História Heart tied to the devil - O mistério sobre o passado de Anezka

A dor consumia os meus sentidos, torturava o meu corpo exausto e eu tinha a sensação de que meu crânio havia sido pisoteado incontáveis vezes. Não tinha certeza sobre o meu paradeiro, não tinha certeza sobre quase nada. Minhas pálpebras pesavam, trancando-se inúmeras vezes, apenas uma luz miúda atravessava-as. Múrmuros eram ouvidos parecendo tão distantes e o som dos calçados se chocando com o solo, logo, um ranger de uma porta. Senti a maciez do acolchoado tocar minha pele, confortando-me. Algo gélido e aveludado passeava ternamente sobre a extensão de meu braço. Meus pulsos foram brutalmente levados a altura de minha cabeça, sendo firmemente presos. O som do tecido de minhas vestes sendo esfarrapadas fez com que brevemente minhas pálpebras se abrissem, percebendo a real situação. Eu não estava livre, aquilo não tinha acabado. Minhas visão ainda turva, notou apenas as íris do homem que encontrava-se posicionado sobre o meu corpo. Elas pareciam ser feitas de gelo e sua pele era pálida como a neve. Minha vagina foi penetrada com violência, a dor espalhou-se pelo local, agoniando-me. O líquido quente e vermelho escorria, manchando cada centímetro dali. As investidas eram ainda mais brutas e meu corpo que mais parecia um peso morto, era impulsionado para frente, novamente descansei minhas pálpebras, enquanto lágrimas percorriam toda a minha face. Meus pensamentos se embaralhavam, mas apenas um era o que se destacava, o meu clamar pela morte. A cada batida de meu coração, eu desejava que fosse a última, que aquilo tudo tivesse um fim. Eu não entendia o por que de tanto sofrimento, nunca havia sentido tal dor e angustia.

— Ia se casar sem ao menos um aviso? Sem dar-me sua pureza, sua primeira noite? 

Sua voz era suave e vagarosa, como se recitasse uma poesia sobre a minha desgraça. Finalmente, senti como se pouco a pouco, minha vida se esvaísse a cada suspiro. A alegria do véu da morte tocava minha pele surrada. Quando tudo se tornou um breu, soube que era ali, o final de tudo. Da minha história, de qualquer riqueza, de qualquer lembrança. Por uma última vez, minhas íris foram reveladas, fixando-se no homem. O mesmo escorregou seus dedos gélidos sobre a minha face, pousando-os sobre minhas bochechas, delicadamente. Arrastou-os no local, limpando o que restava das lágrimas.

— Seus cabelos...não são cor de fogo como o dos Umber. São negros, tão negros que se assemelham...e seus olhos, são como o gelo. Sem cor, quase esbranquiçados. Garota, você é realmente uma Umber? Responda-me — Chacoalhava meu corpo, brandamente — Quem é o seu pai, Anezka?

Eu permanecia imóvel, apenas ouvindo suas indagações e seus incansáveis chacoalhões. As lágrimas haviam cessado, mas a dor em cada mínimo lugar de meu corpo maltratava-me.

— Roose, seu monstro!

Uma voz feminina. Uma voz feminina inconfundível.  Aldora, minha mãe, afogando-se em seu pranto. Roose, agarrava-a pelos ombros, tampando seus lábios com uma das mãos, impedindo-a de berrar por socorro.

— A garota. De quem Anezka é filha? Não minta para mim, Aldora.

Sua voz não era mais suave, agora o mesmo vociferava, cuspindo palavras na mulher que se debatia na tentativa de se livrar de suas garras.