Fiz essa canção pra dizer algumas coisas
Cuidado com o destino
Ele brinca com as pessoas
Tipo uma foto com sorriso inocente
Mas a vida tinha um plano e separou a gente
Mas se quem eu amo tem amor por mim
Se quem eu amo tem amor por mim
Eu sei que ainda estamos muito longe do fim
Meu Novo Mundo - Charlie Brown Jr.
***
Distrito Hyuuga, 01:30:
“_ Tenten-chan, você era namorada do titio Neji?”
A pergunta tirara-lhe dos eixos. Completamente. Os olhinhos azuis, inocentes, brilhavam de curiosidade. Era a primeira vez que alguém contava à Himawari tantas histórias de seu titio, da razão de seu nome e de Boruto. Mesmo tão pequena, a garotinha era esperta, e notava a hesitação de seus pais em contar-lhe sobre Neji. Os tios Kiba e Shino, com quem tinha maior contato, alegavam não terem conhecido o Hyuuga afundo.
Tenten sentira o coração falhar uma batida. Os pulmões congelaram, prendendo o ar em sua traqueia. O corpo inteiro estremecera, e seu sangue esfriara, como se, através do timbre infantil que adentrara seus ouvidos, fosse capaz de relembrar tudo que dia após dia tentava não pensar, ou definharia de tristeza. De saudade. De tormento. De dor. Há segundos, estava rindo do ocorrido com o curry apimentado, conseguindo com êxito contar sobre muitas missões do time Gai e se lembrar com felicidade. Porém, aquele termo, namorada, travara seus dentes e arregalara seus olhos diante da menina.
_ N-Não... É... Não. – a resposta saíra-lhe como se já não soubesse mais falar.
Olhou para Himawari, parte de si ansiava pela reação da garotinha e o porquê da devastadora pergunta. Contudo, as pálpebras pueris pesaram, e uma tranquila respiração se instalara. Não sabia se era sorte, por poder sair imediatamente dali, ou o mais cruel dos azares, pela situação. Não esperara. Erguera-se do chão amadeirado e correra, deslizando a porta do quarto de Neji com urgência. Seus pés levaram-lhe à janela da sala, que dava vista para o portão do Distrito Hyuuga. Sôfrega, a respiração de Tenten acelerava. Talvez, todo aquele ar gélido da madrugada fosse incapaz de preencher o vazio que lhe tomava o peito.
“_ Tenten-chan, você era namorada do titio Neji?”... “Namorada”... “Namorada do titio Neji”... Aquilo embaralhava-se em sua cabeça, tanto que já sentia-se tonta. Uma das mãos ia contra a boca, pressionando-a para não acordar a criança na casa com o choro que subia-lhe fervente e entalado na garganta. A outra tocava a madeira da janela. A janela que entrara tantas vezes até que ele resolvera dar-lhe uma cópia da chave. A cópia que a trouxera até ali, naquela noite. Não aguentava mais estancar as lágrimas, deixando-as cair livremente, por fim. Aquele choro nervoso, adquirido desde o dia fatídico a corroía mais uma vez.
Sem controle, o primeiro olhar vinha-lhe à memória.
“Era seu primeiro dia na Academia Shinobi. Estava tão ansiosa! Ademais, estava muito contente e louca para fazer amigos. Trajava uma blusa rosa, em estilo tipicamente oriental, como sua mãe gostava. As tiras douradas estavam meticulosamente presas, assim como seus coques, feitos com cuidado por trinta minutos frente ao espelho. A franjinha tinha sido cortada há dois dias. Seguia o fluxo dos novos alunos, trombando com um, por acidente.
Doera-lhe a cabeça, pelo choque.
_ Gomenasai!!! Você está bem? – o garoto, muito preocupado, abaixou levemente a fronte para ver-lhe a expressão. Os olhos negros, acompanhado de grossas sobrancelhas, assustaram-na. Deu um passo para trás, recuperando-se do pequeno susto.
_ Tudo bem... Não foi nada. – sorriu, tirando a mão da testa.
_ Sou Rock Lee! Muito prazer! - enérgico, ele estendeu o dedão em um gesto positivo, sorrindo com mais intensidade. Seus dentes eram tão brancos que brilhavam.
_ Mitsashi Tenten...! – respondia, sorrindo agora com mais veracidade. Ele era estranho, mas gentil.
