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História Harpia - XI - Visitas


Escrita por: monecasssa

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 11 - XI - Visitas


Narrador

   - Graças aos deuses chegou bem, Luna! - exclamou Gianni ao ver a filha adentrando pelas portas; sua tranquilidade, porém durara pouco, quando reparou nos olhos vermelhos dela. - O que aconteceu, amor? Esteve chorando!

   - Nada, mãe.

   A harpia seguiu o caminho para o quarto, cabisbaixa e controlando sua mente; seu estado letárgico deixara a mais velha aflita, mas ainda assim a plebéia respeitou, não insistindo. Luna voltara sã e salva, sendo o mais importante por hora.

    A moça deixou os vestidos úmidos sobre a mesa e tirou a capa e as roupas interiores, vestindo algo mais quente. A seguir se jogou nos mantos, enrolando-se o mais que podia para ficar aquecida; mesmo que tentasse era impossível tirá-lo de sua mente. Argh, mas que cretino! Para de invadir os meus pensamentos!

   E, imersa nas lembranças intensas dessa tarde, a menina permaneceu assim por semanas.

*

   -- Luna! -- Gianni gritou. -- Tem alguém aqui que quer te ver!

   -- Só espero não ser... -- paralisou ao descer as escadas enquanto um gigante sorriso desenhava seus lábios. -- Pietro?!

   O germânico sorriu em troca, abrindo os braços para a mais nova que saltou para cima dele.

   -- Eh lá! Eu sei que sou inesquecível mas segura seu entusiamo aí! -- ele brincou, ganhando um cascudo da mesma. -- Ai! Sua bruta!

   -- Seu idiota, não me veio visitar durante todo o verão! -- ela se se afastou, mudando drasticamente a face feliz para uma raivosa. -- Agora que está frio e chuva você decide me ver? Que espécie de melhor amigo é você? -- cruzou os braços.

   Nesse momento Gianni passou pela sala, murmurando um "boa sorte" para o homem que considerava um filho. Pietro sorriu sem graça,  encarando a amiga zangada.

   -- Luna...

   -- Sem Luna. Pode dar meia volta, pegar seu cavalinho e ir embora. -- a jovem deu de costas, continuando a farsa.

   -- Ah? Sério isso? -- ele deu um passo em frente, pousando as mãos no ombro dela. -- Eu vim de tão longe ver a minha melhor amiga...! Peguei chuva, me sujei na lama... Tudo isso para ver uma morena fantástica... -- o loiro fungou o nariz. -- É uma pena...

   A romana não aguentou segurar a gargalhada quando se virou para ele, que também sorria.

   -- Mas é exagerado mesmo! -- ela pegou sua mão -- Vamos lá para cima, com essa chuva nem dá para sair.

   Já no quarto, ambos sorriam animados, tirando um com a cara do outro, relembrando as idiotices que faziam ainda pequenos, como da vez que trocaram os cavalos de toda a aldeia ou da vez que inventaram ter um monstro na floresta, fazendo com que os homens fossem até lá com archotes e lanças para matar o tal monstro, que afinal era só um gato selvagem.

   -- Fizemos tanta merda quando éramos crianças... -- Pietro concluiu, ao acalmar-se dos risos.

   -- Verdade... Mas e você, como está sendo sua vida?

   Ele suspirou.

   -- Posso dizer que estou bem feliz. Apesar de você e Loretta terem contribuído para todas as coisas boas da minha infância, a minha esposa tem sido algo que eu nunca jurei ser possível. -- ele lembrou da bela loira contente. -- Ela é bem compreensiva e, mesmo o nosso casamento ter sido por pura conveniência, acho que nós estamos conseguindo tirar proveito. Eu não posso afirmar que a amo, mas tenho um grande carinho por ela...

   -- Ainda bem que pelo menos está feliz.

   O homem concordou. - Agora me explica esse anel de ferro no seu dedo. -- piscou um olho. -- Finalmente deixou algum homem com intenções chegar perto de você?

   Luna sorriu nervosa, lembrando-se do soldado misterioso com aqueles olhos cheios de intenções que ela não sabia identificar.

   -- Na verdade, -- enviou as lembranças para o fundo de sua mente. -- Estou noiva a mandato de Martino. Ele selecionou alguns homens, e o que eu gostei também gostou de mim. Ele é grego.

   -- Grego?! Você vai para...?

   -- Não! -- negou -- Ele vai comprar uma domus*(casa típica romana) aqui na Itália.

   -- Comprar uma domus? -- Pietro ficou surpreendido. -- Isso tudo por você?

   -- Sim. Ele tem muito dinheiro e quando conversamos, o meu noivo sentiu que eu não queria ir para muito longe dos meus pais, então disse que essa seria uma alternativa. Mas eu não me importo, ao menos é aqui na Itália.

   -- Uau! Esse homem é dos meus. -- a jovem deixou uma pequena gargalhada escapar; porém a voz de Pietro ficou um pouco mais séria. -- Você sabe que me preocupo com você, então não me esconda se ele te tratar mal.

