História Her - Capítulo 1

HER

Último ano do ensino médio, Jeonghan não poderia estar mais apreensivo. Os escândalos da empresa de sua família estavam o enlouquecendo, tudo em sua vida estava desmoronando aos poucos e ele não podia fazer nada além de apenas observar o circo pegando fogo à sua frente. Com a última denúncia sendo feita à Polícia Federal os pais de Jeonghan se viram obrigados a levar o garoto para mais longe de si, mesmo que isso doesse um pouco por enquanto. Yoon viveria sozinho durante um tempo, em uma cidade totalmente nova e estranha para si, mas isso não o assustava, assustava o fato de como deveria se portar perto dos outros na nova cidade.

[...]

Yoon se olhou mais de dez vezes para ver se estava realmente arrumado para ir à escola, estava totalmente nervoso porque não queria que ninguém descobrisse sua identidade. Arrumou os cabelos loiros mais uma vez deixando-os cair livremente ao lado de seu rosto, deu seu melhor sorriso e se aprontou para sair de casa.

Daegu naquela manhã estava especialmente mais fria, talvez fosse a má sorte que estivesse o rondando, ele pensou, pois quando saiu de casa Jeonghan praguejou baixo ao sentir o ar frio lhe arrepiar nas pernas. Irritado ele simplesmente colocou música em seus fones o mais alto que pôde, não se importava se doía um pouco, nada se comparava a preocupação que corroía seu peito por conta de seus pais.

Sua casa não ficava longe da nova escola então em poucos minutos de caminhada ele estava à frente da enorme escola que agora lhe tomaria quase seu dia inteiro por ser um turno integral, suspirou alto e olhou para os lados vendo os alunos voltando às aulas totalmente alegres e animados, mesmo sendo 6h30 da manhã de uma segunda.

Andou lentamente até o interior da escola, era mais moderna que a última que havia estudado e mesmo assim nada o animou. Havia recebido um bilhete dos pais na noite anterior pelo seu motorista, no recado dizia que suas aulas começariam no dia seguinte e que antes que fosse para a sala de aula ele deveria ir à direção, pois tinha que conversar sobre a situação de sua família.

Viu pequenas placas indicando o caminho do lugar que deveria ir e apenas seguiu, antes de virar mais um corredor ele trombou com um aluno que derrubou todos os livros que carregava. Jeonghan não soube o que fazer por alguns instantes, mas logo o silêncio foi quebrado por outro garoto chegando perto do menino que havia trombado em si.

- Tá tudo bem Joshua? – Indagou o menino de cabelo caramelo.

- Tá sim, me desculpe por ter batido em você, está machucada? – Joshua levantou-se do chão e abriu um sorriso amarelo para Yoon.

Jeonghan apenas assentiu e saiu de perto dos dois, sequer tinha colocado os pés na escola e já tinha chamado atenção, sua intenção de ser invisível para todos não estava dando certo. Entrou na secretaria e pediu para a secretária que estava totalmente distraída em seu celular que pudesse falar com o diretor, ela apenas indicou a porta que ele deveria entrar e assim o fez. Deu leves batidas na porta e ouviu um chamado.

- Pode entrar!

- Olá, bom dia. – Disse Yoon se reverenciando.

- Bom dia. Você é o aluno novo não é? – Perguntou o diretor estendendo a mão em direção à cadeira para que Yoon sentasse.

- Sim, sua a aluna nova. – Disse Yoon corrigindo o diretor.

- Oh me desculpe, não vou cometer esse erro de novo. Seu pai já me explicou tudo, ele me pediu para que não tivesse as aulas de educação física, darei um jeito nisso o mais rápido que puder, tudo bem?

- Tudo bem . – Yoon sorriu falsamente.

- Seu horário a partir de hoje é esse. Caso não se sinta a vontade em almoçar aqui dentro pode sair, eu já avisei a todos que você tem total liberdade para sair da escola no horário que quiser, ok?

- Não poderia estar mais grata. – Jeonghan fez uma careta ao ver que tinha usado uma palavra feminina naturalmente.

- Bem, acho que isso é tudo Jeonghan, seu pai está bastante preocupado com você e espera que não crie confusões aqui. – Disse o diretor levantando-se.

- Não irei senhor, eu prometo. – Jeong levantou-se reverenciando o senhor de mais idade.

