História Hão de chorar por "ele" os cinamomos... - Capítulo Único

Pela cidade, passava por ruas já muito conhecidas. Ruas onde eu havia de trabalhar desde criança para ter o pouco que tenho hoje em dia. 

Não andava por essas ruas sem um rumo, eu iria até uma das partes mais nobres da cidade, até a casa de um amante, talvez. Kim Jongin. 

Ele era mais novo e possuía uma pele mais escura que boa parte da população daquela cidade que não era muito grande. Mais baixo e rico, tinha tudo para escolher alguém que não fosse eu. 

Eu era apenas mais um cara qualquer da cidade morando em uma área considerada desagradável por não ter casas bonitas e grandes, parques verdes e laguinhos. Vivia do jeito que podia e eu era magrelo por isso. A única pessoa que fazia eu me esquecer de tudo oque passei por instantes era aquele moreno. 

Kai, como eu o chamava, recitava poemas e adorava me contar histórias quando não estávamos transando. Afinal, ele era formado em literatura e eu até poderia arriscar em dizer que nunca vi alguém tão apaixonado por seu trabalho como ele... 

Cabelos desgrenhados, pele pálida, meus olhos grandes e cansados, era assim que eu caminhava até a sua casa pelo menos duas vezes na semana e era essa minha aparência diariamente. 

Tropecei. 

Fui cambaleando e tentando me segurar, coloquei minhas mãos no chão e senti elas arderem, esfolarem. Me levantei sem ter realmente caído e virei minhas palmas das mãos, haviam alguns pontinhos de sangue nelas, fechei e as enfiei em meus bolsos seguindo cabisbaixo pelas ruas. Havia me lembrado da briga que tinha me envolvido no ultimo final de semana. 

Eu estava em um dos pontos noturnos mais movimentados da cidade naquela noite e, obviamente, eu tinha concorrência. Fui enxotado a socos e ponta pés daquela área e acabei com marcas em todo o meu corpo por causa disso. Kai iria perguntar e, quando descobrisse, odiar o jeito que eu tinha de tentar a fazer dinheiro. Mas no fim, é errado prostituir-se para, então, quem sabe, não morrer de fome? 

Suspirei fundo. Não, Jongin não sabia quem eu realmente era e não iria entender. Pensei em parar de andar, já não sabia se deveria ir até a casa dele, mas continuei caminhando, mais lentamente dessa vez.  

Ao chegar em sua casa, bati na porta repetidas vezes até que ele atendesse. Quando a porta se abriu, desejei nunca ter saído da cama. Kim Jongin estava apenas com uma calça desabotoada segurando a porta e me fitando com uma expressão de pena em seu rosto sem ao menos dizer uma palavra, enquanto lá ao fundo aparecia um garoto bem mais baixo e com uma aparência mais nova e mais bela que a minha apenas enrolado nos lençóis mais caros que o moreno tinha. Meus olhos marejaram e antes mesmo de eu dar-lhes as costas, ouviu-se o barulho da porta sendo fechada na minha cara. 

O romance de mãos dadas com a melancolia e as trevas. "Hão de chorar por ela os cinamomos", poema preferido do moreno que amava a época do simbolismo, mas diferente dele, não há quem chore por mim, não há quem cuide de mim. Sou apenas mais um, não farei falta. Nem mesmo os arcanjos, se realmente existirem, irão saber de mim. Talvez meu lugar não seja lá. 

O amor que um dia pensei em ter, talvez não seja para mim. 

E nunca será.