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História HARMONY (Namjin) - Dezoito


Escrita por: NotDanceMonster

Notas do Autor


Acalmem suas teorias, não falta muito para as coisas ficarem mais transparentes. #BoaLeitura

Capítulo 19 - Dezoito


Fanfic / Fanfiction HARMONY (Namjin) - Dezoito

Seokjin

Namjoon estava estranho, primeiro mudou o humor antes da viagem, depois cancelou a nossa reserva no resort e agora me rejeitou dando uma desculpa esfarrapada. Eu não gostava nada, mas nada mesmo, dessa sua versão bipolar, até porque eu sempre fui o responsável pelas oscilações do nosso relacionamento nesse quesito e ele não podia simplesmente roubar meu posto.

Brincadeiras à parte, por muitas vezes me mordi de ciúmes nessa viagem, ciúmes das suas ligações demoradas do trabalho desde que chegamos, mas me mantive calado. Ah, ele está achando que  nasci ontem? Nem Jackson, que tem responsabilidades maiores que as dele naquele departamento, ficava tanto tempo em uma chamada.

Eu tinha medo, não sei se queria mesmo descobrir o que ele tanto falava naquele maldito celular, ou com quem falava. Nunca tivemos razões para desconfianças desse tipo, mas eu sentia algo estranho atordoando meu peito. Uma sensação.

Hoje de manhã ele tentou me mimar, eu cedi um pouco, pois era difícil não cair na tentação que é Kim Namjoon, em troca ele conseguiu me roubar algumas carícias. Mas ainda era cedo, o dia estava cinza e desde que ele se levantou e desceu para o café da manhã eu não havia me mexido na cama espaçosa.

As cobertas emboladas em meu corpo me aqueciam, o temporal de ontem trouxe um ar gelado, me arrepiava os pelos da perna que escapulia do edredom. Não sei como e nem o porquê, mas o teto me pareceu ser muito interessante, fiquei a encará-lo por longos minutos, alternando apenas com o rádio relógio do criado-mudo que marcava um pouco mais de dez da manhã.

Eu não queria levantar, apesar de sentir fome, mas fui obrigado. Jimin abriu a porta do quarto sem bater e veio a passos lentos até mim, suas roupas estavam amassadas, assim como seu rosto e cabelo.

Não precisava nem falar, eu já sabia o que ele sentia. Eu era o seu pai, afinal.

— O que houve, Chim? — Sentei-me, ainda tonto. — Hm?

— Hm.

Ele se jogou sobre mim e fechou os olhos, não demorei para colocar minhas mãos em seu pescoço e testa. Estava febril. Podem se passar meses e anos, mas meus meninos sempre me procurariam em tempos de apuros.

— Acho que alguém está ficando resfriado. — Cheirei seu cabelo descolorido.

— Ah, odeio isso. — Bufou irritado.

— Eu sei querido, mas vou te dar um analgésico e lhe fazer uma sopa para que isso não se agrave, tá bom assim? — Pressionei seu corpo para que se levantasse. — Jungkook fica doente com mais frequência, mas você fica derrubado com qualquer virose. 

— Ainda bem que está esfriando, eu ia detestar perder os passeios nas praias da reserva. — Sentou-se ao meu lado. — Ontem eu e Yug ficamos acordados até tarde e vimos o temporal chegar, hoje o dia raiou na chuva e ainda chove forte, o caseiro vai ter bastante trabalho.

— Por quê? — Jimin voltou a se deitar, cobrindo o corpo.

— Algumas árvores soltaram galhos e isso bagunçou todo o terreno. — Fez um bico por puro hábito.

— Jura? — Ele assentiu meio lento.

— Juro, tio Jack e tio Mark estão dando ordens aos caseiros desde muito cedo. — Falou enquanto brincava com os dedos, criança cheia de manias.

— Nossa, não pensei que choveria tanto. — Bocejei. — Acho que teremos que voltar mais cedo, vou conversar com Mark sobre isso.

Coloquei minhas pernas para fora da cama, calcei meus chinelos pretos e espreguicei meus braços, eu dormi torto e, por pura birra, sem os braços de Namjoon ao meu redor. Eu tinha que pensar melhor antes de agir, pois agora permaneceria dolorido até o fim do dia, caso um Advil não funcionasse. 

