História Harpia - XX - Entrega e desejo

Narrador

   O céu lá fora era pintado em tons alaranjados e rosados, informando o fim do dia. As cidades se esvaziavam aos poucos e os trabalhadores e artesãos voltavam para os campos, onde normalmente moravam.

   Nas ruelas de pedra por entre os pequenos prédios e lugares escondidos, mulheres da vida tomavam seus postos. Suas roupas em cor de vinho, seus cabelos em tranças persas, a maquiagem forte e sedutora e sobretudo as jóias em seus braços e pescoços eram convidativos a muitos homens que procuravam prazer sem compromisso.

   Enquanto essas faziam seu trabalho, outras cuidavam da casa, das crianças e de seus maridos.

   A mãe de Luna, por exemplo, nesse exato momento terminava de preparar o caldo de galinha e batata que fizera para seu marido. Eles tinham saudades da filha e imaginavam que a pequena harpia estaria minimamente feliz...

   E não estavam errados.

   Em algum lugar do mundo, presos numa bolha mágica, Luna e Filippo se encaravam desafiadoramente após se afastarem de mais um beijo. A garota permanecia tímida e o homem hesitante. Ele poderia machucá-la, poderia feri-la de tantas outras maneiras... Pelos deuses, e se não conseguisse se controlar?

   Contudo, sentiu as duas mãos femininas em seu rosto. O mago se fixou naquelas esferas tão escuras e misteriosas dela, sentindo por aquele contato o quanto ela estava disposta a confiar nele e isso lhe deu coragem o suficiente para realizar seu desejo.

   - Eu não vou conseguir parar se começar... - avisou, beijando o pescoço da mais nova. - Se você não quiser...

   Ela fechou os olhos, sentindo a estranha sensação em seu baixo ventre, enquanto se entregava ao homem na sua frente.

   - Continue... - sussurrou.

   Ainda beijando e pele perfumada, o feiticeiro esboçou um pequeno sorriso e a virou de costas para si. A cama estava a centímetros dos dois, mas ambos não estavam com pressa... O desejo de ter um ao outro fora tantas vezes reprimido que agora que podiam se satisfazer tal como mereciam iriam aproveitar cada milésimo de segundo.

   Filippo a abraçou, de costas, e deslizou suas mãos pela cintura, barriga, braços, coxas... Tão calmamente e pacientemente ao mesmo tempo que ouvia a respiração descompassada da menina. O mago não conteve em subir as mãos, lentamente, até os pequenos seios da morena que tão prontamente se enrijeceu ao menor toque dele. Um tímido suspiro saiu dos lábios feminino, ao mesmo tempo que a garota pendia a cabeça para o lado, dando-lhe maior acesso à pele macia. Filippo não desperdiçou a chance de distribuir mais beijos e fazê-la desejar mais e mais.

   Para ele estava sendo diferente. Claro que o mago, em seus duzentos anos de vida, já tinha experimentado os prazeres carnais, mas não passava exatamente disso... De prazeres carnais. Mas ali, naquele momento, ele sentia sensações que nunca sentira antes... Se fosse outros tempos, Luna já estaria nua sobre o leito, gemendo e gritando para que o feiticeiro parasse por um tempo. No entanto, nada disso seria possível se não fosse por ela mudando o seu comportamento.

   - O que você está fazendo comigo, criança?

   Sussurrou ao ouvido da menina que arqueou o corpo, fazendo com que as mãos dele a apertasse um pouco.

   Virando-se, ela sorriu envergonhada. As pequenas mãos passaram pelo peito do homem, empurrando a túnica que escorria pelos ombros largos e pelos braços definidos do mesmo. Pequenas cicatrizes desenhavam a pele clara, fazendo a menor estar atraída e a se perguntar como ele conseguiu cada uma delas. Quando a parte superior da túnica masculina finalmente caiu, Luna demorou um tempo observando tamanha formosura que aquele ser possuía. Seu torso não era de um soldado e sim de um deus. Um deus grego, um deus romano, um deus persa, um deus egípcio... Não importava qual.

   A jovem, ainda alucinada com o corpo perfeito, retomou o foco ao ouvir a voz rouca.

   - Está gostando?

