História Hart - Do Céu ao Inferno

Poucas pessoas podem dizer o que ela sempre dizia, e dizia com vontade, pois era verdade. “Minha vida é perfeita!” ela dizia repetidamente todos os dias quando acordava e quando ia dormir. Ao contrario de noventa por cento da população do mundo, sua vida realmente era perfeita, ao menos para ela. Não que fosse a rainha da Inglaterra, ou filha de um grande milionário, longe disso, trabalhava duro para ter tudo que queria, assim como seu marido.

Contudo, para uma mulher de 27 anos, que tinha o emprego de seus sonhos, trabalhava na área pediátrica de um dos maiores hospitais de Boston, e conseguiu o emprego por seus próprios méritos, era casada com um homem carinhoso e atencioso e, o mais importante, a amava, tinha uma casa jeitosinha, não era nada muito grande, mas era perfeita aos seus olhos. Sua vida estava indo de bom a melhor, se morresse agora morria feliz, claro que toda vida tem seus altos e baixos, todos tem seus problemas, mas para ela até seus problemas eram perfeitos, era coisas bobas que eventualmente se resolveria, como sempre.

Todos os dias agradecia pela vida perfeita que tinha, e aquele dia não seria diferente, aquele dia estava fardado a ser perfeito assim como todos os outros, apesar do pequeno pesadelo que tivera durante a noite, não se lembrava sobre o que se tratava apenas se sentia estranha, mas não se deixou abalar por isso, afinal todos tem pesadelos.

-Bom dia meu amor- ela dizia enquanto beijava as costas nuas do ruivo ao seu lado.

-Não... sem bom dia, pode ser boa noite- respondeu em uma voz manhosa se virando para ela e puxando-a para seu peito.

-Nananinanão, temos que acordar para trabalhar, vamos acorde, o mundo não vai parar de girar por causa nossa. – ela disse levantando-se da cama e indo em direção ao banheiro, retirou suas roupas e entrou embaixo da ducha quente, fechou seus olhos para apreciar melhor as gotas de água molhando seu corpo, foi quando sentiu as mãos firmes de seu marido em sua cintura e seus lábios em seu ombro e pescoço, subitamente ele a girou, prendo seu corpo ao dela e seus lábios ao dele, um beijo inicialmente calmo que em fração de segundo passou a ser voraz e exigente. Ele passava as em seu corpo calmamente por todas as partes como se aquela fosse a ultima vez que fosse presenciar aquela sensação, ela puxava seus cabelos a fim de aprofundar mais o beijo, como se isso fosse possível, naquele momento tudo desapareceu, ela não sentia mais a água em seu corpo, apenas as mãos dele,  o cheiro dele. Terminaram o beijo por busca de ar, os dois sorriram ainda com os olhos fechados  e testas coladas, e naquela manhã se amaram como se fosse a última vez, o ato em si foi mais que simples sexo, foi amor.

Após o maravilhoso banho ambos vestiram-se, tomaram café e saíram em direção aos seus respectivos trabalhos, mas antes de sair de casa, na porta o ruivo a puxou e lhe beijou, um beijo calmo e apaixonado.

-Eu te amo- disse e entrou em seu carro, lhe lançou um último sorriso e foi embora.

Ela chegou ao hospital mais feliz do que nunca, teria um plantão de 24h naquele dia, oque odiava, mas estava cobrindo uma amiga, ela parou de fazer plantão há um tempo, desde que assumiu a ala pediátrica, não gostava do pronto de socorro, era muito desesperador na opinião dela, ela gostava de trabalhar com calma, pensar antes de agir e em sua cabeça para trabalhar no PS você fazia de tudo, menos pensar. Mesmo assim o dia foi feliz apesar de tudo, foi calmo, poucos acidentes sérios, coisas fácies de se resolver, nada que ela já não tinha feito antes. Mas essa calmaria só durou até às dezenove horas e trinta e quatro minutos quando a maior emergência aconteceu, uma emergência a qual ela não sabia lidar, não sabia como resolver e o que fazer a sua vida foi de céu a inferno em questão de segundos, foi de perfeita a horrível, trágica, quando recebeu um paciente que em um acidente de carro teve uma morte cerebral, o SAMU conseguiu levar ele com vida até o hospital, onde foi colocado para viver em base de aparelhos, naquele caso ele nunca voltaria a viver, a única coisa a se ser feita era cuidar de seus ferimentos e comunicar a família, que no caso em específico era a rosada que olhava sem entender o porquê de seu adorado marido esta ali em uma maca, morto.

Ela não foi capaz de fazer nada a não ser cair no chão e começar a chorar como uma criança, quando viu ele ali, e os aparelhos dizendo que seu cérebro não emitia nem uma onda, ou seja, ele morreu, ali só tinha um corpo, naquele momento seu coração foi arrancado do peito, ela gritava, sentiu braços fortes dos enfermeiros ao redor dela a puxando para longe.

-NAAAAÃOOOO!!!!!!!SAAAASORI!!!NAAAAÃOOO!!!!!- ela chorava até não haver mais lágrimas em seus olhos, sentiu uma pessoa a abraçando, provavelmente seria sua superior e amiga Tsunade.

-Shiii, ai ficar tudo bem, calma, shiii- ela adulava o cabelo da, pela primeira vez, mulher frágil em seu colo.

Ela chorou até tudo se apagar.

Acordou em uma maca, com a loira ao seu lado. E então se lembrou de o que aconteceu seus olhos encheram de lagrimas novamente.

-Me fale que é mentira- disse com uma voz falha, a loira a olhou e então ela percebeu que tudo era verdade, seu coração começou a doer, como nunca.

-Querida, eu sei que você está abalada, mas nós precisamos conversar sobre o que você fará a respeito, você sabe que na situação dele, a lei permite desligar os aparelhos, porém precisa da sua autorização, e se você deixará doar os órgãos ou não. – ela começou a chorar mais- Desculpe-me queria, eu não deveria ter tocado no assunto agora.

-Não, está tudo bem- ela disse tentando se recompor e parar de chorar, mas as lágrimas não paravam de descer- o Sasori sempre disse que queria doar os órgãos, eu não vou deixar ele ligados aos aparelhos sendo que ela não existe mais, ali só tem os órgãos- ela dizia tentando controlar sua voz que estava falhando e seus olhos que não para de se encharcarem daquela água salgada. -Prepare os documentos que eu irei assinar. - disse

E naquele dia sua vida foi do Céu ao Inferno, em questão de segundos e permaneceu no inferno por um longo período de tempo. Entretanto, uma coisa é certa, nada nunca acontece por um acaso e tudo possui seu proposito, pois nossas vidas não pertencem a nós e sim ao destino.