História Heart In Flames - Brown eyes

   A noite foi tranquila para todos, exceto para Camila que demorou algumas horas para pegar no sono. Várias coisas rondavam sua cabeça e ela não conseguia controlar tudo. Ainda sim sentia falta dos amigos, de Shawn – como todos haviam ficado em NYC – e mesmo que negasse, um pouco de Orlando. Já conseguia admitir para si mesma que não o amava mais, porém ele havia deixado uma única coisa para ela, a maior de todas as suas magoas. Embora ela tenha aprendido a conviver com isso e esteja cada vez melhor, ainda sim isso perturbava sua mente às vezes. Tudo oque ela tinha era a sua família, mas em principal Katy que é sua mãe. Quando chegou em casa e descobriu que Katy havia pegado o boletim de Ariana na escola e anda a levou para sair, ficou magoada. Não pelo fato de elas terem saído juntas, mas por não terem a convidado e também pela Katy estar sempre “ocupada” quando ela a chamava para sair. Tudo não passava de ciúme, mas ela negava admitir isso.

   -Isso é seu? – Ariana perguntou estendendo uma calça cor de rosa e a analisando com os olhos atentos.

   -Sim, por quê? – Camila respondeu e perguntou com a minha vontade, ainda estava brava e um de seus defeitos era descontar nas pessoas erradas.

   -É linda, onde comprou? – Ari dobrou a calça e a deixou em cima da cama onde estava.

   -Minha mãe que me deu, porque você não pergunta a ela? Aposto que ela vai adorar te levar lá e comprar várias para você. – Disse seca e arrogante e levantou da sua cama e foi pentear os cabelos, os prendendo em um rabo de cavalo depois.

   -Ah, não acredito. – Ariana seguiu em direção a Camila, ficando atrás dela. – Esta com ciúme da sua mãe?

   -Oque? – Se virou na cadeira para encarar Ariana. – Não fale merda, garota.

   -Eu acho que você está sim e isso é normal, mas oque não é normal é você descontar isso em mim. – Disse no mesmo tom. Colocou seu casaco e saiu do quarto batendo a porta e deixando Camila sozinha.

   Eram dez para sete da manhã e elas já estavam discutindo. Não era oque queriam, mas Camila não facilitava para que se dessem bem. Na verdade, tudo havia começado super bem entre elas, oque fez com que elas construíssem um afeto uma pela outra, mas essa pequena discussão não estava levando em nada.

   Camila colocou sua blusa verde musgo com um desenho de um ET e desceu para cozinha recebendo olhares de todos, exceto Ariana que estava de costas para ela e servindo o seu café.

   -Bom dia. – Disse Katy carinhosa e um pouco sonolenta, mas não obteve uma resposta. – Há algo errado para você não me responder, Camila? – Perguntou a repreendendo.

   -Não, mas talvez seja um bom dia só para você. – Disse irônica pegando sua bolsa e um iogurte na geladeira.

   -Eu não estou a fim de discutir com você por causa de sua bipolaridade, então vamos parar por aqui. – Katy disse pegando um pouco pesado e recebendo olhares de John. Ariana se sentou ao seu lado e recebeu um olhar semicerrado de Camila.

   -Tanto faz. Vou para a escola com a Allison, tchau. – Saiu antes de qualquer um a responder.

   -Vocês duas brigaram? – Perguntou John enquanto adoçava o seu café.

   -Não, mas ela é minha filha e eu a conheço. Tem alguma coisa incomodando ela e ao invés de ela falar, ela discute comigo. – Katy disse e em seguida levou a xicara até sua boca.

   -Ela só esta com ciúme de você porque saímos juntas ontem. – Disse Ariana.

   -Vocês não a convidaram? – Perguntou John atento a conversa.

   -Não, ela tinha uma aula importante e Ari estava dispensada. Queríamos nos conhecer melhor e saímos sozinhas, não há nada de errado nisso. – Katy disse em sua defesa.

   -Talvez ela tenha se sentido ofendida. Sabe, você é a mãe dela e pelo oque eu vi vocês são bem próximas e de repente você convida Ariana para sair sendo que elas tem a mesma idade, não é uma amiga sua e sim uma adolescente. É como se você estivesse a substituindo. –John disse calmo.

   -Eu não estou a substituindo.

   -Isso foi apenas um exemplo, digo que ela deve estar se sentindo assim. – Se explicou.

