História Heart tied to the devil - A chegada de Lady Umber.

Finalmente eu havia chegado. Mal conseguia manter-me firme, praticamente arrastando meu corpo cansado sobre o solo de Forte do Pavor. Escorei-me sobre os grandes portões da fortaleza, os fios negros de meu cabelo caiam sobre o meu rosto imundo. Dois soldados Bolton gritaram, indagando-me sobre a minha identidade.

— Anezka...Umber.

A cada letra minhas forças diminuíam, fazendo com que eu deslizasse sobre o portão, chocando-me contra o chão sem muita brutalidade. Não demorou para que meu corpo fosse recolhido por um dos soldados, apoiei meu braço sobre o homem, escondendo meu rosto em seu peitoral de ferro em função de sua armadura. Eu sentia os olhares sobre mim. Fui deixada sobre um acolchoado macio, delicadamente. Não tinha palavras para descrever como era repousar sobre uma cama após tantos conflitos, após tanto tempo dormindo sobre o solo duro, vivendo em miséria. Era como se eu fosse embalada em um sonho, uma sensação de prazer envolvia-me desde o dedão do pé até meu último fio de cabelo. Aconcheguei-me sentindo vagarosamente cada centímetro da cama em minha pele.

— Milady, queira me acompanhar.

Estava tão distraída com a sensação de alegria que tomava-me por inteira, que mal percebi uma jovem adentrando o local. Ela tinha longos cabelos castanhos que caiam sobre cascata sobre o seu corpo magro. Mantinha seu braço esticado, provavelmente para que eu agarrasse sua mão e seguisse-a. E assim fiz. Fui levada por um extenso e largo corredor, chegando a uma área não tão escura em função de uma janela não muito grande que refletia algum tipo de iluminação. Ao centro uma banheira. Era como se eu visse uma pela primeira vez. Desviei minha atenção a garota que ainda não havia se apresentado, olhando-a como se pedisse permissão para acomodar-me sobre o objeto. Ela apenas assentiu, observando-me com um largo sorriso na face. Senti seus pequenos e macios palmares escorrendo sobre os meus ombros, fazendo com que minha veste fosse ao chão, despindo-me por inteira. Ao adentrar a banheira e sentir a água tocar o meu corpo foi como se uma sensação de euforia se alastrasse fazendo com que algumas gargalhadas escapassem de meus lábios.

— Seu nome é Anezka, não? Sou Myranda. Ramsay pediu para que eu cuidasse de você até ele acabar de resolver alguns problemas.

A garota se pronunciou, gentilmente enquanto escorregava um pequeno pano esbranquiçado e encharcado sobre a minha pele.

— Você é uma Umber? Consegue imaginar o porque os Bolton estão tão interessados em você?

Myranda indagou, enquanto passeava com seus pequeninos dedos sobre os meus cabelos, limpando-os.

— Eu acho que eles querem o apoio da minha casa em guerras futuras. Talvez seja isso, Myranda. E você, o que faz aqui?

Inocentemente quis saber mais sobre a garota, no instante em que ela iniciou sua frase, a porta foi escancarada em um supetão, fazendo com que uma gélida corrente de ar adentrasse o local. Assustada, girei meu corpo na direção do estrondo. Era ele. Suas madeixas negras bagunçadas e suas íris quase esbranquiçadas penetrantes estavam em meu campo de visão. Afundei meu corpo sobre a água para que meus seios fartos não pudessem ser mais vistos.

— Já pode sair, Myranda.

— Mas, Ram...

Ramsay apenas encarou-a fixamente, nenhuma palavra saiu de seus lábios e Myranda apenas levantou-se, afastando-se. O bastardo avizinhou-se da banheira, acomodando-se ao lado da mesma, sem tirar sua atenção de mim. Seu palmar encontrou-se com a maçã de meu rosto, acariciando-a. Repousei meu crânio sobre seu palmo, fechando minhas pálpebras, calmamente sentindo seu leve toque.

— Eu te deixei a chance de partir. Você voltou. Porque fez isso?

— Prometi minha vida a você, Ramsay.

— Fez uma escolha cheia de honra, Lady Umber. Mas não posso dizer que foi uma sábia escolha.

A saliva atravessou minha goela rasgando-a. Seus dedos apertaram-se sobre o meu rosto, causando-me um grande incomodo. Fui solta com grande brutalidade, encolhendo-me, dando as costas ao homem.

— Vista-se, Umber. Tenho que te mostrar meu novo brinquedo.

Retire-me da água, deixando que a mesma escorresse e molhasse todo o chão, pingoteando por todo o caminho que eu traçava. Um vestido novo estava dobrado em cima de uma banqueta, agarrei-o, vestindo-o sem muita delonga com as íris de Ramsay cravadas em mim.

O mesmo encaminhou-se para fora da grande sala, caminhando em passos lentos até uma escadaria longa que parecia não ter fim. Eu seguia-o, sem pestanejar. Meus pés descalços tocavam o gélido piso de rocha, fazendo-me arrepiar. Mantinha meus braços unidos na esperança de trazer um mínimo de calor ao meu corpo.

— Meu pai me mandou cuidar de você. Ainda não consigo entender o motivo, talvez ele queira te manter como refém para ter o apoio da sua casa. De qualquer modo, estou responsável por você. Espero que não me desaponte, não vai querer saber o que acontece com quem me desaponta.

Sua voz era sombria e causava-me calafrios. Apenas as chamas de uma tocha iluminavam seu rosto que trazia um sorriso sádico.

— O seu brinquedo...desapontou você?

Ramsay cessou sua caminhada. Girou seus calcanhares, olhando-me profundamente. Chacoalhou seu crânio como se respondesse não a minha questão. Com sua mão livre, destrancou uma porta no final das escadarias, em um lugar úmido e escuro. Desconfiada, iniciei uma caminhada em direção ao local recém-aberto. Ouvi o barulho dos calçados do bastardo chocando-se contra o chão não muito longe de mim. Pensei que fosse uma emboscada, meu coração mais parecia um tambor, estava amedrontada. Mas não era isso, era pior. Quando as chamas iluminaram ao redor, pude ver claramente a peça em formato de cruz amadeirada. Levei meus pequeninos dedos ao encontro de meus lábios, tampando-os.