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História Harpia - XIII - Dragões e Mistério


Escrita por: monecasssa

Notas do Autor


Boa leitura, amorzinhos!

Capítulo 13 - XIII - Dragões e Mistério


Fanfic / Fanfiction Harpia - XIII - Dragões e Mistério

Narrador

   Os raios solares despontavam ao longe. Numa certa domus *(casa típica romana) afastada da confusão de ruelas e estreitas avenidas, a jovem romana se espreguiçava subtilmente num leito luxuoso que não lhe pertencia. Seus cabelos compridos formavam uma grande nuvem sobre os travesseiros macios de penas caras, seu corpo aquecido debaixo de uma pomposa manta bordada com lã, e o cheiro de laranjas e romãs invadiam suas narinas.

   - Mama acordou cedo para colher frutas... - ela murmurou, remexendo na cama até abrir os olhos.

   À primeira vista, Luna se assustou, sentando rapidamente na cama ornamentada e buscando em sua mente onde estaria. Então, lembranças do fim do dia e noite anterior invadiram sua cabeça: em todas elas a magia e o mágico estavam incluídos. Desde o momento em que esteve no meio das grande árvores e o momento em que esteve num lugar completamente estranho até à conversa com o capitanum e de ter pedido a ele que lhe fizesse companhia.

   Felizmente ele não passara a noite dormindo ao lado dela, pelo menos ela não sabia que Filippo realmente tirou um sono compartilhando o leito com a sua criança. Contudo, ele fizera bem em se levantar antes que ela despertasse, o homem não queria nem imaginar a histeria da harpia quando visse que dormira ao lado de um homem, estando noiva de alguém.

   Mas não precisava o mago ter se levantado antes, Luna já estava utilizando as poucas horas da manhã para enlouquecer.

   - Ai, céus! O que eu fiz? Eu estou noiva de Fahran...! O que irão dizer de mim se me virem sair pela manhã e com a mesma túnica de ontem da casa de um homem? - ela se levantou, caminhando para o jarro de água fria. Com as mãos em forma de concha, jogou um pouco do líquido cristalino em seu rosto e isso ajudou-a a despertar; de seguida, agarrou numa toalha ali ao lado e secou a pele molhada, mas, ao encostar o tecido em sua face, sentiu o cheiro do dono da casa. - Eu estou perdendo a minha sanidade! Eu estou perdendo a consciência! Eu estou ficando completamente lunática e para piorar... - ela cheirou a toalha, mais uma vez, totalmente inebriada. - Esse perigoso homem está sempre e constantemente invadindo a minha mente!

   A mais jovem colocou o pano no lugar e, antes de sair dali, afundou a cara no jarro de água gelada. Depois de quase trinta segundos sem respirar, Luna levantou o rosto, fazendo questão de enxugar com a roupa e não com o tecido infestado do perfume audacioso dele.

   O sol ainda estava baixinho, de maneira que apenas seus raios invadiam os céus italianos. Ainda era muito cedo, no entanto, a jovem precisava sair dali. Agarrou numa laranja que estava em cima da bandeja na mesinha de cabeceira e espreitou pela janela: a altura não era muito alta.

   A menina passou a grade de ferro e pulou os quase cinco metros, aterrando bem sobre um amontoado de feno e palhas.

   - Argh! Ao menos não machuquei. - deixou escapar enquanto cobria o rosto com o capuz. A seguir, correu em direção ao trilho principal, tirando farpas de feno grudados no vestido e no cabelo.

   Filippo desconfiava que não iria encontrar a amaldiçoada quando chegasse a casa, mas ele não se importava com isso. Na verdade, estava bem mais preocupado com o que iria descobrir sobre a entrada da garota na dimensão mágica.

   O certo é que se os sete Dragões Celtas, os guardiões da dimensão mágica, permitiram a entrada da criança, então havia algum motivo e ele precisava saber o porquê; se Saar estivesse certa, Luna teria de ser morta ou então... Eu terei que mantê-la escondida e a salvo.

   - Kaïn. - a voz petrificante e falha do Dragão Verde ecoou no grande salão do palácio dos guardiões. Filippo estava lá, levitando como se estivesse sentado no meio do salão. Seus olhos estavam fechados. - Quanto tempo eu não te vejo por aqui.

   - Mestre Verde. - respondeu. - Senhor e Guardião do Reino Animal.

   - Você fortaleceu muito desde a última vez que aqui esteve. - o dragão respondeu, surgindo aos poucos por detrás do nevoeiro. Sua voz era capaz de petrificar qualquer mero mortal. – Eu consigo sentir a fragância do seu poder.

   - Devo todo o meu poder ao senhor.

