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História Hear Me - The Listener


Escrita por: indelikaido

Notas do Autor


ANNYEONG!
Tudo bem, gente? Vim trazer essa pequena maravilha para vocês, que embora pareça ser confusa, no final tudo se encaixa. Vou falar umas coisinhas nas notas finais, então fiquem de olho, ok?
A fic é separada por cenas que ocorrem simultaneamente, ou seja, se tem o *Hear Me* é uma cena só, podendo ou não ter dois pontos de vista. Aproveitem!

Capítulo 1 - The Listener


Fanfic / Fanfiction Hear Me - The Listener

  One shot.


 *Hear Me*


 Netherworld Emissary:

 Entidade da cultura popular chinesa e coreana que representa a morte; O primeiro dos dez reis do submundo; Coletor de almas.

 Toma a forma de um humano à beira da morte.


 *Hear Me*


 Chanyeol.


 “Kyungsoo, pare de ser teimoso, por favor!” Corri para fora do hall do prédio, observando a figura pequena dele se afastar rapidamente, mas parar por um momento para olhar para trás.

 “O que mais você quer me explicar, Chanyeol? Me deixa em paz, já estou atrasado pro trabalho.” Gritou para mim de volta.

 As palavras dele doeram mais que uma facada, queria apenas poder voltar no tempo e consertar o que fiz. A briga era ridícula, porquê discutir tanto por causa de uma festa que acontecera antes mesmo de começarem a se relacionar? Estragar tudo por causa de um dia onde ainda era inconsequente? Íamos jogar tudo no lixo por causa disso?

 O alcanço e o seguro pelos pulsos, forçando Soo a se virar e me encarar. Tento não chorar assim que vejo as lágrimas escorrendo por seu rosto, assim que percebo que tinha muito mais em nossa briga do que só esse episódio.

 “Kyung, me perdoa. Eu não sou o melhor de todos, nem o mais bonito, mas meu amor é sincero. Você sabe disso.” Coloco sua mão por cima de meu coração, respirando fundo. “Seja racional.”

 “Céus, Chanyeol, não faça isso comigo. Você não me deixa pensar direito.” O vejo desviar o olhar, mordendo os lábios para reprimir alguma frase da qual eu não iria gostar. ‘’Apenas me deixe ir. Você teve sua chance.’’

 Ele se desvencilha de meu aperto em seus pulsos,escondendo o rosto para que não o veja chorando, e se prepara para atravessar a rua. Assisto, estupefato, ele ir embora, ainda com o rosto entre as mãos e sem carteira, documentos, celular ou bagagem. Me sentia péssimo, como se tivesse falhado.

 Volto para o apartamento, decidido a passar o resto da tarde encarando a parede.

 

 Kyungsoo.


 Tento enxugar minhas lágrimas enquanto me afasto cada vez mais rápido do prédio de Chanyeol, não me importando com os olhares pouco amistosos que me eram lançados toda vez que esbarrava em alguém.

 Um esbarrão não doía mais que saber os podres que compunham o passado dele. Podia soar infantil, ainda amo ele mais do que gostaria de admitir, mas aquilo havia sido a gota d’água. Não podia encarar ele, não agora que sabia de tudo.

 Mas vou voltar. Eu sempre volto correndo para ele. Deve ser o meu destino.

 Levo as duas mãos ao rosto, em uma nova tentativa falha de parar de chorar, e mal percebo que coloquei o pé na rua. Me dou conta da merda que fiz ao ouvir os pneus cantando, sem nenhum tempo de frenagem, e sinto meu corpo rolar por cima do carro e de volta para o asfalto.

 Uma sensação horrível tomou conta de mim. Primeiro, era frio. Não parecia ter me machucado, não senti nada. Porém, com a mesma rapidez que as pessoas começaram a se aglomerar em volta de meu corpo estatelado no asfalto, o sangue vivo verteu para fora de um corte em minha testa, turvando a minha visão no olho direito por algum tempo.

 Não sabia ao certo diferenciar o frio da dor, muito menos o sangue das lágrimas. Uma onda de dor ainda mais agonizante me atingiu, me fazendo pensar que provavelmente aquela deveria ser a sensação de ser esmagado por uma pressão muito forte.

