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História Harvest Moon - I don't belong here


Escrita por: clairdelune

Notas do Autor


Ficou meio longo , eu acho . Só espero mesmo que não se cansem dele . E que comentem , é claro <3

Capítulo 4 - I don't belong here


Fanfic / Fanfiction Harvest Moon - I don't belong here

Eu queria chorar .
Diante do corpo inerte sob o piso de madeira antiga e putrefata , eu quis cair junto a ela e não me mover nunca mais . Desejava observar a humanidade enquanto segurava sua mão fria , sem circulação , morta . O sentimento indefinido cavava tão profundo em meu ser , traçando um caminho tortuoso em meu cérebro dormente , em meu coração precocemente calejado , provocando tudo e eu não era capaz de expressar nada . Apenas enxergava seus olhos cor de safira , igualzinhos aos dele , encarando o vazio .
O rosto dela tinha aquela mesma expressão confusa e dolorida que sempre teve , de quem vive num mundo cinza , imersa em suas próprias falhas . A cadeira de rodas , usada durante toda a fase crítica da doença , jazia vazia ao lado da massa inanimada como se fosse uma peça bizarra de decoração , sem a sua dona de todos os dias . A cama com os lençóis em completa desordem , o som dos trens passando entre cada pequena abertura da casa .
Então , a porta da frente bate . Espero por aquilo que já vi antes ; Cynthia Hetfield banhada com as lágrimas do filho do meio , James Hetfield , que chorava pela mãe recém encontrada , sozinha e morta . .

Acordo sobressaltada .
Meu corpo parece dormente enquanto tento me movimentar na cama desconhecida , novamente num quarto de hotel , mas dessa vez acompanhada daquela que se denominava minha guardiã, minha mãe . Meus motivos não eram nobres , afinal , ser expulsa do melhor colégio de São Francisco , um dos melhores da América , não era nada de que se pudesse gabar. E a senhora Alexandra Volkova concordava comigo . Estava furiosa .
Assim que recebeu uma ligação da diretora do colégio interno , deve ter tido um quase-infarto fulminante . Sua filha ? Não poderia . Olivia era um exemplo de bom comportamento . Era impossível . Mas a insistência com que Serena Martini lhe falara era demasiado convincente . Então , atravessando o oceano , da Rússia até os Estados Unidos , ela veio me ver . E desferir um tapa ardido e ferrenho em meu rosto como sinal de sua chegada .Agarrou o meu braço com força e rasgou as minhas vestes , me jogando em meu quarto , me dando um banho cheio de rudezas enquanto pronunciava ofensas que iam de " puta nojenta " pra baixo . Meu Deus , como eu poderia ? dizia ela . Estava certa de que eu fugia do colégio pra me prostituir . E as marcas que Andy deixara em meu corpo ajudavam a sustentar seu devaneio .
Diante disso , não havia nada a ser feito . Nada além de me levar de volta pra casa , pra igreja , até que Deus cortasse de vez a minha libido , a minha sem-vergonhisse . 
Eu deixava que ela me tratasse como queria , marcando minha pele , deixando hematomas novos que permaneceriam pra sempre . 
Apenas pensava nele . O tempo todo . Mesmo inconsciente , seu nome continuava grudado em mim , seus olhos , sua boca . E sua história . Tinha toda a vida de James gravada na cabeça , indelével , rodando como um filme cuja exibição eu não controlava .
Estava ali enquanto meus pés iam devagar até a sala da diretora Serena , pronta pra ouvir seu veredito negativo .  No caminho , Laurie passou por mim . Segurou minhas mãos nas suas e beijou meu rosto , mesmo sabendo o quanto eu estava ciente de que ela me deletara , dizendo que eu a tinha coagido a sair sem autorização , pra ver um show de rock .  Minhas antigas colegas de classe , observavam meu movimentos decididos , sendo acompanhada por aquela senhora carrancuda e imponente , que algumas garotas sussurravam
ser a minha mãe .
- Não me surpreende . - Alexandra diz , rancorosa . - Nenhuma dessas garotas gosta de você .- Engoli em seco sentindo esse como o único golpe recebido apesar de todos os outros que foram desferidos . 
Estar sozinha , me sentir abandonada e rejeitada eram o meu ponto fraco . Me fazia pensar no homem que ajudou a me gerar e que depois disso foi embora . E eu tentava ignorar até mesmo esse fato e sua importância , continuar taciturna, com a cabeça no alto , o orgulho intacto , mas acabava sempre pensando que viver era uma dor absurda , desnecessária .
Serena  nos recebeu com seu ar tranquilo de quem está acostumada a lidar com todo tipo de problema diariamente . Seus cabelos loiros e curtos , como os de Marilyn Monroe , seus lábios finos , quase inexistentes , o corpo rígido e maduro ; admirava tudo nela . Mesmo naquele ser intocável , a frieza requeria uma força e eu invejava o fato de que ela possuia tal coisa . 
Me sentei em silêncio . Observava as semelhanças entre as duas mulheres na sala e pensava que fora as paixões da senhora Martini , que incluíam a própria Marilyn , elas eram extremamente parecidas . Mas havia algo de inusitado ; Serena "me entendia" . 
Mamãe começou se desculpando . Disse que eu era uma ótima garota , minhas notas continuavam acima da média , mesmo depois de tudo . Eu era boa , boa demais até para aquele colégio . Segurou o meu rosto , me pedindo com os olhos pra mostrar o quanto eu me sentia arrependida e pedir desculpas . 
Encarei seus olhos mortos e mantive a boca fechada . Estava cansada .
A diretora recolhia cada gesto meu com serenidade , ouvindo atenta à voz da minha protetora legal , mas sempre séria , sem expressar qualquer reação fisíca .
- Gostaria de ter uma conversa particular com ela . - Disse subitamente , cortando o discurso de Alexandra .
A senhora Volkova se voltou sem dizer absolutamente nada , apenas assentindo com um movimento singelo de cabeça . Me enviou mais um de seus sinais antes de passar pela porta , e não foi difícil notar que aquele era mais como uma ameaça real .
O tempo parece congelar no momento em que nos encontramos a sós . 
Encaro seu rosto pela primeira vez quando a vejo se levantar e me oferecer um cigarro .
Ela dispõe o maço vazio em cima da mesa de mógno refinado .
- Como foi que tudo isso começou ? 
Não respondi de imediato . Não sabia. Simplesmente supunha coisas . Entendia , acima de tudo , que estava agindo como uma adolescente do meu tempo :  jovem e inconsequente , contra tudo o que haviam me ensinado até então . Desde cedo , estava sendo aprisionada na ideia de ser recatada e submissa , cumprir as obrigações que aquela falsa família me impunha calada e feliz , fosse esse ou não o meu estado de espírito . Talvez a culpa de tudo estivesse sob o estilo de vida americano me contagiando , ou a era do rock e seus seguidores sujos , de cabelos compridos , desgrenhados , com suas calças rasgadas . Eu era louca por essa parte de São Francisco , crescendo e crescendo dentro de mim e no mundo exterior , conquistando espaço e novos servos . Queria experimentar ; largar o piano e comprar uma guitarra , pôr fogo naquele uniforme escolar idiota , que me fazia parecer uma lolita meio vadia , vestir coisas de segunda mão e esquecer todo o ambiente etiquetado erroneamente com valores falsos .
Girei o Marlboro light nos dedos , pensativa .
Compartilhamos o mesmo cigarro , deixando de lado o fato de que eu era menor e ela , a pessoa responsável da sala . A única .
- Você costumava ser uma das melhores , se não a melhor , Olivia .
Serena pronunciava o meu nome com um certo desapontamento , olhando bem cada pequeno detalhe do meu rosto fatigado .
Eu estava contando os segundos , quase ausente naquele pseudo diálogo , sentindo uma exaustão que não cabia em mim .
A diretora Serena aguardava , paciente .
Nos conhecíamos a bastante tempo . O suficiente pra ela respeitar os meus silêncios , as minhas pausas . E também a minha falta de fôlego . Aquele assunto em especial , era o meu favorito quando se tratava do que evitar .
No fundo , minha mudança era natural . Ninguém no mundo poderia viver reprimindo todos os instintos reais pra sempre .
Olívia Volkova está morta a muito tempo , penso . Mas não digo nada .
O Marlboro continua queimando .
Ao longe , ouço uma valsa de Brahms que vaza pela sala de música onde costumava praticar por horas , até a exaustão .
E o tique-tac do relógio sob o peso do mundo .
Serena aguarda , já ciente de que não direi nada .
- Não podemos mantê-la aqui . - Diz enfim .