_ Vamos! Estamos atrasados! – antes que pudesse se manifestar, era puxada por Lee até a última sala do corredor.
E com tal pressa sentaram-se na primeira bancada. Encarou o professor Iruka, que acenava à todos. A sala estava cheia. Virou-se por alguns segundos para ver seus colegas de turma. Não havia muitas garotas. Porém, o que para outras garotas seria um problema, não era para Tenten. Dava-se muito bem com meninos. Às vezes, até melhor. Rock Lee já conversava, ao seu lado, com outras pessoas. Pelo visto, além de animado, ele era bastante sociável.
Deu-se conta do outro garoto, à sua esquerda, que contemplava a janela. Encarou-o. Era bem pálido, vestia um colete tom de areia, e um de seus braços estava repleto de faixas, como sua testa, que também levava outra, mas preta, segurando-lhe uma provável franja. Os cabelos eram castanhos e lisos, presos num rabo frouxo. A calmaria e frieza do mesmo, perante a euforia dos demais, chamara a atenção da Mitsashi, que não medira o tempo que estava fitando-o. Será que estava triste? Será que não queria estar na Academia? Perguntava-se. Até que ele notara, movendo os olhos perolados na direção dela.
Os olhos diferentes impressionaram-na. Eram legais. Sorriu, se ele estava triste, talvez pudesse animá-lo.
_ Sou Mitsashi Tenten, qual seu nome? – indagou, ajeitando-se mais confortavelmente no banco coletivo.
Ele demorara alguns segundos para respondê-la, mas o fez, secamente:
_ Hyuuga Neji.
_ Neji? Que incomum. – opinou.”.
Igualmente, vinha-lhe o dia em que se tornaram gennins:
“Estava tão feliz! Seus pais estavam tão orgulhosos! E, como se tornar-se gennin já não fosse bom o bastante, estava no mesmo time de Neji e Lee! Okay, o Hyuuga não era lá seu amigo, mas fizeram todas as atividades em dupla juntos na Academia, pois era a única a não se ofender com o comportamento prepotente dele. Lee e ela sempre comiam dangos pelas ruas, e voltavam para casa juntos, por morarem perto um do outro.
Numa fumaça, seu novo sensei aparecera, e fora impossível não se assustar com a animação do homem. Vestia um bizarro collant verde, e as sobrancelhas eram tão grossas quanto as de Lee, que abrira a boca em encantamento.
_ E então? Qual a meta de vocês como shinobis? – ele perguntou, logo depois de se apresentar como Maito Gai.
Ergueu a mão, ansiosa para saber o que seu novo sensei acharia de sua inspiração.
_ Quero me tornar uma grande kunoichi, como a lendária sannin Tsunade! – respondeu, recebendo um sorriso de Gai, que a deixara alegre.
_ ... Neji? – o silêncio do Hyuuga, de olhos fechados, como se não quisesse estar ali, obrigara o sensei a chamá-lo.
Tenten o encarou, vendo-o virar ainda mais o rosto e proferir:
_ Prefiro não dizer.
Olhou para o sensei, que arqueou uma das grandes sobrancelhas, mas não se manifestara. Lee, então, se levantou da poltrona e exclamou:
_ Eu! Eu! Quero provar que mesmo sem saber ninjutsu ou genjutsu, posso ser um grande shinobi!
A risada baixa de Neji, naquele momento, criara a rivalidade póstuma de ambos.
_ Do que você está rindo?!”.
Já vacinada contra a arrogância do Hyuuga, resolvera mudar seu trajeto, acompanhando-o até o Distrito Hyuuga ao invés de voltar com Lee. Tinha a sensação, também, que Lee precisava conversar com o sensei. Aquela fora a primeira vez que pisara naquelas mesmas tábuas, que seguravam-lhe naquele momento.
“Caminhavam em silêncio, até que Neji parara em frente ao grande portão do Distrito Hyuuga. Já sabia um pouco sobre o clã, tão complicado e tradicional.
_ Você que insistiu em vir até aqui. – ele proferiu, cruzando os braços, ato que repetia incontáveis vezes todos os dias.
Tenten ainda encarava os muros e a aparência do portão, quando respondera:
_ Não vai me convidar para entrar? Ainda não conheço sua casa. – sorriu, curiosa. Apesar dos anos de Academia e parceria em atividades, nunca tinha ido à casa de Neji.
