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História Herdeiros do Império - Reylo - Súplica


Escrita por: howardlev

Capítulo 10 - Súplica


Fanfic / Fanfiction Herdeiros do Império - Reylo - Súplica

"Acredito que vou sentir sua falta para sempre.
Assim como as estrelas sentem falta do sol de manhã."
(Summertime Sadness - Lana Del Rey)

•••

Alfheimr, 11 anos atrás. 

Rey e Ben corriam em direção ao centro da aldeia, onde Luke reuniria todos os seus padawans para um novo ensinamento. Quando chegaram, várias crianças e adolescentes já estavam sentados em um semi-circulo esperando que o mestre chegasse. Rey e Ben arranjaram um lugar entre os demais, se sentaram e trocaram algumas palavras antes de Luke chegar.

"Ufa, ainda bem que chegamos antes dele..." Ben exclamou soltando um grande suspiro. "Fiquei sabendo que ele falará um pouco sobre as relações mestre e aprendiz..."

"Não está quase na idade, Ben!?" Perguntou Rey.

"Eu não sei... tecnicamente vinte anos deveria significar isso, mas mestre Luke ainda não conversou comigo..." ele olhou para o chão. "Então eu continuo esperando."

"Tenho certeza que ele saberá a melhor hora, Ben." Tentou conforta-lo.

"Eu sei." Afirmou. "Se ao menos mestre Luke me permitisse aprender o caminho do Vornskr..."

"Do mestre Windu da Velha Ordem?" Rey fez cara de espanto e Ben assentiu. "Está brincando? Não é um pouco agressivo? Mestre Luke disse que alguns aprendizes de Windu quase caíram ao lado sombrio por causa da técnica."

Ben sorriu enquanto Rey ainda parecia espantada, fixou seu olhar no da garota e disse pouco mais alto que um sussurro, firmemente:

"Eu nunca vou cair no lado sombrio!"

(...) "A relação entre o mestre e seu padawan deve ser, primordialmente, uma relação de irmandade, profunda, como se duas almas se unissem." Rey sorriu para Ben perante a fala de Skywalker. Ben não era seu mestre ainda, mas a conexão entre eles já era quase que uma relação entre mestre e padawan. "O amor que devem construir deve ser o mais puro de todos, a conexão flui involuntariamente, por isso não é o mestre que escolhe seu aprendiz ou vice-versa, mas sim a alma de ambos com o auxílio da força."

(...) "Era como se ele estivesse falando da gente, irmãzinha!" Ben sorriu para Rey, agora longe da aula. "Sabe que te considero uma irmã mais nova, não sabe!?"

"Claro que sei!" Rey lhe deu um soco no ombro e correu. "Vamos, Ben Solo! Está com medo?" Dizia Rey encorajando Ben a pular do penhasco em 
direção ao oceano. "É só água, eu juro!" Ela ria.

"Não tenho medo!" Respondeu ríspido. "Você é que deveria estar com medo Rey, pois quando eu chegar aí você não terá mais chances!" Os dois riam e então mestre Luke apareceu.

"O que estão fazendo?" Perguntou a Ben. "Rey! O que está fazendo aí embaixo? Suba, agora!" Ordenou. Ben recolheu seu manto que estava espalhado pela rocha e ajudou Rey a subir.

"Desculpa mestre, estávamos só... nos divertindo!"

"Não quero que brinquem na água, Rey, já disse que é perigoso!" Disse sorrindo e apertando as bochechas da menina. "Agora vai, vai arranjar outra coisa para fazer."

Os dois começaram a se locomover quando Luke chamou Ben, ordenando que ficasse para terem uma conversa. Como Ben crescia a cada dia, Luke decidiu que seria a hora certa para que seu sobrinho começasse a investir em seu treinamento como mestre. É claro que Ben Solo ficou muito feliz com a notícia, já tinha vinte anos e não via a hora de poder investir em suas habilidades do jeito que ele sempre quis fazer, e se tornar um mestre o proporcionaria tal feito.

Quando a noite caiu, Ben decidiu seguir em direção à ponta da praia, onde sabia que encontraria Rey. 
Todas as noites os dois se encontravam no local para observarem as estrelas. Um gesto tão simples mas que os unia de certa forma.

