Tack --- Tack --- Tack ---
Batidas na parede de metal do beco, três segundos entre cada batida, vinha de trás e de longe.
Tack ---- Tack ---- Tack ----
A pausa entre as batidas mudou para quatro segundos, passos, que pareciam ser de botas, começaram a ser ouvidos também, estava perto.
Tack ---- Tack ------
As batidas pararam, ficaram apenas os passos.
Se um mortal estivesse querendo atacá-la daquele jeito, ele estava mais do que morto.
— If you want to get out alive... oh, oh, run for your life... — cantou uma voz um pouco grossa, sensual e com um sotaque evidente, já que não dominava a língua dos mortais.
Ela ri, era só aquele maldito filho da puta.
— Eu sei que é você, Liu, reconheço seu sotaque de longe.
— Merda, eu não devia ter cantado agora. — ele ri também, saindo de seu esconderijo nas sombras com um sorriso de canto nos lábios, brincando com os bolsos de sua jaqueta enquanto se aproximava. — Você só reconheceu meu sotaque? Como não pôde reconhecer minha voz, my lady?
— Eu, infelizmente, te conheço há séculos, reconheço essa sua voz irritante á quilômetros. E se você ousar me chamar de “my lady” outra vez, seu olho esquerdo não terá só uma cicatriz.
Kitana começa a andar novamente, se afastando do outro demônio que insistiu em segui-la.
— É uma oferta tentadora quebrar essa sua nova “regra”, porém, preciso de meu olho esquerdo para enxergar. — Liu oferece outro sorriso, a fazendo rolar os olhos.
— A que devo sua presença aqui, seu demônio masoquista?
— Não fale como se você não fosse uma masoquista você mesma, nós dois sabemos que a verdade não é muito bem assim. E apenas quero conversar, Kitana, nada demais.
— Sobre o que você quer falar, então?
— Sabia que há um boato entre os recrutas de que você é, na verdade, uma súcubo que se infiltrou no exército com o objetivo de seduzir os soldados?
Ela ri. — Eles tem sorte de eu não ligar para esses boatos.
— Sinceramente, eu não sei como ainda não começou o boato de que o Kyoki é uma súcubo. Ele parece não ter flertado com nenhum dos recrutas.
— Já fazem alguns meses, ninguém deve ter chamado a atenção dele.
— Bem, algo de errado não está certo com o meu irmãozinho, com certeza. E por falar nele: tenho que ir. — ele acena com uma das mãos, colocando ambas nos bolsos de sua jaqueta e começando a se distanciar. — Até.
— Para onde está indo?
Liu para ao ouvir a pergunta, se virando para encarar Kitana novamente. — Meu querido irmãozinho me convidou para beber com ele em um lugar novo que ele descobriu aqui no mundo dos mortais, e eu já estou atrasado. É uma pena ter que me afastar de sua companhia tão cedo, mas meu irmão está me esperando.
— Um lugar aqui no mundo dos mortais? Kyoki deve estar planejando algo.
— Seja lá o que ele estiver planejando, o seu pequeno assassino promete se comportar. — a voz do moreno fica mais baixa e um sorriso malicioso aparece em seus lábios.
— Por que você insiste em se lembrar dessa noite, Liu? – ela pergunta, dando um suspiro pesado.
— Que noite? — ele pergunta de maneira inocente (se era ao menos possível ele tentar ser inocente).
— Aquela noite de séculos atrás.
— Que noite de séculos atrás? — ela respira fundo, como Liu era irritante quando queria.
— Aquela noite de séculos atrás que nós “fodemos até o amanhecer”, como você gosta de dizer.
— Ah, aquela noite. — Liu ri, ainda sorrindo maliciosamente. — E é legal lembrar de vez em quando, te irritar é apenas um bônus. Agora, se não se importa, eu realmente preciso ir, mas você pode me encontrar depois no lugar onde irei encontrar Kyoki para terminarmos de conversar. — ele se vira para se distanciar outra vez, ainda com as mãos nos bolsos de sua jaqueta. — Até, te vejo daqui a algumas horas.