   -Ela não falou direito comigo hoje, então acho que deve estar zangada com nós duas. – Disse Ariana enquanto Theo brincava atento com as unhas dela.

   -Ok, mais tarde converso com ela. Vocês têm razão. – Katy disse após dar um suspiro.

                                             ***

   Eram dez e quarenta e cinco da tarde e o vento ecoava gelado pelas ruas, junto de nuvens que ameaçavam derrubar chuva a qualquer momento. Um silêncio na rua. Ouvia-se apenas os carros passando, mas não por muito tempo. O sinal do quarto período ecoou por toda escola, e logo os alunos de algumas turmas – que saram mais cedo – já traziam vida para a rua deserta de pedestres.

   Camila estava andando pela rua que ligava a escola até a sua “nova casa” e ouviu uma voz lhe chamando, já sabia quem era então não parou. Mais alguns segundos e foi obrigada a parar quando Ariana chegou ao seu lado ofegante por ter corrido.

   -Posso te levar em um lugar? – Perguntou com a respiração pesada.

   -Eu acho que você está precisando de alguns exercícios... – Disse e iria continuar, mas parou ao evr a menina de cabelos castanhos segurando oque parecia ser uma bombinha de ar. – Esquece.

   -Então. Posso ou não? – Perguntou após apertar o jato três vezes e voltar com a respiração normal.

   -Oque tem de especial nesse lugar que você quer tanto me levar? – Perguntou parando na calçada, e as pessoas que vinham em sua direção pela passada estreita tiveram que desviar das duas.

   -Você vai ver. – Disse e a puxou pelo braço. Camila não hesitou, estava totalmente entediada e agora, curiosa.

   Cinco minutos caminhando e elas chegaram a um campo totalmente vazio, exceto por um grupo de cinco jovens que faziam piquenique no gramado distante. Era um campo com um gramado lindo e um lado bem no meio com alguns patos nadando. Sua volta era cheia de arvores com folhas cor de rosa e algumas flores plantadas em volta delas.  Era um lugar simples, mas sua simplicidade o deixava muito bonito. Ariana pegou na mão de Camila e a levou até um tronco, se sentando e apalpando ao seu lado para que Camila se sentasse também.

   -É aqui que eu costumo vir quando estou chateada. – Ela disse olhando o lago em sua frente e Camila ficou a observando. – Descobri esse lugar quando me mudei para cá. Me sentia sozinha e com raiva de estar aqui longe de tudo, e então um dia eu estava caminhando pela rua e encontrei esse lugar. – Ela dizia suave e devagar.

   -É realmente um lugar muito bonito. – Camila disse no mesmo tom, um tanto mais confuso. – Você vem sempre aqui?

   -Ultimamente eu estive ocupada demais, mas esse lugar me trás paz, então sim. – Disse e olhou sorrindo para Camila que correspondeu seu sorriso – Eu venho para cá e observo as pessoas felizes e então penso sobre oque estou passando e nas pessoas em minhas volta.

   -E porque você me trouxe aqui? – Camila perguntou baixinho. – Devera estar brava pelo jeito que falei com você.

   -Para falar a verdade, não fiquei nem um pouco brava. Te trouxe aqui porque acho que você merecia essa paz e deveria pensar no que há de errado. Eu sei pelo oque já passou. – Disse olhando para o chão e mexendo os pés sem jeito.

   -Obrigada. E... Desculpe por ter te tratado mal. – Disse ainda mais sem jeito e olhou para os pés de Ariana que se mexia em nervosismo.

   -Aquilo não foi nada. Eu e Katy deveríamos ter te convidado, mas você havia comentado que teria um trabalho hoje e como eu não tive aula, fomos ao shopping. – Disse e olhou para Camila.

   -E como foi lá? – Perguntou olhando nos olhos de Ariana.

   -Foi legal. Sabe, eu estava com alguns problemas e Katy me ajudou. Ela é uma ótima pessoa e foi uma ótima companhia. Agora sei por que sentiu ciúme. – Disse e riu. Camila riu logo em seguida.

   -Sim, ela é. – Concordou.

   -Você deveria se abrir mais com ela, isso ajuda. E também, a saber, conversar quando estiver brava porque você pode magoar algumas pessoas. – Ari disse em um tom baixo.

   -Vou manter isso em mente, prometo. – Disse e sorriu para Ariana entrelaçando os seus dedos. Sentia-se tão amada e cuidada ao lado dela.

