferente. Sentiu-se acolhido. Melissa e Elena já não pareciam pessoas desconhecidas para ele. Scott não poderia imaginar que se sentiria tão bem ao lado delas. Ele sentiu um ar familiar assim que pisou nesta casa e amou.
Certamente, este foi um dos abraços mais longos que Scott já recebeu na vida e poderia ficar ali por quanto mais tempo lhe fosse permitido.
— Scott, filho — Melissa sorri e passa as mãos no rosto do homem, convencendo-se que ele realmente era real. — Eu esperei tanto por este dia. — Os olhos escuros da mulher se tornam marejados assim como os de Scott e então ela abraça-o novamente, deixando as lágrimas escorrer pelo rosto.
Stiles e Elena assistiam o momento mãe e filho, sem atrapalha-los. Ambos tinham um sorriso no rosto e, sem demora, era possível notar que os olhos castanhos dos dois também emocionados com o que presenciavam.
— Como você está? Você está bem? — pergunta Melissa ao soltá-lo, e passa a mão no rosto limpando as lágrimas.
Scott ainda não conseguia pronunciar palavra alguma, então apenas confirma com um aceno com a cabeça.
— Oi — Melissa cumprimenta Stiles dando-lhe um rápido abraço. — Você é o amigo dele, né?
— Sou — Stiles afirma e sorri. Melissa assente e volta a olhar para o filho, sem poder segurar a sua felicidade.
O McCall estava perdido, atordoado, apenas olhava para a mulher de cabelos cacheados e tão escuros quanto o dele.
— E a sua esposa? Ela não quis vir com você? — questiona Melissa com uma voz baixa, balbuciada, porém ainda sendo acompanhada por sorrindo.
Scott e Stiles franzem o cenho em sintonia, inteiramente confusos.
— Você sabe que o Scott era casado? — questiona Stiles ao perceber que Scott ainda não tinha condições de perguntar.
— Era? Vocês se divorciaram? Está tudo bem com você, filho? — pergunta Melissa.
— Como você sabe? — a pergunta enfim sai da boca do McCall, em um múrmuro falho.
— E-Eu... Eu queria ter ido ao seu casamento, mas o Rafael disse que você não me queria lá — responde Melissa, deixando Scott e Stiles ainda mais confusos. — De qualquer maneira, isto não importa mais, você não sabe quão feliz eu estou por você finalmente querer me encontrar... O que foi? — questiona ao notar as expressões estampadas nos rostos dos dois homens.
— Mama, acho que o Rafael estava mentindo para os dois — comenta Elena. — Eu acho que a senhora poderia contar a ele o que aconteceu de verdade para vocês nunca mais terem se encontrado.
Melissa recua e se abraça.
— Scott, eu não quero interferir de nenhuma maneira na relação que você tem com o seu pai, não quero ficar aqui denegrindo-o a você, então é melhor deixar isto para lá, já passou. Nós dois brigamos e nos separamos, somente. Infelizmente, eu perdi você e eu peço que me perdoe.
— Eu quero saber o que aconteceu, Melissa — pede Scott.
Melissa olha para o filho, depois para a filha que balança a cabeça, incentivando-a. Melissa suspira e concorda.
Os quatros sentam-se no sofá para conversarem com mais conforto. Melissa, hesitante, respira fundo antes de começar a contar a história do princípio.
— ...Eu e o Rafael brigávamos muito, desde que passamos a morar juntos por causa da minha gravidez, quando eu estava grávida de você, eram discussões atrás de discussões, mas ainda assim permanecíamos juntos. Eu queria ter me separado antes, porém eu não tinha nada e nem ninguém além do Rafael, minha família era rígida e tradicional e me rejeitou quando engravidei aos dezessete anos. Eu parei os estudos para cuidar de você e cuidar de todas as tarefas domesticas, enquanto o seu pai fazia a faculdade dele e trabalhava. Nossa condição financeira não era das melhores, porém conseguia nos sustentar sem sufoco, sustentar nós três. Porém, mais uma vez, aconteceu outra gravidez não planejada e o Rafael ficou furioso e jogou toda a culpa sobre mim. Ele disse que não iria sustentar outra pessoa e me mandou abortar para consertar o meu erro. Mas, eu não queria. As brigas se tornaram pior, até eu sofrer uma queda que quase fez eu perder a Elena. Minha gravidez se tornou uma gravidez de risco. Então, eu fui embora, para casa de uma antiga e solidária amiga. Não permanentemente, eu tinha a intenção de voltar depois que a Elena nascesse e estivesse segura. O Rafael não era um bom esposo, mas sempre foi um bom pai, então eu confiei em te deixar com ele neste período, pois eu não tinha como te levar comigo, eu achei que seria egoísmo te levar, pois você tinha casa, comida, seu próprio quarto, cama, tudo... e se eu te levasse comigo, você perderia todo este conforto. Assim que a Elena nasceu com saúde, eu voltei, achando que ao ver aquela bebê linda amoleceria o coração do Rafael e tudo ficaria bem, mas vocês não estavam mais lá. Vocês tinham sumido. Eu tinha te perdido. Eu era uma mãe solteira, com pouca idade, sozinha, que mal conseguia se sustentar e perdida no mundo. Nem estudos eu possuía, pois por causa da gravidez, abandonei a escola no último ano. Porém, eu fiz tudo o que pude para a Elena, trabalhei como babá e mesmo com o pouco dinheiro que recebia, consegui cria-la. Anos depois, eu te procurei e te achei. Você já estava com onze anos e lindo. Porém, o Rafael não permitiu que eu sequer chegasse perto de você. Brigamos mais, porém ele estava certo, você estava bem e feliz sem mim, você também tinha tudo o que eu nunca teria condições financeiras para te dar... Depois deste dia eu ia te ver todo mês, mas ficava de longe. Eu implorei ao Rafael para poder chegar perto de você no seu aniversário de treze anos, ele disse que precisava conversar com você antes, fiquei feliz, porém minha felicidade acabou rapidamente quando ele me informou que você repudiou a ideia de me encontrar, que não queria me ver e que sentia raiva de mim por ter abandonado vocês... E, então, eu continuei a ver você crescer de longe, vi você com a sua primeira namorada quando você tinha dezesseis anos, depois você no primeiro dia da faculdade, a sua nova namorada, uma loira, e vocês se casaram... eu nunca me perdoarei por não ter ido ao seu casamento. E depois que você se casou e se mudou eu nunca mais consegui te ver. Me perdoa, Scott, eu não queria ter te abandonado, esta nunca foi a minha intenção, eu só queria proteger a Elena. Desculpa, filho, eu te amo.