Era incrível como Ben pudera ver o crescimento de Rey. Há anos atrás ela era apenas uma criança miudinha cheia de sardas nas bochechas que lhe cabia levemente nos braços, hoje ela era quase uma mulher formada, forte, ambiciosa como ele, e com um futuro muito promissor. Era jovem e bela, continuava pequena, mas seu rosto, a medida que os anos se passavam, parecia ganhar as formas mais belas que ela podia ter em seus genes.

Ela permanecia sentada na areia, provavelmente o esperava. Ben se aproximou e antes que pudesse dizer alguma palavra a fala de Rey lhe atingiu.

"Ben?" Perguntou observando pela visão periférica. "Sabia que estava aí!" Sorriu tornando-se para o garoto. Ele se aproximou se sentando ao seu lado.

"Claro que sabia..." e sabia mesmo, a conexão entre eles neste tempo já era muito forte. "Esta parece ser a noite mais bela de todas, Rey..." ele sorriu enquanto ela analisava suas linhas de expressão formarem-se tão suavemente naquele rosto cheio de pintas que ela tanto adorava. "Olha como brilham por você..."

Rey sorriu e fugiu o olhar. Seus olhos rolaram para o horizonte, para o mar cheio de ondas. O barulho das águas batendo nas rochas lhe dava uma sensação enorme de paz.

"Elas também brilham por você." Disse em tom baixo, já havia corado. Seu coração batia mais forte todas as noites em que se encontravam na praia, não conseguia entender o que significava, achava que talvez fosse algo relacionado à conexão entre os dois.

"Com toda certeza." Os dois riram até que o silêncio se formasse. "Precisamos conversar." Disse Ben o quebrando.

Rey desfez o sorriso e novamente evitou olhar nos olhos de Ben.

"Sobre o que?" Engoliu em seco. A verdade era que Rey já não se sentia bem desde o fim da tarde, como se um nó tivesse se formado em seu estômago. Pressentia algo ruim vindo.

"Mestre Luke e eu tivemos uma conversa."

"Uma conversa!?" O interrompeu.

"Sim..." olhou para o longe, respirou fundo.

"Por que está aflito Ben? O que está acontecendo?" Atropelou suas palavras. Rey agora fixava seu olhar sobre o rapaz, preocupada.

"Não vou enrolar, Rey, eu preciso dizer logo então..."

"Fale..."

"Rey, eu... Luke quer me enviar em treinamento para que eu me torne um..." engoliu em seco ao perceber que Rey já respirava com dificuldades. "Um mestre... Rey..."

Rey paralisou. Ela sabia o que significava mandar alguém em treinamento. Eles seriam afastados.

"Você... vai embora?"

"Não, Rey, Não!" Ele exclamava enquanto tentava secar as lágrimas que agora começaram a sair dos olhos da garota.

"Droga!" Exclamou enquanto tentava fingir que não estava chorando. "Droga, Ben! O que significa?" Ela sabia muito bem o que significava.

"Rey, você sabe que... essas missões geralmente levam um tempo e..."

"Quanto tempo? Três meses, seis?" Ele negava. "Oito meses, dois!?" Continuava a negar.

"Dois anos!" Exclamou como se um peso enorme estivesse saindo de seus pulmões.

"Dois anos?" Rey arfou incrédula, com as mãos por cima da boca. Ben permaneceu parado apenas a observando. "Não, você não pode!" Ela soltava toda sua indignação sobre Ben enquanto o tapeava no peito. Ben apenas permaneceu quieto, deixando que ela libertasse toda sua raiva. "Não pode me deixar aqui sozinha!" Rey começou a chorar e soluçar e então Ben lhe segurou os braços e a envolveu nos seus. Posicionou uma de suas mãos sobre a cabeça da garota enquanto a segurava forte.

"Você não vai ficar sozinha." Disse ele. "Rey, eu preciso disso, você sabe!" Exclamava. "Rey, Rey! Olhe para mim!" Começou a dizer enquanto segurava a face de Rey entre suas palmas. Seus olhos estavam fechados, ela não queria encara-lo. "Rey, Rey! Olhe para mim, olhe!" Repetiu. "Eu vou voltar Rey, eu vou!" Tentava desesperadamente consola-la, ele sabia exatamente o tamanho de sua dor, ele também sentia. "Em qualquer lugar da galáxia que eu estiver você poderá me sentir, eu juro que sim!"