   -- Acho isso impossível. Fahran é uma pessoa que tem os mesmos gostos que eu. -- ela falou, mencionando o fato do grego se apaixonar por homens. - Acho que somos mais amigos do que propriamente noivos.

   - Uhm... - o germânico estreitou os olhos. - Não vai me trocar, hein? Eu é que tenho o cargo de melhor amigo.

   Luna revirou os olhos.

   - Fahran é apenas um amigo, e mesmo que eu quisesse torná-lo algo mais, seríamos apenas bons amigos...

   Pietro a encarou com atenção, lendo todas as expressões que a garota transparecia, inclusive o olhar opaco ao falar de seu futuro marido. Era certo que havia alguma coisa a mais que a morena não havia dito, finalmente ela se permitira sentir atraída por alguém, mas quem seria?

   - Conta.

   - Contar o quê?

   - Não me faça de idiota, Luna. Quem é ele?

   - Ah? - a harpia não estava entendendo mais nada. - Ficou maluco, Pietro? Ele quem?

   - O homem que você quer.

   Ela não respondeu. Suas bochechas ganharam uma cor rosada, depois avermelhada e, ao fim de alguns segundos, a cara da menina estava como um pimentão.

   - E-Eu não quero nenhum homem! - se levantou, indo para a janela. - Você deve ter bebido xixi de cavalo para dizer umas coisas dessas!

   - Jura mesmo, melhor amiga? - se levantou também, ficando ao lado da envergonhada que não respondeu. Ao invés disso, respirou fundo fechando os olhos.

   - Eu não queria falar sobre isso mas parece que vou explodir por causa dele.

   - Você o ama?

   - Não! - Luna disse muito alto, assustando o loiro.

   - Eh lá! Não precisa me matar do coração, criatura!

   - Você bem que merece, Pietro Sualk. - a morena decidiu encerrar de vez o assunto. - Vamos descer, Gianni deve ter preparado um lanche para nós.

   Ele concordou, seguindo-a pelas escadas.

   - Então, meninos? Colocaram o papo todo em dia?

   - Sim, mama. Agora estamos com fome.

   A plebéia mais velha retirou um pão acabado de assar do forno e o colocou sobre a mesa para esfriar, pegando também em dois cálices com meia porção de vinho e água; de seguida, tirou dois pedaços de bolo de milho, enfeitando toda a mesa.

   - Será que chega de comida ou ponho mais? - ela perguntou baixinho, mas isso não escapou aos ouvidos dos mais jovens.

   - É melhor pôr mais, tia Gianni. Com o tamanho da barriga de Luna, acho que nem vai sobrar as migalhas para mim!

   Pietro só teve tempo de se desviar de um jarro de bronze que voou em sua direção.

   - Palerma. - esbravejou Luna, notavelmente irritada enquanto mordia um pedaço do bolo.

*

   Perla não conseguia manter a calma enquanto andava de um lado para o outro na sua casa. Finalmente, depois de 18 anos ela tocara em sua filha, na bebê que não pôde cuidar por medo de ser morta devido a feitiçaria nela envolvida. Como sua harpia estava grande! Uma linda mulher segura de si e com uma personalidade incrivelmente forte mas ainda assim fria e desinteressada... Mas essas não seriam as características daquele maldito feiticeiro?

   Como os olhos dele eram gelados, tão gelados quanto os da moça. Perla vira nos olhos castanhos escuros da mais nova que ela lhe reconhecera; contudo seria impossível não reconhecê-la: Luna tinha perdoado a pessoa que a transformara, mas sua mãe... Sua mãe fora a única culpada de tudo. Sua mãe entregou parte da alma da filha a um desconhecido. Quem faria isso?!

   Tanto a mais nova como a mais velha se puniam: uma por arrependimento e outra por se deixar levar pela emoção forte do ódio. Haveria maior perda de tempo do que essa?

   A harpia terminou de amassar a pasta de centeio e a pôs no forno, de seguida, procurou Gianni.

   - Mãe, estou indo para a floresta agora.

   - Já? Ainda falta para o sol se pôr e está muito frio, Luna.

   - Eu preciso pensar um pouco e o frio não me incomoda. Aliás, sinto como se o frio gélido me revigorasse.

   A esposa de Martino apenas suspirou, concordando. Ao ver sua menina desaparecer por detrás das árvores, a mesma sorriu tristonha.

   - Você está sofrendo tanto nesses últimos dias, filha... Pergunto-me se haverá alguma coisa que te machuca. – respirando fundo mais uma vez, a mulher entrou na casa, terminando os preparativos do jantar de seu marido.

   Enquanto isso, a amaldiçoada caminhava tranquilamente pela floresta, seguindo um velho trilho e sentindo toda a natureza ao seu redor. As flores eram inexistentes e os esquilos escondiam-se nos ocos das árvores; era raro ver passarinhos e o cheiro da mata úmida invadia suas narinas: era maravilhoso como o inverno transformava toda a floresta, tornando tudo muito mágico.