   O dragão de cor esverdeada, ágil e longuilíneo, de asas pequenas e escamas finas, deu uma volta ao corpo de Filippo que se tornava pequeno na presença de seu mestre. - Você quer saber como a humana conseguiu passar os primeiros portões desse mundo, estou certo?

   - Sim, mestre. - o feiticeiro abriu os olhos. - Eu não consigo entender como ela foi erguida pelas grandes árvores. Na primeira vez ela não conseguiu entrar e por pouco morria, mas dessa vez eu senti algo de errado e me teletransportei. Fiquei perplexo quando a vi desmaiada aqui. Seria possível ela ser...?

   - O mistério do Dragão Branco não foi decifrado, ainda. Essa humana tem algo mais do que simplesmente o espírito humano e isso poderá causar um reboliço nesse mundo. Mas foi você que contribuiu para que isso acontecesse depois de a ter trazido para a magia.

   - Eu não me arrependo de ter roubado aquela alma pura. Ela me fortifica, aumenta os meus poderes e... - Filippo abanou a cabeça, afastando os pensamentos sentimentais que, de repente, invadiram sua mente. - Eu só quero saber como ela pôde entrar aqui.

   O mestre elevou uma das inexistentes sombrancelhas, fazendo uma pequena careta, mas ignorou o fato de seu aluno e filho estar intimamente interessado por uma pessoa.

   - A jovem tem o acesso autorizado a este mundo por causa do Selo Branco. Suas suspeitas podem estar certas mas também podem estar erradas. Tenha fé no seu julgamento, filho.

  A mente do feiticeiro se acendeu, afinal havia possibilidade de Luna ser o que mais temia. Se ela fosse realmente... Que futuro reservava àquela romana já tão amargurada pela vida? Mas... Como ela poderia ter alguma coisa mística sendo que seus pais biológicos eram dois humanos? Afinal, o que ela poderia ser?

   - Não gaste toda a sua energia agora. Eu te ajudarei, Kaïn. Ou devo dizer, Filippo?

   - Kaïn, senhor. Filippo é o nome que escolhi para a minha farsa durante esses anos.

   O ser mitológico atemorizante olhou atentamente para o mago e então começou a desaparecer gradualmente na mesma medida que surgiu aos olhos azuis do capitanum.

   - Confie na sua fé, filho. Confie na sua fé.

   E então, desapareceu de vez.

   - Confiar na minha fé... - ele novamente fechou os olhos, elevando o seu espírito aos ancestrais, porém foi interrompido quando se sentiu observado. Sem fechar os olhos, falou. - O que quer, Saar? - a mulher alta e cheia de curvas sensuais, vestida num kimono oriental, olhou para o homem de olhos incrivelmente azuis. O sorriso desenhou seus lábios vermelhos num convite, mas isso só rendeu mais desprezo dele. - Fale logo! Não vê que estou ocupado?

   - Hum, vejo sim. Mas... - ela começou a levitar. - Conseguiu respostas sobre a sua namoradinha? Ela é ou não uma ameaça?

   - Luna não é nada para mim. - Filippo, ou Kaïn, abriu os olhos, desligou a ligação espiritual com os ancestrais e desceu até o chão do salão verde. O nevoeiro mágico já se tinha esvanescido, o que queria dizer que o mestre estava bem longe de toda aquela cena. - Respondendo à sua pergunta: não, não consegui respostas. Mas irei desvendar isso.

   - Aposto que você acha que tem a ver com algum mago qualquer que reencarnou no corpo da infeliz. Ou então, - ela verificou suas compridas unhas pretas. - A querida Luna pode ter a ver com o Dragão Branco...

   Filippo se irritou. - O que quer dizer com isso?

   Saar deu pequenos passos até ele, enroscando seus braços ao redor do pescoço maculino. - O que quero dizer é que somente o Selo Branco dá autorização para entrar nessa dimensão, e quem é o guardião do selo mais importante para os magos...? Hum? Quem é?

   - Dragão Branco. - o feiticeiro sussurrou, sentindo beijos molhados no seu pescoço.

   Nisso a maga vermelha poderia ter razão, no entanto só confirmava ainda mais suas suspeitas. A história do Dragão Branco era muito mais complexa do qualquer história dos outros seis dragões guardiões. Ele havia sido visto como uma ameaça por ter alcançado o ponto mais elevado de energia, e, como precaução, os dragões antigos decidiram o seu exílio. O único lugar que ele achou onde não era regido por seus irmãos dragões era a Lua, e para lá foi, apenas com a companhia de seus pensamentos.