— Como você quer que eu vá te encontrar se eu nem ao menos sei onde o lugar é?
— Você ainda consegue me rastrear, não é?
Kitana gelou, tendo uma ideia do por que Liu ainda insistia em não esquecer daquela noite.
[...]
Liu tinha que admitir, aquele lugar que seu irmão tinha achado era até que legal.
O lugar era consideravelmente calmo, ao ponto de Liu conseguir ouvir a batida de suas botas no chão de madeira se misturar com a música do ambiente que era igualmente agradável; o lugar também era organizado e limpo, ao contrário de vários outros bares nos quais já esteve.
Ao olhar para os lados em busca de seu irmão, o demônio sorri ao perceber a razão de Kyoki ter se interessado tanto naquele lugar: além da bebida, que era uma das maiores paixões do demônio de cabelos brancos, as pessoas daquele lugar eram de chamar a atenção, principalmente a de Kyoki.
“Deve ser por isso que ele não está ligando para os recrutas...” Liu ri, balançando a cabeça em reprovação com um sorriso. “Kyoki, você é incorrigível.”
O moreno procura um pouco mais por seu irmão, achando-o com certa facilidade no meio da multidão de pessoas sentadas nas mesas. Era fácil achar Kyoki no meio de uma multidão, devido a cor de cabelo incomum e os olhos chamativos. O demônio de cabelos brancos sorri ao perceber seu irmão ali, deixando a esclera de seu olho negra e suas íris vermelhas mais chamativas, sinalizando para que o outro se aproximasse. Liu sorri e faz a mesma coisa que o irmão, deixando a cor negra de sua íris ir para sua esclera, revelando seus olhos cor de rubi que eram iguais aos de Kyoki, se aproximando da mesa na qual o mesmo estava sentado.
— Por que demorou? E quero uma explicação descente dessa vez. — o de cabelos brancos pergunta, também com um sotaque evidente, enquanto Liu se sentava na cadeira a sua frente.
— Encontrei uma pessoa no caminho. — o moreno responde sorrindo.
— E essa pessoa é a Kitana, certo? Me lembre de agradecê-la depois, eu pude falar com um garçom enquanto você não chegava. Ele era bem bonito, se me permite dizer.
— Kyoki, você é incorrigível. — Liu ri.
— E você incurável, somos uma bela dupla. Por que ainda insiste na Kitana? Existem tantos mortais por aí...
— Eu não sou igual a você, Kyoki, e eu não consigo esquecer daquela noite por causa daquilo.
— Ainda fixado naquilo? Damn, you are clingy. Não sabe o que tá perdendo com os mortais, maninho.
— É, não devo mesmo. — o moreno ri outra vez. — Mas e aí, viemos aqui só colocar o papo em dia? Sem bebida? Que blasfêmia, Kyoki.
— Achei que você nunca iria pedir. — Kyoki sorri, fazendo seus olhos voltarem ao normal e sinalizando para seu irmão fazer o mesmo. — Matty!
Um garoto, que não parecia passar dos vinte anos, apareceu rapidamente em frente à mesa onde os dois demônios estavam sentados. O garoto era alto, esguio e, apesar da roupa de garçom que vestia, Liu pôde perceber que ele não era muito musculoso; seus cachos negros eram uma bagunça em cima de sua cabeça, seu rosto era delgado e seus olhos azuis eram cristalinos.
Aquele garoto era fofo.
E fofo não era o tipo de Kyoki, principalmente quando se tratava de homens.
— O que deseja, senhor? — o garoto pergunta. Sua voz não combinava muito com sua aparência, ela era grossa, muito grossa.
— Não precisa me chamar de senhor, Matt, temos praticamente a mesma idade.
— Me desculpe, Kyoki, força do habito. — Matt ri.
