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História Harpia - XVII - Aparição


Escrita por: monecasssa

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 17 - XVII - Aparição


Narrador

   Filippo estava incrédulo com o que acabara de ouvir da jovem romana adormecida ao seu lado. A cabeça da menina se encontrava apoiada no colo do mago cujos pensamentos se distanciavam dali.

   Ela contara o sucedido em seu quarto, quando ouviu a estranha voz, quando foi transformada pela luz branca e quando se sentiu atraída pela lua. As suspeitas do feiticeiro aumentaram em cada palavra escutada e isso assombrava Filippo até o mais profundo pedaço da sua fragmentada alma. De certo que ele estaria confuso, mas muito mais Luna que nem ao menos sabia o que estava acontecendo consigo própria.

   - Eu preciso resolver isso hoje. - decidiu-se, levantando com cuidado e depois se curvando no chão para tomá-la ao colo.

   A pequena dormia profundamente e talvez o misterioso homem tinha usado alguma de suas magias para fazer a harpia descansar. Ela bem precisava.

   Sendo iluminado pelos primeiros raios solares da manhã, perfez o caminho até a nova casa dela em apenas um segundo graças ao seu tele-transporte. Em silêncio absoluto, deitou-a na cama e saiu. Contudo, estando no exterior da domus, sentiu a presença de alguém o observando e se virou para trás vendo o grego o encarando com os braços cruzados na frente do peito.

   - Bom dia,  Anthes.

   - Bom dia, Filippo. - Fahran falou sem rodeios. - Eu não vou me meter na sua vida nem da de minha esposa, apenas peço que cuide dela.

   O mago elevou uma sobrancelha, desconfiado. - Com toda a certeza sua mulher estará em segurança. Não é à toa que eu pertenço ao exército.

   - Como queira. Apenas cuide de Luna e não a machuque mais do que já está. Com você as coisas adquirem uma outra dimensão, não é mesmo?

   Fahran sorriu brando e deu de costas, adentrando em sua casa. Do lado de fora, Filippo ficou um pouco perplexo com o pequeno diálogo mas resolveu tirar isso a limpo mais tarde. Afinal, o aristocrata homossexual não pediu nada do que o feiticeiro não estivesse disposto em fazer.

   O de olhos azuis se afastou um pouco e então convocou os espíritos ancestrais, transladando-se para a dimensão mágica.

   Logo se encontrava no salão esverdeado a qual pertencia e não demorou quando o nevoeiro denso ocultou os limites daquele lugar. Em minutos, o enorme Dragão Verde surgiu, olhando com seus olhos penetrantes para aquele que seria seu filho.

   - Kaïn. - todo o salão estremeceu com a terrível voz mortal do ser lendário.

   - Mestre Verde e Senhor e Guardião do Reino Animal. - o soldado o venerou. - Por certo viu o que aconteceu com Luna. Poderei estar certo, senhor? Ela poderá ser...?

   - Filho... Eu bem sei o que aconteceu com essa humana. - respondeu pausadamente e ainda assim temível. - O chamado da lua e a magia branca... Só eles poderão te dar as respostas corretas.

   - Mas, mestre, o senhor é um dos ancestrais. Tem de saber disso!

   - O poder e sabedoria são cultivados, Kaïn. Você já tem o poder, agora vá ao encontro da sabedoria.

   O feiticeiro abanou negativamente a cabeça. Se recusava a aceitar a resposta vaga de seu mestre.   - Supondo que eu descubro que Luna não é simplesmente uma humana, quais chances de sobreviver ela teria?

   O dragão apenas fechou os olhos, voltando a desaparecer. Antes que o mesmo sumisse totalmente, falou ao mago:

   - Você encontraria maneira. Apenas confie na sua fé, filho.

   - Confiar na minha fé... - o de olhos azuis murmurou, notavelmente zangado. - Como vou confiar em algo que não faço a mínima ideia?

   Ainda frustrado, Filippo deixou o salão verde, caminhando pelo enorme palácio até sair do mesmo pelos portões principais que davam acesso ao jardim exterior.

