História Her - Camren - Você é louca?

Lauren POV

Eu estive nervosa por tanto tempo guardando pra mim mesma um sentimento forte com medo de não ser correspondida. Quando eu a disse que a amava, é claro que já não me restavam dúvidas sobre isso. Poderia dizer que amava cada parte dela, suas qualidades e defeitos. Tudo o que ela dizia não gostar em si, eu buscava amar mais.

Quando Camila disse me amar também, o meu nervosismo não passou. Eu me acalmei, mas continuei nervosa e talvez fosse continuar pra sempre. E se ela não me amasse o quanto eu amava ela?

Minha insegurança era escondida por trás de eu mesma correndo atrás de tentar deixar claro o que sentia, talvez eu não fosse muito boa nisso. Camila reclamou diversas vezes que eu deveria demonstrar mais. Me perguntei se eu seria suficiente pra ela sempre.

Nós estávamos bem. Era o que repetíamos todos os dias. Mesmo que não estivéssemos. O nosso tempo correu errado. Eu não consegui organizar o meu e Camila se perdeu tentando criar uma agenda e conseguir encaixar tempo para comer. Ela se jogou de cabeça na universidade, não era como se eu reclamasse. Havia dito que amava a ver fazendo o que gostava e eu estava mais do que feliz por ela, mas ainda a queria pra mim por um tempo maior do que ela podia me dar agora. Eu também não tinha muito tempo, porém.

- Hey! – Falei quando passei pela porta do seu quarto. Camila se aproximou, me deu um beijo rápido e voltou a caminhar pelo quarto procurando livros na estante.

- Amor, você encontrou o livro que eu pedi emprestado? – Perguntou de costas. Ela estava concentrada em encontrar seus livros para estudos. Eu concentrada em tudo sobre ela.

Camila vestia uma das minhas blusas de frio. Eu sorri lembrando quando ela achou que minhas roupas ficassem bem nela. Ela não poderia estar mais certa. Seu cabelo estava bagunçado. Os pés descalços. O quarto quase uma zona. Eu entendia seu período de prova e desespero para se sair bem nas provas. Eu não duvidei de que ela seria a melhor na turma.

- Sim. Eu demorei um pouco porque tive que vasculhar na estante do apartamento. – Fechei a porta e caminhei até a cama. Ela olhou pra mim com o sorriso mais bonito do mundo. Meu coração bateu por ela.

- É por isso que eu te amo. Não só por isso, claro. Mas é um dos motivos. Você é muito boa pra mim. – Me beijou novamente e tomou o livro das minhas mãos. Voltou a sua estante. – Obrigada por trazer o livro. Eu não teria tempo de procurar na biblioteca. Você está livre no fim de semana?

- Eu vou trabalhar no fim de semana. – Sentei na cama e observei os livros que ela havia escolhido para estudar.

- De novo? Você trabalhou nos últimos três finais de semana. Disse que ficaria comigo. – Me olhou rapidamente.

- Eu sei. Desculpa, mas não posso abandonar meus projetos na metade. Você provavelmente vá entender melhor...

- Quando eu estiver trabalhando também. Você já disse isso. Quando vai ficar livre?

- Não sei ainda. Talvez no próximo final de semana? – Perguntei sorrindo. Ela não me olhou. – Você poderia vir comigo pra Seattle e assistir aquela palestra comigo.

- Talvez. Eu tenho que ver se tenho tempo para uma viagem agora. – Pegou dois livros e se jogou na cama com eles. Ela sorriu pra mim e franziu o nariz com a língua entre os dentes.

- Você pode tentar encontrar um tempo. São apenas três dias. Você não vai perder muita coisa. Vamos assistir uma palestra incrível e ainda teremos tempo para nós duas. Você sempre diz que quer conhecer Seattle.

- Eu sei, amor, mas não posso perder aula agora e...

- Okay! Vê na sua agenda se tem tempo e me diz antes do final de semana. Eu compro as passagens se você for. – Eu sente reta na cama e ela puxou minha camisa por trás. Engatinhou sobre a cama e sentou atrás de mim me abraçando.

- Sabe que se eu tiver tempo, é claro que quero ir nessa viagem com você. Talvez possa me mostrar o campus onde estudou. – Sua cabeça repousou no meu ombro e seus braços me envolveram confortavelmente como se aquele fosse o meu lugar no mundo. Dentro do seu abraço.

- Tudo bem, só não demora em me dar alguma resposta. Eu preciso comprar passagens e organizar tudo. – Sorriu e beijou meu rosto. – Quer que eu te ajude com algo ou prefere estudar sozinha?

- Eu vou ler algumas coisas, mas você podia deitar aqui comigo e me fazer companhia.