— Ok, Matt, dessa vez eu deixo passar. — o de cabelos brancos sorri, voltando seu olhar para seu irmão. — Esse ser sentado aqui é o meu irmão, Liu.
— Uau, vocês são mesmo parecidos. — Matt oferece um sorriso e estende uma das mãos. — É um prazer.
— Tirando a cor do cabelo e dos olhos, a voz e alguns traços da personalidade de cada um, somos clones. — Liu sorri também, apertando a mão do garoto. — O prazer é meu, Matt.
— O Kyoki me falou bastante de você.
— É porque a vida dele é tão chata e tediosa que só resta falar do irmão descolado dele. — o moreno sorri de canto, fazendo o cacheado rir.
— Muito engraçado, Liu. — Kyoki ri ironicamente. — Matt, pode trazer aquela bebida de mais cedo?
— Claro. — Matt sorri outra vez. — Voltarei logo.
— Sinceramente, Kyoki, ele não faz seu tipo. — Liu comenta quando o cacheado estava longe do alcance de ambos.
O de cabelos brancos ri. — Você achar que eu tenho um tipo ideal? Que blasfêmia, Liu.
— Ok, eu mereci essa. — o moreno ri.
— Aqui está, Kyoki. — Matt volta com a bebida, enchendo o copo de cada um.
— Obrigado, Matty. — Kyoki agradece com um sorriso.
— Qualquer coisa me chame. — o cacheado retribui o sorriso, se afastando outra vez.
— Um brinde, maninho. — o de cabelos brancos levanta seu copo e seu irmão faz o mesmo, batendo ambos levemente e bebendo em seguida. — Você não deixa a Kitana em paz por causa daquela maldita-
— Sim, Kyoki, é por causa daquela maldita coisa, quantas vezes eu tenho que te dizer? Mas hoje eu irei resolver tudo.
— Uau, boa sorte. — Kyoki levanta seu copo novamente, sorrindo de canto. — Que o Senhor das Trevas esteja com você, maninho.
[...]
— Está atrasada. — Liu reclama, ficando ao lado de Kitana, observando seu irmão conversando com Matt na frente do bar que estava fechando.
— Você não falou nada sobre horários. — ela dá de ombros. — Aquele garoto não faz o tipo do Kyoki.
— Quando eu falei isso, ele disse que era uma blasfêmia eu achar que ele tem um tipo ideal.
— Por que não estou surpresa? — ela ri.
Ambos continuaram observando Kyoki conversando com o garoto, que estava rindo de alguma coisa já perdida em meio a conversa. Aproveitando o momento de distração do cacheado, Kyoki o deu um selinho rápido e o fez corar, sussurrando algo em seu ouvido que o fez corar mais ainda.
— Mais um para lista do Kyoki. — Kitana diz suspirando pesado.
— Pobre garoto, Kyoki vai quebrar o coração dele tão facilmente... — o moreno suspira pesado também, olhando seu irmão ir embora com o cacheado.
— Em quantos dias você acha que Kyoki irá abandonar esse garoto?
— Duas semanas, no máximo. Mas também existe a probabilidade de ele começar a procurar prazeres em outros lugares antes, então o garoto também pode abandonar Kyoki.
— Ok, Liu. — Kitana se desencosta da parede na qual estava se apoiando, olhando o outro demônio nos olhos. — Por que me chamou aqui?
— Pra conversar, obviamente, já falei que gosto de sua companhia. — Liu se desencosta da parede também, começando a se aproximar de Kitana. — E também, quis responder a sua pergunta de mais cedo de maneira mais... direta, por assim dizer.
— A pergunta do por que você não consegue esquecer aquela noite de séculos atrás?
— Sim, essa mesma, mas a pergunta agora é: — Liu deixa a cor de sua íris ir para sua esclera, deixando-a negra, e revelando outra vez seus olhos cor de rubi. — Você quer mesmo saber a verdade? — ele pergunta de maneira sombria, com um sorriso macabro nos lábios.