   - Por falar em mágico... - ela parou ao avistar os grandes caules das sequoias. - Eu sou parte da magia, então posso ver onde isso vai chegar, certo?

   Animada, caminhou para o meio das três grandes árvores com seus olhos fixos no céu cheio de nuvens escuras de chuva. O pequeno coração palpitava angustiadamente no peito da pequena, que nem assim hesitou quando sentiu a luz esverdeada ao seu redor. Ao fim de segundos, o corpo começou a ser elevado tal como da outra vez, só que agora, a altura a que estava era bem maior de que os 30 metros. Se ela caisse dali...

   - Luna... - uma voz baixa e fantasmagórica ecoou, acabando com os pensamentos aventureiros. - Luna...

   Assustada e ainda mantida no ar, a garota tremeu e temeu.

   - Q-Quem está falando?!

   - Finalmente você irá descobrir... Luna...

   - Descobrir o quê? Mas o que está acontecendo?! Quem está falando?

   A magia de harpia se manifestou na romana, que fechou os olhos com força ao se lembrar que depois disso cairia da elevada altura a que estava, mas dessa vez, nada aconteceu, nem mesmo a menina se transformou, apesar de sentir a maldição em seu corpo humano.

   - Chegou a hora...!

   Nesse mesmo instante, um relâmpago cortou os céus, assustando a curiosa que imediatamente sentiu seu corpo cair em queda livre. Eu vou morrer...! Ela lamentava enquanto mantinha os olhos fechados, esperando sentir o impacto da dor, mas tudo o que sentiu após poucos segundos foi a maciez de algo que a amparou.

   O que é... isso?

   Abriu os olhos, vendo um local grande e aberto, como se fosse o céu. O chão era branco e fofo como as nuvens, tornando-se firme após a queda; o redor estava vazio, mas iluminado como se ela estivesse mesmo sobre nuvens primaveris. Mas... onde estou?

   A harpia se levantou, forçando a vista mas uma forte dor de cabeça a atacou, fazendo com que a moça caísse de joelhos no chão enevoado e macio. Suas mãos se emaranharam com força nos fios castanhos destrançados à medida que ela se curvava sobre si, ouvindo vozes chamando seu nome e a imagem de Perla em sua mente, segurando um pequeno recém-nascido com grandes olhos castanhos claros.

   Pobre criança... Seu pai nunca lhe amará... Muito menos eu!  - a mulher falava para a bebê. - Se o feiticeiro apenas te transformasse em algo melhor... Mas é tarde demais. - a recém-nascida chorou quando foi jogada e batida com grande impacto numa das lixeiras do império - Criança patética... Ainda bem que vai morrer logo cedo e não precisará mendigar... Quem ajudaria tal aberração? Quem se importaria com essa tentativa de aborto?

    O assobio do vento e o silêncio de morte emoldurou o local deserto, dando mais terror às visões que mais pareciam pesadelos.

   - Para! - Luna apertava sua cabeça. - Para de me mostrar isso, por favor! Eu não quero saber! Para! - gritou aflita.

   Mas a imagem mudou: agora era Gianni, que parecia mais nova, envolvida em farrapos de panos dentro de um pequeno casebre de madeira, tendo uma ave deitada no colo.

   Você é um anjinho, Luna... Alis volat propriis*(voe com suas próprias asas).

   - Eu... Não... - a morena sentiu uma forte pontada em sua cabeça ao mesmo tempo que perdia totalmente os sentidos.

   Ao senti-la desacordada, Filippo deixou um sibilo raivoso escapar de seus lábios, se teletransportando magicamente até onde a m«outra metade de sua alma estava, contudo ficou perplexo pelo facto da sua magia tê-lo levado aos arredores do santuário. Sua mente se encheu com uma única pergunta: como ela conseguira subir ao outro mundo?

   O homem abaixou-se, verificando a respiração calma da desmaiada, enquanto isso, a imagem de Saar apareceu em sua frente.

   - Ora, ora... A humana se manteve viva... - cruzou os ombros, indiferente - É uma pena não ter morrido com o choque de lembranças dolorosas e mentiras fatais que eu a fiz ver... - a mulher inclinou o rosto ao observar o bonito homem curvado para pegar Luna ao colo. - E pelos vistos ela é bem importante para você, amor.

   - Deixe-a em paz.

   A maga fingiu desinteresse, analisando suas unhas; enquanto isso, Filippo deu de costas, caminhando dois passos ao mesmo tempo que desaparecia com a plebéia em seus braços. Como ela conseguira atravessar a barreira dos dois universos era um mistério... Seria possível Luna ser...?

   - Se ela for quem eu desconfio, - a voz feminina de Saar se ouviu em sua mente mesmo que ele já não estivesse perante ela - Não me peça para deixá-la em paz. Eu própria a matarei, Kain.


Notas Finais


Até o próximo. Beijinhos!


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