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História Harpia - XVIII - Abrigo


Escrita por: monecasssa

Notas do Autor


Ressurgi das cinzas kkkk
Boa leitura!

Capítulo 18 - XVIII - Abrigo


Narrador

   - Olá... Luna.

   A voz feminina da dona dos olhos vermelhos enviou um arrepio intenso ao corpo da pequena assustada. A garota montada no cavalo tentou não se abater e mostrar valentia, mesmo sendo a última coisa que sentia naquele momento.

   - Quem é você e o que quer comigo?

   A mulher gargalhou, rolando suas esferas vermelhas.

   - Eu sou aquela que vai tornar seus pesadelos reais. E o que quero com você? Hum... - fingiu estar pensando - Com você nada mas de você sim, eu quero uma coisa de você. - fez uma curta pausa, alisando suas unhas compridas. A seguir elevou o olhar à harpia. - Quero a sua insignificante vida.

  Luna conseguiu esconder o espasmo de medo que seu corpo deu, porém não pôde controlar a forte dor de cabeça que lhe acometeu. Seu cérebro parecia que ia explodir e a temperatura do corpo feminino aumentava quase assombrosamente.

   A jovem perdeu momentaneamente o domínio de suas ações e se desiquilibrou, caindo do cavalo. Embora não ter se machucado, a menina permaneceu deitada e encolhida no chão, com as mãos enroscadas no couro cabeludo quente. Ela estava quente, febril, queimando em uma febre que começava por sua cabeça e aquecia descontroladamente todo o restante corpo. A noite terrivelmente escura no meio daquele trilho ladeado por altas árvores; a lua coberta por uma nuvem que atravessava os céus noturnos; o ruído do mar ao longe e o barulho das corujas nunca foram tão sombrios para a amaldiçoada.

   A maga do fogo se aproximou da caída, seu sorriso de lado aumentou ao ver a humana queridinha de Filippo tão indefesa e fraca.

   - Pensei que fosse mais forte que isso, humana miserável. -  falou e se baixou para esticar as mãos e tocar no rosto da menina, afim de aumentar a intensidade do calor. Afinal ela tinha o poder de controlar o fogo.

   Contudo, sem reparar que a nuvem saíra da frente da lua, o curto brilho do luar iluminou parcialmente os pés encolhidos da pequena, e quando as grandes unhas pretas e poderosas da maga tocaram o rosto juvenil, a mesma sentiu um intenso choque nas mãos, coisa que a fez retirar rapidamente as mãos da harpia.

   - Mas o quê?! - deixou escapar baixinho sem entender o que aconteceu.

   A garota elevou seu olhar ao da mulher estranha. Reunindo suas forças, Luna se sentou, ainda amassando o crânio com suas pequenas mãos.

   - Ainda consegue se esforçar? - a de olhos vermelhos perguntou, um pouco confusa. - É uma pena seu anjinho da guardar não estar aqui para salvar você.

   Novamente a estranha esticou as mãos, no entanto foi interrompida pela voz baixa, sombria e angustiada da vítima.

   - Não me toque.

   - O quê? Não ouvi muito bem...

   - Eu disse: Não. Me. Toque. - a garota repetiu.

   A mais velha sorriu cínica e esticou as garras negras, avançando para a harpia com diversão macabra. Os arranhados alongados formados pelas unhas compridas na bochecha da garota seriam o suficiente para fazer com que a cabeça da humana explodisse, porém algo inusitado aconteceu.

   O corpo de Luna começou a tremer, aumentando a intensidade das sacudidas. Os olhos escuros da menina ficaram completamente brancos e uma aura esbranquiçada a envolveu. Saar, a encarou perplexa e logo se ergueu, dando dois passos para trás.

   Ainda com toda a luz clara e com os olhos totalmente brancos, a garota pronunciou com uma voz desconhecida e tenebrosa.

   - Eu mandei não me tocar!

   E nesse momento a maga do fogo caiu por terra, apertando o peito pela súbita falta de ar.

   A intensa dor de cabeça da harpia foi desaparecendo contudo a menina tombou no chão, esgotada, e foi então que a maga do fogo obteve uma oportunidade para desaparecer tão magicamente como surgiu.

   - Filippo... Fahran... M-me ajudem...

   Por fim, o desmaio conduziu a recém-casada para um mundo vazio e silencioso, deixando apenas o corpo caído inerte no local escuro e vazio.

*

   Haviam se passados horas desde o incidente no trilho. Luna começara a recuperar seus sentidos após toda a confusão e calmamente abriu os olhos, sentindo o calor agradável do cômodo onde estava.

   Não é a minha casa.