 Um rapaz de cabelos claros se ajoelhou ao meu lado, com uma expressão surpreendentemente calma, e segurou a minha mão. Mas eu mal sentia ela, tudo parecia tão… distante. A dor em meu peito começava a deixar todo o resto escuro, parecia impossível focar em qualquer outra coisa que não fosse aquilo. E, como enfermeiro, sabia melhor do que ninguém o que ela significava.

 ‘’O socorro está chegando, meu nome é Minseok. Como você se chama?’’ Sua voz saiu rachada, denunciando o medo que estava sentindo.

 ‘’Chanyeol…’’ Encontro forças para murmurar o nome do outro, o perdoando mentalmente.

 ‘’Não feche os olhos, por favor. Vamos conversar sobre alguma coisa. O que você faz, Chanyeol?’’ Tentou sorrir fracamente.

 ‘’Não, não sou ele. Eu o amo.’’ Sorri de volta, sentindo meu corpo se ajustar à dor. Estava acabando.

 ‘’Você ama o Chanyeol? Onde ele está agora?’’

  Meu lado médico estava fascinado. Sempre me perguntara como seria essa experiência, como seria sentir a morte batendo em minha porta, se eu perderia primeiro o tato ou a audição, se alguém importante estaria comigo na hora. Ninguém estava ali pois não pensei no que estava fazendo. A culpa de eu estar ali, no asfalto gelado, perdendo sangue por diversas feridas a uma velocidade impressionante até mesmo para mim, sendo amparado por um cara gentil chamado Minseok, era totalmente minha. Perdi primeiro o tato -anotei mentalmente-.

  Dizem que antes da morte, vemos a vida passar como um filme diante de nossos olhos, mas com certeza eu não estava vendo os melhores momentos. Tudo o que conseguia pensar era que eu havia feito a escolha errada, que magoei Chanyeol. Menti para mim mesmo. Deixei de levar ele àquele restaurante retrô em nosso aniversário de 3 anos pois estava de plantão no hospital. Meu filme era uma sequência de arrependimentos, de vezes em que podia mudar a situação mas fui covarde. E ia morrer como covarde, por quê ele não estava ali.

 Estremeço ao sentir a dor aguda em minha perna, indicando que provavelmente havia quebrado algum osso e agora ele estava pressionando alguma artéria minha. Era quase impossível normalizar minha respiração diante daquilo. Merda de choque hemorrágico.

 Suspiro, aproveitando aqueles segundos em que a dor parecia ter desaparecido para desanuviar a minha mente. Finalmente, uma lembrança boa me veio em mente.

 Eu e Chanyeol estávamos sentados na lanchonete do hospital, em um dos dias que ele se aventurava a me visitar durante o plantão. O garoto alto de cabelos vermelhos me olhava, divertido, esperando uma resposta para a pergunta que havia acabado de fazer. Tinha acabado de contar uma história sobre como havia ido parar no hospital por causa de uma caneta quando era apenas uma criança, e eu, como sempre, o escutara com admiração. Meus contos preferidos eram qualquer um que saísse de sua boca.

 ‘’Você está falando sério?’’ Perguntei, sorrindo de volta ao sentir o maior pegar minha mão e a segurar por baixo da mesa.

 ‘’Mais do que sério, Soo. Eu quero ficar ao seu lado para sempre.’’ Apertou a minha mão, reforçando o que estava dizendo para mim.

 ‘’Eu aceito.’’


 Puxo o ar pela boca, fazendo um esforço descomunal para ficar acordado só mais um pouco. Só para sentir os raios de Sol, por mais que fossem fracos e não serviam de nada para o frio que tomava conta de mim, baterem em minha pele castigada pelo acidente. Me agarro ao pensamento de que Chanyeol ficaria bem sem mim, de que por causa da minha falta de documentos ele demoraria para descobrir sobre o meu óbito. Me agarrei ao pensamento de que eu fui triste, mas também fui muito feliz na maior parte do tempo, brinquei quando era para ter brincado, tive o melhor trabalho do mundo. E ao fato de que eu era noivo de Park Chanyeol. A dor em meu peito parecia mais suportável à medida que expirei pela última vez, soltando o pouco oxigênio que me restava antes de meus pulmões falharem junto com uma sentença.