Fui para o banheiro, escovei meus dentes, lavei meu rosto e fiz outras necessidades, peguei a nécessaire do Namjoon e de lá tirei uma cartelinha de analgésico. Esse era o único que não causava alergia no meu filho, há muitos anos atrás eu descobri isso de uma maneira um tanto desesperadora, Jimin acordou sem enxergar de tão inchada que seu rosto ficou, havia tomado dois analgésicos para gripe.

Voltei para o quarto e sorri, já ouvi dizer que filhos nunca cresciam, mas nunca cheguei a acreditar, só que agora eu tinha certeza de que era verdade. Minnie estava esparramado no meu lado da cama, bem na beirada, deitado de bruços e com um braço pendurado para fora, que oscilava entre tocar o chão e apertar alguns botões do rádio relógio.

Jimin sempre teve os dedinhos espertos, quando era criança vivia futucando meu celular. Ah, o tempo passava tão depressa!

— Ei, minha criança, vamos tomar café. — A resposta veio em resmungo, então fui até ele para afagar suas costas. — Vamos, meu bem, não quero um filho gripado nessa viagem. — Ri do muxoxo que ele soltou. — Você é como Namjoon, não é mesmo?

Minnie se dá por vencido, pareceu gostar da comparação com o outro appa — algumas coisas nunca mudam — por isso levantou-se parecendo mais disposto. Só parecer, pois eu enxergava na minha criança, bem no fundo dos olho,s um desânimo que não parecia com nenhum tipo de virose que eu conheci durante meus trinta anos de carreira na medicina.

Ah, eu sabia! Era um desânimo no coração.

Descemos a escada devagar, Jimin arrastava o corpo e não fazia questão de se esforçar, aposto que estava com dor de cabeça, mas ficaria melhor daqui algumas horas. Chegando na sala de estar, Taetae e Bambam davam atenção para o mostro que eles chamavam de Grão, Jisoo deitada no sofá e Hobi estava na cozinha. Olhei em volta e não vi os outros, notei que Jae estava sentado na poltrona próxima a janela e que me encarava.

— Eles estão lá fora e Kookie está tentando fazer Hoseok parar de preparar o café. — Sorriu.

— Por quê?

Meu pai já vai acordar, esperem só mais um pouquinho, ele vai fazer panquecas. — Imitou com uma voz engraçado, então não pude deixar de rir. — Aconteceu algo? Você não costuma passar das nove no colchão.

— Ah, Youngjae-ah, é complicado. — Respirei fundo ao lembrar. — Vou preparar um café reforçado antes que meu garoto enlouqueça. — Suspirei, seus olhos ainda estavam em mim. — O clima dessa casa não está muito bom, não é?

— Não. — Largou o livro. — Vamos, vou ajudar você na cozinha, não aguento ficar olhando para aquele monstro por muito tempo.

Olhamos na direção em que ele apontava, a cena era de Tae e Bambam alimentando o pobre lagarto. O bicho parecia estar gostando dos mimos, os meninos estavam posicionados um de frente para o outro — com uma distância considerável — e o réptil se movia rapidamente para comer na mão de Tae, logo dando meia volta e correndo para se alimentar na mão de Bambam.

Certo, de longe até que não era tão assustador assim, mas bem de longe.

— Ótimo, obrigado. — Agradeci e fomos em direção à cozinha.

 

 

(...)

Jungkook

Eu detesto chuva com todas as minhas forças, ainda mais agora que a natureza decidiu zombar comigo. Depois do café da manhã reforçado que meu pai fez para todos, tio Mark, tio Jack e papai Nam decidiram que deveríamos ajudar os caseiros a limpar o imenso quintal gramado daquela casa.

Não fiquei bravo, caia o mundo lá fora, chovia forte desde ontem, mas só foi eu abrir minha boca para protestar que não precisou passar vinte minutos para parar de chover. Taehyung tirou sarro da minha cara de decepção e, antes que eu pudesse xingá-lo, sussurrou uma frase completamente indecente em meu ouvido que não sou nem capaz de repetir.

Tio Hobi se empolgou com a ideia e nos separou em grupos, ele é um pouco vidrado em organização, éramos doze e tio Jack que nos dividiu: papai Nam, tio Jack, tio Hobi e tio Jae iriam recolher os galhos da lateral, papai Jin, tio Mark, tio Yoonie e tio JB limpariam a piscina, cadeiras e a churrasqueira, eu, Taehyung, Jisoo e Bambam cuidaríamos da entrada e de tirar a lama que a chuva trouxera.