— Sim, Liu. — ela responde com um tom entediado, cruzando seus braços sobre seu peito.
— Ok, vamos por partes. — o moreno começa a andar em volta do lugar, ainda sorrindo. — Você se lembra do que aconteceu naquela noite, Kitana?
— Estávamos em um baile, um entediante, ainda por cima. Você sugeriu para sairmos de lá, então fomos para um dos quartos do palácio.
— Continue. — Liu fala praticamente sussurrando, ainda rondando o lugar e sorrindo.
— Não tem mais nada para contar, Liu, o resto não tem relevância.
— Tem certeza? — ele pergunta arqueando uma sobrancelha. — Vamos, irei te ajudar: lembra o que aconteceu depois de você me libertar das minhas roupas e me empurrar na cama?
Ela dá um suspiro pesado. — Eu comecei a arranhar o seu corpo com as minhas unhas e... — Kitana interrompe sua fala, tendo naquele momento certeza do motivo da insistência de Liu. — Aquele...
— Sim, aquele arranhão. — Liu para na frente de Kitana, agora com um sorriso malicioso, levantando um pouco sua camiseta para mostrar seu abdome que tinha a cicatriz de um grande arranhão. — Aquele arranhão que você fez com suas unhas que fez minha pele arder e sangrar, que me fez ficar mais excitado do que em qualquer outro momento da minha vida.
— Já fazem séculos... por que não curou esse arranhão com seu poder de cura e porque insiste em ficar com essa cicatriz?
— Porque eu gosto dessa cicatriz. — ele diz simplista, abaixando sua camiseta. — Gosto da marca que você deixou em mim.
Um minuto de silencio se passa, quebrado pela risada de Liu e por sua voz voltando a explicação.
— Por que acha que eu passei a dormir com poucas mortais desde aquela noite? Você me marcou, Kitana, e eu gostei. Você tem noção de quantas vezes eu quis repetir aquilo? Ter mais marcas em meu corpo? Eu queria que você encravasse a palavra “meu” em meu braço com as suas iniciais para mostrar ao mundo que eu era apenas seu e de mais ninguém. Você me ofereceu algo que nenhuma mortal havia me oferecido: batalha por dominância. — o moreno fica em silencio por alguns segundos, dando uma risada. — Você sabe que eu sou uma besta incontrolável, não? Claro que sim, todos sabem da minha reputação de besta caótica, mas mesmo assim, você conseguiu me controlar com tanta facilidade... — silencio outra vez, ele se aproxima de Kitana, deixando apenas alguns centímetros os separando. — Eu quero isso de novo.
Kitana o olhava com uma expressão um pouco surpresa, não esperava que o motivo da insistência do outro demônio fosse algo tão profundo. Ela olha para o moreno, que estava com um semblante inquieto, e deu de ombros pensando “por que não?”.
— Ok, vamos fazer o seguinte: — ela começa, chamando a atenção de Liu no mesmo momento. — Daqui para frente, seremos “parceiros”, iremos satisfazer as necessidades carnais um do outro exclusivamente e faremos o pacto. Aceita?
Ele ri, levantando uma de suas mãos para um aperto de mão. — Aceito, nem precisa perguntar.
Ambos apertam as mãos e saem da área do bar, começando a andar pela cidade que estava com um movimento mínimo devido ao horário.
— Então agora somos “amigos com benefícios”. — o moreno fala, cortando mais uma vez o silencio que existia entre eles. — Assim que os mortais chamam, creio eu.
— “Amigo” é uma palavra muito forte.
— Prefere “coleguinhas de foda”, então? — ele pergunta rindo.
— “Parceiros” é melhor. — ela diz esperando acabar com a conversa ali.
— Se assim quiser. — Liu dá de ombros. — Mas e aí, quer começar essa história de “parceiros” agora?
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