Encarara a expressão confusa dele, que a cortou:
_ Não gosto de receber ninguém. Até amanhã.
O viu empurrar o portão e entrar, deixando-a ali. Suspirou, cansada. Neji e sua mania de complicar tudo... Em um piscar de olhos, já tinha passado da árvore frente ao clã para o topo do muro, e do muro para a janela da casa que o agora colega de time tinha entrado.
_ Ohayo! – disse, entrando na sala sem cerimônias. Tinha a ideia de que Neji não gostava nenhum pouco de suas pequenas audácias, mas ele não era do tipo de garoto que costumava reclamar de tudo. Simplesmente irritava-se internamente e dava de ombros. O que, aliás, era o que fazia naquele instante.
Sabia que ele morava sozinho, por isso, não estranhava a ordem quase compulsiva do local.
_ Está convidado para ir na minha casa também, okay? – falava, acompanhando-o no tirar das sandálias”.
Logo viera o Exame Chunnin. Passaram com sucesso pela primeira fase, o teste escrito, graças ao Byakugan de Neji. A segunda, na floresta, trabalharam mais em dupla do que em trio, com o sumiço de Lee para ajudar o time sete. E então, a fase de embates chegara. Tenten assistira o combate de Ino e Sakura certa da vitória da Yamanaka, que sabia ser uma ótima kunoichi, além de considerada a mais bela de sua faixa etária. Entretanto, a performance de Sakura a surpreendera. A quedinha de Lee pela Haruno estava mais do que escancarada. Esquivara-se dos comentários machistas de Neji durante a luta, explicando para Naruto que, na verdade, as duas estavam pegando leve uma com a outra. Mas aquele combate, que tanto achara energizá-la para sua vez, fora esquecido quando prestara atenção na garota do time da Areia, Temari. A qual, pelo destino, fora sua adversária.
Até hoje não eram muito próximas, e sonhava em ter sua revanche contra a loira, agora mãe. Mãe. Algo que duvidava com afinco que não mais seria. Então viera a luta de Neji e Hinata. Não assistira, estava na enfermaria, mas a raiva do companheiro de time persistira por dias, e sabia muito bem o motivo. Se preocupara como ninguém com o estado de Lee, após a luta com o sinistro Gaara. Aquele ruivo dava-lhe arrepios, e ela e Neji suspeitavam piamente que a Areia não o mandara à toa para o Exame. Nas finais, Neji pegara Naruto como adversário, e treinara com ela, como já era habitual. Eram uma dupla convicta. Todavia, para seu choque, o loiro avoado o vencera. Fora até a enfermaria depois da prova já pronta para vê-lo em um estado difuso, mas ele sorrira. Sorrira como pouquíssimas vezes o fazia. Aquela luta o mudara muito.
“_ Girassóis? – olhava a planta em cima da mesa de Neji. Tinha vindo buscá-lo para a próxima missão.
_ Gosto de girassóis. – ele disse, colocando sua bolsa branca com um típico detalhe cinza, em um dos ombros. _ Vamos?”.
Olhava, dali, ainda aos prantos, aquela mesa. Não havia girassol algum sobre a pequena toalha branca. Se afastara da janela, caminhando até a cozinha compacta, onde bebera vários goles de água fresca para se acalmar. Agradecia por não terem fechado o encanamento ou cortado a energia. Himawari, caso acordasse, se assustaria vendo-a daquele modo.
***
Distrito Nara-Yamanaka-Akimichi, 02:20:
A Yamanaka estava, há bons minutos, transferindo chackra para o Kazekage, que só então começava a tossir com maiores intervalos. Pelo que analisava, era uma pequena crise de pânico, fato que jamais imaginaria tratando-se do poderoso líder da Areia, que com menos de trinta anos comandara a Aliança Shinobi na Guerra. Olhando-o, como ela fazia agora, toda força caía por terra... Ele não passava de um rapaz comum em estresse pós-traumático. Certamente esse era seu quadro. Não era potencialmente grave, mas seria trabalhosa e lenta sua recuperação, por tratar-se de uma patologia psicológica. O que não compreendia, porém, era a razão e o estopim para a doença ter se desencadeado. Gaara ganhara muitos amigos, a Guerra tinha passado há anos, e ele não mais carregava o perturbador Shukaku em si. O que estava acontecendo?