Rey abriu os olhos e suas faces estavam muito próximas. Rey se sentia abandonada, sozinha. Como poderia Ben fazer isso com ela, sua única família agora? Nunca sentiu seu coração tão partido quanto agora.

"Não me abandone!" Sussurrou. "Não posso ficar sozinha! Você é a única família que eu tenho, Ben!"

"Rey, não vai ficar sozinha!" Colou sua testa na dela. "Olhe para as estrelas, Rey! Você sabe que elas não irão te deixar sozinha!" Exclamou. "Toda vez que a saudade apertar, olhe para as estrelas, pois quando você as olhar eu também estarei olhando, pois eu também estarei sentindo a dor!" Uma lágrima lhe caiu do olho. "E um dia, um belo dia, você verá uma nave vindo do horizonte, entre as estrelas, e será eu! Eu prometo que sim!" Rey o fitou ainda muito magoada mas assentiu com a cabeça.

"Não há nada que eu possa fazer, há?"

"Não, eu sinto muito!" E então Rey enterrou seu rosto no peito de Ben. Ele a aninhou por pelo menos cinco minutos.

"Quando você irá partir?" Perguntou, ainda entre lagrimas.

"Amanhã de manhã." O coração de Rey congelou e ela se enterrou novamente no corpo do rapaz. Os soluços maiores agora e o desespero de Ben também. Ele a abraçava cada vez mais forte, como se estivesse segurando a coisa mais importante de sua vida, e de fato era.

Depois de algum tempo, quando se afastarem, Ben enxugou as lágrimas da menina, e os dois voltaram a observar as estrelas.

"Eu estarei esperando, Ben!" Sussurrou. "E será o dia mais feliz da minha vida quando eu ver você chegar, daqui a infelizmente dois anos."

"Será o melhor dia da minha vida também, Renesmy."

"Quer atingir meu ponto fraco agora?" Sorriu. "Enquanto você existir eu serei Rey, apenas Rey... como raio de Sol..."

"O meu raio de sol!" Ben sorriu e os dois paralisaram. Rey pôde analisar todos os detalhes da face de Ben. Seus olhos escuros como carvões, sua pele alva, os cabelos negros e ainda curtos que lhes caiam sobre a testa criando o contraste mais bonito que ela pudera ter visto em sua vida. Analisou as pintas escuras, os lábios carnudos que combinavam com as orelhas um pouco maiores que o esperado. Ela sorriu.

Em contraposto, Ben também pôde observar a beleza que aquele rosto guardava. O nariz e a boca finos, ao contrário dos seus. O cabelo castanho médio que combinava com os olhos avelãs e que, pela primeira vez, ele pôde notar que não eram totalmente daquela cor, mas possuíam algumas manchas esverdeadas em torno das pupilas.

"Seus olhos..." ele sussurrou enquanto sua respiração ficava mais pesada.

"O que?" Indagou suavemente enquanto sua visão passeava pelos lábios e olhos de Ben.

"Eles não são... eles possuem manchas verdes em torno das pupilas." Sorriu mas era tarde demais, seu olhar direcionou-se aos lábios de Rey, e ela percebeu. Foi o suficiente para que seu coração pulsasse, que suas mãos tremessem e que um frio se formasse em sua barriga. O que era aquilo? O que estava sentindo? Rey sentiu o calor subir por seu peito a medida que seu corpo, involuntariamente, aproximava-se do de Ben. E ele, para seu infortúnio, fazia o mesmo.

"Rey..." ele sussurrou, e foi o suficiente para que seus lábios fossem tomados pelos da garota. Ela quebrou a distância entre eles e então Ben entrelaçou as mechas de Rey entre seus dedos. Nunca houveram feito aquilo na vida antes, não sabiam como se fazia mas seus lábios pareciam saber exatamente como atuarem. Ben, com sua outra mão, aproximou o corpo de Rey ao dele pela cintura, e ela podia jurar que morreria ali mesmo, e feliz. Rey estremeceu quando sentiu a língua de Ben explorar sua boca e enrolar-se na dela. Com a excitação do momento a garota acabou mordendo o lábio inferior de Ben, ele protestou baixo com um gemido de dor mas logo esqueceu quando o beijo começou a ficar melhor, com um melhor ritmo e combinação.