 

 ‘’Ele está cuidando de nosso casamento.’’




 *Hear Me*


 Netherland Emissary.


 Alguns humanos colecionam livros. Outros, bottons. Corações partidos. Tampinhas de garrafa de cerveja.

 Mas o meu hobby era colecionar histórias. A cada vez que descia ao plano mortal, ao mundo dos humanos, para buscar um ou outro amigo, minha coleção dobrava, triplicava de tamanho.

 Não era de todo ruim, sabe? A alma precisa de suas distrações, inclusive a minha. E algumas felizes vezes, quando reencarnava, calhava de cair em um lugar particularmente interessante, cheio de histórias de tristeza ou felicidade, cheio de mistérios para desvendar.

 Como um hospital.



 *Hear Me*


Kyungsoo.


 Fechei os olhos, sentindo a água gelada bater em meu rosto, afastando qualquer sonolência que poderia se abater sobre mim naquela noite.

 “Há quanto tempo você não dorme, senhor Do?” A voz doce do pequeno Kim inundou o banheiro hospitalar, antes silencioso. O moleque havia me seguido?

 “Ah, Kim… você sabe que quando se é um doutor, é bem difícil arranjar tempo para descansar.” Suspirou, se agachando em frente à ele. “Mas o dia em que descansarei já está chegando.”

 Assentiu com leveza, seus olhos denunciando o quão cansado estava. Apontou para a tag em meu jaleco, lendo a palavra com dificuldade.

 “En… Fer… Mei… Ro. Você dá injeções nas pessoas?” Indagou, me olhando com uma curiosidade que apenas as crianças conseguiam ter.

 “Às vezes, sim. Mas eu não faço só isso. Eu posso dar cobertores para os pacientes, água… agora eu estou no meu intervalo, então não vou fazer nada.” Comentei, tentando me desviar do assunto.

 O verdadeiro problema das crianças é que elas são diretas demais.

 “Você vai dar injeção para a minha omma?” Suas mãozinhas alcançaram meu cabelo, brincando com os fios.

 Mordo meus lábios sem perceber, lembrando de Kim Yezi, que se encontrava perdida em um coma induzido a apenas algumas salas de distância do local onde eu estava no exato momento. A tal injeção não era nada mais nada menos que a dose de morfina que costumamos dar aos pacientes em estado terminal, para que não sofressem.

 “Depende, Kim. O que aconteceu com ela? Quer conversar?” Tento sorrir para o menor.

 Me surpreendo quando ele me puxa para os fundos do banheiro e senta encostado na parede, batendo a mão pequena no espaço ao seu lado.

 Sento rapidamente, sentindo a curiosidade me vencer. Desde quando uma criança é tão receptiva? Eu realmente estou ficando velho.

 “Eu posso falar qualquer coisa para você?” Sussurrou, com um olhar triste. “Não vai contar para ninguém?”

 “Não irei contar, Kim.” Sorrio, acariciando seus cabelos negros.

 “Promete? De dedinho?” A criança me oferece seu mindinho erguido, aproximando sua mão da minha.

 Aceito o gesto, apertando seu mindinho contra o meu.

 “Prometo. Estou aqui para te ouvir.


 *Hear Me*


 Kyungsoo.


 Me encosto na parede, pensando se deveria entrar no quarto ou não. Da janela, podia ver um rapaz alto velando o sono profundo de um paciente. Não consegui vê-los muito bem, apenas percebi de relance a pele alva do acompanhante e seus cabelos claros.

 Respiro fundo, entrando na sala com cuidado para não fazer barulho.

 ‘’Kim Jongin?’’ Olho para o papel em minhas mãos, em seguida para o rapaz. Ele franze o cenho e aponta para o outro deitado.

 Era moreno, dotado de uma expressão serena que o fazia parecer um anjo dormindo. A curiosidade novamente surgiu em mim, dando nós em minha garganta.

 Eu amo histórias. Talvez pelo trabalho de enfermeiro e assistente social, talvez por outros fatores que não vou poder revelar agora. Vagava pelo hospital, visitando diversos setores, para conversar com familiares, amantes, ex amigos e namorados, acompanhantes de toda sorte. Pode parecer chato, mas é cada adição que faço à minha imensa coleção mental de histórias que vocês se surpreenderiam.