_ Kazekage-sama... Solte a pia, é melhor se sentar. – pediu, vendo-o soltar as mãos errantes do mármore e acompanhá-la até a beira da cama, onde sentaram-se. Precisaria fazer algumas perguntas, mesmo que já soubesse a resposta da maioria. _ Sabe há quanto tempo estava vomitando, tossindo e com calafrios até minha chegada?
Com o cessar das tosses, a luz esverdeada se apagava, e Ino encerrava a transferência, tirando as mãos das costas de Gaara. Verificava que ele não estava mais tão pálido e seu fluxo de chackra voltava a estabilizar. Por um pequeno instante, certamente devido às muitas doses de sakê que tomara, Ino admirara as abundantes sardas na pele do ruivo, que cobriam-lhe os ombros e ressaltavam sua coluna. Uma gota solitária de sangue caía-lhe do nariz. Sua traqueia não saíra ilesa da violência das tosses.
_ De quinze a vinte minutos. – disse, virando-se para a loira. De imediato, apesar da ajuda e do comportamento profissional, percebia que a Yamanaka estava bêbada.
_ Não contarei à Temari de seus vômitos, como pediu, mas não podemos deixar isso assim. A testuda está muito ocupada no Hospital, se não se importar, vou ficar com seu caso. O Sasuke-kun está voltando e ela vai pirar. Acho que já deve estar pirando... – chamava Sakura de testuda sem importar-se de estar diante de Gaara.
Ele, por interpretação, chegava a conclusão que ela falava da Haruno. Com um menear de cabeça, aceitava a proposta de Ino. Possivelmente, por estarem na mesma casa, fosse mais fácil manter o que estava acontecendo consigo em segredo, sem alardes.
_ Muito obrigada. – ele dizia, referindo-se ao socorro prestado por Ino, que recolhia o sangue em seu nariz com a primeira toalha que pegara no banheiro.
_ Pode contar comigo quando precisar. – ela sorria, terna, pressionando o tecido macio.
O silêncio se instalava. Encaravam-se, mas Ino não pensava com toda coerência. Estava muito irritada com a saída de Sai junto do esquadrão Anbu.
_ ... Você acredita que o meu marido saiu em missão há dias do aniversário do nosso filho? – começava a desabafar com Gaara, que a ouvia, no princípio, confuso.
Mas o papo, praticamente um monólogo pela ausência de falas da parte dele, se estendia, e o Sabaku compreendia a situação da Yamanaka, que lhe relatara o fato de Sai não precisar atuar na Anbu com tamanha frequência e ter aceitado a missão de emergência podendo recusá-la. Graças a conversa, ele se distraía, e a ardência nos pulmões que lhe atormentava foi sendo esquecida, tal como a aguda dor de cabeça pela insônia acumulada. Seus pulmões não eram exatamente uma fortaleza, afinal, fora um bebê prematuro. Contudo, nada atingira diretamente sua saúde daquela maneira antes e, internamente, sentia medo de perder seu cargo. Ser o Kazekage de Suna era sua maior conquista.
Ino, por sua vez, falava extravasando sua irritação, o que a entregava cada vez mais aos efeitos de todo álcool consumido ao dia. Já tinha deitado o tronco na cama de Gaara, que acompanhava as frases embaralhadas e observava o longo cabelo claro esparramar em seus lençóis.
_ ... Não sei porque me casei com ele... – repetia, tentando se levantar da cama, sem sucesso. Deixava-se rolar para o chão, esquecendo que Gaara não era exatamente seu amigo e, pior, era o Kazekage. _ ... Vou para o meu quarto... – dizia, mas não se movia no tapete.
Gaara sorria de canto. Achava a cena cômica, mas ela havia o salvado de madrugar refém das consequências de sua mente, e era a primeira pessoa, depois de Naruto, a conversar por tanto tempo com ele e vê-lo no estado frágil que se encontrava quando aquilo lhe tomava. Não ligava para formalidades, como ela ser casada e ele um líder solteiro, e abaixava-se, pegando-a no colo cuidadosamente. Ela proferira algumas palavras irreconhecíveis, tocando-lhe o peito. Congelara por alguns segundos ao sentir a fina mão na altura de seu coração.