Eles encontraram o melhor modo juntos, o melhor encaixe entre as bocas, e a mão de Ben continuava a deslizar entre as mechas da garota, enquanto Rey também se permitia explorar os cabelos e a face do garoto. O corpo dos dois ardiam enquanto suas bocas se movimentavam, seus olhos fechados, apenas sentindo a brisa bater em seus rostos e a água chocar-se contra as pedras. Não havia mais ninguém lá, apenas Ben, Rey e as estrelas que guardavam aquele amor.

Ele podia jurar que não precisava de mais nada na vida, nem de seu treinamento como mestre. Podia jurar que seria feliz se tivesse a oportunidade de ter aqueles lábios eternamente entre os seus, mas não poderia fazer isso com ela, foi quando quebrou o beijo e os dois se olharam assustados.

"'Me desculpe, eu..." Rey tentava dizer alguma coisa mas as palavras mal saiam. Ben se levantou abruptamente.

"Não... sou eu quem..." mas não conseguiu finalizar, ele apenas seguiu correndo em direção à cabana e enterrou o corpo sobre a cama, mas não conseguiu dormir. Nunca desejara tanto que uma noite passasse quanto essa. Não conseguia pensar em mais nada, apenas em como seu coração bateu forte ao sentir o beijo. Ele sabia que era errado, que... droga, que ele deveria amá-la como se fosse sua irmã... mas, pela força! Era tão bom. E ele sabia, naquele momento que, mais do que nunca, precisariam se afastar.

•••

"É um insulto!" Disse Mera aos berros. "Kylo Ren não pode continuar sendo nosso mestre!" Tinha raiva nos olhos. "A não ser que a fornicação seja permitida agora!"

"Mera, pare!" Dizia Ava tentando amenizar a situação.

"Ora, olhe só, é claro que você está ao lado de Ren, você também quer tirar proveito dessa nova quebra de regra!" Ela mediu Kendrick que estava ao lado de Ava.

"Se estão de acordo e querem mesmo tirar Kylo da maestria, sabem qual o único jeito de depô-lo." Sugeriu Snoke.

"Ótimo!" Mera sorriu.

"Não!" Bufou Ava. "Que absurdo é esse, Mera. Você realmente está pensando nisso?"

"Mas é claro que sim, Ava, está tudo errado. Ele não pode continuar como nosso mestre!" Mera olhou para os cavaleiros esperando uma reação. "Não concordam? Hein!? Kendrick, Stev!?" Mera andou em passos determinados até Eslo."E você, Eslo? Não concorda?"

"Mera... não é certo."

"O que?" Exclamou. "Vocês só podem estar loucos! Ele nos fez jurar uma vida puritana, totalmente dedicada à ordem e vocês concordam com o pecado dele?" Gritou. "Francamente, Eslo! Você é o primeiro na linha de sucessão, como pode não concordar?"

"Mera!" Ele a segurou pelo braço. "Não estar de acordo com Ren eu entendo, mas matá-lo é algo muito forte! Não é o melhor a se fazer agora, pense com sua cabeça, Mera, não com o coração em conflito!"

"O que?" Exclamou se soltando de Eslo arrogantemente.

"Sabe do que estou falando." Eslo falou pouco mais alto que um sussurro. Mera lançou um olhar de ódio para Eslo.

"Então é assim!? Vocês estão realmente todos loucos!" Mera andava em passos lentos para trás. "Querem mesmo servir àquela sucateira?" Respirava fundo. "Boa sorte!" E então saiu do salão inconformada, apenas ela queria ir até o fim.

Do outro lado da base o corpo de Rey ainda repousava sonolento. Kylo a visitava todas as noites mas nunca a pegava acordada. De fato ele preferia assim, talvez não tivesse que dar explicações e ela esqueceria daquilo de alguma forma.

Admirava a beleza da garota sonolenta, a palidez de seu corpo que não precisava lutar contra nada enquanto dormia, a paz em que se encontrava.