 ‘’Meu nome é Oh Sehun. Ele é o Jongin.’’ Falou, timidamente, me fazendo lembrar ao que vim.

 Se não fossem estranhos, com certeza teria caçoado de sua fala óbvia. É claro que quem está deitado na maca é o paciente.

‘’Ah, claro. Eu presumi. O que aconteceu aqui?’’ Indaguei, pensativo, me aproximando de seu leito. Sehun suspira, tristeza abatendo seu rosto, e se remexe inquieto na cabeça.

 “Ele sofreu um mau súbito.” Sussurrou, analisando-me pelas costas.

 Sentia seu olhar queimando minha alma, como se me reprovasse por estar tão perto do paciente, mas não me intimidei. Continuei checando os sinais vitais de Jongin em silêncio, confuso.

 “E ele não morreu na hora?” Indaguei, surpreso.

 “Você queria que ele morresse, enfermeiro?” Rebateu, ríspido.

 “N-não, de jeito nenhum. O que quis dizer é que ele é muito forte.” Gesticulo para o moreno. “Você estava com ele na hora?”

 A essa altura já havia identificado pequenas coisas pelo modo de agir de Sehun. Era mais novo que eu, com certeza, e já fora bem próximo de Jongin. Parecia estar muito mais triste do que demonstrava na voz, rodeado por uma aura de culpa e mau humor que quase me fizeram querer sair da sala.

 “Ele sentiu uma dor muito forte no peito e me chamou para seu apartamento. Disse que estava desesperado.” Me encarou com firmeza. “Eu hesitei, a gente tinha brigado antes e estávamos há meses sem nos falar. Mas eu fui, depois de pensar um pouco. Quando eu abri a porta, ele caiu em cima de mim.” Vi os olhos dele marejarem, então seu olhar se voltou para o moribundo ao meu lado.

 O olhei com interesse, esquecendo todos os meus julgamentos anteriores. Estava realmente se abrindo? Uma vibração em meu bolso me lembrou que minha tarefa era somente tirar ele dali.

 “Calma, Sehun. Vamos lá para a cafeteria e você me conta melhor. Os médicos vão fazer alguns exames e não podemos permanecer.” Abro a porta, e olho para trás.

 Estava de pé, mas olhava o outro com uma admiração silenciosa, porém melancólica. Me sentia como um intruso por ver aquilo, por mais que todos aqueles anos de faculdade e estágio tivessem me preparado para agir com indiferença nessas situações.

 O guiei em silêncio pelos intermináveis corredores brancos vazios até chegarmos na lanchonete do hospital. Me largo em uma das cadeiras, exausto, e ele me acompanha.

 “Eu só queria poder falar com ele mais um pouco, sabe?” Comentou, cabisbaixo. “Não deveria contar sobre a minha vida para um estranho, mas…”

 “Existe um motivo, SeHun, para você se sentir confortável em me contar sobre isso. É pra isso que existem assistentes sociais.”

 O garoto se remexeu na cadeira, um pouco confuso.

 “Ainda assim… não sei se devo.” Olhou para mim com sinceridade.


 *Hear Me*


 Kyungsoo.

 

 Cinco semanas se passaram desde que tive aquela primeira conversa com Sehun na lanchonete, e lá pela terceira o rapaz havia decidido me ajudar, me deixando dormir em sua casa, que era perto do hospital, toda vez que tinha plantão.

 Era difícil, entretanto, arrancar alguma história dele. O estado de saúde de Jongin se deteriorava a cada dia que se passava, caminhando para um destino já bem conhecido para qualquer um que tivesse chegado naquele limiar. E eu, Kyungsoo, tinha chegado naquele ponto crítico.

 Tínhamos uma espécie de trato. Não mencionávamos Jongin em nenhum momento. Em troca disso, SeHun passava seu tempo livre comigo, me fazendo dividir a atenção com o estúdio de dança onde era professor e, obviamente Jongin.

 Não ia durar por tanto tempo, pensei, enquanto me acomodava com a cabeça deitada em seu colo no sofá azul novinho que sua sala abrigava. A morte era inevitável.

 “Kyungsoo? Você está acordado?” Indagou, baixinho, acariciando meus cabelos.