E onde está Jimin-hyung? Bom, meu irmão foi poupado por está próximo de pegar um resfriado, seria bom estar em contato com tanta umidade, pois acabaria desenvolvendo algum problema respiratório e ele é muito fraco para doenças. Que calúnia, eu, o filho caçula trabalhando, enquanto o mais velho descansava, isso era um absurdo, mas parece que nem Taehyung conseguia entender meu drama, já que só tirava sarro do meu descontentamento.

— Toma, um presente para você. — Ele me estende uma vassoura, fazendo-me bufar. — Qual é, Jungkookie? Pensa pelo lado bom.

— Lado bom? Não tem lado bom, eu sou o maknae aqui, eu quem devia ser poupado. — Tomei a vassoura de sua mão.

— O lado bom é que poderia ser pior, tio Jack poderia ter colocado a gente para limpar a parte de trás da casa. — Ele tentou tocar minha bochecha, mas eu consegui me esquivar.

— Isso é verdade. — Yug apareceu. — E o maknae aqui é o Kunpimook, só para deixar claro. — Bagunçou os cabelos ralos de Bambam, que sorriu presunçoso por ser defendido. — Para de reclamar, Jungkook, meu pai não está com o humor bom e não vai ser nada legal se ele vier dar esporro, não temos mais idade para isso.

— Gente! — Jisoo gritou, enquanto vinha em nossa direção. — Trouxe luvas, saco, pá e panos. 

— Até que enfim surgiu alguém com o espírito da coisa, vamos limpar! — Taehyung agitou os braços.

— Vamos tirar no pedra, papel e tesoura quem vai fazer o quê, pelo menos isso, por favor. — Dou a ideia, pois alguma coisa tinha que ser justa ali.

— Tudo bem, vamos nessa. — Jisoo faz os movimentos com as mãos para nos aproximar. — Pedra papel e tesoura. — Todos colocaram as mãos a postos.

— Saí, papel embrulha pedra. — Yug gritou. — Eu varro a entrada.

Ele tinha pego o mais fácil, mas eu ainda tinha chances, poderia recolher o lixo, ou algo assim, era melhor que retirar a lama. Jogamos novamente.

— Saí, pedra amassa tesoura. — Jisoo Comemorou. — Eu escolho reparar os canteiros de flores, eles estão acabados.

Droga, outra vez, as opções boas estão ficando cada vez menores. Taehyung me lança um olhar estranho e pediu para jogarmos novamente. Feito.

— Saí também, tesoura corta papel. — Bambam Sorriu. — Eu recolho o lixo. — Merda. — Desculpa, hyungs, mas a lama sobrou para vocês dois.

Kunpimookookie. — Falei lentamente para demonstrar minha indignação.

Quando esse ser malandro no pedra, papel e tesoura era apenas um bebê que nem sabia falar, eu o chamava assim, pois eu achava seu nome engraçado e muito familiar ao meu por apenas ter o som da letra K no final. Com mente de criança não se discute, o apelido perdurou e, quando não tenho preguiça, eu o chamo dessa forma até hoje.

— Ah, Kookie, não vai ser tão ruim, deixa de ser mimado. — Tae tentou fazer-me cócegas, mas me esquivei novamente. 

— Vamos logo com isso. — Coloco as luvas de borracha. — Você era mais legal quando não sabia falar, Kunpimookookie.

— Foi mal, hyung. — Riu. — Mas não seja rude, eu acabei de fazer 15 e sou o seu maknae, você deveria cuidar de mim, não acha?

— Ei, não faça agyeo, esse truque é meu! — Baguncei os cabelos ruivos de Bambam, às vezes até que era bom ser o hyung.

 

 

(...)

Jimin

Da varanda da frente eu observava Yug trabalhar, era constrangedor o modo que ele e Jisoo se ajudavam nas tarefas, ele varria as folhas e ela apalpava a terra úmida dos canteiros. Eu queria ser um mosquitinho e ouvir a conversa desses dois.

Eu me sinto péssimo por estar dividido, até ontem a noite eu não tinha dúvidas de que eu pertencia a Jisoo, mas toda minha confiança se foi no instante em que os lábios de Yug tocaram os meus. E ele estava tão bonito, tudo bem que vestia pijamas, mas não o mesmo da noite anterior que ficou ensopado, usava  uma calça de algodão azul clara, uma blusa de manga cumprida vermelha desbotada e botas de borracha amarelas.

