Tom não sabia o que fazer.
Aquele sempre foi seu maior segredo, que nem Harry, nem mais ninguém poderia saber.
“Como Harry iria reagir? Acho que ele não deixaria de falar comigo, ele não é estúpido a esse ponto.”
Por mais que Tom falasse a si mesmo que achava que não iria acontecer, ele teme que isso aconteça. Na tentativa de fazer isso não doer, não o apavorar tanto, ele simplesmente ignora esse temor.
Não nega, ele sabe que tem, mas prefere esquece-lo. Ele quer ser imbatível, e saber que algo tão simples como Harry não falar mais com ele o abate tanto, o agonia. Não se envergonha, mas também não se conforma.
Ele simplesmente não entende bem o que deveria sentir, muito menos o que realmente sente. Afinal, é apenas uma criança inocente, que ainda não entende muito do mundo, e de si mesma.
Mas, agora que seu segredo foi revelado, ele vai ter que encarar seu temor.
Especial - Irmãos? Para sempre!
Naquele dia, quando tinha seus 9 anos, Tom voltava para casa após seu integral. Até o momento, tudo estava normal, como qualquer outro dia. Mas ao entrar em casa, e não ver sua mãe na sala vendo TV enquanto o esperava chegar em casa, ele percebeu que tinha algo errado.
As luzes estavam apagadas, somente a do quarto de Harry continuava acesa. Tom jogou sua mochila no chão, e correu em direção ao quarto. Ficou temeroso de entrar, mas tinha que fazê-lo.
Ao entrar, viu Harry e sua mãe na cama, ambos sentados, a mulher consolando o filho, que parecia ter chorado.
- Mãe? Harry? O que houve?
Lílian olhou para ele, parecendo só então notar a presença dele no quarto. Já Harry nem o olhou, somente abaixou ainda mais a cabeça.
- Filho... Eu.... Contei a Harry.
Tom sentiu-se desabar.
》~ * ~《
Os dias foram se passando, para Tom, cada vez mais horríveis. Harry estava distante, não conversava mais com ele. O maior tentava conversar, mas o de olhos verdes se recusava, sempre fugindo em todas as tentativas.
Tom já não aguentava mais isso. Era o que sempre tinhas tentado evitar isso, mas agora, simplesmente aconteceu, bem quando menos esperava. O que tanto temia, estava acontecendo.
Era doloroso.
Foi nesse momento, em que estava pensando em sua tão frustrante situação com Harry, que Tom percebeu o quão dependente do garoto estava.
Em parte, isso era normal, afinal, tinham convivido a vida toda como irmãos muito próximos, esse afastamento súbito naturalmente já o machucaria.
Mas não era só isso, tinha algo a mais, aquela dor não poderia ser apenas isso.
As coisas que antes faziam juntos, agora não fazem mais. Tom nunca pensou que jogar videogame sozinho pudesse ser tão triste e solitário.
Ele, por ser apenas uma criança na época, não conseguia ver, muito menos entender o que se passava consigo mesmo. E, com isso, não fazia a mínima ideia do que deveria fazer.
Tentou apenas fingir que não era nada, ignorar Harry, mas nunca conseguia, era só o menor o lançar um mínimo olhar, que ele já parava de o ignorar.
Seus pais também não estavam felizes com a situação, diziam que vê-los brigados daquela forma era algo que os machucava muito.
Tom entendia bem como eles se sentiam.
Já com Harry, ah, com ele a situação não era muito diferente.
Estava triste. Não sabia ao certo o porque. Talvez por Tom não ser seu irmão de sangue, mas ele sabia que isso não mudaria em nada a relação deles.
E, ainda assim, estava triste, se distanciando de Tom.
Um dia, após a aula, sua professora não o deixou sair da sala, falando que precisava conversar com ele.
“Você anda bem estranho, pequeno Harry. Brigou com seu irmão, não faz mais as atividades de casa.... O que está acontecendo com você?”
Mal sabia ela, que esse era o problema. Ele simplesmente não sabia o que estava acontecendo.
O pequeno de olhos verdes contou tudo à mulher, de Tom não ser seu irmão à o porque de ter parado de fazer as atividades.