- Bom, boa aula e bem-vindo.

- Ah sim, obrigado, quer dizer, obrigada.

Jeonghan foi em direção à porta e quando a abriu algo caiu em cima de si fazendo-o bater a cabeça com força contra o chão.

- Seungcheol! – Gritou o diretor. – O que está fazendo?!

- Minha cabeça... – A voz sôfrega de Jeonghan fez o garoto que estava em cima de si levantar-se o mais rápido possível.

- Me desculpa! Qual seu nome? Me desculpa de verdade.

Os gritos do diretor não foram ouvidos, o que importava para Seung naquele instante era a pessoa no chão estirada, sem pensar muito Choi levantou Yoon no colo e saiu com ele dali o mais rápido que pôde indo em direção à enfermaria. Chegando lá contou o que havia acontecido e acabou por levar um tapa na nuca da enfermeira.

- Você está bem? – Perguntou Choi sentando-se ao lado da cama de Yoon.

- Estou. – Respondeu baixo o loiro.

- Pode me dizer o seu nome?

- Yoon Jeonghan. – Respondeu sem interesse em saber o nome alheio, sua cabeça doía demais para pensar em formular uma frase no instante.

- O meu é- Ai! – Outro tapa havia sido desferido no menino que havia machucado Jeonghan.

- Me desculpe, meu filho é uma anta. Vamos ver como você está.

Choi se afastou e observou Jeonghan ser examinado de longe, não queria levar outro tapa de sua mãe. Tudo parecia normal a não ser a dor de cabeça por conta do choque, mas Choi ainda estava preocupado.

- Seungcheol deixe-a quieta, se eu te pegar fazendo merda de novo você vai se ver comigo em casa. – Ameaçou a mãe retirando suas luvas.

- Mas mãe-

- Mas nada Choi, tá parecendo seu pai, sai daqui agora, você tem aula.

- Tá... – Choi se deu por vencido. - Cuida direitinho ouviu velha? – Provocou o menino que correu da mãe o mais rápido que pôde.

Mesmo com sua cabeça doendo Jeonghan se deixou rir um pouco da situação, amava irritar a mãe como Choi havia feito.

[...]

Quando acordou a primeira coisa que fez foi tatear suas roupas até encontrar seu celular, ao acha-lo viu o horário e seus olhos praticamente saltaram de seu rosto, ele havia perdido todas as aulas da manhã. Bufou alto e olhou ao seu redor, estava sozinho, agradeceu aos céus por aquele garoto não estar por perto, pois a dor em sua cabeça ainda era presente e pelo o que se lembrava a voz do moreno era bem alta.

Levantou-se rapidamente e saiu da enfermaria, mas havia um pequeno problema, não sabia pra onde ir. Como o horário do almoço estava chegando ele decidiu passar o tempo livre escondido, mas um lugar peculiar. Andou bastante até avistar o banheiro, sentiu-se confuso porque em qual dos banheiros devia entrar? O masculino ou o feminino? Passou uns bons minutos parado em frente as duas opções refletindo e decidiu entrar no feminino porque se alguém o visse no banheiro masculino daria uma grande confusão.

Para sua sorte o local estava vazio, andou lentamente até a última cabine e trancou a mesma, abaixou a tampa do vaso sanitário e sentou-se na mesma abaixando sua cabeça como se estivesse derrotado. Abriu os olhos vagarosamente quando ouviu a porta ser aberta, não ouviu mais nenhum barulho por alguns instantes até que soluços foram iniciados, quem estaria chorando? Indagou-se Jeonghan. Ele abriu um pouco a porta de sua cabine assim vendo uma menina de cabelos praticamente ruivos limpando o rosto e tentando controlar o choro, queria ajuda-la, mas seria muito estranho ajudar uma menina tão do nada então apenas se conteve e fechou a porta do banheiro novamente. O choro acabou quando a menina saiu do banheiro, logo em seguida Yoon saiu do local pois o horário do almoço havia chegado.

Andou lentamente pelos corredores vazios da escola em busca do refeitório, quando o achou sorriu fraco e caminhou um pouco mais rápido, mas era algo um pouco impossível porque seus sapatos novos tinham um pequeno salto e pela inexperiência ele arrastava o pé, causando um barulho irritante quando o mesmo encontrava o chão. Yoon bufou alto e andou devagar novamente, ao chegar ao refeitório pôde ver  alguns alunos esperando na fila, para sua má sorte seus sapatos fizeram um barulho alto e todos da fila lhe encararam.

