História Hands to Myself - Não julgue-o;

 Sábado à tarde. Allison acabara de chegar em casa após passar algumas longas horas na cafeteria trabalhando. Sábado era sempre mais movimentado em relação aos outros dias da semana, ou seja, o trabalho era maior e muito mais cansativo. Por isso, quando voltava para casa tomava um banho demorado e ia direto para a cama em busca de algumas poucas horas de sono, o suficiente para ela descansar e recuperar as energias para aproveitar a noite de sábado da melhor maneira possível.

 Porém, exclusivamente hoje, assim que colocou os pés em casa, Victoria ordenou que ela se arrumasse para ir à inauguração da loja da Maya. Allison bufou, protestou, implorou, no entanto Victoria não cedeu. Lembrou-a que ela havia prometido à Maya que estaria presente na inauguração e seria uma tremenda falta de educação se ela não comparecesse. Além disso, as amigas de Allison também já confirmaram a presença no evento e combinaram com a senhora Argent o melhor horário para elas irem juntas.

 Allison subiu para o quarto e entrou no seu banheiro para tomar um banho rápido. Quando finalizou, saiu no quarto enrolada em uma toalha e abriu o armário em busca da roupa ideal. Questionou-se se deveria ir super arrumada ou se uma roupa básica bastaria. Encarou os seus vestidos mais novos reservados para eventos especiais. Analisou um vermelho, depois um azul, depois simplesmente deu o foda-se e decidiu que se vestiria normalmente. Pegou uma calça jeans com rasgos propositais na área do joelho, uma blusa moletom fechada no tamanho grande e nos pés calçou os seus tênis vans pretos. Penteou os fios negros rapidamente e ao terminar se olhou no espelho pela última vez. Pegou a chave da moto e, antes que saísse do seu quarto, avistou o boné do Stiles em cima da sua cômoda. Sorriu e apanhou-o. Só então foi para o andar de baixo onde encontrou a mãe e a irmã à sua espera.

 — Você vai vestida assim, querida? — a senhora pergunta ao analisar a roupa da filha, que em contrastava com o estilo de roupa que ela e de Hayden usavam, as duas se vestiram como se tivesse indo para um evento extremamente importante, e talvez para elas realmente fosse.

 Allison olha para baixo em direção à sua roupa. Quando volta sua visão para a mãe dá os ombros como se não tivesse encontrado nada de errado com o seu visual.

 — Tudo bem, então. Vamos logo, já estamos muito atrasadas... — diz Victoria.

 — Eu pego a Malia de moto e vocês levam a Lydia e a Kira de carro, pode ser? — pergunta à mãe.

 Para garantir o conforto das seis mulheres, elas decidiram se dividir. Hayden e a senhora Argent percorriam um caminho em direção à casa da ruiva, para logo depois passarem na casa da japonesa. E Allison saiu em busca de Malia.

 Allison para em frente à casa da Malia e buzina. Não precisou esperar muito, pois a menina aparece na porta de entrada rapidamente, caminhando até Allison. Pega o capacete que a morena das covinhas havia separado para ela e coloca-o em sua cabeça, garantindo sua segurança.

 — Você também não está incrivelmente arrumada — percebe Allison. Malia vestia um short jeans, camiseta e uma jaqueta por cima, além das suas conhecidas botas.

 — Como não? — questiona Malia em tom de brincadeira e dá uma volta completa exibindo sua aparência. Ambos deixam uma risada divertida escapar. — Era para estar?

 — Eu não sei se era, mas quem olha a minha irmã e a minha mãe pensa que elas estão indo à uma festa superimportante, como um casamento ou algo do tipo.

 — Aposto que a Kira e a Lydia seguirão os mesmos passos — reflete Malia sobre as amigas. Allison concorda com a cabeça e sorri. A verdade era que Lydia e Kira se vestiam bem em todos os dias e em qualquer situação, as duas sempre estavam dignas de passarelas ou de um ensaio fotográfico para uma capa de revista.

 Malia sobe sobre a garupa e se segura na morena, envolvendo a cintura dela com os braços. Allison dá partida e é guiada por Malia, já que a menina de cabelos longos não sabia onde ficava a tal loja. Malia explicou o caminho, orientando cada rua que ela deveria seguir. Em breves minutos, as duas chegam. Ambas saem de cima da moto e retiram o capacete, deixando-os ali mesmo ao lado da moto.

