História Heart tied to the devil - Tortas e condições.

Os gritos haviam parado. O motivo? Theon Greyjoy havia morrido para o nascimento de Reek. Sim, era assim que Ramsay havia nomeado o herdeiro das Ilhas de Ferro. Uma criatura submissa, obediente e quebrada, como um rato de estimação. Agora mais do que nunca necessitava de meus cuidados, o que fez que confiasse cada vez mais em mim. Toda noite, Reek fugia do canil em que o bastardo Bolton havia colocado-o e encaminhava-se até os meus aposentos. Repousava seu crânio sobre minhas pernas cruzadas enquanto delicadamente eu envolvia suas madeixas com meus pequeninos dedos, acariciando-as. Lia um livro velho que havia achado e ele permanecia horas encolhido sobre a minha proteção. Ele era tão frágil, tão miserável, não conseguia nutrir ódio pelo mesmo. Sim, eu sei das histórias que contam sobre ele.

Yara havia vindo a algumas noites busca-lo. Seus esforços foram em vão. Theon gritou como nunca antes pedindo por socorro, seus berros ecoavam por todo Forte do Pavor. Ramsay que transava comigo no momento, largou-me imediatamente, apressando-se para livrar seu brinquedo da mão dos Homens de Ferro. Reek, assustado, correu em minha direção estreitando-se sobre os meus braços. Repetia inúmeras vezes que aqueles homens queriam leva-lo de seu lorde e de sua amada lady.

Com um pequenino tecido, espalhava sangue sobre a minha face, isso é o que me traz jovialidade e beleza. Eu roubava a vida daqueles que matava e então as tinha no líquido vermelho expelido por seus cadáveres. Cantarolava alguma música, recostada sobre a parede de pedras, observando a imensidão do céu turvo de Forte do Pavor. Myranda, Ramsay e Reek haviam saído sobre a floresta, caçando uma garota. Suspirei ao lembrar da mesma, tão bela e teria sua vida desperdiçada nos dentes das cadelas do bastardo. Após deixar que a água escorresse por meu rosto, tirando qualquer tipo de resíduo da mesma direcionei-me a cozinha, animada. Contemplei o corpo sem vida acomodado no centro do local, perlustrei-o por alguns minutos, antes de sacar uma lâmina extremamente afiada. Escorreguei-a sobre o meu indicador, sentindo uma leve dor ao ter a pele cortada. Aconcheguei-me, confortavelmente pois sabia que demoraria ali. Pousei um cesto ao meu lado, soltando o ar pesadamente com um extenso sorriso marcado em meus lábios avermelhados. Delicadamente, transpassava a lâmina sobre algumas regiões do soldado, sabendo que a carne ali seria mais macia. O corte era difícil, o corpo estava tão rígido que eu percebi instantaneamente que aquela carne não serviria de nada. Cruzei meus braços na altura dos seios, carrancuda. Empurrei o cesto com um de meus pés, fazendo com que os restos do cadáver do soldado Greyjoy fossem ao chão. Resmunguei, insatisfeita. Meus lábios avermelhados se tornaram um grande bico e eu franzi o cenho, tentando esboçar toda a raiva que eu sentia no momento por não conseguir o que eu queria. Porém, logo uma ideia surgiu em minha mente, fazendo com que eu saltasse animada, voltando-me para o corpo despedaçado. Partindo do tórax do homem, segui um caminho até seu abdômen com meu punhal, delicadamente. Não queria estragar os ingredientes abrindo-o enfurecidamente. Com extrema calmar aprofundei a lâmina cada vez mais, encontrando gordura e músculos. Cravei os dedos sobre a pele, rasgando-a, encontrando os órgãos ainda intactos. Agradeci mentalmente deixando que um grande sorriso tomasse conta de minha face. Arrumei o fígado no cesto, assim como os rins após retira-los com muito cuidado. Usando um martelo mediano, golpeei a caixa torácica do homem inúmeras vezes, quebrando-a com um pouco de esforço, assim recolhendo seu coração, colocando-o também no cesto. Analisei por alguns instantes o corpo a minha frente.

— Não posso desperdiçar tanta carne...