Caminhou até o quarto dela, por fim. O corpo quente que carregava praticamente não se movia mais. Nunca tinha carregado uma mulher antes. Deixou-a na cama, ajeitando o travesseiro e puxando a colcha roxa até a cintura, fazia calor. Olhou-a profundamente adormecida uns instantes, não sabia se já tinha visto alguém adormecer próximo de si. Ergueu-se e retornou ao seu quarto.
***
Distrito Hyuuga, 02:40:
Não sabia precisamente o porquê de ter aberto a gaveta do aparador. Não devia tê-lo feito.
“O Festival do Fogo ocorreria em dois dias e, por mais que todos parecessem animados para ver as muitas lanternas ao céu, honestamente, Tenten sentia-se interessada somente nas delícias que provavelmente seriam vendidas nas barracas de dangos.
_ … Vá com o Naruto, Sakura. Sabemos que ele é um baka, mas é melhor do que aparecer sozinha, testa de marquise. - Ino dava sua opinião à amiga, que como a Mitsashi, estava absorta em outros mundos. Porém, para Sakura, eram mundos de escuridão, solidão e incerteza. Sasuke havia mesmo deixado a Vila há um mês e ainda não havia novas pistas de seu paradeiro ou de Orochimaru e seus seguidores.
_ Hinata irá com Kiba? - a rosada perguntou, tendo conhecimento dos sentimentos da herdeira Hyuuga pelo loiro tapado que, como era de seu feitio, era o único em Konoha a não desconfiar. Não queria atrapalhar nada.
_ Acredito que sim. - informou Ino, que iria com um Nara Shikamaru completamente coagido a sair de casa para comparecer ao festival. _ E você, Tenten?
_ Eu? Bom… Talvez o Lee passe na minha casa. - dava de ombros, acompanhando a Yamanaka na escolha dos girassóis para Neji, que não tivera tempo de comprá-los pelo acordo com Hinata em ajudá-la a treinar.
Parando ao fazer o laço envolta da cerâmica do vaso, Ino decretou:
_ O Lee? Você deveria ir com o Neji. Esses girassóis são para ele, não são? A ligação de vocês é muito mais forte, e se deve ir no Festival do Fogo com alguém que se tenha um laço forte, é a tradição.
_ Acho que ele não vai querer ir. Não faz o estilo dele. - disso ela tinha certeza.
_ Não custa tentar, sabe? - Ino estimulou.
Com o vaso em mãos, Tenten o dissera:
_ É. Você tem razão”.
Já naquela época sabia que Neji, com muita insistência, acabava não lhe negando quase nada. Novamente, era a única a quem ele o fazia. Tinham tirado aquela fotografia no primeiro Festival do Fogo que foram juntos. Adorava aquele kimono azul, ainda guardado em seu guarda-roupas. O dele, cinza, a sua cor, sempre o deixava deslumbrante nos eventos formais da Vila. Pesadas, suas lágrimas caíam no vidro empoeirado da foto. Sentia tanta falta… Tanta falta…
Aquele festival fora o início. Notara, ao brigar com ele pela primeira vez, que Neji tinha ciúmes da amizade que cultivavam. É, às vezes, ele expressava humanidade. Brincava bastante com sua postura séria e responsável.
“_ Eu saio por sete minutos e você começa a conversar com um estranho? Alguém de outra Vila? Você não devia dar ouvidos ao Lee, está começando a se comportar como ele. - não estava entendendo o porquê de tamanha irritação da parte dele, entretanto, uma luz acendia em sua mente e fora inevitável não rir. Totalmente inevitável. _ Do que está rindo?
_ Você está com ciúmes. - contava, fazendo o próprio Hyuuga arregalar os olhos.
Pegava o girassol no kimono dele e colocava em si mesma, atrás da orelha. Era seu modo de tranquilizá-lo, e sabia que ele entenderia. Como poucas vezes, ele sorrira de leve. Não admitiria em palavras, claro. Ele era Hyuuga Neji. _ Vamos tirar uma foto? Não quero ter que tirar depois de comer todos esses dangos que você buscou, vou ficar deplorável. Aposto que comprou tudo isso para se vingar. Você adora vinganças.
Ele não ouvira. Já estava alguns passos a frente e, como era de costume, lá estava ela outra vez sendo deixada para trás por um daqueles garotos loucos que eram, também, sua família.
_ Neji! Matte!!! - punha-se a correr”.