 Allison pega o boné do Stiles, que havia deixado pendurado em um dos passantes da sua calça enquanto usava o capacete, e coloca-o na cabeça com a aba virada para trás. Malia encara-a com os olhos estreitos estranhando o acessório agora na cabeça da amiga, uma vez que jamais vira Allison usar boné. Em resposta recebe apenas um sorriso inocente de Allison. Malia dá os ombros e resolve não perguntar sobre.

 Como já esperavam, chegaram primeiro que Lydia, Kira, Hayden e Victoria. Em vez de entrar, preferiram esperar por elas no lado de fora. A movimentação era grande e os muitos carros estacionados preenchiam a rua.

 — A loja é bem grande, né — comenta Allison depois de analisar a estrutura exterior.

 — Sim — concorda Malia. — Isto porque você ainda não viu a casa deles, é gigantesca. Eu com certeza não me incomodaria de morar em uma casa como aquela.

 As duas esperam na calçada por mais algum tempo até avistarem o carro da senhora Argent chegar e estacionar. As mulheres saem do veículo e vão ao encontro de Malia e Allison para entrarem juntas na tal loja, mas não sem antes questionarem sobre o boné na cabeça da menina de cabelos negros, Allison desviou de todas as perguntas com eficiência, a única explicação que dera foi que o boné era de um amigo dela.

 Scott estava ao lado do melhor amigo. Não era segredo que Maya tinha uma grande antipatia por Stiles, porém Scott implorou para que ele viesse e não deixasse-o sozinho nesta festa de inauguração.

 Os dois eram uns dos poucos homens presentes neste local, afinal a loja era segmentada exclusivamente para o público feminino. Os outros homens eram maridos que foram arrastados sem opção de escolha pelas esposas, entre esses casais estavam os pais da Maya, o senhor e senhora Werneck, que vieram de longe para prestigiar e mimar a filha única.

 Enquanto Maya estava ocupada com os convidados e posando para várias fotos com todos eles, Stiles e Scott se mantinham em um canto e conversavam entre si. O dono do maxilar torto vestia ternos e sapatos, em contradição Stiles usava jeans, moletom e tênis, afinal porque ele precisaria se arrumar mais? Ele não era o marido da dona da loja.

 — A Allie! — diz Stiles com a animação ao avistar a menina morena passando pela entrada. Scott segue o olhar de Stiles e franze o cenho.

 — A Allie? — indaga Scott. Como assim “A Allie”? Desde quando eles se conheciam e quando ele adquiriu esta intimidade para chama-la pelo apelido? — Aquele não é o seu boné? — questiona milésimos de segundo após a pergunta anterior, fazendo uma nova pergunta logo em seguida: — Da onde vocês se conhecem?

 Scott olha fixamente para Stiles esperando ansiosamente pela resposta, a imensa confusão era visível em seu rosto, queria saber de toda esta história da qual ele não tinha conhecimento nenhum.

 — Eu a conheci no sábado passado na casa do Derek. O cara da minha turma de engenharia que dá festas. Eu te levei aquela vez quando você se mudou para cá, lembra? — esclarece Stiles para Scott, mas ainda mantinha os seus olhos cor caramelo sobre a menina.

 — Sei, mas pode parar de ficar animadinho assim, ela deve ter dito para você que era mais velha, mas ela só tem...

 — Dezessete anos, eu sei — interrompe Stiles.

 — E você fala isto com a maior naturalidade — Scott se mostrava incrédulo com a frase que acabara de sair da boca do amigo. Stiles enfim volta a olhar para ele, sem entender a reação do melhor amigo.

 — Você está falando como se ela tivesse idade para ser minha filha, ela é só sete anos mais nova, cara, nem é tanta coisa assim. E aliás, eu nunca disse que tinha interesses sexuais nela, ela é só minha amiga.

 — Assim espero — murmura Scott.

 — Você a conhece?

 — Sim, ela é minha aluna. As cinco ali são — diz Scott se referindo ao grupo de adolescentes em que Allison fazia parte. Os dois voltam a olhar para as cincos meninas acompanhadas pela senhora Argent.