Terminei de tirar os órgãos que sobravam apenas sangue restava no local. Com um pequeno recipiente, coloquei-me a tirar aquele líquido restante, jogando-o sobre uma jarra rústica. Com dificuldade, rompi os ossos da costela, colocando-os sobre uma bandeja. Acabei de fatiar o soldado, colocando seus restos sobre um cesto separado. Enquanto banhava os órgãos, cantarolava algo. Assim que terminei, cortei-os em pequenos pedaços, misturando-os sobre uma tigela. Preparei a massa da torta, adicionando os rins, fígado e coração. Assei-a, assim como as costelas. Perdi totalmente a noção do tempo, haviam se passado horas que eu havia adentrado a cozinha. Um odor agradável envolvia todo o local, avisando sobre os alimentos prontos. Retirei-os do fogo, pousando-os sobre a mesa amadeirada.

Fixei o cesto com os restos do homem sobre os braços quando fui surpreendida por Reek, que partiu em minha direção animado. Suas íris pousaram sobre o pequeno banquete, mantendo-se ali por alguns segundos. Avizinhou-se de mim, abraçando-me como uma criança carente, levei meus pequeninos dedos as suas madeixas, afagando-as.

— Minha senhora, isso parece tão apetitoso.

Theon se pronunciou com um pequenino sorriso

— Fiz para o jantar de hoje. Prometo levar um grande pedaço a você!

Tentei seguir meu caminho, separando-me do rapaz. Mas ele não permitiu, não parecia muito confortável com algo.

— Aconteceu algo, meu garoto?

— Roose chegou. Junto a uma gorda, acho que eles estão casados.

Finalmente Roose havia chegado. Ramsay provavelmente estava ansioso e encheria-o de perguntas. Entreguei o cesto ao jovem Greyjoy, apalpando minhas vestes no intuito de arruma-las, encontraria Lorde Bolton o mais rápido possível.

— Reek, leve isso aos cães, eles precisam se alimentar. Só aquela garotinha não deve ter tirado a fome daqueles brutos montes.

Virou-se para encaminhar-se para fora do local, porém, interceptei-o agarrando-o pelo pulso, fazendo com que se virasse para mim repentinamente.

— Robb Stark...Robb Stark foi morto. Foi morto por Roose, sei como ele era importante para você e como Ramsay vai tentar persuadi-lo com isso. Eu sinto muito...

O objeto que levava consigo foi ao chão e Reek apressou-se para aninhar-se sobre os meus braços, ouvia seu choramingo e as lágrimas que molhavam minha roupa. Afastei-o, escorregando meus polegares sobre o seu rosto, molhado, limpando-o.

— Força. O jogo não acaba aqui.

Com passos largos marchei sobre Forte do Pavor a procura de Roose. Alguns criados me disseram de seu possível paradeiro, então apressei-me para encontra-lo. Repousei-me sobre a grande porta de madeira, na tentativa de escutar algo. Em vão. Impaciente, abri-a, adentrando a grande sala mal iluminada. Uma grande janela chamava a atenção por ser o único local de onde parecia vir uma luz direta. Duas mulheres encontravam-se paradas a minhas costas, segurando as bandejas com a torta e as costelas. Todos os olhares direcionaram-se a mim. Ramsay, Roose e um desconhecido que parecia afiar sua espada. A saliva passeou por minha garganta como algo cortante.

— Achei que pudessem estar com fome.

Com meu indicador, apontei as estruturas onde deveriam ser colocados os alimentos. Assim elas fizeram e logo se retiraram a minha ordem. Com um sorriso envergonhado no canto dos lábios, aproximei-me dos homens, mantendo minhas mãos unidas. Theon já se encontrava ali, suas íris permaneciam fixadas no solo.

— Pedi para Ramsay te trazer até aqui, mas ele disse que estaria descansando. — Roose lançou um olhar de desaprovação ao filho, voltando-se para mim — Como tem passado?

— Ramsay tem sido ótimo comigo, estou adorando aqui. Não vai comer? Fiz para vocês. Na verdade, era para o jantar, mas devem estar famintos.

O lorde analisou-me por alguns instantes, causando-me arrepios com suas íris penetrantes. Cravou seu garfo sobre um grande pedaço de torta, mordiscando-o. Balançou a cabeça, crispando os lábios sem cor, como se aprovasse o que acabara de provar.

