Ok, a noite não estava tão boa assim.
O sol acaba de se pôr. Mal tenho tempo de abrir os olhos direito e Dinah já me puxa para me erguer.
- Anda, nosso turno já vai começar. - Ela diz
Sim, nós temos que patrulhar essa maldita cidade. Isso me deixa zangada porque dificilmente nós veríamos ação, qualquer um pode mapear essa tal de "patrulha" e burla-la. Eu nunca daria um soco na cara de ser nenhum dessa maneira.
Dinah se afasta um pouco e cruza os braços. Ela está bem apertada na regata justa e na calça de estampa de exército. Os saltos deveriam deixá-la quase com 1,90m de altura.
- Nem vem com essa cara azeda pra mim, Camila, você sabe que eu não tenho medo de você.
Bufo. Ela tinha razão, Dinah era durona e uma vez ela havia deslocado minha mandíbula no tapa. Bons tempos.
Me ergo do meu colchão, pego roupas limpas e vou para banheiro. Depois de um tempo eu estou vestida com um short curtíssimo, um verde musgo e botas de salto alto, logo acrescento minha jaqueta de couro ao visual e estou pronta, maquiada e cheirosa.
Todos nós sabemos que eu tenho um alvo de olhos verdes para essa noite.
Pego meus socos ingleses e saímos do meu pequeno apartamento no subúrbio de Quart. Eu tenho um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha. Não podia reclamar, é aconchegante e tenho o que preciso.
Dinah entra em seu carro e eu monto em minha moto. Logo dirigimos pela cidade em busca de nossos companheiros de equipe, Shawn e a doce Lauren.
Ah, Lauren. O que eu não daria para repousar o meu corpo sobre aquela pele pálida, beijar aqueles lábios e foder aquela bunda? Parecia meio irreal esse meu sonho, pois Lauren definitivamente não parecia gostar de mim.
Achamos Shawn numa pequena praça, cruzando duas grande avenidas. Ele veste uma regata de renda preta, muito transparente; uma calça rosa e sapatos pretos, os braços estão cheios de pulseiras e ele tem uma shocker de espinhos no pescoço. Shawn é um vampiro bonito, eu admito, mas é um completo louco. Seu clã, os Malkavianos, são conhecidos pela insanidade e amaldiçoados pela verdade, eles sabem demais e por isso enlouquecem.
- Mendes. - Dinah diz, de dentro do carro.
Shawn abre um sorriso animado e acena para ela. Ele caminha até mim e nós apertamos as mãos num cumprimento, eu sorrio para ele e ele para mim. Shawn era um vampiro de Quart, assim como eu, eu o vejo em todas as reuniões desde que fui abraçada e em várias festas, tanto de membros quanto de humanos, mas nunca fomos próximos.
- Camila, finalmente teremos tempo livre para conversar. - Ele diz.
- Pelo quê estou vendo, teremos bastante tempo de tédio, até que tudo volte ao normal.
Shawn abre um sorriso divertido depois do que eu digo, como quem sabe demais e está achando os outros bobos. Seus longos dedos agarram o metal do guidom da minha motocicleta e ele passa a língua pelos lábios.
- Na verdade, Camila, nossas mais longas conversas serão permeadas de muita, muita dor de batalha...
Olho para Shawn atenta, esperando que ele diga mais alguma coisa, mas ele apenas se distancia da minha moto e segue para o banco de carona do carro de Dinah.
O carro permanece parado por alguns poucos minutos e logo ele sai, eu sigo aquele carro preto até o bairro mais nobre da cidade. Reconheço a grande mansão de alguns toreadores e de um ventrue ou outro. A cada rua que atravessamos, as construções vão ficando mais sofisticadas e mais caras, eu imagino se Harry Styles está chorando dentro de um destes muros, me compadeço um pouco de sua dor, afinal, Louis parecia ser o amor de Harry.
Paramos no portão de uma grande construção, ninguém sai do carro então eu desço de minha moto e me encosto no carro, perto da janela aberta de Dinah, assim consigo ouvir ela conversando ao telefone com ela.
Ela. Lauren. A figura feminina mais linda que eu já havia visto.
Infelizmente, uma ventrue.
Minutos depois, os portões se abrem e eu tenho que apertar meus braços os cruzando para que eu não faça papel de boba diante daquela imagem.