“Ah, pequeno, acho que sei bem o que está acontecendo. Você está triste, mas não por ele não ser seu irmão, mas sim por ele não ter te dito antes. Você acreditava que ficariam para sempre juntos, sem temer, mas ele, ao não contar para você, demonstrou indiretamente que não confia em você. E ficar junto de uma pessoa, sem confiar nela, é impossível. Bem, se você quiser ficar feliz com ela.”
Isso iluminou os pensamentos de Harry. O pequeno só queria ficar com Tom, e ele não confiar em si, era como uma barreira à seus sonhos de ficarem sempre juntos.
Depois de agradecer muito à professora, o pequeno voltou para casa, determinado a conversar com Tom, e resolver toda a situação.
》~ * ~《
Harry ficou esperando Tom chegar de seu integral, estava muito ansioso, nem prestava atenção no filme que assistia com a mãe.
E, quando finalmente o maior chegou, Harry não disse nada, somente seguiu ele, que foi para seu quarto.
- Harry? Está.... Está tudo bem com você? Precisa de alguma coisa?
Tom estranhou e se preocupou bastante por Harry ter o seguido, afinal, eles estavam brigados, certo? O pequeno deveria estar o ignorando.
- Harry, desculpa por/
- NÃO! _ Harry o interrompe gritando, para depois abaixar a cabeça.
Entristecido, Tom somente baixa a cabeça e começa a olhar para o chão. Não queria ver Harry assim, não ligando para ele.
- Tom... _Harry o chamou, enfim levantando a cabeça para olha-lo. – Eu.. preciso conversar com você. Temos coisas mal resolvidas, quero resolver elas.
O maior levantou seu olhar, para ver os tão belos olhos verdes do menor, agora banhados pelas lágrimas.
- Harry.... Eu.... Não sei o que dizer eu...
- Então deixe que eu mesmo falo. Não estou chateado por você não ter me contado antes, mas sim o motivo por trás disso. Você..... Pensou que eu fosse tratar você mal? Pensou que eu iria me afastar de você?
- Não! Claro que não!
Apesar da fala de Tom, Harry o ignorou e continuou falando.
- Você não confia em mim. É isso. Não podemos ficar assim. A professora mesmo me disse que pessoas que não confiam umas nas outras não podem ficar juntas e felizes.
- Harry! Eu confio em você! É só que....
- O que Tom? “É só que” o quê?
Harry já estava enraivecido. Tom, envergonhado, volta a abaixar a cabeça, e ainda olhando para o chão, ele começa a se explicar:
- Harry, eu confio em você, com minha vida. Eu faço tudo por você, e justamente por isso não te contei.
- O quê? Qual é a lógica disso?
- Eu sou completamente dependente de você. Isso me perturba. A chance de você me odiar e ficar longe de mim me enlouquece.
O mais alto começa a se agitar, como se estivesse com raiva, e isso leva Harry a ficar levemente temeroso.
- Tom.....
- Me deixe falar! Você sabe o que eu quero, o que você quer também, ser forte, poderoso, impiedoso, e esses meros dias longe de você já acabaram comigo! Isso me confunde. Essa sempre foi minha meta, ser inabalável, inatingível mas você é meu ponto fraco, virei dependente de você. Não ser o inabalável que sempre sonhei me perturba, mas ficar longe de você... Isso me enfurece. Por isso eu não podia contar, não podia deixar que tivesse a chance de se afastar de mim.
- Tom!
O maior para de falar ao sentir o pequeno de olhos verdes se jogar à seu colo em um abraço.
Ele percebe que passou dos limites, pois realmente, isso era demais para uma criança comum.
- Tom, nós vamos conseguir! Nos tornaremos tudo o que sonhamos! Vamos ser ainda mais imbatíveis, estaremos juntos! Não vou deixar nada de mau acontecer à você, e você também não vai deixar nada de ruim acontecer à mim, certo?
- Claro. Afinal somos, e sempre seremos irmãos, e irmãos sempre ficam juntos e se protegem com suas próprias vidas!
Naquela época, eles ainda não entendiam bem a diferença de amor de namorados e amor de irmão, mas, não tinha importância, o importante para eles é apenas ficarem juntos.
Ou, pelo menos era, nessa época.......
Com o tempo, tudo muda, tudo se transforma. E eles, não iriam ficar de fora. Um dia, tudo tem seu fim.
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