História Her (romance lésbico) - Um dia bom!

Uma semana depois

Rachel e Olivia se viram apenas na faculdade. Olivia só chegava depois que a aula tinha começado, no intervalo ela agora ficava mais com Marcela que com o grupo e quando largavam na maioria das vezes ia embora com ela. O que não dava chances pra Rachel se aproximar. Elas não conversavam mais como antes. Parecia que a intimidade que tinham conquistado havia se perdido.

Olivia 

Sua mãe havia chegado de viagem, elas tinham saído pra jantar mais cedo e conversado apenas o básico como sempre. Era noite de sexta feira e ela estava em casa. Refletindo sobre a vida, escutando música no quarto como sempre fazia. Tinha sido questionada pelos amigos o motivo de ter se afastado e querendo se livrar de muitas explicações, fugia do assunto dizendo apenas que era impressão deles. Mas o motivo estava lá, todos os dias. Tinha perdoado, mas por que as coisas não voltaram a ser como antes? Havia recusado o convite de Marcela para saírem. A garota já vinha demonstrando interesse nela e queria algo a mais. Mas não poderia. Aquilo para ela tinha se tornado uma tentativa, falha, de esquecer quem já a dominava. Não cabia sentimentos por outra, pois seu coração já pertence a alguém. E nem o fato de dividir a cama com ela mudaria isso.

  Uma música começa a tocar e ela pensa em Rachel, seu coração foi tomado por uma saudade. Toda música que escutava parecia delas. Aquecia seu peito, mas, ao mesmo tempo era uma tortura pois a dona da saudade não estava ali. Só o silêncio de um quarto solitário. Sentiu vontade de ligar, só pra ouvir sua voz. "Não seja covarde" tentava se encorajar. Pegou o celular e torceu pra ela não estar ocupada, torceu pra ela estar sozinha. Rachel atendeu no terceiro toque. 

- Oi! – atendeu uma voz surpresa do outro lado. 

- Ta ocupada? – fechou os olhos torcendo pra que a resposta fosse não. 

- Se pra você ocupada for assistir diário de uma paixão com sua mãe, sim! 

- Ela tá sofrendo por amor? — perguntou bem humorada. - É melhor eu ligar depois então. 

- Não se atreva a desligar. Você acabou de me salvar de ver minha mãe chorando pela milésima vez com esse filme. 

- Eu vim ao mundo com esse propósito mesmo. 

- A que devo a honra do telefonema da senhorita em plena sexta à noite? 

- Só queria saber como você está. Senti sua falta. 

- Eu tô bem e senti sua falta também. Mas achei que estaria com sua namorada hoje. 

- Ela não é minha namorada Rachel. — fez questão de deixar claro. 

- É que vocês tem passado muito tempo juntas lá na faculdade... 

- Mas não estamos namorando, tá. 

As duas conversaram sem ter clima chato dessa vez. Como se no instante que Rachel disse "oi", toda aquela tensão de antes tivesse sumido e era como se nada tivesse acontecido. 

- Ei, tem alguma coisa pra fazer amanhã? — pergunta Rachel receosa. 

- Até agora nada. Por quê? 

- Eu pensei em fazermos algo. O que acha? — sua voz parecia uma criança quando pede um brinquedo novo aos pais. 

- Tem algo em mente? — Olivia adorou o convite. 

- Pensei em caminharmos na  praia, tomar um açaí... Tô cansada de barzinhos. A não ser que você queira, porque aí nós vamos sem problema... — começou a tagarelar. 

- Calma, calma. Adorei sua ideia. 

- Maravilha! — agora ela realmente parecia uma criança. Dessa vez feliz por ter ganho seu presente.

Esqueceram do tempo e ficaram horas no telefone. Eram amigas novamente. Olivia superou toda história no momento em que ouviu a voz dela.

...