Lauren é linda. Ela veste uma calça feita sob medida preta, uma camisa grossa de mangas longas e gola alta na cor bordô, nos pés ela veste um salto fino preto. Tenho certeza que ela está usando mais dinheiro do que eu nunca tive na vida inteira.
Suas curvas estão incrivelmente bem abraçadas naquela calça, eu observo o cadenciar os seus quadris hipnotizada, só saindo do meu topor quando sua voz rouca soa firmemente.
- Repita para mim porque eu tenho que entrar nesse carro e não posso ir com meu motorista? - Soa enfezada.
- Primeiramente, Fora Temer. Depois, vamos todos juntos e só nós 4, sem nenhum subordinado, você e Shawn tem de estar perto de mim para que eu possa coordena-los em suas funções. E, por fim, eu mando aqui. Faça o que eu digo e entre no carro. - Dinah fala, projetando um pouco do seu corpo para fora do carro pela janela.
Olho novamente para Lauren e vejo seus olhos verdes brilhando intensamente. A tensão entre suas sobrancelhas me causou um arrepio na pele, era como se sua indignação me fosse uma ignição.
- Por que a brujah está de moto? - Ela pergunta.
- Porque Camila é nossa proteção. Ela tem de estar mais livre para luta e mais atenta também. - Shawn fala olhando para o horizonte.
- Mas se você quiser... - Eu me pronuncio - posso ir no carro com você... vocês.
Ela me olha. Analisa minha existência do pé a cabeça, faz uma careta ao ver minhas roupas, eu imagino, e depois volta-se a olhar-me nos olhos.
- Eu não quero um cão raivoso ao meu lado.
Depois de dito isso, ela abre a porta do carro, entra e bate a mesma. Eu olho para Dinah, que me olha dando um sorrisinho. Meu coração despenca da minha garganta e bate no chão, sinto uma tristeza ao pensar na dimensão da sua resposta. Qualquer brujah era chamado de "cão raivoso", mas nem todos lidam bem com essa ofensa.
- Vamos Camila. - Dinah diz, mais paciente do que eu nunca fui - Ou você vai perder toda a diversão.
Ela liga o carro e sai cantando pneu. Logo estou ao seu encalço.
(...)
Estávamos parados há mais de duas horas. Eu estava sentada no capô do carro, Dinah e Lauren conversavam um pouco mais à frente de mim, Shawn caminhava em círculos ao nosso redor.
Aparentemente a conversa das garotas se tratava sobre os motivos que as trouxeram para a cidade. Lauren vieram pois era a melhor amiga de Louis e quando soube do sumiço, correu de Miami até aqui. Dinah contou que fora enviada pela alta cúpula para investigar os sumiços nessa cidade.
A conversa das duas fluía de maneira maravilhosa, tratando-se da maior rixa entre clãs da Camarilla. Dinah era uma brujah sensata, nossos antigos eram assim, éramos pensadores e filósofos da antiguidade, os brujah eram estudiosos. Mas, estudando a sociedade, alguns entenderam que ela era podre e que precisávamos mudar, e cá estamos, revoltados com o sistema, tentando quebrá-lo a qualquer custo.
Transformar um humano em um vampiro se chama "abraço". Os revoltados abraçam humanos revoltados e assim não voltamos a nossa essência nunca, bom, eu acho que eu nunca voltaria, já Dinah cumpria um ótimo papel conversando com a Ventrue gostosa.
Passava das 1h da manhã quando um carro estaciona há alguns metros de nós. Shawn para de caminhar imediatamente e eu fiquei de pé no chão. Estamos na saída de cidade, então nada é comum de aparecer por aqui.
Do carro descem quatro indivíduos. Todos de cabeça raspada e roupas rasgadas. Pareciam skin-heads, se você quer saber. Um deles deu um passo à frente, pouco intimidado, e começou a falar.
- Boa noite, moças e cavalheiro. Gostaríamos de informa-loa que levaremos seu carro, sua moto e pertences caros.
Era isso? Estamos sendo assaltados?
Eu gargalho junto com meus companheiros, eu ri porque ele estava sendo educado enquanto tentava me roubar, aquilo era ridículo, não se fazem jovenzinhos trombadinhas como antigamente. Os homens se entreolham e outro deles fala.