 — Caralho. Você é um cara de sorte... ou de azar. Como consegue resistir à todas elas? Eu daria tudo para ter alunas assim também, aposto que alguma delas já teve sonhos eróticos com você e fantasiou transar com o professor McCall em cima da mesa dele.

 — Meu Deus, Stiles — Scott balança a cabeça em reprovação, enfatizando com um olhar repreendedor.

 — Pode parar de se fazer de santo, eu sei que você ama a putaria assim como eu, a culpa não é minha se nos últimos quatro anos você está sem, eu já cansei de dizer o que você deve fazer, se não quer ouvir o meu conselho o problema é seu, seja infeliz e fique o resto da sua vida preso com alguém que você não quer.

 Malia e Allison estavam logo atrás das outras mulheres, que certamente estavam mil vezes mais animadas que as duas, os olhos das quatros brilhavam com cada peça de roupas que elas visualizam em um manequim ou penduradas em uma arara. Enquanto isto, Malia e Allison se entretinham muito mais em uma conversa descontraída entre as duas. Kira e Lydia só pararam de babar e elogiar cada canto da loja, quando avistaram o senhor McCall acompanhado de um amigo muito bonito, era claro que elas não deixariam de comentar com as outras amigas.

 — Nossa — a Kira a primeira a se expressar.

 — Gatos — Lydia continua ao encarar o moreno de fios castanhos com um sorriso nos lábios grossos. A ruiva segura no braço da morena de cabelos castanhos e curtos, para que a morena também apreciasse a mesma visão que ela. Malia segue o olhar da ruiva e, ao encontrar o que Lydia e Kira olhavam, compartilha do mesmo sorriso que elas. Allison é a última a olhar para os dois homens parados a poucos metros de distância delas.

 Coisa que não passou despercebida por Stiles, ele abre um sorriso para todas elas antes de falar com o amigo sobre isto.

 — Elas estão nos encarando — diz Stiles. Scott volta a olhar na direção delas e sorri educadamente em um cumprimento às suas alunas, mas logo desvia sua visão olhando para baixo, pois a menina morena que o desconcentrava estava ali.

 — Para de encara-las... — murmura Scott como uma ordem.

 — Allie, vem aqui! — Stiles chama-a em um berro alto demais, atraindo a atenção de quase todas as pessoas presentes no local. Recebe vários olhares de desaprovação pela atitude, inclusive o de Scott que quis matar o melhor amigo da forma mais cruel.

 — Por que você fez isto?! — resmunga Scott irritado, porém é ignorado com excelência. Ele pretendia se manter afastado da menina pelo maior tempo possível, mas Stiles tinha que fazer questão de estragar tudo.

 — Você o conhece? — questiona Kira em uma expressão curiosa e surpresa, após ver o amigo do senhor McCall chama-la e ainda mais, chama-la pelo apelido. As outras duas adolescentes também olhavam para Allison com extrema curiosidade. Allison sorri e confirma em um movimento com a cabeça.

 — Allison Argent é definitivamente o imã de gente bonita! Você é a garota mais sortuda deste mundo — fala Lydia olhando para a amiga.

 — Não é sorte, eu apenas corro atrás do que eu quero. — Allison pisca para a ruiva. — Já volto — diz antes de se afastar das meninas.

 Allison caminha até o homem que a chamara, desviando das pessoas que transitavam naquele local. Assim que se aproxima dos homens, cumprimenta Stiles com um abraço apertado e propositalmente demorado, conseguindo deixar Scott desconfortável. Não sabendo para onde olhar, ele concluiu que seus próprios pés eram uma ótima opção.

 — Professor — Allison cumprimenta com um sorriso e um aceno com a cabeça, assim que ela e Stiles enfim se soltaram. Scott responde em um aceno com a cabeça também.

 — Você se apoderou mesmo do meu boné, né? — fala Stiles.

 — Sim, não espere que eu devolva tão cedo.

 — Tudo bem.

 — Então, o senhor McCall é o seu amigo de Beacon — diz Allison como se já não soubesse desde o princípio.

 — É... — Stiles olha para o amigo, depois para ela e sorri confirmando com a cabeça, colocando os braços em volta do ombro do homem de cabelos escuros.