— Melissa, eu sempre quis te conhecer — murmura Scott. — Meu pai nunca mencionou você para mim. Se eu soubesse que você queria me ver, eu teria aceitado na mesma hora. Eu nunca senti raiva de você, você é minha mãe. E não precisa se desculpar.
— Preciso, Scott. Desculpa por não estar ao seu lado, eu queria ter sido uma mãe presente para você.
— Tudo bem, eu te entendo e não te culpo. Sei como o Rafael consegue desestabilizar com facilidade o psicológico de alguém quando quer. — O McCall move os ombros e espreme os lábios, desanimado.
— Mas ele foi um bom pai para você, né, Scott? — indaga Melissa com preocupação.
— É, ele sempre me tratou bem, do jeito dele.
— Não nos últimos anos... — fala Stiles.
— Não nos últimos anos — confirma Scott.
— O que ele te fez, filho?
— Longa história, porém agora está no caminho para tudo voltar a ficar bem — responde Scott.
— Me fala, filho, o que ele te fez?
— Podemos falar sobre isto depois? Eu estou bem, não precisa se preocupar. E eu sinto que já atrapalhei demais a noite que você iria comemorar o seu aniversário com a Elena.
— Vocês vão vir com a gente, não é? — indaga Melissa aos homens.
Em minutos, os quatros encontravam-se dentro do carro branco do McCall. Stiles dirigia, Elena sentava-se no banco do passageiro guiando o caminho, e Scott e Melissa juntos no banco de trás.
— O meu pai sabe que tem uma filha?
— Sabe — afirma Elena. — E ele sim não nunca quis e nem quer saber de mim, ele até já disse que eu não sou filha dele e que minha mãe errou em não ter abortado.
— Ele não quer mais saber de mim também — murmura Scott.
— Não importa, nós temos a Mama. — Elena sorri olhando para ele através do retrovisor interno. Scott dá uma risada baixa e sente Melissa abraçando-o com a saudade que ainda não havia acabado.
— E, filho, você ainda não me falou, você se divorciou?
— Ainda não estou divorciado legalmente, mas estou rezando para que isto aconteça o mais rápido possível.
— O que aconteceu entre vocês? — pergunta Melissa.
— Isto faz parte da longa história, porém resumindo, eu nunca gostei dela de verdade, apenas me juntei a ela por causa do meu pai — responde Scott e arranca uma reação confusa de Melissa, que olhava-o sem entender.
— Como assim? — Elena também parecia extremamente confusa. — E aquela história que a “sua garota” te deixava cheio de marcas no corpo?
Scott novamente sente vontade de matar o amigo por ter ele falado estas coisas que não precisavam terem sido ditas.
— A garota dele, não é a mulher que ele casou, é outra — esclarece Stiles.
— Espera. Você traiu a sua mulher? Por isto o divórcio? — questiona Elena.
— Não, não foi exatamente assim — Scott sai em sua defesa. — Eu me juntei a minha “esposa” por causa do meu pai, eu nunca tive nada com ela de verdade, então eu não classifico como traição, eu nunca enganei a Maya, ela sabia que era tudo falso, não prometi fidelidade a ela e ela certamente não prometeu a mim.
— Eu não estou entendendo nada — murmura Elena.
— Você tem uma nova namorada? — pergunta Melissa.
— Hm, é complicado — diz Scott. — Estamos dando um tempo para resolver os problemas que nos atrapalham, incluindo este divórcio. E eu estou morrendo de saudade, queria ela aqui comigo.
— E onde ela está agora, filho?
— Em Los Angeles. Daqui a uma semana, ela deve estar indo ao primeiro dia na faculdade.
— Eu também faço faculdade em LA — comenta Elena.
— Você está morando em Los Angeles? — Scott sorri.
— Sim. Los Angeles é foda.
— Você estuda o que? — questiona Stiles com curiosidade.
— Segundo ano de medicina. A Mama é a minha grande influenciadora, depois de trabalhar como babá, ela trabalhou como enfermeira e eu me apaixonei pela área, ajudar as pessoas, sabe?
— Tenho certeza que você será uma ótima médica, filha. E eu também acredito que você é um ótimo professor, filho.
— Queria ser, porém, na verdade, eu acho que não sou. No meu primeiro emprego como professor, eu fui já fui demitido.
— O que você fez para ser demitido, filho?
— Basicamente, a minha garota também era minha aluna. E, além de eu ser demitido, a mãe dela é influente nesta área, vice-diretora de uma universidade, cheia de contatos e está bem brava comigo por eu ter me relacionado com a filha dela, certamente a minha fama não está nada boa, precisarei de muita sorte para conseguir outro emprego em algum colégio.
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