   Concluiu ao varrer seus olhos pela decoração do quarto. A cama onde estava deitada também não se parecia nada com o leito que Fahran comprara. Afinal, que lugar seria aquele?

   Um movimento roubou sua atenção. A menina não reparou que, sentado numa cadeira de vime perto da lareira improvisada, alguém permanecia com os olhos fechados. Alguém não, ele.

   Filippo meditava e fortalecia sua magia enquanto esperava a transformada acordar. O dia lá fora estava acabando e a ausência de sinais verdes no corpo da garota o faziam questionar ainda mais as mudanças que Luna estaria sofrendo e a suposta possibilidade dela ser o ser mais poderoso da Terra e, talvez, da dimensão mágica.

   - Se sente bem?

   Ela se assustou perante a voz dele. O homem ergueu o olhar e esperou pela resposta.

   - Sim. - a harpia procurou a janela, vendo o céu em tons rosado -  Já está amanhecendo?

   - Não. - o mago se levantou, caminhando até a cama, e voltando a se sentar. - Está anoitecendo. - e ante a confusão dela, continuou. - Você desmaiou e ficou apagada durante a noite e o dia inteiro. Agora me conte o que aconteceu.

   - E Fahran? Ele sabe que estou aqui? Por Vênus, eu preciso avisá-lo! - aflita, tentou se levantar. O feiticeiro suspirou e com um rolar de olhos travou os movimentos dela.

   - Fahran sabe que está bem e comigo. - declarou. - Agora conte o que aconteceu.

   Ele lhe devolveu os movimentos e, buscando as recentes memórias, a romana relatou cada segundo de acontecimento com a estranha mulher de olhos vermelhos. A cada palavra Filippo se tencionava mais; Saar havia ultrapassado os limites, porém a maga do fogo parecia ter razão numa coisa: Luna era perigosa, um perigo inocente mas fatal. Não havia sombra de dúvidas da ligação que ela tinha com a lua, e essa ligação parecia se fortalecer cada vez mais. O feiticeiro não precisava mais oferecer noites humanas para a menina, pois o próprio reparou que a partir da última vez que a lua ficara cheia, a ela não tinha se convertido na maldição.

   Ele precisaria pedir para que sua única amiga, Dalilah, ficasse atenta nos acontecimentos dos reinos mágicos. Era certo que a mulher de olhos flamejantes fosse apresentar queixa no concelho ancestral e os dragões decidissem capturar a jovem poderosa. Mas isso...

   Isso eu nunca irei permitir.

   O moreno então se levantou, passando as mãos pelos cabelos negros. No entanto, a voz afeminada se ouviu novamente.

   - Onde estamos?

   - Num abrigo meu. Aqui ninguém nos encontrará, pois está dentro de uma bolha mágica. - saiu por momentos do quarto e voltou com uma bandeja cheia de frutas, um pedaço de pão, água e leite. Pousou-a no leito e se sentou outra vez. - Coma.

   - Eu não tenho fome.

   - Não perguntei se tinha fome. Mandei comer.

   - Você não manda em mim. - ela devolveu áspera, porém, vendo a expressão perigosamente ameaçadora dele, se encolheu.

   - Não me teste, criança. Eu ainda não esqueci que encontrei dois manuscritos meus junto de seu cavalo.

   Ela moveu o olhar para as frutas e agarrou num cacho de uvas, comendo-as. Ao acabar, colocou a bandeja na pequena mesinha que tinha ao lado da cama.

   - Eu só queria saber mais. - se defendeu baixinho.

   - E acha que os meus manuscritos tem o que quer saber?

   - Acho. Afinal, quem é você?

   - Um soldado renomado e capitão do exército na província de Nápoles.

   - Mentira. - falou, fazendo o mago elevar uma sobrancelha. - Você é um feiticeiro com anos e anos de vida. Como posso confiar numa criatura que eu nem conheço?

   - Fazer essa pergunta agora já não tem sentido nenhum. Você confia a sua vida nas minhas mãos e não precisou me conhecer para que clamasse pelo meu nome quando desmaiou.

   - Me conte então como se tornou tão poderoso, - pediu - apenas isso para acalmar a minha curiosidade.

   Ele sorriu de lado. - Não. Não peça nada porque fica ainda mais patética do que já é.

   O dono de íris azuis exóticas fez menção de se levantar, entretanto, pegando de surpresa, a transformada segurou o braço musculoso. Os olhos escuros sombrios se encontraram os dele. Filippo imediatamente sentiu sua pele formigar e as palavras da maga da água, Dalilah, borbulharam em sua mente.

   Com violência, ele sacudiu o braço e se levantou, obrigando a que a jovem o soltasse. Apesar da mensagem ter sido bem clara, Luna não queria desistir.