Ri sozinho de sua confusão de roupas, expressava bem o que ele era, puro e energético.

Olhei para Jisoo e vejo sua concentração para amparar as flores, vestia um conjunto de moletom lilás e tênis de corrida branco, sorria calmamente e auxiliava Jungkook em sua tarefa, mesmo meu irmão estando cuspindo fogo de raiva. 

Senti-me mal, então preferi não mais acompanhar aqueles dois, coloquei as botas de borracha vermelhas que o tio Hope me emprestou — caso fosse necessário — vesti meu casaco quadriculado vermelho de tecido grosso e fui andando pela lateral esquerda da casa, pois na lateral direita papai Joonie estava trabalhando com meus tios. Fui caminhando até que eu cheguei na varanda de trás, aquele lugar era incrível, silencioso, bonito e a melhor parte é que não havia ninguém trabalhando ali.

Sentei na cadeira acolchoada, pus meus pés no cercado branco da varanda e fixei meu olhar no mato, verde tranquiliza e traz sentimento de saúde. Bom, pelo menos o que dizem, o que explicaria as cores de alguns hospitais.

Eu ainda usava a tala no tornozelo, ainda tinha ponto nos pés, mas eu estava em família e meus machucados pareciam sarados para mim. Eu precisava desse sentimento de saúde, pois além disso sentia meu nariz entupido e minha cabeça parecia pesar uma tonelada. Papai tinha tem razão, eu era muito fraco para doenças.

Respirei fundo e fecho os olhos, tentando absorver o cheiro de natureza, mas a coriza em minhas narinas não permitiu que eu sentisse o aroma. Bufei frustrado e abri os olhos rapidamente.Ouvi um barulho nos galhos e isso me colocou em alerta, sentei-me corretamente na cadeira e fixei o olhar na floresta.

Tá, poderia ser um guaxinim, um gambá ou até um cachorro do mato, sei lá, mas eu teria que estar preparado caso um animal desses aparecessem. Só que logo vi que não se tratava de um animal. Dentre as folhas e galhos, vi um senhor surgir, ele tinha uma lanterna em mãos, estava bem agasalhado, com um casaco e botas de couro, touca e máscara.

Não o reconheci, ele não parecia ser um dos caseiros, talvez fosse um vizinho de uma propriedade próxima. O homem parou de frente para mim e desligou a lanterna, só me dei conta de que não estava sendo muito educado quando notei que nos encarávamos por longos segundo.

— Ah...— Limpei a garganta. — Bom dia, senhor.

— Acho que já é boa tarde, Jimin. — Arregalei os olhos ao ouvir meu nome.

— Nós no-nos conhecemos? — Levantei devagar, a única barreira entre nós era o pequeno cercado branco da varanda.

— Mais ou menos, eu lembro de você. — Ele abaixa a máscara preta. — Você é o garoto que estava indo acampar com os amigos no parque ecológico, né?

Ah, sim, eu me lembrava vagamente daquele rosto, era o senhor que conversou comigo no posto de gasolina. O cara que tinha uma ideia louca sobre paixão, confesso que suas palavras me fizeram pensar.

— Oh, eu me lembro, senhor...

— Park. — Sorriu e me estende a mão. — Park Sungmin.

—Kim Jimin. — Sorri de volta.

— Kim? — Franziu o cenho, eu assenti. — Até que combina com você.

— Kim combina com tudo. — Recolhi minha mão. — O que o senhor faz por aqui?

— Senhor... — Bufou divertido. — Eu tenho uma propriedade aqui perto, a chuva de ontem fez estragos.

— Aqui também, meu pai e o tio Jack estão tento muito trabalho, na verdade, todos estão. — Sentei-me no cercado.

— Seu pai e esse seu tio são quem comandam tudo, não é? — Ele parecia estar sendo irônico, mas não entendi muito bem. — Então, Jimin, por que não está trabalhando também? 

— Bom — Ri um pouco. — Estou gripado, meu pé não tá muito legal e meu outro pai me vetou dessas atividades, o que eu achei um exagero, mas nunca é bom contrariá-lo.

— Esse pai parece ser durão, homens assim merecem respeito. — Suspirou sorridente. — Trabalhar em casa de campo não é fácil, criança, deve agradecê-lo por ter te livrado. 

— Mas eu queria ajudar, parece divertido fazer isso em família.