   - Você é perfeito... - ela murmurou, encontrando o par de íris exóticas. - E você sabe disso.

   - Sim, eu sei... - inclinou seu rosto, a observando corada e desejosa. - E você não acha que estamos em desvantagem?

   - Não.

   Reprimindo sua timidez, ela começou por beijar o peitoral esbelto, passeando com a ponta dos dedos pela pele muito clara à medida que suas carícias se tornavam cada vez mais eróticas e menos tímidas. A respiração do homem se alterou e suas mãos se entrelaçaram no cabelo escuro da harpia. Pequena inocente feiticeira...

   Ao vê-la totalmente absorta, se perdendo no corpo másculo, Filippo a puxou com delicadeza para cima, segurando o curto suspiro de excitação quando a menina umedeceu os lábios lentamente.

   - Está me enfeitiçando, criança? - ele quis saber, a empurrando para o leito confortável.

   - Eu queria conseguir.

   - E você está.

   Ambos se deitaram só que momentaneamente o medo deu lugar à excitação quando sentiu o peso dele sobre si. Sua expressão mudou de desejosa para apavorada e, por mais que o bruxo quisesse avançar e consumir logo essa vontade que ardia por querê-la, apenas saiu de cima, mantendo-se sentado, mas sem pôr o peso nas pernas dela.

   Suas mãos percorreram o caminho do joelho até a cintura, arrepiando por cima da túnica que ela ainda mantinha. Luna fechou os olhos a sentir a ponta dos dedos passando pelas suas coxas e depois pela barriga, subindo por entre os seios e parando no pescoço antes de refazer a trajetória para baixo.

   A garota só reparou que suas vestes tinham sido abertas quando um calafrio a atravessou. Surpresa, abriu os olhos, encontrando o misterioso homem debruçado sobre si, distribuindo beijos no ventre magro. Filippo tinha razão: ela era inocentemente bonita.

   Quando os beijos dele encontraram os pequenos seios, ela se contorceu e seus suspiros se tornaram pequenos gritinhos. A língua e mãos do mago a estimulavam com calma mas ainda assim com firmeza, rodeando os mamilos rosados já durinhos. Ela deixou escapar um pequeno gemido que despertou nele sensações tão quentes que o próprio desconhecia. Era algo completamente diferente das demais relações que teve, era algo puro, simples mas exageradamente prazeroso.

   Luna não controlava os suspiros; o conjunto dos dedos dele em sua pele e a habilidosa boca sugando sua anatomia feminina a faziam perder a noção da vida. Por causa do prazer no tão simples toque, ela se estremecia, remexendo e atrapalhando o mágico de continuar sua tortura, pelo que o homem a agarrou os pulsos acima da cabeça. Assim, pelo menos ela estaria mais controlada...

   A amaldiçoada não se importou, muito pelo contrário... Contornou suas pernas ao redor da cintura dele, ondulando seu corpo no corpo dele, acariciando-o e sentindo a excitação do capitão.

   Filippo tentou mas não pôde evitar o efeito que isso teve em si.

   - Luna...

   Ela não disse nada, apenas sorriu envergonhada. O soldado se ergueu e desfez os nós da única roupa que vestia. A garota umideceu os lábios ao contemplar a beleza exótica do homem, contudo suas feições se alarmaram quando finalmente o de magia verde retirou todas as suas vestimentas.

   Afinal, aquilo era errado. Luna Frozzo ou Luna Anthes era casada! Seu comportamento nesse momento era de uma prostituta e se alguém soubesse que, mesmo casada, se entregou a outro homem... O que a esperava era simplesmente o apedrejamento até a morte.

   O feiticeiro notou o medo repentino e passou a ponta de seus dedos no rosto delicado. - Não tenha medo do seu próprio desejo, criança... Eu não irei te forçar, mas saiba que irei te proteger. - Ela desviou o olhar, mas Filippo voltou a erguer o queixo. - Eu estou faminto por você, eu te quero de tal maneira que...

   A voz masculina morreu quando a íris azulada percorreu o corpo nu dela. Pelos deuses, o homem iria gozar antes mesmo de tocá-la!

   - Eu também. - ela sussurrou envergonhada. - Me faça sua, Filippo...

   - Você sempre foi minha.