 Mas sua feição muda rapidamente quando ele avista Maya se aproximar deles, a loira o fez lembrar que ele havia revelado para Allison sobre o casamento, a esposa que o odiava e as traições. E agora ele acabara de denunciar que o Scott McCall era este amigo, professor dela. Puta merda!

 — Não! Não! Não era dele que eu falava! — Stiles tenta consertar a burrada que acabara de fazer. Scott olhava-os confuso e em silêncio, ainda tentava compreender como aquela amizade havia acontecido. Já Allison ria internamente do visível desespero do Stiles após “entregar” o amigo.

 Antes que eles pudessem dizer mais alguma coisa, Maya já estava perto o suficiente.

 — Solta o meu marido! Você está amaçando o terno dele — ordena Maya com certa irritação.

 Mesmo relutante, Stiles retira o braço em torno do amigo e volta a colocar as mãos no bolso único do moletom. Certamente, xingava-a dos piores nomes possíveis em seus pensamentos.

 — Vem, Scott. — Puxa o marido pelo braço, sem lhe dar opção de escolha. Porém, não sem antes olhar Allison de cima a baixo com uma expressão de desprezo ao analisar os trajes da menina que certamente não estava dentro dos seus padrões de moda. Allison percebendo isso, apenas franziu o cenho e arqueou uma sobrancelha, não gostando nem um pouco da encarada que acabara de receber da loira que se vestia com um vestido longo, branco e brilhante, contudo permaneceu calada, pois não tinha a pretensão de se estressar hoje.

 O casal McCall se afasta e Stiles e Allison acompanha-os com o olhar. Maya leva Scott para um ponto da loja e os dois posam juntos para um fotógrafo. Scott segurava a loira pela cintura e sorria minimamente. Enquanto, Maya formava uma nova pose junto a ele toda vez que um flash diferente acontecia.

 — Que casal lindo, nem parece que o casamento está mais destruído que a minha vontade de ir para o colégio segunda de manhã quando estou de ressaca após um final de semana de bebedeira — murmura Allison.

 — Allie, esquece o que eu te disse, por favor — suplica Stiles. — Eu não devia ter falado nada, não era para você e ninguém saber. O Scott vai me matar por eu ter lhe contado. Eu sou um péssimo amigo. Devia ter ficado com a boca fechada. Mas que merda, Stiles! O que eu vou dizer pro Scott agora? Eu... — o homem se auto repreendia e lamentava até ser interrompido por Allison que colocara o dedo indicador sobre a boca dele, mandando educadamente que ele calasse a boca.

 — Para com esse choro, Stiles. Se for te confortar, eu já sabia de uma boa parte do que você me contou, principalmente a da traição, porque eu fui a garota com quem o Scott ficou naquele dia na casa do Derek, ok? Depois ele virou meu professor e eu descobri que ele era casado. Antes que pergunte: sim, eu te liguei no sábado porque queria me aproximar do amigo do Scott e consequentemente me aproximar do McCall. Mas, vi que você é foda para caralho e eu quero sim ser sua amiga de verdade, não se sinta enganado ou usado, beleza?

 — Você e o Scott... juntos? — Stiles olha para o amigo posando para as fotos com Maya e depois volta para Allison, os olhos castanhos claros estavam esbugalhados e assustados. Tentava ingerir aquela informação, mas ainda sentia uma enorme confusão. — Quão juntos vocês estão? — indaga com intensa curiosidade.

 — Não sei se você sabe, mas aquele dia a gente quase transou, mas só ficou no quase mesmo porque ele recebeu uma mensagem e disse que iria embora. Depois quando descobrimos que seriamos aluna e professor, eu quis continuar a noite inacabada e ele me recusou. Porém, eu sempre vi os olhares dele na minha direção durante as aulas, ontem a gente se beijou no banheiro dos professores. E puta que pariu! Foi um puta beijo! — Allison sorri ao pensar. — Enfim, eu tenho certeza que ele me deseja, mesmo ele dizendo que não.

 — Caralho — é a única palavra que encontrou para se expressar. Allison assente com a cabeça, confirmando tudo o que ela acabara de revelar.

