História Heart tied to the devil - O jantar.

A escuridão já havia descolorido o céu, deixando-o inteiramente negro. A gélida brisa já começava a tomar conta de Ultima lareira, fazendo com que eu adentrasse o castelo rapidamente aconchegando-me a extensa mesa com a minha família. Acomodei-me, passeando minhas íris azuis quase esbranquiçadas por todos os presentes. Minha mãe não parecia feliz, meu irmão muito menos, ambos tinham expressões carrancudas. Meu pai, Rickard, desfiava um grande e suculento pedaço de bacon, despreocupado com qualquer acontecimento ao seu redor. Desconfortável, escorreguei meu palmar sobre um cálice, bebendo um pouco de vinho. Antes que eu pudesse repousar o objeto sobre a mesa novamente, Aldora se pronunciou.

— Os Bolton estão aqui, Rickard.

O homem soergueu seu crânio na direção da esposa, possivelmente exaltando-se com a notícia. Cerrou o punho, chocando-os violentamente sobre a madeira da mesa, esmagando o alimento que encontrava-se ali.

—  O que essas putinhas esfoladoras querem aqui?

Vociferou. Sua fúria era tamanha que por um momento achei que os fios de sua barba acobreada fossem se tornar chamas.

— Nem ao menos é um Bolton, meu pai. É apenas o bastardo.

Antoine debochou.

—  Cale-se, Antoine. Meu marido, o bastardo disse que Robb, o jovem lobo, cairá e que os Bolton serão os novos guardiões do Norte. O garoto ofereceu clemencia por nossa casa se nos unirmos a eles.

A mulher de longos cabelos castanhos aproximou-se do marido, pousando sua mão sobre os punhos do mesmo, encarando-o fixamente.

— Oras, isso é uma ofensa! Dizem isso sobre o jovem Robb Stark e ainda mandam um bastardo a minha casa?! Eu é que deveria tirar a pele desse bastardo e de seu pai e exibir por aí.

Rickard afastou seu assento com brutalidade, marchando até a saída da grande sala feita por pedras acinzentadas.

— Anezka está apaixonada pelo bastardo de Forte do Pavor, meu pai.

Meu irmão que até então permanecia calado deixou que essas palavras escorregassem de seus lábios malditos fazendo com que meu pai cessasse sua caminhada, voltando-se para mim.

—  É mentira, eu mal o conheço!

Esbravejei, na tentativa de defender-me.

—  Ele estava passando as mãos nos seus peitões.

Antoine iniciou uma série de movimentos sobre o seu toráx como se imitasse seios, deslizando seus palmares pelo local, enquanto emitia alguns gemidos, zombando claramente do ocorrido mais cedo.

—  Você me causa náuseas, garoto.

Nem ao menos esperei a resposta de meus pais ou de meu irmão, andando em largos passos para fora dali, direcionando-me até os meus aposentos. Meus sapatos em contato com o solo faziam um barulho azucrinante que começava a me tirar do sério. Meu vestido musgo arrastava-se por todo o local e eu podia ouvir ligeiramente a fofoca de alguns criados. Soltei o ar pesadamente ao finalmente trancar a grande porta amadeirada, pousando meu corpo exausto sobre o macio acolchoado. Minhas pálpebras pesadas fechavam-se inúmeras vezes. Até que esgotada de lutar contra o sono, deixei que meu crânio se chocasse delicadamente sobre o local, adormecendo.

Sem muita noção do que poderia estar ocorrendo, ouvi sons de lâminas se chocando e um tumulto incomum não muito longe dali podia ser facilmente percebido. Jurei ouvir Antoine e então sentei-me sobre a cama no mesmo instante, esfregando meus olhos, preocupada. Agarrei um pequeno castiçal tomado pela coragem, encaminhando-me para fora de meus aposentos. O frio fazia com que cada centímetro de meu corpo tornassem-se trêmulos. Deduzi sem dificuldade o local de onde nasciam os ruídos que me despertaram. Sorrateiramente desci as intermináveis escadas que levavam a parte inferior do castelo, deparando-me com uma cena que fez com que eu me arrepende-se de ter chegado ali.

Meu palmo escondeu meus lábios, impedindo que o berro escapasse dos mesmos. Soergui meu pé destro constatando o líquido vermelho que o banhava. Era sangue.