Yoon não soube o que fazer, apenas abaixou a cabeça e entrou na fila sem fazer qualquer contato visual com quaisquer pessoas que estavam lá. Esperou o sinal tocar e o almoço foi servido aos que estavam na fila, quando chegou a vez de Yoon um grupo de três meninos entrou na sua frente cortando a fila. Ainda estava com a cabeça abaixada, mas pôde reconhecer a voz de um dos que estavam no trio. Era o garoto que havia caído em si.

Levantou o rosto no mesmo instante e encontrou o olhar curioso do garoto sobre si, ele abriu um sorriso no mesmo instante ao ver que era Jeonghan.

- Jeonghan! Você está bem? Espero que sim. – Choi acariciou o braço de Yoon que revirou os olhos no mesmo instante.

- Não encosta em mim. – Disse baixo mas audivelmente.

- Desculpe. – O moreno levou um susto pela imparcialidade de Yoon.

- Olá... – Disse o outro menino que estava no trio. – Sou Wonwoo.

- E eu Mingyu! – Exclamou o mais alto de todos sorrindo abertamente.

- Não me interessa. – Respondeu ele pegando sua bandeja e passando na frente do trio que enrolava.

Jeonghan não podia ser amigável com ninguém, seu pai havia sido bem claro, “Não se relacione com ninguém, não crie laços porque isso é temporário.” As palavras de seu pai eram repedidas inúmeras vezes em sua cabeça e não podia se dar ao luxo de ser amigo de meninos, especialmente se eles forem tão lindos como o trio era. Ainda em silêncio Yoon pegou sua comida e foi em direção ao fundo do refeitório onde tinha uma mesa no local mais escuro, talvez ninguém sentasse lá consigo. Ficava perto da lixeira e ele agradecia por isso, afastaria qualquer curioso que quisesse ser amigo da garota novata.

Enquanto comia olhou seu celular e viu duas chamadas não atendidas. Se preocupou porque eram chamadas de um número fixo. Seu pai tinha lhe garantido que só ligaria em números sem identificação e seriam por celular. Quem havia lhe ligado?

Após terminar seu almoço, deixou a bandeja no local correto e foi em busca de uma máquina que vendia refrigerantes. No final do corredor havia uma então andou o mais rápido que pôde porque queria uma bebida bem gelada para cortar o sabor de pimenta que reinava em sua boca. Ao chegar perto da máquina viu um garoto agachado tentando puxar a lata que havia ficado enganchada na saída dos produtos. Riu porque o garoto era pequeno e ficava se praguejando o tempo inteiro por ser pequeno e não conseguir alcançar.

- Quer ajuda? – Indagou Yoon vendo o desespero do menor.

- Hã? Não, eu vou conseguir. – Disse o menino voltando ao seu problema.

- Tente virar a lata. – O garoto tentou, mas sem sucesso. – Aish, calma aí.

Yoon se abaixou e conseguiu tirar a lata depois de alguns instantes, ela estava toda amassada e o sorriso do garoto que era grande sumiu ao ver a lata completamente destruída. Com dó Jeonghan comprou uma para si e outra para o menino.

- Toma. – Disse Yoon estendendo a lata para o menino.

- Ah não precisa, eu consigo tomar nessa daqui. – Mentiu o menino sorrindo fraco.

- Vamos pequeno, pegue. Eu comprei só pra você.

- O-Obrigado Noona. – Disse o menor corado quando pegou a lata.

- Ah... – Yoon teria que se acostumar a ser chamado assim. – De nada.

- Noona, qual seu nome? – O pequeno puxou o pulso de Yoon e lhe tirou da frente da máquina porque outras pessoas queriam comprar.

- Yoon Jeonghan e o seu?

- Lee Chan. – Ele se reverenciou.

- Não precisa disso Channie.

- Channie? Já tenho apelido? Você é a melhor Noona!

Tudo o que Jeonghan fez foi rir da animação do menor, ele era extremamente fofo. O loiro estava aliviado por ninguém ter desconfiado de si e por ninguém além de Chan ter tentado se aproximar, seu pai ficaria furioso se descobrisse que ele tinha chamado atenção logo no primeiro dia de aula.

Continua...