   O moreno se posicionou entre as coxas firmes da menina que enroscou suas pernas à volta dele. Apesar da apreensão por se entregar a um homem, Luna confiava naquele que um dia a amaldiçoou, confiava de uma maneira cega e inocente; pois sabia que por mais agressivo que o bruxo pudesse ser, ela estaria em segurança com ele.

   Com extremo cuidado, o feiticeiro deslizou para o interior da menina. Os traços de dor o fez parar por alguns segundos antes de voltar a se empurrar na direção dela. Luna sentiu um enorme desconforto e apertou o leito para tentar esvair o incômodo. Por mais gentil que ele tivesse sido, Filippo era grande o suficiente para a pequena virgem e isso era sem dúvida doloroso.

   Os lábios dele tomaram os dela. O beijo quente serviu para que a dor latente se dissipasse e o mago pudesse se mover.

   Devagarosamente, os movimentos começaram a surgir e ao invés da dor, a expressão da harpia agora era de puro êxtase.

   Seus quadris se ergueram e as pernas em volta do homem o puxaram mais contra si. Sim, ele estava inteiramente dentro dela... Descobrindo cada milímetro de corpo jamais descoberto por alguém e isso era tão gostoso...

   Os gemidos dos dois eram melodia naquele quarto mágico. O tempo parecia ter parado e todas as preocupações sumiram simplesmente. Ali estava apenas um casal se amando isolados do mundo enquanto uma guerra onde o prêmio seria a cabeça de Luna era iniciada em algum lugar longe dali.

   - Filippo...

   A recém-casada sussurrou. A tortura estava quase difícil de controlar... O de magia verde esforçava-se ao máximo por dar a melhor primeira vez para a garota e ela, a qualquer momento, pensava que fosse desfalecer.

   O movimento de vai e vem ritmado era acompanhado da boca perita num dos seios ao mesmo tempo que o polegar circulava e pressionava o clitóris... Ela estava úmida e cada vez se tornava ainda mais quando a língua quente rodeava o mamilo rosado, sugando e lambendo... Era erótico, era insano mas era extremamente delicioso.

   Não demorou até que a onda do ápice atingisse os dois. Cada suspiro, cada palavra desconexa, cada som manhoso aumentou ainda mais a montanha de novas sensações. As magias finalmente tinham se reconhecido por completo e agora estavam mais fortes e interligadas.

   O homem sorriu satisfeito quando a garota se estremeceu, remexendo incontrolavelmente na cama e clamando alto por ele. O corpo dela se estilhaçou e segundos depois ele a sentiu relaxar. O rosto suado e vermelho, os gemidos da boca dela e o pequeno corpo sob si também foram responsáveis pelo prazer supremo do mago.

   O capitão desabou ao lado da menina. Ambas respirações permaneciam aceleradas enquanto eles se acalmavam durante os poucos minutos que se seguiram. A garota deitou-se sobre o peito forte dele e fechou os olhos, recordando de como havia experimentado o amor  pela primeira vez. Seu companheiro fazia carinho no cabelo ondulado e comprido, pensando em como um momento tão simples e curto com uma garota tão inexperiente fosse lhe dar o maior prazer de toda a sua vida!

   Outrora, só se satisfazia ao submeter uma mulher em posições diversas, fazendo coisas sujas de prostituta mas com ela... Foi tão pequeno mas tão grande ao mesmo tempo...

   - Você está bem? - quis saber. Afinal, ele estava ótimo.

   - Sim. -- murmurou sonolenta. - Eu... Eu amei cada segundo disso.

   - Eu também. - sorriu de lado, mas feliz. - Descanse um pouco, vamos precisar de mais energia para continuar.

   - C-Continuar? - ela ergueu um pouco para encará-lo.

   - Sim. Você ainda não controlou sua magia perfeitamente.

   - Ah! - ela corou. Certamente pensou em tudo menos no treinamento de como controlar o novo poder.

   Filippo se divertiu sentindo o coração da romana bombear ainda mais sangue para o rosto dourado pelo sol. Ele se mexeu um pouco e sussurrou: - Mas não é mal pensado gastar um pouco de energia com isso que está pensando...

   A garota nada disse mas mordeu os lábios, nervosa e divertida.

   É, não seria mal pensado.