Kylo dormia sentado sobre uma poltrona ao lado da garota, não conseguia sair de perto dela, e quando sozinho em seu quarto, o sono demorava a vir, devido à isso preferiu não lutar contra sua ansiedade de vê-la acordar. Lhe preocupava a situação, vê-la desacordada de tal forma lhe fazia pensar que talvez poderia perdê-la, pensava na possibilidade de Snoke ter feito algo que esteja matando-a lentamente. Em contraposto, os médicos diziam que ela estava bem, mas não podiam dizer precisamente quando ela acordaria. Então ele preferiu esperar.

Foi em uma noite calma que ele a ouviu gritar. Sua face ganhou cor enquanto ela botava pra fora toda a angústia que seu corpo guardava. Havia acabado de acordar de um pesadelo. Rey corria novamente com a criança no colo e gritava por Ben. Quando chegava ao fim da trilha, o homem alto e magro, Snoke, arrancava novamente a criança de seus braços. Ela sonhava tanto com aquilo, com o mesmo evento.
Foi então que acordou assustada e gritando, e chamando por ele, mas não Kylo Ren, e sim por Ben Solo.

"Ben!" Esbaforiu Rey em um súbito despertar. Kylo acordou abruptamente e correu em direção à maca. Ele pôde ouvir o pulsar mais rápido de Rey sendo transmitido pelo televisor. Sua pulsação estava acima de cem, e ele se desesperou. "Ben! Ben!" Ela agarrou ao manto do garoto, que droga de jeito de acordar. Kylo já se sentia péssimo sem saber quando ela acordaria mas qualquer outra coisa seria melhor do que vê-la despertar de forma tão desesperadora.

"Rey!" Ele gritou. "Estou aqui!" Lhe doeu responder ao clamor por Ben, e não Kylo. Sentiu-se um traidor ao responder pelo seu antigo nome.

"Cadê ela, cadê Kira!" Ela gritava com lágrimas nos olhos o agarrando pela túnica, fitando Ren com um olhar que ele não conhecia, não pelo menos até agora.

"O que!?" Perguntava.

"Kira! Cadê Kira!?" Ela enterrou a face no peito de Ren.

"O que está dizendo?" Ele indagava desesperado. "Quem é... Kira?"

"O que?" Ela disse afastando a face do peito dele, retomando a consciência. Analisou o ambiente em que estava e se deu conta de que não era mais um sonho. "O que foi que eu disse!?" E então ela já não se lembrava de nada. Repousou a mão sobre a cabeça que doía. "Ren, eu... eu não sei o que está acontecendo."

"Rey..." ele começou. "Você disse algo... você... disse algo sobre uma tal de Kira."

"Kira?" Perguntou. "Do que você está falando?" Ela estava mais desnorteada que antes, e então ignorou o mestre. Deitou-se novamente e fechou os olhos. 
Os médicos entraram na sala e olharam para Kylo, que permanecia paralisado ao lado da cama. Eles o aconselharam a sair do local para analisarem o estado de saúde de Rey, e ele os obedeceu, seguindo determinadamente em direção ao salão principal.

Ren avistou Mera saindo do salão indignada. Ela parou ao percebe-lo e o reverenciou sem a mínima vontade.

"Onde está indo? Entre agora!" Ele disse, com raiva na voz e a segurando pelo braço, a arrastou para dentro do salão aos berros de protesto de Mera. "O que está acontecendo!? Uma reunião sem mim? Ótimo." Todos reverenciaram Ren. "Parem com a hipocrisia. É bom que estejam todos aqui já."

"Kylo Ren." Murmurou o líder supremo. "Ótimo que tenha vindo... precisávamos conversar mesmo."

"Não vim para ouvi-lo, líder supremo, vim para fazê-los me ouvir." Ficou sério. Líder Supremo! Rey clamou pelo meu nome hoje quando fui visitá-la na ala médica."

"E o que tem demais nisso!?" Mera rosnou o interrompendo.

"O que tem demais, Mera... é que Rey clamou pelo meu nome verdadeiro. Ben!" Exclamou fitando-a. "E eu não compreendo. Ela não me conheceu como Ben Solo, apenas como Kylo Ren, o que significa que ela não tinha tal intimidade para me chamar por aquele nome." Os cavaleiros se entreolharam. "Sabe algo sobre isso Mera? Não? E mais, líder supremo. Ela não disse apenas o meu antigo nome." Eslo aproximou-se de Mera, cruzando os braços por trás de seu corpo. "Ela disse algo sobre uma tal de... Kira..." Mera congelou ao ouvir o nome. Seu coração palpitou mais rápido e Eslo lhe sussurrou para manter-se calma. Kylo percebeu. "O que foi Mera?" Ren se aproximou. "Tem certeza que não sabe nada a respeito?"