- Eu vou acabar te atrapalhando nos seus estudos se eu só deitar aqui e ficar olhando pra você. – Nós rimos. – Vou dar um pulo na empresa e pegar um material pro projeto do fim de semana. Passo aqui pra te ver mais tarde?

- Passe aqui para me ver mais tarde. – Me abraçou mais forte. – Te amo!

Ela sussurrou outra vez. Era como se todas as vezes que ouvia essas palavras, eu percebesse o quão viva eu estava. O quão forte meu coração batia, a falta de ar que ela me trazia e a calmaria que só ela me transmitia. Eu a amava mais do que tudo.

- Eu te amo mais! – Abracei seus braços que me envolviam e ela respirou fundo contra a pele do meu pescoço. Sorriu. Me beijou.

Nos despedimos e eu segui em direção a empresa para pegar os documentos do projeto para o fim de semana. Encontrei Lucy no caminho e ela me acompanhou durante a tarde. Conversamos um pouco sobre tudo, atualizamos outras coisas sobre nossas vidas e respondi algumas mensagens que a Mani havia deixado pra mim.

- Eii vocês!!! – Veronica apareceu do nada enquanto tomávamos um café em uma lanchonete próxima a praia. – O que fazem aqui?

- Estamos conversando. A Lauren ta terminando de verificar essas coisas pro trabalho dela. Senta aqui com a gente. – Lucy respondeu e Vero sentou ao seu lado.

- Você ta trabalhando demais, Lauren. Daqui a pouco perde a Camila para aquele amigo dela da Universidade. – Veronica riu e eu a olhei confusa. Quem diabos era esse amigo?

- Que amigo? – A perguntei séria. Ela ainda ria.

- Um garoto que foi algumas vezes na casa dela e eles conversaram na parte atrás da casa, mas eu não sei sobre o que falavam, não tenho tempo pra ouvir conversa de ninguém.

- Como assim? Ele foi quando? Eles estavam conversando o que? Por que infernos não disse antes? – Eu juntei todos os documentos e joguei de volta para a pasta.

- Eles só conversam, Lauren. Eu estava brincando. Deus! – Riu.

- Acho que ela levou a sério. – Lucy sussurrou. Levei da cadeira. – Pra onde você vai?

- Saber quem é esse garoto e o que ele conversa com a minha namorada. – Eu iria sair se não fosse Veronica me puxar pelo braço e me empurrar de volta para sentar na cadeira.

- Pare de ser louca ciumenta. Eles só estavam conversando. Pode ser um trabalho do curso ou sei lá. Era uma brincadeira. Não pra você surtar desse jeito. – Falou séria dessa vez e empurrou uma garrafa de água na minha direção. – Bebe isso aí. Ninguém vai tirar a Camila de você. Ela te ama, então relaxa. Você leva tudo a sério.

Eu respirei fundo e relaxei as costas na cadeira. Não voltei a olhar os documentos do projeto. Não iria conseguir focar em mais nada. Minhas amigas permaneceram ali conversando sobre algo ou rindo de si mesmas ou mostrando afeto demais dentro de uma lanchonete. Eu enviei mensagens para a Camila, mas ela não respondeu nenhuma delas.

Quando o sol começou a se pôr no horizonte, finalmente cansei da minha impaciência e levantei de novo. Vero revirou os olhos e soltou Lucy do seu abraço de lado.

- Não vai dar uma de louca, Jauregui. – Disse me encarando. Respirei fundo novamente. Tentei sorrir, mas foi claro a minha impaciência.

- Só vou fazer umas perguntas. – Dei de ombros e peguei a pasta e minha bolsa. – Vejo vocês depois. Tchau!

- Não vai surtar, Jauregui! – As duas falaram ao mesmo tempo enquanto eu deixava a lanchonete. Elas riram.

O céu estava laranja e com um tom de azul mais escuro quase se misturando a um roxo. Eu tentei dar de ombros e não me incomodar com alguém conversando com a Camila sem eu saber. Eu não estava sendo louca. Talvez eu... Eu só precisava saber que estávamos bem.

Dirigi até a casa dela e antes de parar o carro, vi de longe Camila se despedindo de um garoto com um abraço. Ambos sorriram. Ela que não voltasse a gostar de garotos agora. Meu coração apertou. Ela era minha.

Camila voltou para dentro de casa. O garoto pegou sua bicicleta e começou a pedalar pela rua. Eu teria minhas respostas agora e não seria a Camila quem as me daria. Acelerei o carro e alcancei o garoto. Talvez eu lembrasse dele de algum lugar.