 Talvez fosse mais proveitoso se Stiles não soubesse de toda a verdade sobre ela e Scott, pois agora Stiles poderia negar toda a aproximação com a menina e não contribuir com seus planos. Mas, Allison não aguentou continuar com a mentira – ou omissão – depois de ver o homem se sentir culpado por pensar que havia entregado o segredo do amigo. Ele não merecia se sentir mal por causa dela, não era justo com uma pessoa tão legal e Allison sabia disto.

 Os dois ficaram juntos por mais algum tempo, até Allison se despedir do homem do nariz arrebitado para se juntar às amigas novamente.

 Sozinho, Stiles procurava ansiosamente por uma oportunidade em que Scott finalmente estivesse livre. Assim que Maya se distraiu conversando com algumas pessoas, Stiles andou em passos largos até o amigo e puxou-o pelo braço arrastando-o para um canto afastado de todas as outras pessoas.

 — Então, você me repreendeu por ter uma amizade com uma menina de dezessete anos — silabou a palavra amizade para dar a devida ênfase — e por eu ter falado que você tinha sorte de ter alunas assim, quando na verdade você já tem um caso com a Allie e ontem mesmo estava se pegando com ela no banheiro dos professores, seu sem vergonha.

 — Fala baixo, porra. — Scott olhava de um lado para o outro checando se ninguém estava perto o suficiente para conseguir ouvir. Ainda empurra Stiles para eles criarem uma distância ainda maior das outras pessoas. — Eu não tenho um caso com a Allison. O beijo foi um deslize que não vai mais acontecer.

 — Ah, está bom — ironiza Stiles, desacreditado do amigo. — Agora faz sentido, você ficou incomodado por pensar que eu poderia estar tendo algum envolvimento com ela, não é, safado? Pode ficar tranquilo que eu não vou roubá-la de você. As outras estão livres ou elas são suas também? — pergunta se referindo ao grupo de amigas da Allison.

 — Cala a boca, Stiles — resmunga Scott.

 — Como é o beijo dela? — Stiles parecia bastante animado ao perguntar.

 — Stiles, foi um erro, para de falar nisto. Você mais do que ninguém sabe o problema gigantesco que isto tudo poderia causar.

 — Eu não vou falar para ninguém, você sabe que pode confiar em mim, eu sou seu melhor amigo — tranquiliza Stiles. Porém, se lembra do deslize que cometeu ao falar de Scott para Allison. Hm, Scott não precisava saber deste pequeno detalhe e Stiles prometeu a si mesmo que tomaria mais cuidado. — Beija bem?

 — Pior que sim — confessa Scott.

 — Por que pior?

 — Porque tenho que lutar para resistir essa menina quase todos os dias e ela não facilita as coisas.

 — Então, não resista.

 — Stiles — repreende Scott.

 Os homens se calam ao avistarem a loira andando novamente na direção deles. Mais uma vez ela chama por Scott e desta vez o leva para uma área restrita da loja reservada apenas a ela e aos funcionários.

 — Toma — Maya entrega um enorme buquê de rosas brancas na mão dele. Scott segura, mas olhava-a com extrema confusão.

 — O que é isto? — ele indaga.

 — Quando eu estiver fazendo o meu discurso de agradecimento, você vai entrar de surpresa e me dar isto de presente. Eu queria que você fizesse uma declaração, mas eu aceito apenas um eu te amo. Depois você me beija. — Maya passa as orientações para o marido. — Todos com certeza ficaram com inveja, você não acha? Nós seremos vistos como o casal perfeito — ela sorri alegremente com aquela ideia.

 — Ah, não, Maya. Eu não quero fazer isto — Scott nega com a cabeça e tenta devolver o buquê para ela, mas a loira se recusa a pegar.

 — Vai fazer sim, você querendo ou não. Eu vou começar o meu discurso em alguns minutos, se prepara. — A loira tenta desviar dele para passar pela porta e sair da sala, mas Scott se coloca na frente impedindo-a.

 — Maya, não — pede Scott mais uma vez na tentativa de fazer com que a esposa desistisse daquela ideia. Porém, a loira não se mostrava flexível.

 — O que está acontecendo? — o senhor Werneck aparece na porta.