   O mago seguiu em direção ao lago cristalino, passando com os pés pela borda da água gélida. Seus pensamentos agitados cogitavam maneiras possíveis para explicar a relação que Luna poderia ter com o Dragão-que-todos-temiam. Se ela fosse a reencarnação dele na terra ou pior, se fosse descendente direta, todo o poder do dragão estaria nas mãos da humana e ninguém a quereria viva com tamanho poder. De certo seria exilada, mas nenhum humano conseguiria viver fora da terra, então...

   - Eu não posso deixá-la morrer.

   - Quem está com os dias contados?

   O feiticeiro olhou para trás encontrando a dona da voz.

   - Dalilah.

   - Há quanto tempo não te via, Kaïn. - a maga azul falou, sorrindo calorosamente. - É uma pena que você só decide passear nos jardins dessa dimensão quando está com problemas. E acho que dessa vez não é diferente.

   O homem suspirou. - Você tem razão, como quase todas as vezes.

   A mulher se aproximou, ficando ao lado do amigo. Então ambos começaram a andar tranquilamente às margens do imenso lago.

   - Sabe que pode confiar em mim.

   - Sim, eu sei. E você sabe que é a única que eu confio.

   - O Mestre Verde poderá ficar triste com isso...

   - Aquela alface velha não ia se importar com isso. Afinal ele não me ajudou em nada quando fui procurar por respostas.

   - Talvez não as saiba.

   - Ele esteve no concelho dos dragões ancestrais para isolar o dragão-nervosinho. Com toda a certeza ele sabe.

   Dalilah fez uma careta confusa. - Esse dragão-nervosinho não seria o Branco? - o homem assentiu com a cabeça. - O que você quer saber sobre ele, Kaïn? Sabe que esse assunto é difícil de conversar...

   - Por isso mesmo. Estou intrigado com uma humana que tem alguma relação com o dragão-da-lua e eu preciso saber que relação é essa.

   - E você não pode simplesmente coagi-la a responder? Os humanos não são mais fortes que a magia.

   - Ela não sabe sobre isso.

   - Então entregue-a ao concelho para que eles saibam o que fazer a ela.

   - Não! Ninguém fica com ela!

   O mago se exaltou, assustando a companheira. Perante a atitude agressiva dele, a mulher aparentando sorriu, negando com a cabeça como se estivesse entendido tudo.

   - Ela é sua?

   - É.

   - Posso saber porquê?

   - Porque eu a amaldiçoei quando era um bebê e por isso quem a ligou ao mundo mágico fui eu. Roubei a alma daquela criança e ela ficou com a minha maldição. Acontece que ela consegue entrar nesse mundo sem ajuda dos magos e quem dá essa autorização é o Selo Branco. Como seria possível uma humana ter acesso ao selo mais importante para os magos sendo que...

   - Que apenas o Mestre Branco tem? - completou a dona de longos cabelos azulados. - Faça um pedido à deusa Cíbele, ela de certeza abrirá seu grande coração para explicar o que sabe. Talvez poderá mesmo te deixar falar com o dragão.

   - Não tenho tempo, Dalilah. Saar ameaça matar a humana e eu não irei permitir isso. - fez uma pausa curta. - E eu temo que Saar tenha em mente algo mais complexo do que uma simples morte.

   - O que ela ganharia com uma guerra?

   - A minha atenção.

   A mulher baixou-se para pegar uma pequena criatura parecida com uma tartaruga. O animalzinho estava com uma pata machucada, coisa que chamou atenção dela e a seguir de Filippo, que apenas tocou no casco da criatura e, usando sua magia do reino animal, sarou o bichinho.

   - Estaria disposto a enfrentar a maga do fogo?

   - Enfrentaria o mundo por aquela criança. - Dalilah olhou-o. Um sorriso gigante desenhou seus olhos. - Porque está sorrindo?

   - Ora, porque você está apaixonado!

   O moreno elevou uma sobrancelha, murmurando chateado. - Aham, estou tão apaixonado como você está embriagada.

