História Her (romance lésbico) - Você é só uma aventura para ela

Rachel

Não podia acreditar em seus olhos. Nunca foi com a cara dessa menina desde o dia do pub. Sabia que elas já tinham tido alguma coisa e por isso sentiu mais ódio. Sua vontade era pular no pescoço dela e rasgar sua garganta. Rachel não lembrava de ser tão ciumenta, mas é que quando se tratava de Olivia, tudo parecia imensamente maior. Inclusive seus sentimentos. Sejam eles de prazer ou de raiva. Apenas eram maiores. 

Não retribuiu o beijo da namorada porque estava com muita raiva dela também. Ela já sabe do interesse que essa garota tem e continuavam sendo amigas. Além de Marcela, ainda tinha uma desconhecida ali. E comendo seu iogurte! Não gostava nada das amizades de Olivia.

- Você deve ser a Rachel! – a menina foi em sua direção. - Muito prazer, eu sou Ana. Amiga da Liv! – abraçou Rachel, que não esperava por isso.

- Sou sim... – falou nada simpática.

Marcela ainda estava sentada no sofá. Rachel a fuzilava com o olhar.

- A gente só veio visitar a Liv. Mas já tava indo embora... Né Mar? – Ana a olhou e a garota finalmente se levantou e foi em sua direção.

- Oi, Rachel. É, a gente já tava de saída.

- Então agora você lembra meu nome, não é? Nem me chamou de Rebeca. – Rachel cruzou os braços em frente a garota. Usou um tom de deboche.

- Desculpa por aquele dia. Não precisa se preocupar comigo, a Olivia te ama. Só estávamos conversando... Mas já vamos embora.

- Quem disse que me preocupo? Eu sei que Olivia me ama! – foi firme. Queria marcar território. As três garotas se entre olharam, até Ana quebrar o clima. 

- Tchau Liv. – abraçou a morena. - Vou comendo no caminho. – apontou para o iogurte de Rachel em sua mão.

- Tchau, Ana. Obrigada pela visita. – Olivia sorriu para sua amiga. Depois dirigiu seu olhar a Marcela, que estava em pé de frente para Rachel. As duas estavam se encarando ainda.  - Obrigada pela visita também, Mar. 

- Por mim eu viria mais vezes. Cê sabe... – riu, foi até Liv e a abraçou. Rachel respirou fundo e bufou alto.

Olivia abriu a porta para suas amigas irem embora. Rachel não se moveu, continuou de braços cruzados e de expressão séria. A morena fechou a porta e ficou a olhando com um ar de riso. Isso a enfureceu ainda mais.

- Do que você tá rindo, Olivia? Tem alguma palhaça aqui? 

- Não meu amor. Eu só não tô entendendo essa sua cara amarrada. O que foi? – tentou abraçar a namorada por trás, mas Rachel tirou as mãos dela.

- Eu chego em casa e encontro duas garotas. Uma desconhecida comendo MEU iogurte e outra que eu não suporto, e que ainda por cima é sua ex. – esbravejou.

- Amor, ela não é minha ex. E a Ana, ela é assim mesmo não liga... Você tá com ciúmes, Rachel? 

- E se tiver, Olivia?

- Se estiver, você é a coisinha mais linda do mundo com ciúmes. Rach, você é a mulher da minha vida. Ninguém no mundo vai mudar isso. – investiu novamente num abraço. Rachel já estava mais desarmada, a raiva já estava diminuindo ao ao ouvir aquelas palavras. 

- É que essa menina é ridícula, Olivia. Fica se jogando pra cima de você. Diz a ela que você é minha mulher! – falou com firmeza. 

- Wow! – abriu um sorriso enorme e a abraçou. - Nem nos meus mais ousados sonhos, imaginei você falando que eu sou sua mulher. Você me faz tão feliz Rachel. Bota uma coisa em sua cabeça: eu estou ocupada demais sendo sua pra me interessar por qualquer outra pessoa que seja.

Rachel a beijou. Olivia também era a mulher da sua vida. Aquela que a ensinou o que é o verdadeiro amor, que mostrou que vale sim a pena batalhar pelo que deseja. Dar vazão aos sentimentos e buscar sua felicidade. Olivia a ensinou que ser livre é tomar suas próprias decisões e fazer escolhas. E ela não se arrependia de nenhuma. Tudo que ela mais queria estava bem ali, diante dela.

- Me diz uma coisa, quem é Rebeca? – Olivia pergunta sorrindo.

- E eu que sei? Aquela escrota da sua amiga me chamou assim naquele dia que vim aqui atrás de você e ela abriu a porta!

- Com certeza ela queria te provocar... – fez uma pausa e sorriu novamente. - E a Ana? Você ficou com ciúmes dela também ou essa birra foi porque ela comeu seu iogurte? – riu abraçando e brincando com o cabelo de sua namorada.

- Ai que garota folgada! Tinha que pegar justamente o meu?...

- Você é muito engraçada com ciúmes amor.

- Não tem graça, Olivia. Tem alguém rindo aqui?

