História Her (romance lésbico) - Tudo bem novamente

Continuação...

- Alô. – atendeu seca.

- Oi Liv. Tá ocupada? – falou uma voz de quem queria algo.

- Um pouco – continuava monossilábica.

- Então eu ligo depois. Tchau...

- Não, espera. Fala o que você quer. – respirou fundo se desarmando.

- Preciso pedir desculpas a você. – falou por fim.

- Desculpas pelo que exatamente? Ter sido grossa e me tratado mal? Ou sua atitude homofobica e egoísta de achar que só pelo fato de eu ser gay estava dando em cima de você? –  estava realmente magoada.

- Sei que fui uma idiota. Peço desculpas tá.  Olha Olivia, eu não tenho muitas amigas,  você sabe. Nunca fiz questão de ter pessoas na minha vida. Mas de você eu faço. Quero dizer... Da sua amizade. A maneira como você se importa comigo, como se preocupa com minha felicidade, está me ajudando a enxergar as coisas de outra maneira. – puxou o ar respirando fundo. – A gente se conhece a pouco tempo e eu gosto muito de você. Não queria ver você sair da minha vida.

- Olha você... – já estava com a voz mais branda – você não existe! – olhava para os lados como que procurando as palavras.

- Então, tô perdoada? – seu tom soava mais aliviado e surpreso. 

- Você é tão complicada Rachel.. – murmurou levando a mão a testa.

Rachel continuou em silêncio esperando a resposta.

- Tá, tudo bem. Eu te desculpo! – disse por fim

- Jura? – perguntou não tão convencida.

- Sim!

Permaneceu calada. Algo ainda estava lá incomodando.

 - Por que ainda tá assim? Nem parece minha Olivia.

Olivia bufou e riu irônica como se a pergunta fosse obvia e pelo “minha”. Rachel tinha o direito de ter alguma posse sobre ela?

- Porque eu tô magoada ainda. – deu de ombros.

- Sabia! E o que eu posso fazer pra você melhorar?

- Não é assim que as coisas funcionam sabia? Isso leva tempo. Mas não se preocupa, vou melhorar. – nem ela tinha certeza se conseguiria voltar ao normal depois desse dia.

- Tudo bem. Nunca quis te ofender Liv. – disse com uma voz triste.

- Já entendi Rachel. – Marcela sai do banheiro enrolada na toalha – Tenho que ir agora.

- Tá, até depois então.

Nenhuma das duas desliga o telefone. Ficaram ouvindo a respiração uma da outra.

- Não vai desligar? – Olivia pergunta por fim.

- É que não tô satisfeita, entende?

- Com o que não está satisfeita? Já tá desculpada – Olivia coça atrás do pescoço confusa.

- Eu sei mas você tá me tratando estranha.

- Tá tudo bem, é sério. Mas você precisa entender que não existe botão de desligar sentimentos. E ah, como eu queria que existisse. – se referiu ao sentimento pela amiga. – Cada um tem seu tempo Rachel. Mas Vou ficar bem.

- Promete?

- Prometo. Mas agora realmente tenho que ir.

- Tudo bem. Tchau Liv.

- Tchau Rach. – disse desligando o telefone.

- Quem era? – perguntou Marcela abraçando Olivia assim que ela desliga o telefone.

- Um amiga. – se dirigiu para o balcão e foi terminar os sanduiches.

- Tá bom, amiga. – fingiu acreditar.

Depois de comer, Olivia pediu pra que a garota fosse embora. Usou a desculpa que sua mãe voltaria logo pra casa. Embora ela soubesse que não era verdade e a mãe só estaria de volta no meio da semana. Mas precisava de um tempo pra organizar seus pensamentos. Perdoou a amiga, mas não sabia o que significava. Voltariam a ser amigas? O que ela faria em relação ao seu sentimento?

Resolveu que queria a amizade daquela garota. Olivia gostou de ouvir ela dizer que a queria em sua vida. Também não conseguiria viver longe de Rachel, já estava com saudades até. Iria deixar o tempo se encarregar de arrumar as coisas. Tê-la por perto já bastava para que seus dias fossem melhores.

...

Rachel

Ela estava acostumada a ser tratada por Olivia da melhor maneira possível, sempre com sorrisos, sempre com simpatia. Essa forma seca e curta não conhecia e não suportaria receber aquele gelo. Mas concordou em dar um tempo pra amiga assimilar as coisas. Tinha esperanças de restaurar a amizade.

Rachel deitou na cama e analisou toda a conversa. Nunca correu atrás de ninguém, nunca fez questão da amizade de ninguém. Mas o que tem de diferente em Olivia que a deixava daquele jeito e fazendo questão de ter a garota em sua vida?

As coisas precisavam mudar em sua vida. O tempo todo foi acomodada com as situações. Sentia como se essa afeição que sentia pela amiga a impulsionasse a ir mais longe. Resolveu que ouviria os concelho do amigo. “Não é nada demais conhecer outra pessoa”, tentava se convencer que era apenas disso que se tratava. Mas toda jornada começa com o primeiro passo e ela se permitiria dar esse passo. Não quis sentir medo, nem duvidas. Apenas iria conforme  a levasse.

O domingo estava finalmente chegando ao fim. O final de semana tinha sido de longas emoções. O telefone de Rachel não parava de receber mensagens e ligações do namorado. Precisaria vê-lo, ela sabia. Mas toda vez que pensava em atender se lembrava do sofrimento no pub. Da dor que causou em Olivia, das palavras ditas que a magoaram e do seu ciúme. Sim, ela finalmente admitiu que estava com ciúmes daquela garota pendurada no pescoço de Olivia. Falaria com ele no dia seguinte. Hoje só queria pensar em sua nova oportunidade e em como faria tudo dar certo.

O relógio já caminhava pra meia noite e o sono não chegava. Pensou em pegar o celular e enviar um boa noite para a amiga. Mas estava ignorando outra pessoa e não queria que  ele visse sua ultima visualização no aplicativo. Então pegou o celular e foi ouvir música. A música tinha esse poder de acalma-la e embalar seu sono. E foi exatamente o que aconteceu. Escolheu a playlist e deixou que a música tomasse conta de toda sua alma. Era como se alguém tivesse restaurado o sistema que estava com defeito.  A paz se instaurou novamente dentro dela e parecia que ela sabia que tudo ficaria bem novamente.