História Herdeiros do Trono - A vida de todos mudará

        Justin's P.O.V.
   Hoje eu finalmente faria as pazes com Hazel,pelo menos é o que espero.Será que ela iria perto do buraco hoje?Será que ela ainda tinha esperança que eu voltaria?Tomara que sim,senão nossa comunicação se tornaria impossível,e eu queria muito,muito mesmo falar com ela.
   Fazia dois dias que eu havia descoberto tudo,era tão difícil olhar na cara dos meu pais,principalmente na do rei.Eu me esforçava muito para que eles não percebessem que eu já sabia de tudo,mas era muito complicado.Eu precisava de muito controle para não discutir com eles,para fingir que tudo continuava igual quando na verdade tudo tinha mudado.
   Só que antes eu tinha que tomar café da manhã com minha família,participar daquela farsa que ela havia se tornado.Na verdade ela sempre foi uma farsa,eu que nunca tinha percebido.
   Como eu nunca havia notado que aquele sorriso que minha mãe lançava ao meu pai era falso?Que aquela cortesia do rei era só para disfarçar seu mau caráter?Eu havia sido muito cego todo esse tempo,tudo era tão nítido.
   — Não vai comer,filho? — minha mãe perguntou,foi aí que notei que estava com a faca em cima do bolo,mas ele ainda estava inteiro,não havia comido nem sequer um pedacinho.Também vendo aquela farsa meu estômago embrulhava,não tinha vontade de comer nada.
   — Não — disse seco,e isso parece a assustar,também sempre fui carinhoso com ela,sempre fui um grande idiota.
   — Não fale assim com sua mãe — meu pai me repreendeu.Dava até vontade de rir,ele agia muito pior com ela.Tive que contar até três mentalmente para me acalmar.Meu Deus,a falsidade parecia a ser essência do meu pai.
   — Desculpa — pedi ironicamente.Estava insustentável ficar na presença deles. — Tchau.
   — Aonde você vai? — meu pai pergunta em um tom levemente elevado.Ele parecia não estar gostando nada do meu comportamento,era uma pena que eu não me importava com isso.Realizar suas vontades nem de longe era meu objetivo.
   — Encontrar com Zayn e Louise — menti.
   — Não sei por que você insiste nessa amizade,eles não são os amigos ideais para você.
   — Como se você fosse o pai ideal para mim — murmuro irritado,e saio porta a fora.Claro que ele não havia escutado aquilo,mas era bom para mim fingir ter desabafado.Estranhamente aquilo havia me feito bem.
   Fui até o jardim e coloquei meus olhos no buraco,cheio de expectativa,mas não vi nenhum sinal dela.Olhei as horas no meu celular e vi que estava bem adiantado,ufa!Já estava ficando desesperado ao perceber que ela não havia vindo ao nosso encontro.Sem ter nada para fazer,resolvo mexer no meu celular.Fiquei diversos minutos jogando pou,estava tão concentrado que nem a vi chegar.
   — Olá Justin — ela diz aparentemente feliz,me assustando.Sorrio com isso,não pelo susto,mas por apesar de tudo ela ainda ficar feliz em me ver,mesmo tentando não demonstrar — percebi ela segurando o sorriso.
   — Olá Hazel — digo notoriamente feliz.
   — Então parece que seu "adeus" não era verdadeiro — ela brinca,mas pude sentir uma ponta de mágoa em sua voz.Algo de se esperar.
   — Desculpa por tudo que eu lhe disse,Hazel,eu fui um completo idiota cego — imploro.
   — Então agora você acha que eu estou falando a verdade?O que te fez mudar de ideia?O que te fez parar de pensar que sou falsa? — ela diz irôncia,cheia de mágoa e raiva.O que era compreensível,ela não merecia nada do que eu tinha dito a ela.
   — Eu ouvi meu pai confessando — uma lágrima solitária escapa dos meus olhos,sem dar tempo para que eu a impeça.Era muito doloroso admitir em voz alta que meu pai era um assassino,isso estava me corroendo por dentro,saber que tenho sangue de um assassino e de uma sei lá o que correndo em minhas veias.
   — Claro — ela diz tentanto ser forte,tentando ignorar minha dor,mas claro que não consegue,ela era uma pessoa boa demais para isso. — Nossa Justin,como foi isso? — ela diz nitidamente compadecida pelo meu sofrimento.