— Você poderia ganhar uma cicatriz com os galhos, seu pai fez bem, cicatrizes são horríveis. — Estendeu as mangas do casaco até os cotovelos. — Veja só.

Havia marcas em rodelas em seu pulso, como se ele houvesse sido amarrado, ou algo do tipo, algumas de corte no antebraço e outras redondinhas. Queimaduras?

— Quer saber como ganhei isso? — Assenti ainda encarando sua pele marcada. — Trabalhando pesado, filho, são marcas do tempo.

— Foram todas por trabalho no campo? — Encarei seu rosto, era estranho como ele parecia feliz.

— Pode se dizer que sim. — Deu de ombros. — Agradeça seu pai, Jimin.

— Para falar a verdade, eu até que agradeço, é bom estar do lado de dentro da casa com esse vento gelado. — Dou de ombros, como ele havia feito e ganho sua risada. — Papai Jin comentou que eu sou fraco para gripe assim como meu outro pai, eu não seria produtivo nesse trabalho, mesmo.

— Você se parece com ele? —  confuso com sua pergunta. — Com Jin, você se parece com ele? Ele deve ser um homem muito bonito, então.

— Oh, não, não, ele é muito bonito, sim, mas, apesar de meu pai Joonie falar isso o tempo inteiro, eu não me pareço com ele. — Sorrio. — Eu fui adotado, assim como o Kookie, não foi inseminação, senhor.

— Kookie? — Sorriu gentil.

— É, Kookie é o meu irmão mais novo. — Sorri pensando na birra que ele devia estar fazendo agora.

— Você é um rapaz bonito, Jimin, seu irmão puxou a você? — Fiquei tímido, não sei reagir muito bem a perguntas diretas.

— Obrigado, senhor, mas fomos adotados em lugares diferentes, não temos o mesmo sangue.

Nunca pensei que fosse dizer isso em voz alta, me senti estranho. Não era nunca para eu dizer, meu deus, o que eu acabei de dizer?

— Desculpe. — Falou de imediato. — Isso é muito pessoal, me desculpe.

— Não, tudo bem. — Forcei um sorriso, pois ele parecia mesmo sem jeito. — O senhor mora longe?

— Não muito, são trinta minutos de caminhada. — Guardou a lanterna no bolso. — Por quê?

— O senhor não quer conhecer minha família? — Levantei-me da cerca. — É sempre bom ser amigo dos vizinhos, pode contar com a gente para o que precisar, tio Jack não mora aqui, mas os caseiros moram.

— Sim, é sempre bom, ainda mais para um velho como eu, hm? — Encarou-me e riu. — Eu acabei de fazer cinquenta, garoto.

— Ah, não, senhor, eu não...

— Tudo bem, Jimin, estou brincando, mas eu passo essa, sabe, prefiro pouca companhia. — Chegou mais perto. — Então se puder não comentar sobre minha presença, eu agradeço, não é que sua família vá me importunar, mas acontece que eu não sou um cara muito extrovertido para ter amigos.

— Hm... — Mordi os lábios para pensar, pois aquilo não fazia muito sentido para mim. Que cara esquisito. — Tudo bem, Sr. Park, mas saiba que agora o senhor tem um amigo.

— Tenho? — Assenti. — Que bom, garoto, às vezes é melhor ter poucos que sejam sinceros.

— É.

Aquele homem parecia ser solitário, era triste imaginar alguém assim. O Sr. Park tinha um olhar curioso, bastante concentrado, toda vez que eu olhava em seus olhos, parecia que ele sempre estava lendo um livro ou um artigo interessante.

Chegava a ser até desconcertante manter o olhar, talvez a solidão tivesse esse efeito nas pessoas.

— Olha, Sr. Park, se o senhor quiser, claro, podemos conversar sempre, eu costumo vir aqui à noite. — Dou de ombros. — Mas pode ser perigoso andar por esse matagal escuro, então se quiser meu telefone para conversar...

 

 

— Sim! — Disse animado. — Claro, claro Jimin, vai ser muito bom para mim manter uma conversa com alguém. — Sorriu radiante, ele parecia incrédulo. Não queria, mas acabei sentindo pena.

Passei meu telefone para ele que prometeu entrar em contato assim que possível, pobre homem. Esse era um dos meus maiores medos, envelhecer e ficar só, era muito ruim a comparação da minha vida com a daquele senhor, não gostava nem de imaginar meus pais sozinhos como ele

 O Sr. Park se despediu, prometeu ligar e voltou a caminhar floresta a dentro.