Quando saio do escritório da diretora , sem deixar de me lembrar que aquela seria a última vez , Alexandra me olha desesperada . Mesmo com tudo , ainda tenta insistir um pouco  mais pela minha estadia no colégio Sacramento . Aquele truísmo parecia impercepitível em sua mente e eu não me importei em lhe dar tempo para absorvê-lo .
Andei sem olhar pra ela , na direção certa ; que me levaria pra longe de tudo aquilo , me impedindo de voltar pro inferno que era aquele país gelado e insípido , mamãe e seu marido asqueroso , que gostava de me tocar em segredo , os professores rígidos demais , as aulas intermináveis e seu alto grau de dificuldade . Tudo ficaria num passado obscuro .
- Onde pensa que está indo ? 
Seus dedos ao redor do meu braço me forçam a sorrir . E a fechar os olhos , sentir uma alegria imensa e sorrir ainda mais com isso . Era a última vez que me tocava.
- Você sempre me obriga a perder tempo . Sabe o que eu estava fazendo antes de vir pra cá ? Antes de ter que largar tudo por SUA causa ? - ela agarra meus cabelos com força -
Estava organizando um evento beneficente em nossa igreja . O mais importante do ano , Olívia , querida. 
Não respondo , deixando que ela se esgote antes de tentar .
- Agora terei que leva-la comigo ! Sabe o que isso significa , não é ?
A imagem de Ygor Volkova , seu marido gordo e imoral , aparece em minha mente , mas logo é dissipada .
- Eu vou embora . - digo pronta pra começar a traçar meu caminho e ao vê-la tentar me seguir , me viro e a olho de cima , pela primeira vez na vida ciente de que eu era melhor do que aquele pedaço de merda  - Sem você .



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