 — Papai! O Scott ia me dar este buquê de presente na hora do meu discurso de agradecimento, mas eu acabei vendo antes da hora e estraguei a surpresa. Eu falei para ele que tudo bem e eu vou fingir que não vi. Não é, amor? — Maya olha fixamente para Scott, praticamente obrigando que ele concordasse com aquilo. O moreno move sua visão para ela e depois para o senhor Werneck. Sem opção de escolha, ele abaixa a cabeça e afirma a história inventada por ela.

 Maya acompanha o pai e sai da sala, sem ser impedida por Scott desta vez. O moreno encara o buquê por alguns segundos e espreme os lábios, logo após suspira com frustração. Ele rezava tanto para um dia isto tudo acabar, mas todas as suas preces pareciam ser ignoradas. Se conformar era a única coisa que lhe restara.

 Esperou um pouco e enfim saiu da sala para fazer aquela “surpresa” e acabar com isso de uma vez. Se obrigou a colocar um sorriso falso no rosto e, ao voltar para o salão da loja, foi imediatamente recebido por flashes como se o fotógrafo já tivesse sido devidamente orientado sobre a chegada dele. Scott não demorou para chegar até a esposa e entregar o buquê na frente de todos, após interromper o discurso que a loira fazia. Maya, como uma bela atriz, fingiu uma cara surpresa e agradeceu ao marido com um abraço apertado após pegar o buquê, chegou até derramar algumas lágrimas para convencer todos que aquilo era completamente sincero. Seguindo às ordens de Maya, o próximo passo seria proferir um “eu te amo” seguido de um beijo. Scott até tentou falar que a amava, porém por não conseguir, pulou diretamente para a parte do beijo.

 Mesmo sem a parte do eu te amo, todo o resto já conseguiu arrancar um suspiro de todas as mulheres dali, além de olhares de admiração por aquele exemplo de casal perfeito, pelo menos era isto o que todas achavam. Todas menos, Allison. A menina morena assistiu toda aquela cena patética com um olhar de reprovação. Quando viu os olhos das amigas brilharem na hora do beijo, Allison fez uma careta e balançou a cabeça de um lado para o outro em reprovação.

 Ela definitivamente não era obrigada a ficar assistindo toda esta falsidade, por isso decidiu que era a hora de ir embora. Avisou à mãe e também à Malia, esta última preferiu ir embora depois com a senhora Argent, então Allison iria ir embora sozinha. A menina morena se afastou das amigas e andou até a saída desviando das pessoas, sem olhar para trás e sem querer saber o que aconteceria depois do beijo do casal McCall.

 Vai até a sua moto, tira o boné e volta a colocá-lo pendurado em um dos passantes da sua calça, mas antes que colocasse o capacete escuta alguém a chamando. Era Stiles. O moreno corria até ela, Allison aguarda-o.

 — Você anda de moto! O Scott é apaixonado por motos — comenta Stiles com animação ao se aproximar da menina e perceber que ela segurava um capacete na mão e estava ao lado de uma moto prestes a subir. — Mas, por que está indo embora?

 — Porque eu não sou obrigada a ficar vendo aquilo. Sem comentários para o seu amigo.

 — Eu te entendo, mas não julgue-o, a situação dele é tão complicada. Eu te garanto que ele não queria estar nisto, você teria que entender toda a história dele...

 — Stiles, para de dar uma de advogado do Scott, ele pode muito bem se defender sozinho se assim ele quiser. Aliás, eu não tenho que receber explicação nenhuma, eu não sou a mulher dele — Allison dá os ombros.

 — Não fica brava com ele, Allie. Ele é uma boa pessoa.

 — Eu não estou brava, Stiles, e nem dizendo se ele é uma boa ou má pessoa, pouco me importa, o que me interessa é unicamente ele ser um bom professor, porque é apenas isto que ele é meu. Queria sim ficar com ele por um dia, você não sabe o quanto. Mas eu só não entendo porque ele fica iludindo a Maya com essa coisa falsa.

 — Ele não está iludindo-a! — Stiles sai na defesa do amigo na mesma hora.

 — Ah, não está não — diz Allison, irônica e solta uma risada debochada. — Olha, Stiles, eu estou indo, ok? Te vejo qualquer dia por aí.

 A morena abraça o homem rapidamente em despedida. Logo, ajeita o capacete na cabeça e monta sobre a sua moto, dando partida em seguida.