"Não!" Respondeu rudemente. "Talvez ela esteja apenas delirando!"

"Tem certeza?" Kylo posicionava-se a centímetros da face de Mera, olhando-a profundamente nos olhos, fazendo com que ela gemesse de dor. Kylo fazia Mera sentir um pouco da tortura que Snoke tinha feito Rey sentir, a fazendo balbuciar em direção à Eslo. "Rey tem pesadelos horríveis comigo quase todas as noites, ela grita, sofre! A maioria dos sonhos são parecidos, e, acredite, ela descreve sonhos que eu já tive pelo menos uma vez na vida enquanto eu estive na Primeira Ordem. Sabe que as coisas não acontecem por coincidência quando estamos lidando com a força, Mera, então não me fale em delírios!"

"Não estou bem!" Ela sussurrou entre as dores que sentia e o sufocamento de Kylo.

"Vão embora! Todos!" Kylo exclamou com raiva e cessou as ações na mente de Mera, fazendo com que ela respirasses rapidamente. Todos saíram o deixando sozinho com o líder supremo. Os dois permaneceram em silêncio por um tempo, e agora não havia toda aquela projeção de Snoke. Estavam cara a cara e ele era poucos centímetros mais alto que Ren.

"Seus cavaleiros estão realmente bem insatisfeitos com suas decisões, Kylo Ren." Dizia o líder supremo rondando Kylo como um urubu faria com a presa, analisando-o. "Eles me notificaram mais cedo. Você deveria estar preocupado."

Kylo soltou um riso irônico.

"Sabe que nunca irá encontrar um mestre mais forte e devoto ao lado sombrio que eu, Líder Supremo, para seguir seus ideias." Fitou-o. "Então presumo que o senhor não permitira que me substituam por qualquer um. E quem botariam em meu lugar? Eslo?" Ele riu. "Francamente ele se considera mesmo um bom Cavaleiro?"

"Cuidado com as palavras jogadas ao vento, Kylo Ren." Snoke também ria em tom irônico.

"Sinceramente? Eu não me importo mais com isso... a única coisa que me importa agora é ela, Rey."

"Você não tem que se preocupar comigo, Kylo Ren. Minha intenção não é depô-lo. Rey tem um dom impecável, precioso demais para ser dispersado, e só conseguiremos ela ao nosso lado se tivermos você."

"Então por que a torturou?" Kylo gritou com os punhos cerrados.

"Precisava saber se poderia contar com você para protegê-la em qualquer situação, mesmo que pra isso precisasse desafiar seu líder." Se aproximou. "Preocupe-se apenas com seus cavaleiros, pois eles, sim, podem derruba-lo. E eu não o treinei para isso."

"Eu não serei destruído."

"Ótimo." Sorriu. "Quero a garota como nossa oitava. Quero a garota na ordem dos Cavaleiros de Ren."

•••

D'Qar, dias presentes.

A general Leia se sentia tão cansada com todo o peso dos planos sobre suas costas. Ela estava se sentindo tão sobrecarregada, todos precisavam dela a toda hora e ela sabia que não poderia deixa-los na mão. A ideia de que a base da Primeira Ordem fora reerguida ainda mais forte a atormentava todos os dias.

Além disso, tinha que lutar com a preocupação de ter enviado Rey direto ao caminho de sua morte.
Aquele dia em especial conseguiu lhe arrancar um sorriso. Finn e Poe chegaram sorridentes até ela trazendo novidades sobre a construção da base em um novo sistema.

"Eles estão planejando algo muito maior, estão realmente focados nisso!" Poe dizia gesticulando por cima do desenho que revelava pouco sobre a arquitetura do local. "Temos que ter muita cautela, principalmente agora. Precisamos de um plano mais eficaz para tirar Rey com segurança de lá quando chegar a hora."

"Rey e Ben, querido." Leia o interrompeu.

"Enfim..." Poe respondeu sem muita animação na fala, não se importava com Ben, na verdade o odiava.