 Suspirei em resposta à pergunta, um pouco cansado. Ficar ali me drenava as energias.

 “Você não come… nem dorme direito.” Meu silêncio foi o suficiente para encorajar ele à dar continuidade. “Existe algum motivo estranho ou diferente do normal para isso?”

 “Não, SeHun.” Cortei seus pensamentos, sabendo aonde ele queria chegar. “Só estou preocupado.”

 E a conversa morreu, como sempre acontecia.

 Após alguns minutos, sinto seus lábios encostarem em meu pescoço, e fecho meus olhos ao sentir os arrepios que percorriam por meu corpo. Era uma sensação diferente, nova.

 Acabo me virando e tomando seus lábios em um beijo delicado, por impulso. Mas, contrariando o que eu achava, não nutria nada especial pelo mais novo. O gesto abriu algo que mais parecia um clarão em minha mente, e me lembrei de um nome que não deveria lembrar.

 Chanyeol.


 *Hear Me*


 Netherworld Emissary.


 A combinação do meu recipiente com o humano que atendia pelo nome de SeHun não era nada boa. A ligação faz as memórias da antiga vida de Kyungsoo voltarem à tona, de forma tão forte que o homem poderia até mesmo me expulsar de seu corpo com um pensamento, se assim quisesse.

 Preciso me focar. Não posso me dar ao luxo de ficar aqui por mais tempo, ou colocarei tudo em risco.

 Queria ser egoísta o suficiente para continuar ali a receber o carinho do companheiro daquele que era minha “vítima”, e ouvir o que tinha a dizer, mas nenhum dos tratos era direcionado a mim.

 Daí, só me resta o conformismo.


 *Hear Me*


 Kyungsoo.


 Acabei optando por me separar de SeHun, por mais que algo dentro de mim não desejasse isso. Era como uma batalha interna, onde aquele nome vinha à superfície e duelava contra o rapaz que havia me beijado apenas alguns segundos antes.

 “Me desculpe, eu achei que não ia fazer mal…” Falou, com a voz falha.

 “Não, não é isso, eu só… pensei em Jongin.” Minto, tentando acabar com o assunto.

 “Kyungsoo hyung… eu gosto de você e preciso contar algumas coisas a respeito dele.” Seu tom é hesitante, talvez pesando as palavras.

 Ouvir SeHun dizendo que gosta de mim não contribuía em nada para minha batalha mental. A dor em minha cabeça se tornava pior ainda à medida que senti algo dentro de mim se revoltar. Guardei o sentimento para mais tarde. Queria ouvir o que o outro tinha a dizer sem me preocupar com outras coisas.

 “Eu namorei com Jongin por um longo tempo… dois anos e alguns meses, para ser mais específico. Nós nos conhecemos no estúdio onde sou professor.” Me encarou, sério. “Mas acabamos brigando quatro meses atrás, eu tinha um objetivo para a relação e ele tinha outro. Nos separamos para valer, dissemos muita merda que não deve ser repetida, sabe?

 Foi tudo no calor do momento, nunca quis realmente machucar ele, mas não consegui dar mais explicações. Era madrugada, nós dois estávamos bêbados. Enfim, para encurtar a história, recebi ontem o primeiro telefonema em meses. Ele chorava, Kyungsoo, chorava de um jeito que nunca tinha ouvido ou visto, estava verdadeiramente desesperado por ajuda. Disse que seu peito doía demais e que não conseguia respirar direito.

 Eu fiquei muito preocupado, associei tudo à fraca saúde da família dele, principalmente por problemas cardíacos. Saí de casa correndo, com um peso insuportável na consciência, que indicava-me que a minha despedida para alguém que antes amei muito havia sido um virar de costas e um belo de um vai se foder.” Encarei o mais novo, surpreso com a história tão repentina. Não que eu não gostasse de ouvir os outros, mas eu tinha começado a tratar a história dos dois como um segredo de Estado. Acaricio sua mão, melancólico.

 “E então chegamos aqui.” Disse, ainda segurando a mão de Sehun.

 “Sei que é pedir demais, mas você pode pelo menos dizer o que vai acontecer com ele?”

 Mordo os lábios com força. Não é como se eu já não soubesse, mas eu nunca tive tanta dificuldade para falar com os acompanhantes antes. Talvez fosse por causa do quão próximos havíamos nos tornado em tão pouco tempo.