   — É que apesar de eu não ter acreditado em você — digo essa parte envergonhado — eu fiquei com uma pulguinha atrás da orelha e fui no escritório do meu pai investigar — ela sorri com isso — ,e enquanto eu estava lá meus pais chegaram,aí eu me escondi e acabei descobrindo a verdade sobre eles.
   — Você disse meus pais? — ela deu ênfase no plural das duas últimas palavras.
   — É,de brinde eu ainda acabei descobrindo que minha mãe tem um segredo — esclareço com um sorriso triste.
   — Que segredo? — pergunta curiosa.
   — É o que eu também gostaria de saber.
   — Tipo então sua mãe sabia que seu pai era um assassino,mas ele também sabia de um segredo dela,e por isso ela não disse a ninguém o que sabia? — ela pergunta com um certo espanto por minha família ser uma rede de segredos e mentiras.
   — Exatamente — afirmo envergonhado com a postura de meus pais.Por que eles não podiam ser pessoas honradas e corretas,assim como devem ser os pais de Hazel? Eu sempre me senti sortudo pela família que tenho,até descobrir realmente como ela era.Só espero que pelo menos o segredo da minha mãe não seja tão grave assim,eu não quero e nem posso ficar orfão de pai e mãe ao mesmo tempo.
    — É uma surpresa que disso tenha resultado um filho como você — ela me elogia,e eu imediatamente fico feliz com isso.Era bom saber que ela havia mudado sua opinião sobre mim,que não me achava um péssimo príncipe mais,pelo menos é o que ela deu a entender com esse elogio.
    — Agora podemos derrubar esta muralha — dou um sorriso fraco,porque apesar de estar feliz com isso,é um preço muito alto a se pagar.
    — Eu estava pensando uma coisa,será mesmo que o testemunho de Maya será suficiente para incriminar seu pai?Porque será a palavra dela contra a de um rei — ela diz com um certo receio.Talvez ela estivesse certa,mas eu tinha uma novidade que acabaria com essa possibilidade,com ela era impossível meu pai dizer que é inocente.
   — Talvez você tenha razão — concordo com ela,e a vejo ficar um pouco triste por seu medo ter fundamento.Acho que ela queria que eu tivesse negado haver essa possibilidade. — Mas temos algo muito melhor que isso — digo misterioso,com um sorriso de canto.
   — Oquê? — ela pergunta empolgada e visivelmente curiosa.
    — Uma gravação de meu pai confessando — solto a bomba,e vejo um lindo sorriso surgir em seu rosto.Claro que aquilo era uma notícia maravilhosa para ela...hm,quer dizer,para nós.
   — Isso é a melhor prova que poderíamos ter.Com isso com certeza o seu pai vai ser preso e... — ela fica constrangida de dizer o que realmente vai acontecer com ele — você sabe.Cadê a gravação? — pergunta,ansiosa para ouví-la.
   Pego o meu celular,vou em gravações e coloco a primeira para tocar.Ela ouve tudo atentamente e ao terminar sua face está com uma expressão chocada.
    — Ele nem parece se arrepender,olha o modo como ele a trata...meu Deus! — ela diz horrorizada com o comportamento de meu pai. — Você vai mostrar isso para os conselheiros reáis? — ela pergunta esperançosa.
   — Vou — afirmo.Eu não poderia fazer algo diferente,seria como trair o meu povo,eu não poderia deixar um assassino a solta,nem que fosse meu pai.Só queria que não tivesse aquela parte de segredo na gravação,de certo eles começariam a investigar a minha mãe,e seria como entregar meus dois pais de uma só vez.Às vezes eu pensava que estava sendo uma pessoa horrível,duvidava que entregar meu pai,e talvez até minha mãe,para a morte fosse o certo.Mas na maioria do tempo eu acreditava que essa era a coisa certa a se fazer,acho que a justiça tem que estar acima de tudo,até do meu amor por meus pais,principalmente sendo um príncipe.
   — Também te devo um pedido de desculpas,eu estava muito errada sobre você.Na verdade você é um ótimo príncipe e uma pessoa maravilhosa — Hazel diz sorrindo.Eu,claro,retribuo o sorriso.Eu fiquei muito feliz com o que ela disse,para mim ter sua admiração era muito importante.Apesar de que ela não precisava me pedir desculpas,ela só havia dito tudo aquilo porque eu a ofendi primeiro,e também porque eu realmente estava me mostrando um péssimo príncipe.Era incrível fazer as pazes com ela,era meio louco, mas nesse pouco tempo ela já havia se tornado uma das pessoas mais importantes da minha vida.