Levava os dedos aos lábios. Aquela era a mais dolorosa lembrança…
“Estavam em divisões distintas na Guerra. Sabia o quanto ele era forte, inteligente e cuidadoso, mas, por alguma razão desconhecida, seu coração estava apertado. Tão apertado que estava, no meio da noite, usando a chave que ele lhe dera para entrar em sua casa e vê-lo.
_ Neji… - identificava sua silhueta, na sala. Estava sentado na soleira da janela, observando a lua. Era uma noite de lua cheia. A lua cheia marcaria o início da Guerra na próxima noite, já em combate.
_ Tenten? - ele parecia surpreso em vê-la, ou somente desconfortável com os trajes de ambos, nunca saberia dizer.
Ela, devido a pressa e ao desespero, tinha deixado o quarto com a camisola vermelha de verão que já usava para dormir. Ele, pelo calor, usava uma boxer preta simples. Não conseguindo conter o nervosismo que praticamente implodia dentro de si, demonstrava livremente sua expressão de preocupação e tristeza. Ele se aproximara, notando de imediato do que ela precisava e, talvez, viera buscar: um abraço. Todos estavam aflitos pela Guerra.
Envolvendo-a num abraço, Neji beijou-lhe a testa, como costumava fazer há meses. A aproximação de ambos estava cada vez mais sólida.
_ Eu não quero que nada aconteça com você, ou com o Lee, ou com o Gai-sensei, com nenhum dos nossos amigos… - falava, embargada, sentindo a pele fresca dele, mais do que convidativa no calor.
_ Não irá acontecer. - ele lhe garantiu, olhando nos olhos brilhantes, tom de avelã. _ Estamos preparados.
Não sabia se fora o destino, dando-lhe uma oportunidade de fazer aquilo antes de tirá-lo dela daquela forma, mas sentira uma incontrolável vontade de diminuir a distância entre o rosto dele e o seu. Momentos depois, ambos culparam o calor noturno, temendo a amizade de anos. Mas acontecera. Não resistira aos lábios de Neji.
_ Está muito quente, não está…?
Fora tudo que dissera antes de colar a boca à dele, que demorara alguns segundos para retribuí-la, mas o fizera. Apertara a cintura da companheira de time com firmeza, conhecia aqueles centímetros muito bem. Deslizava a língua pela dele, e constatava que Ino estava certa ao dizer que beijar era realmente bom. Mas qualquer ato, com ele, ela sabia que gostaria. Gostaria com todas as forças”.
***
Apartamento Haruno, 09:30:
Sua cabeça estava prestes a detonar, como uma verdadeira bomba relógio. Não dormira uma mísera hora aquela noite e, para completar, teria mais um longo dia no Hospital de Konoha pela frente. Morreria antes dos quarenta, tinha certeza. E era bom Naruto pagar seu funeral, por todo serviço prestado.
_ Sarada, já está pronta?! - Sakura chamava a filha pela terceira vez. Não compreendia o porquê aquela garota estava atrasada justo hoje, em que estava de mau humor e poderia muito bem descontar injustamente em todos que cruzassem seu caminho. _ Sarada!!!
_ Oi mamãe! - a pré-adolescente adentrava a cozinha já com a mochila nas costas, mas com o pergaminho eletrônico em mãos. E ela sabia que, nas poucas refeições que faziam juntas, Sakura detestava a proximidade do aparelho. Franzia o rosto, em desgosto. _ Desculpe… É que o Boruto-baka quer fazer uma surpresa para o Inojin no aniversário dele e estamos planejando ainda o que será. - se justificava a menina, guardando imediatamente o pergaminho.
_ Falta praticamente uma semana para o aniversário dele, vocês terão tempo. - garantia Sakura, pedindo a própria memória que não falhasse no dia do aniversário de seu afilhado. Ino lhe mataria caso esquecesse e, definitivamente, tudo o que não precisaria nos próximos dias era de um sermão da loira.
_ Mamãe… Amanhã, quando o papai chegar, ele vai vir morar conosco?
“Mamãe… Amanhã, quando o papai chegar, ele vai vir morar conosco?”, “... quando o papai chegar…”, “... ele vai vir morar conosco?”. Como se o tempo congelasse, a rosada deixara a caixa do leite que tomava sobre a mesa, não tomaria mais um gole. Sasuke morando com elas… Não. Não iria acontecer.