Estava uma tarde de sol muito agradável. Pessoas corriam no calçadão da praia,  outras passeavam com seus cachorros, uns garotos andavam  de longboard mais a frente e Olivia observava tudo. Tinha marcado com Rachel às 15 horas em frente a barraca do açaí. Estava tão ansiosa que chegou meia hora antes do combinado. Ficou lá olhando as ondas. Gostava da paz que o mar trazia. De longe ela avista um rosto conhecido. Estava com um tênis de corrida e usava um short cotton e um top com uma camiseta regata por cima. Olivia se sentia horrível naquelas roupas de academia. Mas achou Rachel linda e se perguntou o que não ficaria bem nela. 

- Hey, aqui! — chama a amiga que ia passando por ela. 

- Liv, não te vi aí! — abre um grande sorriso e a abraça. 

- Nossa essa felicidade toda é por me ver ou será que é pelo açaí? 

- Pelos dois! — da uma olhada em Olivia dos pés a cabeça como que avaliando. - Nunca pensei que viria você de leggin. 

- Qual é? Vai me zoar agora só por causa das minhas canelinhas? 

- Não, imagina. Quem te ver assim pensa que você é adepta a exercícios. — disse dando risada irônica. 

- Ah sim, claro. Amo academia e pratico exercícios diariamente. Todo dia é um pratão de batata doce com frango... — caíram na risada. 

- Vamos logo tomar esse açaí e depois caminhamos. — disse Rachel empolgada. 

Entraram na barraca e cada uma tomou um açaí de 500 ml. Seguiram conversando, Olivia fazia piada com uns garotos que entraram lá que mais pareciam auterofilistas. Brincou que um deles gostou de Rachel, ela achava tudo divertido e ria sem parar. O dia estava sendo muito agradável, ela ficou feliz pela sugestão do passeio ao ar livre, não lembrava a última vez que tinha saído pra caminhar com alguém. Depois do açaí, caminharam na orla por quase 1 hora. E já era final de tarde quando entraram no carro para voltar pra casa . 

No caminho de volta, Olivia só pensava em como esse dia foi maravilhoso e que não podia terminar melhor. Olhou para o lado quando viu que o pôr-do-sol estava atrás delas. Capturando a luz solar, a garota que estava sentada no seu banco do carona ficava mais linda. Como um ser humano conseguia ser divino? O horizonte tentava, mas não é tão gentil aos olhos de Olivia quanto Rachel era. O dia entã,  tinha acabado de melhorar em mil por cento.

....

Rachel

Estava tão bem consigo mesma depois de ter passado uma tarde tão agradável ao lado de quem a fazia bem. Caminhar ao lado de Olivia tinha sido a melhor ideia que ela já teve. Não tem como negar que amava a companhia dela. Os momentos ao lado da morena pareciam tão únicos, como quando quando ela era criança e sua mãe a levava no parque e depois de uma tarde perfeita elas tomavam sorvete de chocolate. Ela amava aquelas tardes com a mãe. Esta na sua cama perdida em pensamentos, quando o seu coração quase pula pela boca ao se assustar com a notificação que chegou no celular. Pegou o aparelho e um frio percorreu sua coluna. Era a pessoa que ela tinha evitado praticamente durante toda a semana, seu namorado. A mensagem dizia apenas: "precisamos conversar. Me liga!" 

Um nervosismo a tomou. O que ele queria? Se deu conta de que realmente estavam afastados. Ela sabia o motivo. Ele não fazia ideia. Mas sim, precisavam conversar. Mas não hoje. Esse tinha sido um dia maravilhoso e ela não queria que nada estragasse. Respondeu a mensagem dizendo: "almoçamos juntos amanhã e conversaremos." 

Rachel teve medo do teor da conversa. Com certeza ele ia querer explicações sobre o afastamento repentino. E dizer que estava com ódio por ele ter contribuído para machucar o coração de Olivia não era uma boa ideia. O dia da explicação era amanhã. Porque hoje, hoje foi o dia bom!

Continua...