Ele tentou desviar do carro como um ciclista normal. Eu buzinei e ele olhou pra mim quando baixei o vidro da janela. Fez uma expressão confusa como se perguntasse o que eu queria.

- Para aí! – Gritei de dentro do carro. Nós estávamos quase em um cruzamento.

- O que? Nem te conheço. – Sorriu e tentou pedalar mais rápido. Talvez eu tenha encostado o carro no pneu da sua bicicleta de propósito. Ele caiu e eu parei o carro.

- Eu disse pra você parar. – Desci e bati a porta. Ele me encarava assustado no chão.

- O que diabos você fez? Você é louca? – Gritou.

- Talvez eu seja um pouquinho. O que você tava fazendo na casa da Camila?

- O que? – Continuou confuso.

- Você me ouviu. O que foi fazer com ela? – Me aproximei mais. Eu estava quase mais do que impaciente. Ele franziu as sobrancelhas e negou com a cabeça. Respirei fundo. – Responde antes que eu jogue meu carro em cima de você.

- Eu fui deixar uns livros que ela me pediu na biblioteca. – Disse mais assustado que antes. Meus olhos fixos nos seus.

- Qual o seu nome?

- O que?...

- Qual o seu nome, porra? – Gritei. Ele se arrastou um pouco no chão e segurou a bicicleta ao seu lado.

- Josh. Eu trabalho na universidade e ela me pediu uns livros pra estudar pras provas. Só isso.

- Não vai mais se aproximar da casa dela. Okay? Se ela precisar de livros, eu vou buscar com você. Não quero mais saber que você esteve na casa dela ou até mesmo na calçada. Espero que tenha sido clara. – Chutei a lateral da sua bicicleta. Ele fechou os olhos e pareceu mais assustado. Eu sorri. – Desculpa pela bicicleta, Josh. Você entendeu direitinho, não é?

Ele não disse nada, apenas confirmou com a cabeça diversas vezes rapidamente. Puxou a bicicleta para mais perto do seu corpo. Eu pisquei várias vezes e voltei para dentro do carro. Quando liguei o motor, Josh já havia levantado do chão e estava correndo pela calçada com sua bicicleta ao lado. Eu gargalhei. Eu só precisava confirmar a história com a Camila.

Eu toquei a campainha duas vezes seguidas. Sofia abriu a porta e deu seu melhor sorriso assim que me viu. A abracei e entrei com ela nos meus braços.

- Onde a kaki está? – Perguntei depois de lhe dar um beijo na bochecha.

- No quarto, mas ela disse que não queria que ninguém fosse lá. Ela foi estudar pra prova. – Falou segurando meu rosto com as duas mãos e pressionando minhas bochechas.

- Você conhece algum Josh? – Eu sorri e ela pareceu pensar. – Um garoto que vem trazer livros pra Camila?

- Ahhh!! Ele não é Josh, é o David. Kaki chama ele as vezes pra trazer uns livros e eles conversam lá atrás. – Falou animada ainda segurando meu rosto. Respirei fundo. Ele havia mentido o nome.

- Eles são amigos? Só conversam? Não ficam se abraçando? – Sofia gargalhou e negou com a cabeça.

- Ele deu um beijo na bochecha dela um dia, mas a Kaki não gostou e disse pra ele não fazer mais isso porque ela tinha namorada. – Sorriu largo. - Você!

Eu sorri de volta pra ela. A coloquei no chão e acariciei seu cabelo. Ela tentou me puxar até a sala para assistir desenho com ela, mas eu disse que precisava entregar uma coisa para a Camila e ela me deixou subir. Sinu estava na cozinha preparando o jantar. Pude sentir o cheiro da comida. Molho de tomate fresco, para ser mais precisa.

Não bati na porta do seu quarto. Apenas entrei e fechei a porta. Camila estava deitada de bruços na cama. Tinha seus fones no ouvido e vários livros ao redor. Parecia focada na leitura de um deles.

Respirei fundo a observando ainda parada na frente da porta. Ela mexia os pés talvez no ritmo da música. Batucou o lápis três vezes. A respiração suave. O short curto demais deixando que eu tivesse a melhor visão das suas pernas. A blusa levemente elevada deixando parte das suas costas a mostra. Me aproximei.

Estava atrás da cama agora. Seus pés ainda balançando. Eu queria poder subir sobre ela na cama, mas dei a volta e fiquei ao seu lado. Camila virou o rosto rapidamente na minha direção. Uma expressão confusa. Tirou os fones. Sorriu suavemente.

- Oi! – Afastou o livro do corpo.

- Quem é Josh ou David? – Perguntei de uma vez e ela franziu as sobrancelhas ainda sorrindo.

