História Heavy Red Heart - Pesadelo

Já fazia quatro dias que Jason Todd nem saía do quarto. Felizmente era uma suíte então podia ficar mais o tempo que quisesse ali. Com as cortinas fechadas, tudo completamente apagado, já tinha perdido a noção do tempo. Comia quando Alfred deixava a refeição na porta, que por sinal eram muitas vezes. Alguém devia ter mandado ele fazer aquilo, pra que não morresse de fome. Espantou o pensamento algumas vezes da cabeça. O que ele mais queria era sair dali, correr, fugir. Os ferimentos do braço continuavam a se curar, mas em uma proporção mais lenta que ele esperava, os pontos ainda continuavam ali. O que mantinha Jason entretido naqueles dias era recarregar e descarregar sua coleção de armas que tinha na sua mochila todo o tempo. Revisar, trocar as balas, limpar. Deitar no chão olhando pro teto, dormir por algum tempo que ele não conseguia contar.

Batidas na porta, outra vez.

            Claro que em todos esses dias, algumas batidas foram ouvidas. Vozes de Dick Grayson e do desgraçado Timothy Drake. Mas não abriu, fechava os ouvidos com força para não ouvir. Mas dessa vez, a batida foi diferente, lenta, quase se arrastando.

            - Jason?

            Aquela voz. Aquela voz baixa e familiar demais. Droga.

            - Bruce?

            - Abra a porta, Jason. – a voz falou em tom autoritário.

            Demorou um pouco para Jason conseguir distinguir o que estava acontecendo. Sua cabeça palpitava nas têmporas e os olhos cansados demais talvez por não ver a luz. Decidiu que se Bruce Wayne teve o grande esforço de descer do seu pedestal pra falar com seu pupilo rejeitado, ele queria ver o rosto dele e poder rir.

            Cambaleou um pouco até a porta, esfregou o rosto e abriu. Mas ninguém estava ali.

            Sério mesmo? Jason pensou, meio atordoado. Ele tinha tido todo o trabalho pra...

            Uma risada. Uma risada escandalosa vindo do corredor. Não podia ser. Ele estava aqui, na Mansão Wayne? Como? Por que?! Ainda bem que estava com duas pistolas carregadas no cinto. Se aquele palhaço doente estava ali, estaria morto em pouco tempo. Olhou ao redor, com os sentidos alertas. Tudo estava muito estranho. Mas tinha que correr pois ele poderia...

            - J-jay?

            Jason virou pra trás em um reflexo rápido. Arregalou os olhos e viu Tim Drake ensanguentado, arrastando-se apoiado na parede.

            Não.

            Correu rapidamente e segurou o garoto nos braços.

            Aquele filho da...

            - Jay...você me salvou...- o garoto passa a mão fria pelo rosto de Jason. – Que bom...

            - Cale a boca e fique acordado, Drake. Pelo amor...

            - Eu sempre soube que era uma boa pessoa...- o garoto começou a fechar os olhos lentamente. – Um herói...por debaixo do capuz...

            - Tim! – ele se abaixa e olha para o garoto – Chega! Acorde, se mantenha acordado, está bem? Se ele fez isso com você, eu vou...

            Se aquele palhaço maldito machucou mais alguém...

            O garoto encosta a testa na de Jason, falando muito perto, mas Jason o segurou firme.

            - Jay...

            -...Cale a boca...- Então Jason abraçou o corpo pequeno de Red Robin. – Por favor...

            Por favor...

            Eu...

            Levantou em um movimento brusco.

            Estava pingando de suor.

            Cadê o Coringa?! Cadê...

            Olhou ao redor. De novo esse pesadelo do inferno. De novo e de novo. Mas dessa vez, Jason sabia que tinha sido diferente.

Bateu com força com os punhos no chão.

            Que porra foi essa?! Estou ficando maluco?! Argh...!

            Então ouviu novamente a batida infernal na porta, mas dessa vez, sabia que era real.

            - J-jay, por favor, coma...A comida está na frente da porta. – disse a voz de Timothy Drake.

            É, estou ficando maluco.

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            No dia seguinte, resolveu sair do quarto. Tomou um banho, lavou o rosto e saiu. Teve certo receio de que ficar todo aquele tempo fechado estava mexendo com a sua saúde mental. Vestiu a jaqueta de couro e desceu até a cozinha.

            - Então resolveu aparecer, Jason. – Dick Grayson estava sentado comendo alguma coisa quando se virou à ele.

            - Vê se não me enche o saco. – respondeu Jason, ríspido.

            - Não me venha com essa grosseria. Todo mundo estava bastante preocupado.

            - Estou vivo, não estou? Era esse o medo de vocês? – senta-se numa cadeira. 

            - Todos só querem te ajudar.

            Jason dá uma risada.

            - Tá.

            - Jason, se pudesse tentar...

            O Capuz Vermelho bateu com os punhos na mesa.

            - Cara, olha. Você não é o Bruce, e não vai ser. Não vai conseguir mandar em mim, e nem ele pode mais.

            - Tim se importa com você.

            Jason parou por um momento.

            - O que?

            - Eu também, e Damian apesar de tudo, também. Sem contar o Bruce. Ele perguntava por mensagens se tínhamos checado seus ferimentos. Jason, você não está sozinho...tem sua família.

            Mais uma risada, mais sombria que a outra.

            - Você vai continuar com essa? Você nem sequer se importou se eu morri ou não.

            - Está sendo cruel como sempre.  E com quem tenta te ajudar. E está sendo cruel com o Tim também.

            Mais uma batida forte na mesa.

            - Eu quero é que ele se foda. Aquele moleque é o pior de todos vocês. Pior até que o pirralho Wayne. Ele acha que pode corrigir as coisas, mas nunca vai...

            Dick Grayson faz um sinal com os olhos para Jason.

            Huh?

            Ele olha pra trás. Tim estava descendo as escadas e o olhando com uma expressão triste. O garoto dá meia volta e sobe novamente as escadas.

            ...Merda.

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