 

(...)

Na mesa de jantar todos falavam sobre o trabalho duro que tiveram, eu estava ficando sufocado, pois além disso Yug estava sendo gentil comigo além do normal e Jisoo estava mais carinhosa que antes. Ou será que o diferente era eu? Não sei.

Taehyung irritava Jungkook, que só sabia reclamar de eu ter ficado de fora das tarefas.  Eu estava me sentindo diferente, talvez fosse o resfriado que havia me deixado sem saco para nada. No meio de uma história do tio Jaebum sobre seus velhos tempos, senti meu celular vibrar.

›Desconhecido: Boa noite, amigo, já se alimentou? Aqui é o Sr. Park.

— Aí, nesse dia Namjoon tinha uma batalha importante no campus da faculdade e não pode dar carona para o Jinnie. — Tio JB ria antes mesmo da parte engraçada chegar.

— Não, eu tinha uma prova importante, essa batalha foi à noite. — Appa o corrigiu.

Ignorei o falatório, ou meu irmão que não parava de roubar salada do meu prato, e decidi responder.

‹Eu: Olá, Sr. Park, estou jantando com minha família e o senhor?

Salvei o número e esperei, tio JB continuava a falar e o tio Jack complementava sempre, claro, adicionando besteiras toda vez que podia.

›Park: Sozinho, como sempre, mas diga... sobre o falam?

‹Eu: Coisas banais, tudo que eu quero agora é ter um momento só para mim. Acho que não é tão ruim ficar sozinho como o senhor diz heehehe

›Park: Para você ficar só basta se retirar da mesa. Você não precisa manter a cara de paisagem para agradar sua família, faça o que vier em sua mente, garoto.

Olhei em volta, todos estavam interagindo entre si, Bambam competia com Taehyung sobre quem comia mais rápido, Jungkook admirava tio Jack toda vez que ele contava sobre seus tempos de faculdade. Meus padrinhos pareciam estar em uma bolha e o restante conversava de maneira animada.

Por que eu não estou conversando também? Por que a gripe me deixou tão lento? Por que as palavras do Sr. Park me faziam tanto sentido?

‹Eu: Obrigado, boa noite. ;)

›Park: Boa noite, criança.

— Kim Jimin, largue o celular, estamos à mesa! — Papai Jin me repreendeu e todos ficaram em silêncio.

— Com licença. — Pedi a todos e me levantei.

— Jimin, seu pai está falando com você. — Appa Joonie ralhou. — Não lhe demos educação?

— É, esse folgado. — Kookie sorriu, pois sabia que eu levaria um sermão por não ter sido educado.

Não importa quantos anos eu tenha, sempre que eu falhar em algo que meus pais tenham me ensinado, eu vou ser chamado a atenção. Olhei feio para meu irmão, para que ele saiba que não estou no momento de gracinhas, e vejo seu olhar, antes divertido, se tornar desanimado.

— Desculpe, eu só estou me sentindo um pouco mal, minha cabeça dói e me sinto fraco. —Minto, meu pai Jin arregala os olhos, com certeza imaginando mil doenças possíveis.— Boa noite, família, vejo vocês amanhã.

Caminhei para a escada, pois ninguém falou mais nada. Assim que entrei no corredor, suspirei aliviado por estar sozinho, finalmente.

Até que o Sr. Park teve uma ideia boa, amanhã direi a ele que funcionou. Antes de eu abrir a porta do quarto, sinto uma mão em meus ombros.

— Minnie-hyung. — Era Jungkook. — Você está bem?

— Tô. — Respirei fundo, eu só queria descansar. — Quer alguma coisa?

— Não, e-eu só vim até aqui para saber se você está bem. — Sorriu. — Desculpe se falei alguma coisa errada...

— Tá, Kookie, amanhã a gente se fala. — Entrei no quarto.

— Mas eu nem terminei...

— Boa noite, Coelho. — Soprei um beijo e fechei a porta.

Silêncio. Ótimo. Isso!

Respiro com calma e deitei na cama, não ouvia vozes, ou risadas histéricas, somente o som dos grilos e dos pássaros noturnos. Até que não foi uma má ideia, eu preciso ouvir o Sr. Park mais vezes.


Notas Finais


#fighting


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