   — Que bom que você mudou seu conceito sobre mim — digo sorrindo.
   — É,às vezes temos que admitir que estávamos errados,embora eu não goste muito disso — ela brinca.Sorrio com isso,era bom tudo ter voltado ao normal,quer dizer,quase tudo.Pois agora já sabíamos quem era o assassino,embora isso não se revelasse agradável como eu pensei que seria.Porém, devido as circustâncias,eu teria que ignorar isso e fazer o que deveria ser feito.
   — Você acha que isso funciona como?Tipo se eu for hoje entregar meu pai,hoje mesmo ele vai preso? — pergunto com um nó na garganta,não me sentia preparado para perder meu pai,aliás,acho que ninguém está.Sempre que eu pensava em sua cabeça decapitada me vinham todos os momentos bons que já vivemos,foram tantos,era como se a imagem que eu tinha dele na minha cabeça fosse de uma pessoa completamente diferente,ele não era um assassino,e sim um pai incrível,que me ensinou várias coisas.Espero que pelo menos o amor que ele sempre demonstrou sentir por mim seja verdadeiro.Se bem que é o que eu pensava que ele sentia pela mãe,porém aquele dia ele mostrou um grande desprezo por ela.As ações de meu pai me deixam tão confuso,algumas deixam meu coração dilacerado,já outras me fazem crer que ainda há um resquício de bondade em seu coração.Doí muito saber que nunca mais vou poder revê-lo,embora seja eu mesmo que irei causar esta dor.A culpa às vezes me consome de uma maneira incontrolável,sabe,tenho tanto medo do olhar de decepção que ele provavelmente me lançará ao saber de tudo,eu não queria que ele me odiasse,apesar de tudo eu queria que ele morresse me amando.Queria que ele pensasse que aquilo havia sido uma consequência das suas ações,e não que eu fiz porque quis.Embora nem eu seja tão iludido o bastante para achar que isso vá realmente acontecer.
   — Não — Hazel afirma com uma convicção espantosa. — Você não se lembra daquele relatório que lemos? — Eu realmente me lembrava do relatório,mas não vinha em minha mente nada relacionado a isso,minha memória não é das melhores.Quando ela percebeu que eu não me lembrava,continuou sua fala. — Nele dizia que o julgamento só ocorrerá um mês após alguém denunciar o culpado,pois este é o tempo necessário para destruir a muralha.Enquanto isso,ambos suspeitos têm que ficar presos,embora não sejam celas convencionais.
   Uau!A memória dela é ótima,parece que ela estava lendo algo do próprio relatório,realmente se lembrava de cada mínimo detalhe.
   — Isso significa que meu pai e o seu vão ter que ficar presos durante um mês todo?Isso não é justo com seu pai — afirmo,aquela era uma grande injustiça,ele não merecia ficar preso se não havia cometido nenhum crime,meu pai é o grande culpado,apenas ele.O que estranhei é que Hazel não parecia tão abalada ao dizer isso quanto eu estaria se fosse o contrário.Talvez ela esteja pensando que um mês não é nada,levando em conta que vou ficar o resto da vida sem o meu.
   — Sim — ela diz sem expressão. — Claro que não quero que meu pai fique preso um mês todo,mas,pensando racionalmente,isso será ótimo.Assim seu pai não saberá que eles já sabem que ele é o culpado,ele pode achar que uma pista falsa levou a crer que era meu pai.Assim ele não tentará fugir e não terá como fazer nada com Louise e Zayn,pelo menos não pessoalmente,também conto com você para protegê-los.Eu prometi isso a Maya,e não posso deixar de cumprir.Você poderia levar eles para viajar esse mês,ou algo assim,e o pai deles também,embora esse deva ser mais difícil.
   — Mas com o meu pai preso,que perigo eles correríam? — pergunto um pouco confuso com sua lógica.
   Ela parece achar graça da minha confusão,como se fosse uma pergunta boba demais,com uma resposta óbvia.
   — Ele está preso,mas recebe visitas né bobo — ela debocha,e eu começo a entender sua lógica,que, devo admitir,era bem simples mesmo.Eu realmente não estava usando toda a minha capacidade cerebral ao fazer aquela pergunta. — Ele pode mandar alguém machucá-los,sequestrá-los ou algo similar,para que assim Maya não dê seu depoimento.E assim ele ficaria livre,pelo menos é o que ele pensaria.