   -Tem mais alguma coisa incomodando você? – Ariana pergunta ao notar que Camila abaixou a cabeça e entristeceu o olhar. Camila olhou para ela e acenou com a cabeça.

   -Meu quase namorado terminou comigo. – Disse com a voz triste.

   -Eu... Eu sinto muito. – Respondeu Ariana e fez carinho nas costas dela. Não sabia muito oque dizer para conforta-la, mas a entendia.

   -Não sinta, não fazia nenhuma diferença. Não nos vemos há alguns meses e não teria como dar certo.

   -Se fosse amor de verdade não teria acabado. – Ariana disse puxando o rosto de Camila para olha-la. – Isso foi hoje?

   -Sim. Ele mandou um sms enquanto eu estava na aula. Disse que havia me traído com uma menina da sala dele e que sentia muito. – Disse com a voz embargada.

   -Ele é um tremendo idiota e não te merece. – Ariana a abraçou. – Você ainda vai encontrar alguém melhor. Alguém que te ame de verdade e que te valorize. – Desfez o abraço e acariciou o rosto de Camila.

   -Ta tudo bem... Eu descobri que isso nem importava tanto assim. – Disse Camila e sorriu para Ariana.

   -Então... – Ariana começou a falar e foi interrompida por um trovão que foi acompanhado por pingos finos de chuva. – Acho melhor irmos para casa. – Disse e riu.

   -Você já tem dezesseis anos, porque ainda não dirige? – Camila perguntou enquanto corriam para não se molharem, e também por diversão.

   -Desculpa não ter um carro para te tirar da chuva madame. – Arrancou risadas de Camila. – Eu reprovei no teste, mas fiz tudo de novo e estou quase tirando a minha carteira de motorista.

   -Isso é bom, assim você pode nos levar para casa depois da escola e não iremos depender de minha mãe ou seu pai. – Disse Camila correndo toda desengonçada.

   -Quem disse que eu vou te dar carona? – Ariana perguntou. Camila iria respondê-la, mas notou que ela não estava mais correndo ao seu lado. Parou e olhou para trás. Lá estava ela, sentada no chão e fazendo força para conseguir respirar. A chuva estava mais forte as deixando encharcadas e aquela cena de Ariana passando mal com a chuva caindo sobre ela apertou o coração de Camila.

   -Droga! – Disse indo em direção a Ariana e se ajoelhando no chão na frente dela. – Respira... Onde está sua bombinha? – Ariana apontou para a Mochila dela que estava com Camila, já que ela levara as duas.

   -Achei. – Disse pegando rápido e ajudando Ariana. Já estava no quarto jato e nada parecia mudar muito, oque a deixou desesperada. –Ah meu Deus! – Disse com as mãos na cabeça e então teve uma ideia. – Deita. Em uma escala de zero a dez em qual você está?

   -Oi... – Ariana completou com os dedos dizendo oito. Não estava conseguindo terminar a palavra e estava deixando Camila realmente assustada. Deitou-se e Camila olhou em volta, não tinha ninguém na rua.

   -Respira, você consegue. Nada pode te impedir, eu acredito em você. – Disse colocando os braços de Ariana para cima e agora as duas estavam encharcadas da água da chuva e Camila não tinha nenhuma experiência, oque iria dificultar mais ainda.

   Camila tentou leva-la até uma parada de ônibus que estava há alguns passos atrás, onde se protegeriam da chuva. Ariana agora se encontrava molhada dos pés a cabeça, porém estava com a respiração voltando ao normal.

   -Você está melhor? – Camila perguntou colocando seu cabelo solto para trás.

   -Sim, obrigado. – Disse calma e com os olhos assustados. –Isso não esta fazendo efeito na hora. – Disse pegando seu remédio e guardando dentro da mochila.

   -Você precisa dar um jeito de trocar isso.

   -Eu sei, mas normalmente eu não corro.

   -Você não deveria ter aceitado quando eu disse para corrermos, e se eu tivesse me ligado que você tinha asma eu não teria convidado. – Camila disse como se repreendesse uma criança.

   -Eu sei, mas não queria parecer chata. Desculpe-me, nunca foi mais sério que isso. – Disse calma.

   -Tudo bem, mas eu fiquei preocupada. Você estava ficando roxa! – Disse apavorada e Ariana riu.