   - Não esconda seus sentimentos de mim. Eu te conheço a mais de três séculos para reconhecer quando sente algo por uma mulher. - mas ele ignorou. - A última vez que se apaixonou foi pela pequena vizinha da sua tribo Celta. Ainda era um humano como todos os outros quando isso aconteceu. Por que vai mentir agora?

   - Dalilah, eu não estou apaixonado por Luna. Ela só me intriga e pronto.

   O homem foi sucinto em suas palavras. Suas lembranças fugiram para quando a viu no penhasco, nua, ou quando a viu acariciando o próprio corpo, chamando pelo nome do mago em pequenos e tímidos suplícios. Como ele queria juntar todas aquelas visões numa só!

   Contudo, antes de se afundar em deliciosos devaneios, sentiu um arrepio que congelava todo o seu corpo. De fato, o feiticeiro sentiu as veias e os nervos se enrijecendo com o frio que de repente lhe acometeu. Usando magia, Filippo se transformou num urso polar e imediatamente o arrepio gelado se dissipou.

   Ao olhar para a mulher, suspirou raivoso e voltou a tomar a forma humana.

   - Que gracinha foi essa? Achou divertido usar seu poder de água e congelar cada gota de água do meu corpo?!

   - Calma aí, ursinho. Eu só não queria que o meu amiguinho ficasse extasiado por se lembrar de uma jovem misteriosa.

   - Você é ridícula, Dalilah.

   E com isso, o feiticeiro abandonou o jardim, regressando à dimensão terrestre pelo portal mágico.

*

   Fahran faziam pequenos carinhos no cabelo solto de sua esposa. Ela era uma jovem mulher absolutamente encantadora que conseguira de uma maneira muito estranha conquistar o carinho e a amizade do grego. Na mente dele, perguntas que envolviam a pequena com Filippo Verdatti se acumulavam, ainda mais sabendo que o de olhos azuis tinha segredos dos quais Anthes conhecia.

   Ele sabia que o capitanum não era um humano comum; anos atrás Fahran se lembrava perfeitamente dos mesmos traços daquele rosto estar observando os soldados numa das províncias da Grécia. Ele sabia que Filippo conhecia os assuntos ocultos, aliás, o próprio Filippo era um assunto oculto.

   - Fahran?

   A voz rouca da menina o fez olhar para ela. Os olhos escuros piscando em confusão fez o loiro sorrir calmo.

   - Filippo te trouxe para casa. Você adormeceu onde quer que estiveram.

   Receosa, a menina se sentou na cama. As lembranças da noite passada a fizeram recordar, mas ao olhar para a face de seu marido, Luna temeu.

   - Eu juro que não fizemos nada ilícito! Só conversamos. Me perdoe! Eu...

   - Ei ei! - ele interrompeu o pequeno surto da morena. - Eu não me importo, a sério. Você não me deve fidelidade, Luna. Nós somos bons amigos e não verdadeiramente um casal. - fez um pausa, causando uma desconfiança nela.

   - O que aconteceu, Fahran?

   - Eu não vou mentir. - suspirou pesadamente. - Eu sei que Filippo Verdatti é um homem que domina artes mágicas e sei que o seu segredo tem a ver com isso. Portanto aquele homem só me ajuda ainda mais proteger-te.

   A garota moveu seu olhar para longe do aristocrata por alguns segundos, só que então a curiosidade não a deixou ficar calada.

   - Como sabe de Filippo?

   - Eu ainda era menino. - começou. - Minha antiga casa na Grécia dava acesso a um enorme campo; meus irmãos e eu gostávamos de ir para o campo brincar de soldados e de guerras. Numas dessas vezes, subimos uma colina para ver os treinamentos dos novatos e eu vi um homem observando os novos soldados por entre algumas árvores. O cabelo, o tom de pele, a altura, o rosto e principalmente os olhos azuis claros tenebrosos. Ele me viu encarando-o e então desapareceu da minha visão. Anos depois reencontrei aquele homem, mas agora ele estava como capitão do exército da província de Neapoli e embora as vestes sejam outras, a aparência física não mente.