- É melhor não resistirem nem darem uma de heróis, estamos armados.
Ele então levanta a camisa, revelando uma pistola no cós de sua calça jeans. Eu respiro profundamente, levo minhas mãos até meus bolsos e começo a calçar meus socos ingleses.
Calmamente vou caminho para frente do carro, eles me enxergam perfeitamente e sorriem com tara. Aquele olhar nojento sobre mim era divertido, inclusive, vários humanos nessa cidade idiota me lançavam aquele olhar sacana quando pensavam que podiam comigo.
- Você vai largar essa arma agora, vocês todos vão entrar nesse carro, irão embora e rezarão para nunca mais me verem. - Eu digo.
As reações foram diversas. Um ri, outro dá um passo para trás, o terceiro passa a mão pela cabeça charmosamente e o quarto sacou a arma.
Bom, a reação dos três primeiros foi igual quando eu fiz o que vem a seguir.
Uso minha super velocidade para chegar até eles e em um piscar de olhos eu estou na frente do cara armado. Soco sua cara como se não houvesse um amanhã e realmente não teria para ele.
Ouço o barulho do osso cedendo contra o metal do soco inglês, ele cai pra trás, abatido, eu olho para o seu corpo inerte e o rosto meio afundado. Sangue jorra do seu rosto inteiro.
Se eu usei minha força descomunal? Claro que usei. Ele merecia um pouco de demonstração das minhas habilidades Brujah. Cada clã tem habilidades pessoais, e o que seria do clã das brigas sem velocidade, força e resistência desumana?
- Acaba com eles, Camila! - Eu ouço Shawn dizer, seguidamente suas palmas animadas.
Os três a minha frente estão paralisados de terror. Claramente. Eu sou baixinha e magricela, se humana, não havia de onde tirar aquela força e aquela velocidade. Bom, para o azar deles, eu não sou humana.
Foram apenas três golpes.
O primeiro recebe um chute lateral no rosto, a força o joga contra o carro e sua cabeça quebra o vidro da janela do carona.
O segundo vem para a luta, então quando ele dá um soco, me abaixo na esquiva e o acerto com um gancho muito bem aplicado. Ele cai desacordado.
O terceiro corre no tempo em que esses dois primeiros são abatidos. Então eu me abaixo no primeiro corpo, pego a arma de sua mão e sem remorso nenhum disparo contra a nuca do fugitivo. Ele cai, desacordado.
Olho para as minhas mãos, vejo as vermelhidões dos socos se curando rapidamente. Dou de ombros com aquilo, eu nem sequer suei. Me viro para meus companheiros e aceno para eles.
- Estão com fome?
(...)
Jantamos aqueles corpos Dinah, Shawn e eu. Depois de desova-los e dar um fim no carro, Shawn abre um sorriso satisfeito.
- Camila, você acabou com aqueles caras num estalar de dedos.
Dinah sorri animada para mim e eu sorrio para ela.
- Não é à toa que eu te chamei pra ser a guerreira da minha equipe.
Pisco para ela, em seguida volto me atenção para Lauren. Ela está sentada dentro do carro, com sua cara de tédio de sempre. Eu suspiro a achando estupidamente linda, me pergunto então se ela não achou nem um pouco incrível a minha luta. Certo que fora com humanos e humanos realmente não são um problema para nós, mas poxa... Eu queria que ela me notasse.
- Ela vai, Camila.
Olho para frente novamente e vejo Shawn com um sorriso empático para mim. Dinah não está mais por perto. Eu me pergunto se falei alto demais e Shawn ri, como se tivesse escutado meu pensamento.
Não tinha dúvidas de que Malkavianos eram estupidamente poderosos, talvez o clã mais poderoso de toda a Camarilla. Sua loucura era iminente, mas o poder era escondido, ninguém olharia para o louco como maior ameaça, ninguém suspeitaria de sua capacidade, pois eles seriam vistos apenas como isso... como loucos.
- Escuta - Ele chama -, será que você pode me dar um tapa na cara? Acho que seria divertido.
Eu gargalho com o pedido de Shawn, ele ri comigo e até mesmo eu escuto a risada de Dinah longe. É, definitivamente eu não ficaria no tédio com Shawn por perto.
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