_ Não. - séria, deixava a cadeira e virava-se para a pia. Não queria que Sarada encarasse, naquele minuto, seus olhos magoados. _ Não. Ele vai morar na casa dele. - decretava mais para si mesma do que para filha.
Gostaria, se Kami-sama lhe fosse bom o bastante, que o “Efeito Uchiha”, sob qual já estava desde o dia anterior ao receber a notícia de sua liberdade por Naruto, acabasse o mais depressa possível. Alterava toda sua rotina, sua cabeça, sua sanidade. E tinha acabado com sua manhã.
_ Mas ele está um pouco fraco para se cuidar sozinho e… - não a deixaria terminar aquele discurso para que cedesse; Sarada normalmente sabia convencê-la a tudo. Tinha suas dúvidas do real estado de Sasuke.
_ Sarada!!! Chega desse assunto. - Sakura a cortava e, com um olhar, a fazia se calar. Todavia, a garota não disfarçava a expressão emburrada, seguida de um suspiro. Não desistiria tão fácil.
***
Distrito Nara-Yamanaka-Akimichi, 10:00:
Torradas. Eram simples torradas, oras… “Apenas torradas, Temari”, dizia a loira para si mesma em mente. Porém, a torradeira moderna comprada por Ino não era lá direta ou explicativa. Não fazia ideia de qual opção escolher para as torradas de Shikadai. Sim, naquela manhã, ela própria prepararia o desjejum de seu filho. Caso aquele maldito aparelho complexo e prateado resolvesse cooperar, óbvio.
Suspirou, apertando a faixa vermelha de seu roupão. Havia tomado um agradável banho minutos atrás e, debaixo da água calmante, sua confiança interior havia lhe motivado a fazer as malditas torradas. Malditas torradas…
_ Um, dois, três, quatro ou cinco? - perguntava-se, olhando os botões vermelhos do eletrodoméstico.
Estava decidido: seguiria seu raciocínio lógico! Aquilo, por se tratar provavelmente de um artefato desenvolvido por matemáticos ou técnicos na área, deveria ser lógico. Apertava o botão número “um”, após colocar no local as torradas com um pouco de geleia de uva. Verificaria o quão crocantes ficariam no menor tempo.
Segundos depois, entretanto, as torradas não estavam aparentemente nada crocantes. Raivosa, a atual senhora Nara apertava logo o último botão, o número “cinco”. Shikadai acordaria em cerca de cinco minutos, não tinha tempo para testar todos os números daquela coisa que mal liberava fumaça. Shikamaru não deveria ter deixado Ino comprar a nova torradeira. Era bem previsível que a outra loira não deveria entender nada de eletricidade, matemática ou modernidades. Okay, de modernidades talvez ela entendesse, afinal, não parava em casa.
Dando um suspiro contente, Temari voltava-se para a caixa de leite na geladeira. Shikadai era exatamente como o pai, adorava leite com rosquinhas, torradas e geleia. Havia escondido as rosquinhas de Kankuro na noite passada, como fazia quando ainda morava em Suna. Seu irmão mais velho era um verdadeiro devorador compulsivo de rosquinhas e certamente não teria piedade nem do único sobrinho. Gaara, em contrapartida, mal se alimentava de manhã. Aliás, se alimentar nunca fora uma marca do caçula. Este gostava bastante de frutas, mas também não as comia com muita frequência.
_ Kankuro, seu baka.... - ria, saudosa. Era bom tê-los com ela por algumas semanas.
_ ... Bom dia, mãe. - ouvia o tom sonolento de Shikadai e virava-se, colocando a caixa de leite sobre a mesa.
_ Bom dia, filho. - respondia, concentrando-se nos armários a fim de achar o copo preferido do garoto. Ino não deveria guardar num local de difícil acesso…
_ Mãe, as torradas estão queimando… - sereno, Shikadai tentava avisar Temari, que o ignorava:
_ … Sabe onde sua tia Ino guarda seu copo? Mais especificamente em qual armário?
_ Eu não sei, mãe. As torradas estão queimando. - repetia, observando o comportamento desordenado de Temari: “Por que ela acordou tão cedo? Ela nunca acorda. Tenho que alertar o papai que ela está estranha”.
_ O que disse?!
_ Que as torradas estão queimando.