- Agora tem! – Olivia começou a fazer cócegas na barriga de Rachel. Que deitou no sofá e ria frenética.

Olivia sentou entre suas pernas, a prendendo. Aos poucos os risos de Rachel foram parando. As garotas se encararam por um tempo, as testas encostaram uma na outra. As bocas começaram a roçar, a língua de sua namorada logo pediu passagem e ela deu. Já sabia o que viria. E queria, ansiava sentir novamente o corpo da mulher que amava. Olivia parecia ter sido feita pra ela.

...

Algumas semanas depois as rotinas voltaram a sua peculiaridade. Olivia voltou a frequentar as aulas normalmente. Recebeu a notícia que o pai dela já estava bem melhor e em casa se tratando. Estava quase totalmente curado. Rachel sentia muito orgulho de sua namorada. 

Estavam no estacionamento da faculdade, indo pegar o carro para irem pra casa. Caminhavam de mãos dadas despreocupadas, mostrando todo o amor que sentiam uma pela outra.

- Vocês duas não tem vergonha na cara mesmo, não é? – o garoto apareceu do nada bem na frente delas.

- Luiz, o que você faz aqui? – pergunta Rachel 

- Eu vim ver com meus próprios olhos. Vocês duas são tão nojentas! – fez cara de nojo. 

- Vai embora daqui, seu imbecil! Eu já tô sabendo o que você fez com a Rachel. Também tô sabendo das ameaças que anda fazendo a ela pelo celular. É melhor deixar a gente em paz se não... 

- Se não o que, garota? – deu uns passos pra perto dela. - Você pensa que pode mais do que eu? Pensa que porque está com ela agora vocês vão casar e viver felizes para sempre? Não! Você é só uma aventura para ela. Só um passatempo. Logo logo ela volta pra mim correndo.

- Isso nunca! – Rachel o empurra para que ele se afaste de Olivia. Ele a empurra de volta e em sua fragilidade, Rachel acaba caindo.

- Você tá bem amor? – Olivia se abaixa indo até ela.

- Ai... Eu não sei. – levou a mão ao seu punho. - Tá doendo. Acho que... – olhou para Olivia e depois para seu ex namorado. Sabia que nada de bom sairia daquele encontro.

- Olha o que você fez seu imprestável. – a morena levanta, e com muita fúria, vai até o garoto que está parado em sua frente e da um soco bem perto de sua boca .

Ele leva a mão até onde foi atingido, constata que tem um pouco de sangue e rir com um olhar cínico para Olivia. Que fica com mais raiva, e vai com tudo pra cima dele. 

Rachel levanta e vai nas pressas em busca de ajuda. Perto da saída do estacionamento, ficava o porteiro. Ela pediu socorro e os dois foram correndo para o local onde estava ocorrendo a briga. Quando ela chega lá, se depara com Olivia no chão. E seu ex namorado chutando as costelas dela. Aquilo a destruiu! Parecia que os chutes estavam sendo nela própria. Sentiu ódio dele. Queria que ele morresse bem ali mesmo se fosse possível. 

O porteiro foi lá ajudar. Surpreendeu Luiz e o imobilizou pelos braços os prendendo em suas costas. 

Rachel se jogou no chão onde sua namorada estava caída. Se sentiu quebrada ao vê-la ali daquele jeito.

- O que vocês querem que eu faça? – perguntou o homem que segurava o garoto. 

- Chama a polícia! – Rachel respondeu em meio ao seu choro desesperado. Estava preocupada com Olivia. Que gemia de dor.

Quando a polícia chegou, apreendeu o rapaz dentro do camburão. As duas garotas foram pra delegacia formalizar a denúncia. Lá, foi feito um exame de corpo de delito e constatado a agressão que Olivia  sofreu. Havia fissurado uma costela, além de ter algumas escoriações pelo corpo. E Rachel teve uma pequena torção em seu punho devido a queda. As garotas nunca haviam estado em uma delegacia antes, isso as assustou um pouco. Mas não deixaram de registrar a queixa. Ele merecia pagar por tudo que fez as duas. Rachel mostrou as ameaças feitas por ele. O que só piorou a situação que o rapaz se encontrava. 

Denúncia, feita as garotas foram liberadas. O ex namorado de Rachel continuou na delegacia. Iria ficar detido até segunda ordem.

Semanas depois, as meninas receberam a notificação de que o rapaz estava respondendo ao crime em liberdade. Fora expedido um mandato judicial e ele não iria poder se aproximar mais de trinta metros das garotas. Além de ter que passar dois anos fazendo serviços comunitários. 

Elas se irritaram com a pena. Aquilo era pouco pra o que ele fez. Acharam que ele merecia apodrecer na cadeia por sua imensa covardia e falta de respeito.

Apesar das dificuldades, quanto mais o tempo passava, Rachel e Olivia se fortaleciam como casal. Nada as abalava. O amor que sentiam uma pela outra ficava mais sólido. Como uma rocha impenetrável. A cada dia, a cada semana, acada mês, o amor só aumentava. Rachel não imaginava que seria possível ser tão feliz. Olivia tinha sido sua melhor decisão.