- David é o garoto da biblioteca do campus. Josh eu não conheço.

- David vem te deixar livros aqui? – Perguntei novamente. Ela pareceu confusa. Sentou na cama me encarando.

- Sim. Quando eu não tenho tempo de buscar livros lá, ele se ofereceu para me trazer os livros que eu precisasse.

- Então ele está se desoferecendo para te trazer livros aqui. Se precisar de algum, eu mesma pego. – Sorri. Ela continuou expressando sua confusão em seu rosto.

- Por que está dizendo isso?

- Porque eu não quero que ele venha aqui. Te dê beijos ou receba um abraço quando vai embora. – Dei de ombros e caminhei pelo quarto.

- O que? Ele não me beija.

- A Sofia me disse que ele te deu um beijo na bochecha enquanto conversavam lá atrás. Não quero você perto dele, mas acho que ele não vai ter coragem de se aproximar de você de novo.

- O-o que?... Lauren, o que você fez? – Ela levantou da cama e segurou meu braço. Encarei seus olhos.

- Talvez eu tenha quase atropelado ele com meu carro. Ele mentiu o próprio nome, então não vou me desculpar por isso. – Dei de ombros. Ela arregalou os olhos.

- Você está louca? – Soltou meu braço e se afastou pegando o celular na cama rapidamente. – Ele está bem?

- É claro que ele está bem. Ele só caiu da bicicleta. – Eu ri. – O que vai fazer?

- Vou ligar pra ele pra pedir desculpas. – Respondeu com o olhar fixo no aparelho em suas mãos. Eu me aproximei rapidamente e tirei o celular dela.

- Não vai se desculpar não. Ele não vai vir mais aqui e está ótimo. Volte a estudar. Você tem prova amanhã.

- Lauren, por Deus!!! Você não pode tentar afastar as pessoas de mim porque não gosta que elas se aproximem. Ele é só um garoto legal e...

- Você não precisa de garotos legais. Você só precisa de mim. – Eu gritei. Ela pareceu assustada.

- Você pode não gritar? Mama e Sofia estão lá embaixo. – Falou baixo. Respirei fundo.

- Amor, você só precisa de mim. Okay? – Me aproximei dela e segurei seu rosto em minhas mãos. Eu sorri. Ela não.

- Você não pode fazer isso. Eu mal tenho amigos.

- Você tem a Dinah. Ela é sua melhor amiga.

- A Dinah mora longe. – Ela pareceu triste. A beijei rapidamente.

- Mas ela é boa pra você. Você não precisa de mais ninguém. Você tem a mim. – Ela respirou fundo. Fechou os olhos. Uma expressão que eu não consegui decifrar em seu rosto.

- Tudo bem. Eu só preciso de você. – Apertou os olhos. Sorri mais forte. A abracei e beijei seu rosto. – Você ainda está errada pelo o que fez.

- Não estou. Eu quero você só pra mim. Eu te amo muito, Camila. Você é só minha. – Sussurrei ainda a abraçando. Ela não me abraçou de volta.

- Okay. Você pode ir agora pra eu terminar de estudar? Vou dormir cedo pra sair amanhã e não me atrasar para a prova. – Perguntou. Me afastei e olhei em seus olhos. Ela não parecia feliz. Isso doeu.

- Vou te deixar amanhã no campus. – Tentei sorrir e a fazer sorrir também.

- Não precisa. Eu tenho meu carro. – Se soltou de mim e sentou na sua cama. Trouxe alguns livros para as pernas.

- Mas o meu carro é mais rápido.

- Vai embora, Lauren. Eu preciso terminar de ler algumas coisas. Não preciso de carona, meu carro consegue me levar e trazer de volta.

- Mas se precisar de algo vai me ligar? – Me aproximei da cama.

- Talvez. Agora vai. A gente se fala depois. – Ela não sorriu. Não olhou pra mim. Abriu o livro na página marcada. Respirou fundo. – Boa noite, Lauren.

- Não vou ganhar um beijo de despedida? – Sorri mesmo que ela não estivesse me olhando.

- Você fez algo errado hoje, então não.

- Não vai me dar um beijo, mas deu um abraço nele? – Revirei os olhos e me afastei dela. – Não fiz nada errado.

Camila me olhou. Baixou o olhar e engoliu a própria saliva. Passou a mão no rosto e levou o cabelo para trás. Me aproximei novamente e segurei seu rosto em minha direção. A beijei.

- Boa noite, Camila. – Ela estava encarando o nada quando eu saí do quarto.

Não me abraçou de volta. Não disse que me amava de volta. Não me beijou de volta. Ela não me queria de volta e não parecia mais feliz ao meu lado.