   A harpia estava petrificada. Era mesmo possível que Filippo tivesse mantido todos os traços físicos desde a infância de Fahran? Ele tinha magia e podia recorrer a elas, mas então...? Quanto tempo de vida o mago teria?

   Ela se levantou, vendo o início da noite lá fora e se lembrando das palavras do misterioso quando ela mencionou que Verdatti pudesse ser uma criança no momento que a amaldiçoou. Passou a mão pelo rosto e se voltou ao marido. Depois de três noites como humana, a romana se esquecera que ainda não tinha se transformado em ave selvagem.

   - Ele poderia ser imortal?

   - Nada nesse mundo é imortal, Luna. Tudo tem um fim, apenas uns demoram mais que outros.

   A menina andou a passos largos e tomou as mãos do grego. Seus olhos encontraram os dele em busca de autorização para fazer o que quer que fosse.

   - Ele tem algo que me pertence. Filippo Verdatti tem a minha alma, Fahran, e eu acho que não só o meu segredo, mas também o meu futuro, estão nas mãos dele. - ela baixou a cabeça. - Me perdoe por não ser uma mulher normal digna de ser sua esposa.

   - Eu não tenho que te perdoar de nada. Você está me permitindo amar e ser amado da maneira como preciso e eu não posso estar mais grato que isso. - levantou o queixo dela, alcançando o olhar escuro e de certo modo poderoso. - Não peça autorização e vá procurar as respostas da sua vida.

   O homem sorriu e a puxou para um abraço. Luna sorriu transbordando felicidade, porém o Anthes suspirou, temendo que todo aquele mistério pudesse condenar a sua pequena esposa.

   - Obrigada. Eu estou em dívida com você. - ela falou e depois de se afastar, desceu as escadas. Com pressa, montou em seu cavalo e cavalgou por entre um atalho até parar em frente a grande casa isolada e mística. A fachada escura e a porta trancada a fizeram lembrar da última e única vez que ficara ali.

   - O lugar onde tive a primeira noite como humana. - deixou escapar.

   Descendo do animal, a jovem se aproximou da casa, não sentindo sua alma se completar.

   - Ótimo. Ele não está em casa. Tenho que me apressar.

   A recém-casada aproveitou a ausência dos escravos vigilantes e, com habilidade adquirida de subir árvores, escalou a árvore ao lado da casa, tendo cuidado para não cair.

   Segurando firme, a menina se apoiou no galho que dava acesso a uma varanda da casa e assim conseguiu pular e aterrar quase em silêncio na varanda.

   Luna deu uma última olhada para o exterior da construção e então entrou.

   Lá dentro se escutava os poucos servos conversando no andar debaixo, contudo ela foi rápida: procurou o quarto onde Filippo deixava suas anotações e retirou dois pergaminhos bastante estranhos e em símbolos que não fossem as letras latinas. A garota os guardou e correu novamente para a varanda do quarto por onde entrara. Logo ouviu vozes próximas de um dos escravos, pelo que rapidamente pulou para o galho da árvore, se mantendo lá por segundos até descer e voltar a montar no cavalo cinza.

   Com esses livros ela certamente descobriria mais sobre o feiticeiro. No entanto, mais frente do trilho, viu um vulto.

   A sombra mexia-se rapidamente, acompanhando a velocidade rápida que a menina ia.

   Temerosa, Luna forçou as selas do animal para que esse corresse mais depressa, porém, aparecendo de repente na frente da romana e do equino, a silhueta humana próxima fez o cavalo parar de repente. Assustado, o mamífero relinchou, levantando as patas dianteiras e fazendo com que a amaldiçoada se segurasse firmemente. Quando o bicho se acalmou com os afagos da dona, Luna ergueu o rosto na direção do corpo todo coberto com um manto preto.

   A surpresa fora enorme e a menina sentiu suas forças se esvaindo quando encontrou o par de olhos vermelhos flamejantes olhando em sua direção.

   A pessoa ergueu um sorriso cínico e mortal, fixando as esferas tão encarnadas quanto sangue na íris sombria da humana. Vendo-a tremendo de pavor, saudou, divertida.

   - Olá... Luna...


Notas Finais


Até o próximo!


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