"Estamos sem sinais nenhum dela, nem Luke está conseguindo contata-la. Estou preocupada." Cruzou os braços e perdeu seu olhar no horizonte.

"Acha que ela pode estar correndo perigo?" Finn indagou.

"Não!" Ela sorriu pelo canto da boca. "Acredito que ela está sabendo lidar com tudo aquilo. Eu espero..." 
Em seguida Poe e Finn seguiram por seus caminhos dispostos a aumentar ainda mais seu acervo de sabedoria sobre a nova estrutura da base.

A câmara estava vazia e Leia tomou a liberdade de se sentar, coisa que ela mal fazia com toda a agitação na Resistência. A senhora observou o quarto e depois de seus olhos rolarem pelo espaço fechado eles se fixaram em uma fotografia repousada sobre uma das escrivaninhas. Leia suspirou quando seu coração apertou ao ver a imagem que se formava naquele retrato, era Han e seu filho Ben Solo.

Leia passeou os dedos pelas duas faces que formavam aquela fotografia tão bonita de um tempo onde suas preocupações não giravam em torno da decadência de seu único filho, aquele que apesar de tudo ela amava tanto.

Ela deslizou o olhar pelas feições de Ben que lembravam tanto as de Han.

"Han..." ela sussurrou alisando a face de seu marido no retrato. "Como pôde me deixar sozinha em um momento como esses, seu idiota?" Bufou antes que seus olhos fossem inundados por lágrimas e sua face caísse por cima de suas mãos, lhe trazendo um desesperado choro. "Como pôde me deixar com toda essa responsabilidade por cima das costas? Rey precisa de nós mais do que nunca agora, assim como Ben." foi quando percebeu a presença de uma fotografia bem pequena, metade do tamanho daquela que estava em sua outra mão.
"O que é isso?" Se perguntou levando seus dedos até a pequena foto, então viu o que era a imagem. O fundo era gramado, havia muito verde na paisagem e no centro havia um bebê. A criança possuía cabelos castanhos e olhos escuros, em contraposto sardas preenchiam suas bochechas, ela sorria. Leia sorriu por reflexo como se aquela bebê estivesse fazendo o gesto para ela, e então se lembrou do tempo em que aquela foto fora tirada, o desespero e a calamidade que veio logo depois daquele momento tão feliz.

"Precisamos resgatar nossa família, Han..." e então apertou o as duas fotos contra seu peito em uma tentativa falha de aliviar aquela dor.

•••

Alguns dias se passaram após o evento em que Rey fora torturada. Ela estava num quarto sendo reavaliada pela equipe médica. Todos os dias Ren ia visita-la, todas as vezes ela estava dormindo, ou pelo menos fingia estar. Rey não queria ter que encarar a realidade, sabia que não agiria normalmente com Kylo.

"Pode me dizer seu nome?" A luz do artefato que a enfermeira utilizava para examinar as pupilas de Rey invadiam seus olhos como o sol em Jakku.

"Rey." Disse, lúcida. Se recuperava bem.

"Dói?" Ela perguntou enquanto massageava o pescoço cheio de hematomas de Rey. A garota soltou uma expressão leve de dor.

"Ainda, um pouco."

A moça que a examinava colocou seus equipamentos de volta em seus devidos lugares e depois voltou para encarar Rey.

"Sua saúde é estável. Arrisco em dizer que poderíamos te dar alta hoje, eu só vou pedir que um médico avalie se é possível." Rey assentiu com a cabeça e no fim da tarde o médico veio e lhe deu alta.

"Por favor!" Rey segurou o braço do médico. "Será que pode deixar Kylo fora disso?"

"Como assim?" Perguntou.

"Eu não quero que ele saiba que me deu alta já."

"Eu não posso fazer isso." Respondeu ríspido.

"Por favor!" Mas era tarde demais, assim que seu clamor saiu, o jovem mestre dos cavaleiros de Ren entrou na sala, e dessa vez ela não pôde fingir estar dormindo.

Droga! Pensou Rey. Ele se aproximou quando o médico disse que os deixaria sozinho.

"Como se sente?" Indagou sério, sem muita expressão.

"Acho que... Bem!" Kylo tremia todas as vezes que ela dizia tal palavra, fingia não ter pensado no que ela queria que ele pensasse.