 “SeHun… o Jongin não vai conseguir, ele teve múltiplas paradas cardíacas nesse último mês.”

 Nos observamos em silêncio por um tempo até que resolvo me sentar direito ao lado dele, mas ele simplesmente se levanta.

 “Então ele não vai acordar, é isso?” Perguntou, com a voz embargada.

 “Provavelmente não, sinto muito. Nós tentamos de tudo.”


 *Hear Me*

 

 Kyungsoo.


 Acabei decidindo voltar para o hospital antes do horário do plantão, pois Sehun havia saído de casa desde nossa conversa e ainda não tinha voltado. Não sei dizer ao certo como sabia que Jongin não iria acordar, falei por puro instinto.

 Na entrada do hospital, caio de joelhos ao lado da porta dos fundos, sem fôlego. Um fragmento de uma memória rondava minha cabeça.

 Um rapaz tão alto quanto Sehun, só que com cabelos vermelhos-vivo estava com a cabeça apoiada em meu ombro na sala de espera do hospital, tagarelando algo sobre casamento comigo.

 Me agarro à memória como se fosse um salva-vidas, sentindo falta de algo que eu não sei o que é, mas me perturbava profundamente. Aquele era Chanyeol. Eu tenho alguma coisa com ele. Ou tinha.

 Mais uma cena me veio na cabeça, dessa vez eu estava correndo para atravessar a rua quando fui atingido por um carro. Rolei por cima do capô e caí no chão, inerte e sangrando, observando a aproximação de um homem baixinho que se dispôs a falar comigo.

 Então observei, estupefato, a vida se esvair de meu próprio corpo, e ser preenchida por alguma energia diferente. Era sombria, e se não fosse apenas uma memória eu provavelmente sentiria frio só de estar por perto.

 A dor que senti em meu peito pela falta de fôlego não foi nem um pouco equiparável à que se fazia presente em minhas costas, cortando qualquer ligação que ainda tinha com as duas memórias. Era como se estivessem me rasgando de dentro para fora.

 Não sou burro. Aquela voz somada ao que acabei de presenciar só poderia significar que:

 Apago ao lado das portas, sentindo meu rosto ir de encontro à calçada com um baque surdo.


 *Hear Me*


 Sehun.


 Existiam várias pequenas coisas sobre Kyungsoo que eu não entendia. E a dúvida aumentou de tamanho quando vi de relance, no memorial do hospital, a foto do meu hóspede pendurada em um local de honra.

 Tive que voltar ao local umas cinco vezes sem que o outro percebesse, para confirmar os fatos e ver se minha mente não me pregava nenhuma peça.

 Do Kyungsoo é um homem morto.

 Então eu estava abrigando quem? Ou o quê? Um fantasma?

 Apenas peguei minhas coisas e fui para o hospital, ficar ao lado de Jongin. O rumo que esta história estava tomando não me agradava.

 Foi por volta das oito da noite que o enfermeiro apareceu de novo, demorando o suficiente para que eu fizesse algumas pesquisas em meu celular sobre -por mais que não acreditasse em nada disso- mitologia.

 Estava silencioso, e seus olhos não tinham o mesmo brilho que mais cedo. Finalmente estava começando a se assemelhar mais à um corpo sem vida.

 “Olá, Sehun.” Até a voz do maldito estava mais grossa. Custou-me toda a força que tinha para não afastar ele ou matar ele imediatamente. Não é culpa de Kyungsoo.

 “Dispense as boas maneiras, você não é Kyungsoo.” Respondo, me levantando para ficar ao lado de Jongin.

 “Vi que fez suas pesquisas, podemos ser objetivos, então?” Sorriu. “Não é como se você tivesse conhecido ele, mesmo.”

 Fiz uma careta ao constatar que estava certo, mas apertei com força a contenção da maca.

 “Qinguang? É um nome bem feio. Você não vai levar o meu Jongin.”

 De onde veio aquilo? Meu?

 “Não gosto muito do nome que me deram, mas não controlo o submundo inteiro, só a primeira parte.” Encarei ele nos olhos. Uma aura forte o rodeava, mas não me deixei intimidar. “Você é um garoto inteligente, Sehun, então deve entender como a natureza funciona, certo?”