   Ela tinha toda razão,meu pai nem desconfiava da gravação,então era só neutralizar Maya que seria impossível incriminá-lo.Por isso eu tinha que proteger sua família,embora ainda não saiba como.Tenho que levá-los para um lugar seguro,um lugar que meu pai nem sequer imagina que eles possam estar.Mas que lugar?E mais uma coisa,será que eles aceitariam ficar escondidos?Talvez eles nem acreditassem em mim,e nossa!Havia me esquecido completamente que Pascoal está de casamento marcado,será que ele desistirá dele ao saber que Maya não o traiu,apenas foi vítima de uma chantagem? Acabei de perceber que estava sendo muito egocêntrico ao pensar que só minha vida mudaria com a revelação,tem muita gente envolvida nisso,a vida de todos mudará ,embora em níveis diferentes.
   — O que foi? — Hazel pergunta preocupada ao ver minha expressão mudar.
   — Acabei de lembrar do casamento — a explico,embora houvesse esquecido que com isso ela não compreenderia nada.
   — Você vai se casar? — ela pergunta espantada,quase gritando.Inevitavelmente começo a rir descontroladamente.Eu,casar?Parecia até piada,não pensava em casar tão cedo,embora se meu pai não tivesse feito o que fez,e eu continuasse príncipe,eu teria que me casar mais rápido.Era importante para o reino ter uma princesa,e,principalmente,herdeiros.Pelo menos tinha algo bom nisso tudo,embora se tornasse insignificante diante de todo resto.
   — Claro que não! — nego,ainda rindo,porém agora o riso já estivesse cessando.Percebo sua expressão ficar aliviada,o que me causa um certo estranhamento,mas é uma sensação boa,não ruim.Porém o alívio passa quando continuo a minha fala. — É Pascoal quem vai casar,os filhos de Maya terão uma madrasta.
   — Não acredito nisso! — ela profere desolada.Ela definitivamente não esperava por aquela notícia,embora surpresa fosse ele não ter arranjado outra mulher durante todo esse tempo. — Maya tem tanta esperança em recuperar a família... — de repente seu olhar adquire um brilho,como se ela estivesse tendo uma grande ideia. — Justin,e se você adiasse este casamento até as muralhas serem derrubadas?Assim Maya poderia ter uma chance de recuperar sua família. — Na teoria aquilo era ótimo,mas que raios eu poderia fazer para adiar este casamento?Eu não podia sequestrar a noiva,ou podia?Claro que não, né Justin.Meu subconsciente me repreendeu.Como minha mente não estava ajudando muito,resolvi perguntar a Hazel o que fazer.
   — E como eu faço isso?Eu posso contar para eles a verdade sobre Maya? — pergunto,percebendo que aquela talvez seja a melhor escolha.
   — Acho melhor não — Hazel diz com um certo receio. — Eles podem não acreditar,e ainda acabarem espalhando isso,e com isso porem suas vidas em risco.Você terá que levá-los para um lugar seguro e adiar o casamento sem lhes fazer esta revelação.
   — Nossa,super fácil! — replico irônico.Era impossível,no mínimo improvável,eu fazer aquilo.Eu realmente não tinha ideia de como realizar tal proeza,Hazel havia caprichado na dificuldades das missões que havia me dado.Falhar era quase certo.
   — Eu não disse que é — ela revirou os olhos em tédio. — Assim como não é fácil acertar uma flecha no coração de um animal feroz que está prestes a te atacar,mas se eu faço isso,você também pode fazer o que eu falei. — Ela realmente havia feito isso?Eu estava chocado com sua coragem e habilidade.Minha expressão chocada a permitiu soltar um riso. — Justin,eu acredito em você,sei que vai conseguir resolver tudo.Você será um ótimo rei neste mês,use-se disso para tornar suas vontades realidade — ela pisca para mim.O que significava que tinha algo embutido naquilo.Acho que era para usar meu poder para resolver tudo.Depois eu pensaria melhor em como isso poderia me ajudar.Agora eu tinha algo mais importante para fazer.
   — Então vou lá agora nos conselheiros reáis — a informo,e vejo um certo orgulho ser transmitido por seus olhos.Era bom saber que pelo menos alguém estava feliz com aquilo.
    — Eu não me canso de dizer o quanto você está sendo incrível — ela elogia,e em resposta sorrio.
   — Alguém me fez abrir os olhos — pisco para ela,e vou embora,rumo a fazer a coisa mais difícil da minha vida,entregar meu pai para a morte,ou, se preferir,para os os conselheiros reáis.