   Atormentado pela saudade, ele enlouqueceu e, nessa loucura sem fim, adquiriu o poder de tornar-se incandescente, alucinando de dor, saudade e revolta. Afinal ele conheceu o desprezo da própria família, o preconceito e o medo... Os mares azuis já não estavam ao alcance dos seus olhos, nem as verdes florestas, muito menos as calorosas lavas vulcânicas... Somente a solidão e o silêncio.

   Um dia, Cibele, a Deusa da Terra e da Lua, compadecida da dor nefasta do ser mitológico, resolveu enxugar as lágrimas do Dragão Branco, passando a encontrá-lo e cantar melodias de amor. Ela ensinou-lhe o auto-controle e a meditação. Isso o tornou mais centrado e mais perito... Até que conseguiu se harmomizar com maestria com todos os outros elementos. Desenvolveu então a tonalidade prateada reluzente, semelhante a da própria Lua. E após ele se ter tornado um mestre, Cibele deu-lhe filhos.

   Sempre que a deusa fosse ofendida, ele iria à Terra defender a honra da mulher que o salvou. Em ocasiões tão particulares como essas, o mestre branco perdia o controle, ficando completamente irado e adquirindo o brilho incandescente em suas escamas.

   E era esse o ponto da história que deixava o feiticeiro de pernas bambas. Se houvesse a hipótese de que sua criança fosse alguma forma de perturbar a paz mágica ou de ofender Cibele... O caos estaria lançado.

   A boca atrevida da maga vermelha atrapalhou os pensamentos teóricos de Filippo com um beijo possessivo e quente. O homem logo acordou do breve transe e olhou para o rosto colado ao seu. Saar tinha seus olhos abertos, enquanto beijava provocadoramente o mago. Este a agarrou nos ombros e a afastou quase bruscamente.

   - Eu começo a perder a paciência com essas suas brincadeiras. Por acaso tenho que te lembrar que somos irmãos?!

   - Eu não me importo se a minha mestra se envolveu com o seu. Isso não me faz sua irmã biológica. Aliás, você sabe muito bem quais sãos as suas origens e eu sei quais são as minhas. - ela debateu, se afastando. - Ah, e não seria a primeira vez que eu cederia o meu corpo aos prazeres que você consegue dar, Kaïn.

   - Só porque eu partilhei prazeres com o seu corpo não significa que esteja obrigado a me refugiar nele quando você cobiça o meu, bruxa.

   Saar levantou uma sombrancelha com essas palavras, só que ela tinha uma garantia: se isso era por causa da humana, então a feiticeira havia ganhado algo para se divertir. E... Os deuses queiram que ela seja apenas humana porque se eu sonhar que tem alguma coisa a ver com o Mestre Branco...

   - Tudo bem. Você não quer e eu não vou insistir. - falou. - Apenas se mantenha lembrado que eu também estou interessada em saber como a humana entrou aqui, e já dei a minha palavra. Se ela for...

   - Já entendi. - Kaïn a cortou, impaciente. - Tire o maldito feitiço das visões que pôs a ela e vá para o seu palácio. De certeza a Dragonesa Vermelha quer a presença da filha.

   - Na verdade...

   - Vá embora, Saar!

   A mulher sorriu curtinho e desapareceu das vistas do mágico.

   - Como tudo isso atingiu essas proporções?! Se aquela criança não fosse tão curiosa nada disso teria acontecido. - com irritação transbordando pelo corpo esbelto, Filippo acabou por descontá-la no lustre de cristal que pendia do teto do salão, estilhaçando-o com o poder da mente. A chuva de pequenos vidros caíram sobre ele, mas isso não fez efeito nenhum na pele de alabastro. - Você me mandou confiar na minha fé, dragão de alface, e é isso que vou fazer. Mesmo que me custe a vida.

   Dito isso, usou sua magia, desaparecendo dali e surgindo nas traseiras do quartel romano, devidamente fardado. Segundos depois um dos soldados mais novos surgiu, visivelmente aflito.

   - Capitanum Filippo?! Andamos o dia todo à sua procura!

   - Salve, Matia. Porquê tanta ansiedade? Deu-se ao caso de surgirem novos problemas?

   - Venha, senhor. - o soldado mais novo pediu. - Essa complicação ultrapassa as leis científicas e entra no universo mágico. Pelo menos é o que uma mulher afirma firmemente.

   O capitão ergueu uma sombrancelha. Universo mágico?

   - Leve-me, Matia, mas conte-me: que mulher é essa?

   - O nome eu não sei. Sei que acusa uma puella *(jovem menina) de bruxaria. O nome da acusada é algo como Luna Frozzo.


Notas Finais


Até o próximo!


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