   A romana se levantou também,  ficando atrás do alto e estranho homem. Paciência nunca fora o forte do mago, pelo que se virou rapidamente e empurrou sua criança até encostar na parede, impedindo a mesma de escapar.

   - Porque ainda tenta? Você sabe que não vai conseguir nada de mim a não ser mais problemas!

   - Isso é mentira! - devolveu, decidida a enfrentá-lo. - Eu consegui sua proteção e o simples fato de estar aqui com você, longe do alcance daquela mulher é prova disso. Acho que você é que está fugindo, bruxo!

   Ele sorriu sem emoção.

   - Tem certeza que quer me enfrentar, criança?

   - Nunca tive tão mais certa quanto a isso.

   A noite havia caído e o luar entrava pela pequena janela do quarto. As candeias sobre a mesa iluminavam o local, mas, apesar de toda a luz, os olhos da romana permaneciam noturnos e lúgubres, desafiando o sujeito viril que a encarava com certo desafio no olhar.

   - Não brinque com fogo, Luna... - ele aproximou o rosto do dela, sentindo a respiração inusitadamente fria da harpia. - Pode acabar se queimando.

   - Pelo que eu pude observar, você tem poder para controlar a natureza e não o fogo como aquela mulher.

   - Garota esperta.

  Filippo aproximou seus lábios do pescoço da pequena desafiadora. Seus olhos de águia observaram os minúsculos pelos da pele da  amaldiçoada se eriçarem. Não haviam dúvidas que ela também o desejava. A lembrança dos suspiros femininos chamando por seu nome e o doce aroma da excitação dela fizeram o mago perder momentaneamente o controle de seu corpo, pois o mesmo atacou o pescoço da jovem num beijo molhado e urgente. O baixo ganido de surpresa dela alimentou ainda mais a ação deliciosamente sensual do mais velho. Uma das mãos masculinas subiram da cintura fina para um dos seios pequenos; a garota se lembrou das confissões de sua serva Milena e fechou os olhos, saboreando o toque firme e insano do homem.

   Deuses, como ela o queria! Como ele era viciante!

   Luna arqueou as costas, inconsciente de que esse ato fosse uma prova da necessidade que tinha do contato com o feiticeiro. Já ele, abandonou o pescoço e encaixou seus lábios nos lábios femininos entreabertos. A morena não hesitou em corresponder o beijo fervoroso de seu protetor. Ele a prensou mais na parede e ela sentiu a excitação masculina, e apesar de inocente, sabia muito bem o que aquilo significava.

    Demorou um tempo até que o capitanum deixasse sua boca e voltasse a beijar o pescoço, descendo para o colo arrepiado da pequena. Tímida, a harpia impediu que ele descesse mais, segurando a face masculina com as mãos porém o homem a ignorou, avançando mais devagar ainda.

   Vencida pelas reações do próprio corpo, se amparou nos ombros másculos, totalmente rendida. Os olhos apertados e o ventre contraindo mostraram claramente sua entrega ao soldado. Ele não só a beijava mas também a marcava numa demostração possessiva de que aquela mulher era sua.

   Sim, ela era sua. Todo aquele doce aroma de floresta selvagem lhe pertencia; o brilho do olhar meigo e inocente também era dele, bem como os pensamentos íntimos dela. Luna lhe pertencia de alma e agora de corpo, pois nada podia negar a ligação mais que sobrenatural entre os dois.

   Ora, você está apaixonado!

   Filippo se despertou com a lembrança do que Dalilah dissera no dia anterior. Não, isso não seria amor e sim desejo - o mago preferia acreditar que assim fosse, mesmo que não conseguisse encontrar a verdadeira resposta fa questão tão inusitada.

   Regressando ao pescoço moreno da jovem, ele fez mais uma marca ali e seguiu para o ouvido, sussurrando.

   - Garota esperta... Mas ingênua.

   Esforçando-se por não a tomar ali mesmo, o mago se afastou, deixando Luna confusa e quente, muito quente.

   - O que foi? - ela deu um passo em direção a ele. - O que te impede de continuar?

   Olhando uma vez mais para ela, o misterioso homem abandonou o quarto, mas quando a harpia o seguiu, já não haviam sinais da existência dele.

   A esposa de Fahran voltou para o leito onde estava, as lágrimas que tanto a acompanhavam apareceram e molharam o travesseiro confortável.

   Porquê tudo é tão confuso e difícil na minha vida!? Talvez se eu não existisse, nada disso tomaria essas proporções. 


Notas Finais


Partilhem a história, amores. :)
Até o próximo. <3


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