— Não vai me perguntar o motivo de eu ter te trazido para cá, te tirado dos Umber, de sua família? E em questão de sua torta, está maravilhosa, Anezka.

— Não perguntarei, pois sei que teve um bom motivo. Não ousaria contesta-lo, Lorde Bolton. – Sorri ao receber a aprovação de Roose — Os mortos nos servem bem.

— Pai, temos coisas mais importantes a tratar, não é mesmo?

Ramsay intrometeu-se.

— Só fale quando eu mandar, Ramsay.

— Não quero atrapalhar. Só vim alimenta-los. Com licença.

Roose assentiu. Retirei-me do cômodo, fechando a porta calmamente. Não conseguia escutar uma misera palavra o que enfurecia-me a cada segundo mais. Algum tempo se passou e eu cansei da agonia de esperar saber de algo, então apenas segui aos meus aposentos, exausta. Choquei meu corpo sobre o acolchoado, aconchegando-me. Bocejei algumas vezes, na tentativa de lutar contra o sono que sentia, mas não pude batalhar contra o mesmo por muito tempo, adormecendo.

Despertei com alguns ruídos do ranger da porta. Destranquei minhas pálpebras calmamente, enxergando turvamente a silhueta de um homem que aproximava-se cada vez mais. A barra de minhas vestes eram repuxadas repetidamente e eu podia perceber alguns resmungos.

— Minha senhora, não permita. Minha senhora, não permita.

— Oras, Theon, não permita o que? Não percebestes que eu descansava?

Apoiei-me sobre os meus cotovelos, finalmente encarando o rapaz.

— Vão caçar os meninos Stark, não deixe, minha senhora. Não deixe...O homem ruim com a espada, o homem ruim com a espada...

Meu coração foi arremessado até minha língua, batucando freneticamente. Levantei-me com rispidez, agarrando Reek por seus panos, trazendo-o para perto.

— Você contou a eles, Theon? Eu não acredito. Eu não acredito!

As lágrimas escorriam pela face do mesmo e as palavras escorregavam de seus lábios inúmeras vezes “me perdoe, me perdoe”. Soltei-o com brutalidade, fazendo com que fosse ao chão gélido, causando um estrondo. Corri pelos corredores da fortaleza sem saber ao certo o que faria. Encarava o solo, desamparada. Aquilo me torturava, atormentava cada um de meus pensamentos. Me sentia quebrada, incapaz. Em meio a tantos devaneios, choquei-me contra algo. Ou alguém. Não era muito alto, a barba não muito longa, íris profundamente castanhas que agora passeavam por mim, analisando-me desde o meu primeiro fio negro de cabelo a ponta de meu vestido cinza. Reconheci-o sem muita dificuldade, era o homem no qual Theon falava, o mesmo que estava afiando sua espada na sala de Roose mais cedo.

— O que a mocinha faz tão tarde fora da cama? Procura diversão?

Suas palavras causavam-me nojo, mas eu precisava dele no momento.

— A pergunta certa seria: você procura diversão?

Indaguei, pousando meu palmar sobre os pelos do animal em seu manto.

— Sabe...eu nunca trepei com uma lady. A buceta de vocês, ladys, devem valer por mil putas que já trepei.

— Pode me ter com uma condição...me leve para a caçada com você.

Foi tudo tão rápido, quando percebi já havia dito. Ele levaria isso até Roose que provavelmente ficaria furioso com a minha possível fuga. Procurei manter a calma na tentativa de persuadir o homem.

— Feito.

Feito? Tão fácil? Logo ele vai rir dizendo como eu era ridícula e que nunca faria isso.

— Feito?

Indaguei, encarando-o com o cenho franzido e uma expressão um tanto confusa.

— Ramsay te quer morta. Se não morrer, eu trepo com você. Se morrer, o bastardo fica feliz e não me perturba mais com isso. Coloque algumas roupas de homem, prenda esses cabelos, vamos para o Castelo Negro. E ah...já que quer ir como meu colega para a patrulha, meu nome é Locke.

Permaneci estática. Ou morreria ou treparia com esse homem imundo. Não sei dizer o que era pior. Não quero imaginar o pior.