_ O quê?! - desesperada, Temari então dava-se conta do ocorrido. “MALDITAS TORRADAS!”, sua cabeça explodia. Depressa, desligava a torradeira e encarava o resultado de sua ideia matinal: cinzas. Bufava, nervosa e decepcionada.
_ Por que a senhora inventou de fazer isso? - Shikadai aproximava-se da bancada, encarando as torradas completamente queimadas.
De repente, Temari não sabia o que dizer ao filho. Admitir que tentara fazer seu café da manhã pela primeira e sentia-se a cada dia mais afastada dele? Não, aquilo não era de seu feitio. Ela não faria isso.
_ Vou chamar a tia Ino. - se pronunciou o menor, mediante ao silêncio. Saía da cozinha num raio, já estava bem atrasado para a Academia. Não que se incomodasse com atrasos, suas notas o passariam.
_ Temari? - a voz rouca de Gaara preenchia a enorme cozinha após a saída de Shikadai.
_ Gaara… - suspirava, cabisbaixa, mal encarando o irmão.
_ Eu resolvo isso. Sente-se. - assumiu o ruivo.
Temari dava-se por vencida e puxava uma cadeira, sentando-se. Gaara já deveria ter assistido a cena inteira, era um costume antigo dele e palpitaria que não deveria ter mudado. Levava as mãos aos cabelos ainda molhados. Como não conseguia fazer míseras torradas? Como poderia ser tão ruim em tarefas domésticas daquela forma?
Outra vez, recordava de sua mãe. Percebia que não sabia absolutamente nada a respeito de como ela era com tarefas domésticas.
_ Gaara… Sabe se nossa falecida mãe era boa com essas tarefas? - indagava, arrependendo-se em seguida. Gaara era o que menos sabia sobre Karura. Mas não ouvira uma resposta, pois Kankuro adentrava a cozinha:
_ Bom dia, meus irmãozinhos. - brincava, recebendo um olhar desinteressado de Gaara e um sarcástico de Temari. _ Kami-sama! Quem foi que tentou colocar fogo na cozinha? - ria, procurando pelas rosquinhas que tinha certeza de ter avistado na noite anterior.
_ Cala essa boca, Kankuro. - ordenava Temari, mal humorada.
_ Pode deixar que eu faço outras para você… - uma Ino totalmente grogue pisava na cozinha, acompanhada de Inojin e de Shikadai.
_ Bom dia, tia Temari. - Inojin cumprimentava a loira aborrecida, que retribuía em afirmativo. Não queria mais falar sobre o que acontecera.
Como se um gatilho tivesse sido disparado em sua consciência, Ino congelava onde estava. O Kazekage e seu irmão estavam ali desde a noite passada!
_ Mamãe? - Inojin tentava tirá-la de seu transe.
_ Por Kami, Gaara!!! - recordava-se de tudo, porém, tapava a boca imediatamente. Havia prometido não contar. Ela havia o ajudado e… Como voltara para seu quarto? Não se lembrava dessa parte. Abria e fechava a boca, desconcertada, olhando-o.
_ ... Sim? - reagia o Sabaku, entregando a Shikadai novas torradas e também a Inojin.
Temari e Kankuro também a olhavam, confusos. Corava, será que ele tinha levado-a para o quarto?
_ Bom dia! - disfarçava, afoita. _ Bom dia, Kankuro-san.
_ Bom dia, loirinha. - respondia Kankuro, incerto do que fora aquela súbita ação por parte da Yamanaka.
_ As torradas do tio Gaara são melhores que as suas, tia Ino. - Shikadai debochava, acrescentando: _ Vamos, Inojin. Temos que buscar a Chouchou.
_ Hai. - concordava o loirinho. _ Mas não sei se são melhores que as do meu pai, faz tempo que ele não faz torradas.
_ Quando ele voltar da missão com o esquadrão Anbu, não me importo de verificarmos qual é a melhor. - Gaara escorava-se na bancada, sorrindo de leve. Crianças, apesar de muito barulhentas e agitadas, eram companhias muito agradáveis. Sobretudo seu sobrinho e aquele garoto pálido. Inojin era sempre, nas poucas vezes que o via, muito esperto e comunicativo.
Shikamaru chegava na cozinha e, analítico como sempre, indagava:
_ Como sabe que o Sai está com a Anbu em missão, Gaara?
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