História Hediondo Fim - Capítulo Único

  Não se lembrava de como tinha ido parar ali. A única coisa que se recordava era de estar lendo um conto que ela mesma acabara de escrever. Agora, estava ali: andando por um caminho deserto que parecia não ter fim.
  Parou por um momento para observar ao seu redor. Não havia nada a não ser a estrada de terra e ela mesma. Olhou para frente e recomeçou a andar. Afinal, não tinha outra escolha mesmo.
  Passado um certo tempo de caminhada, a estrada se ramificou em quatro novos caminhos. O primeiro era margeado por belas rosas coloridas e se estendia até aonde a visão permitisse enxergar. O segundo era feito de pequenas pedrinhas de cor lilás que brilhavam de forma delicada e em sua margem havia uma densa floresta, e se estendia até aonde a visão permitisse enxergar. No terceiro haviam belas árvores cheias de pássaros e borboletas e, novamente, o caminho se estendia até aonde a visão permitisse enxergar. O quarto e último não parecia tão alegre quanto os outros. Era escuro e as árvores em sua margem davam a impressão de ter morrido a muito tempo, mas se estendia até aonde a visão permitisse enxergar.
  Depois de muito pensar, foi pelo segundo caminho.
  A estrada pela qual escolhera seguir continuava deserta até certo ponto, mas depois casas de arquitetura antiga tomavam o espaço que antes era ocupado pelo bosque. Ela olhava maravilhada para as construções de madeira rústica que jurava já ter visto antes embora fosse a primeira vez que passava por ali.
  Essa estranha sensação continuou a consumindo e se intensificou ainda mais quando uma catedral de proporções gigantescas se ergueu em sua frente. Olhou para cima com um misto de medo e curiosidade. Seus olhos alcançaram as torres da bela igreja que pareciam tocar o céu. Sem nem mesmo perceber, subiu alguns degraus da escadaria como se estivesse sendo guiada por algo que não podia enxergar. Hesitou por um momento. Era seguro entrar ali?
  Por fim entrou. A catedral estaria vazia se não fosse pelo altar e o espelho emoldurado de madeira em sua frente. Só então refletiu. Nunca havia entrado em uma igreja antes.
  Em questão de segundos se viu de frente ao espelho. Agora podia ver seus cabelos negros caindo sobre seus ombros, fazendo contraste com o vestido totalmente branco que usava. Passou algum tempo ali se admirando diante do espelho. Nem se deu conta que seu reflexo iniciara uma transformação. Seus olhos, antes castanhos, estavam totalmente negros. Sua pele, antes imaculada, parecia estar em processo de putrefação. Seu vestido agora estava rasgado, sujo e velho.
  Tentou gritar mas o grito morreu na garganta. Tentou correr mas as pernas não saiam do lugar. Garras negras saíram do espelho e a agarraram. Ela tentava se desvencilhar mas não conseguia. Estava impotente diante daquela situação.
  Ela se lembrou do conto que escrevera. O que acontecia com ela agora tinha sido criado por ela mesma. Parou de lutar contra aquilo e deixou que as sombras a engolissem.
  Naquela igreja agora só restava o altar e o espelho com uma alma presa ali dentro.