   -Liga para sua mãe vir buscar a gente aqui. – Disse ainda rindo. Camila a olhou brava por ela estar rindo, mas ligou para Katy dando a explicação de tudo que havia acontecido e Katy chegou onde estavam em sete minutos.

                                              ***

   Katy entrou no quarto de John, porém não foi notada por ninguém ali. Amou a cena que viu. Ainda estava na porta e sua visão era de John deitado de lado na cama com seus óculos fazendo palavras cruzadas e Theo sentado a sua frente desenhando com uns óculos que obviamente era de John. Não se conteve em tirar uma foto, porém o barulho da câmera fez com que os dois a olhassem.

   -Não resisti. Vocês dois parecem parentes. – Disse entrando no quarto e John riu.

   -Talvez sejamos em oura vida. – John disse a observando dos pés a cabeça. – Bonita camisola. – Katy vestia uma camisola azul turquesa comprida que ia até os pés e era repleta de renda. Não era nada sensual ou chamativo, mas realçava suas curvas.

   -Obrigado. – Disse sorrindo.

   -Olha mamãe, eu tô desenhando. – Theo disse mostrando a folha.

   -É mesmo? Deixa eu ver. – Disse indo se sentar ao lado dele e se direcionando a John. – Esses óculos não são de grau, né? – Perguntou e ele riu.

   -Mas é claro que não Katy, eu não o deixaria usar se fosse. – Ela assentiu e direcionou-se a folha que teu lhe alcançava.

   -Mamãe, Mila, eu, papai. – Disse apontando para os rabiscos, dois grandes, um médio e um pequeno e atrás oque Katy julgava ser uma casa. Katy sentiu pena e ao mesmo tempo angustia, ele estava com saudade do pai e desenhou a família, oque mostra que ele não entendeu a separação.

   -Esta lindo seu desenho, filho. – Disse acariciando os cabelos do pequeno.

   -Mamãe, cadê o papai? – Perguntou com os olhinhos atentos e Katy olhou para John procurando por ajuda.

   -Esta mais do que na hora de você conversar com ele. – John disse baixo para que só ela ouvisse.

   -Theo... – Uma história já se formava em sua cabeça e então ela começou a explicar. – Às vezes os papais e as mamães não estão felizes juntos, então eles não ficam mais juntos, eles se separam para poderem ficar felizes. Isso foi oque aconteceu. Eu e seu papai não estávamos mais bem juntos. Nós vimos para cá e ele ficou lá onde era a nossa casa. Só não vem te ver porque ele esta trabalhando demais, mas se tudo der certo você ainda vai ver ele. – Explicou calmamente e sentiu que não deu muito certo, mas o menino ainda mantinha os olhos atentos nela.

   -Ele foi embola? – Aquela pergunta atingiu o peito de Katy em cheio.

   -Sim, mas era porque ele estava triste. Ele disse que vai trabalhar para poder vir ver você. Não se preocupe, esta bem? – Perguntou e ele assentiu e em seguida bocejou. -Já é meia noite, acho melhor você dormir.

   Katy levou Theo até sua cama e lá contou algumas histórias de dinossauro. Ele não demorou em pegar no sono. Katy passou pelo quarto das meninas e elas já estavam dormindo.

   -Você acha que eu conversei com ele direito? – Disse ao entrar ao quarto de John.

   -Sim, talvez não tenha explicado muito bem, mas você é uma ótima mãe e tenho certeza que ele entendeu. – Ele disse e ela se sentou ao seu lado ficando entre seus braços que logo a abraçaram. – Se você achar que é preciso, leve ele ao psicólogo. Eu conheço um muito bom.

   -Obrigada, vou pensar melhor nisso. – Disse e suspirou. – John... – Levantou a cabeça para olha-lo.

   -Diga.

   -Obrigado.

   -Pelo oque exatamente? – Ele perguntou acariciando o braço dela.

   -Foi você que me manteve de pé e eu não como eu estaria agora. Obrigado por estar comigo.

   -Você não precisa agradecer, eu sempre vou estar com você. – Beijou os lábios dela.

   -Eu te amo.

   -Também te amo. Porque você não dorme aqui comigo hoje? Acordamos mais cedo do que todos. – Ela sorriu e assentiu. Logo se arrumaram de baixo das cobertas e John apagou a luze depois abraçou Katy por trás, onde acabaram pegando no sono sem muita demora.