 “Desde quando possuir o corpo de uma pessoa à beira da morte é natural? Ele te deu permissão para fazer isso?”

 Mesmo assim, me afasto do leito. Não sou teimoso a ponto de desafiar o demônio daquela forma. Não tinha muito o que fazer.

 “Considere isso como um crédito. Kyungsoo era uma pessoa boa, e teve a chance de viver mais um pouco fazendo o que gosta. Mas a hora chegou.” Piscou, se aproximando de Jongin.

 “Calma. Se ele morreu e está no memorial, como você têm ficado no hospital esse tempo todo?”

 Me acalmei ao ver que não era tão agressivo quanto imaginava. Se não fosse a personificação da morte, não iria reclamar de passar um tempo na presença dele.

 “Só você está me vendo, Sehun. Estou efetivamente morto para todos os outros.”

 Assenti, sem palavras, e observo o mais baixo se curvar sobre Jongin, traçando as feições de seu rosto com cuidado, e não vou mentir, senti uma pontada de ciúmes. Não era certo sentir ciúmes de alguém que há muito não era meu, muito menos de um morto, mas eu senti.

 “Possua Jongin.” Ditei, o surpreendendo. Ele se vira para me olhar novamente.

 “Sehun… você não pode tomar decisões por ele. É doloroso demais. Ele já está em um estado que nem mais alma ele tem.”

 Dou de ombros, ainda olhando Jongin.

 “Eu não me importo, eu preciso falar com ele, preciso me desculpar.” Respiro fundo.

 “E se ele voltar sem memória? É uma possibilidade. E eu divido a consciência com Kyungsoo, nem sempre ele está no controle.”

 “Possibilidade, um risco que vale a pena correr. Se ele não se lembrar de nada, então se apaixonará de novo por mim, trabalharei para isso.” Sorri, cansado. “E quanto à consciência, tudo bem. Eu cuido de você, também.”

 Não acreditava que estava me dispondo a viver em um triângulo com um homem e um demônio, porém o último mês fora tão estressante que não poderia desejar outra coisa além disso. Queria apenas ver Jongin mais uma vez. E não ia admitir, mas gostava de Qinguang por perto.

 “O que você está falando é um absurdo… se algo sair do controle, a culpa vai ser unicamente sua, Oh Sehun. Arque com as conseqüências, se elas vierem.” Sua expressão se suavizou ao se curvar novamente sobre Jongin.

 “Obrigada.”

 Permaneci em silêncio quando os lábios do enfermeiro roçaram os do paciente em um selinho tranquilo que parecia ser digna de um filme. Nas costas do mais baixo, asas negras se fizeram visíveis, tão grandiosas que por um momento achei que não caberiam na sala. A tensão na sala se avolumou, e senti tudo à minha volta ficar escuro por alguns segundos. Pisco com força, e quando abro os olhos novamente, a tensão havia se dissipado e tudo estava claro novamente.

 O enfermeiro havia ido embora, deixando para trás apenas o cartão de identificação do hospital no chão. Sinto uma ansiedade tomar conta de mim à medida que chego perto da cama de Jongin.

 Um som irregular preencheu o quarto, e o monitor indicava novos sinais vitais.

 Então, ele abriu os olhos.


 

  


Notas Finais


SOCORRO QUE CLIMA, HEIN?
Ah, primeiramente quero ser breve e agradecer à minha escritora preferida (xiahbolic) por me dar apoio quando precisei, e aquelas ajudinhas de sempre, e as meninas que ficaram empolgadas quando contei que estava escrevendo essa fic...
Foi difícil, nunca consegui escrever algo tão grande em uma semana, e fiquei tão nervosa... Ai.
Sem mais delongas, o Netherworld Emissary é sim, parte da cultura chinesa, atende pelo nome de Qinguang e é o chefão da primeira camada do submundo, e é conhecido por coletar as almas (não só as más como as boas, ele não pune ninguém hahaha). É uma história bem interessante, se vocês se interessarem a gente conversa mais sobre o tema!
Enfim, espero que tenham gostado do tema que abordei aqui, e que eu possa trazer mais histórias diferentes que nem essa <3
Comentem o que acharam, beijo na ponta do nariz e até a próxima!


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