"Eles me chamaram para ajudar a te relocar ao seu quarto. Consegue andar?" Perguntou.

"Acho que consigo." Ren posicionou o braço de Rey entorno de seu pescoço e segurou em sua cintura. Ela cambaleou um pouco devido à fraqueza dos últimos dias mas conseguiu se locomover.

"Posso levá-la no colo, se quiser."

"Não!" Exclamou, rápido, o cortando.

Ren a deixou em seu quarto, e como já era noite, a deixou descansar sem falar nada sobre o que ocorreu.

A garota revirou-se diversas vezes na cama até que conseguisse dormir e, no outro dia, quando bem cedo acordada, decidiu que seria a hora certa para trocar as palavras entaladas em sua garganta com seu mestre.

Ela saiu de seu quarto com suas roupas cinzas típicas, os três coques que tanto usava estavam de volta depois de um longo mês sem utilizá-lo dentro da Primeira Ordem.

Seguiu em passos lentos em direção ao quarto de Ren e respirou fundo ao bater na porta, ele a atendeu com surpresa nos olhos.

"Rey?" Ele disse espantado olhando para os dois lados do corredor enquanto analisava algo.

"Ninguém me seguiu!" Rey o interrompeu. "Posso entrar?"

"Claro que sim!" Kylo respirou aliviado ao concluir que ela realmente não houvera sido seguida.

Rey o esperou entrar e então Kylo trancou a porta. Ela analisou o ambiente, as estrelas lá fora, no fundo se sentiu mal por ter ido tão cedo de encontro com seu mestre.

"Eu vim cedo justamente porque não quero que alguém me veja com você." Ela passou uma mecha por trás de sua própria orelha. "Serei breve." Ela cruzou as mãos a frente de seu ventre e então criou coragem para fixar seus olhos no do rapaz.

"Diga." Ele engoliu em seco, borboletas voavam em seu estômago, uma fraqueza atípica lhe atingia o corpo.

"Vim para agradecê-lo pelo o que fez por mim. Francamente, desafiar o líder supremo apenas para me manter viva é um belo ato de bravura."

De amor, pensou Kylo com o olhar longe.

"Não, bravura!" Rey interrompeu seu pensamento.

"Pare de ler a minha mente!" Kylo rosnou seguindo agressivamente em direção ao corpo de Rey, ela deu dois leves passos para trás e então ele paralisou.

"Você me deixou ler!" Ela fazia questão de sempre dizer a ele o quanto ela tinha tal permissão mesmo que inconscientemente. "Sei que disse aquilo apenas para poupar meu sofrimento e..." gaguejou, "não precisa se preocupar, não me abala." A frieza nas palavras de Rey fizeram Ren enjoar. "Bem... eu... vim lhe informar que estarei voltando para Jakku se me permitir!"

"O que?" Ele grunhiu. "Jakku? Não... não pode!" Alterou sua voz a segurando pelos braços numa tentativa de convencê-la a não deixá-lo.
"Está correndo risco com minha presença aqui, Kylo Ren." Ela engoliu a dor em suas palavras. "Não quero lhe causar mais confusões!"

"Não, por favor!" Kylo baixou o olhar tentando conter o desespero. "Por favor... o líder supremo concordou em tornar você uma..."

"Mestre Ren, podemos..." Rey surpreendeu-se ao ouvir a voz de Ava vindo da sala de estar na habitação de Ren, a loura também se surpreendeu ao ver a aprendiz. "Oh! Rey!?" Exclamou.

"Não sabia que estava acompanhado, acho que estou atrapalhando." Disse Rey o fitando. "Parece que não será tão ruim assim quando eu voltar para Jakku, com licença." Rey se desprendeu dos braços de Ren e seguiu correndo para seu quarto e enterrando sua face no travesseiro, se odiou pelo choro que não conseguiu conter enquanto Ren se odiava por tê-la feito pensar uma besteira sobre a presença de Ava, ele tentou segui-la mas sua cavaleira o impediu, alegando que o melhor a se fazer agora era a própria conversar com Rey.

"Fui eu quem causei o mal entendido, só eu poderei quebrá-lo" Tentou acalma-lo. "O meu conselho, mais do que tudo agora, mestre Ren, é que pare de tentar lutar contra seus sentimentos."



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