História Herdeiros do Trono - Celular

      Hazel's P.O.V.
   Já havia se passado uma semana desde a última vez em que eu vi Justin. Portanto, aquele seria o dia em que eu o reencontraria. Como os nossos últimos encontros não tinham sido exatamente produtivos — em termos de matar a minha curiosidade —, resolvi fazer uma lista de perguntas as quais eu queria lhe fazer a fim de não esquecer de absolutamente nada.
• O que vocêmais gosta de fazer?
• O que mais se come em Verde Claro? E o que você mais gosta de comer?
• Como são as roupas que vocês vestem?
• As pessoas daí são boas?
   Pretendia, com base nessas perguntas, esclarecer todas as minhas dúvidas sobre o outro lado.
   Olhei para o relógio e já eram 14h00min. Chegou a hora de ir a seu encontro. Desci as escadas vagarosamente e fui ao fundo do jardim. De lá avistei um par de olhos acaramelados me olhando através do buraco. Felizmente, ele já chegara.
  — E aí Hazel? Sentiu minha falta?
  — Não sabe o quanto! Quase morri de tanta saudade... — disse irônica, contudo com o sorriso deixando claro o quanto eu estava feliz em vê-lo. Sorriso este que foi retribuído por ele.
  — O que você mais gosta de fazer?
  — Mexer no celular,óbvio. — ao ver minha testa franzida, ele se surpreendeu. — O que? Você não sabe o que é um celular? Como você consegue viver sem um? É a melhor coisa do mundo!
   Ele falou com tanta admiração desse tal de objeto que eu me vi querendo conhecer um. Deveria ser algo incrível para Justin falar dele assim com tanta empolgação.
  — Como ele é? O que faz? Quero detalhes.
  — Existem de vários tipos e formas. Grande, pequeno, grosso, fino, preto, branco. Ele exerce diversas funções: tira fotos; grava videos; faz ligações; envia mensagens; conecta à internet e, contém vários jogos e aplicativos.
   Eu estava literalmente de boca aberta. Aquele aparelho parecia ser realmente incrível. Ele fazia coisas que eu nem sequer imaginava ser possível.
   Justin retirou os olhos do buraco, encarei o ato com estranheza. Será que ele havia ido embora ou tinha achado minha reação muito idiota e exagerada? Segundos depois, ele voltou com algo na mão que provavelmente tinha retirado do bolso. Era um objeto o qual eu nunca vira antes, seria isso um celular? Creio que sim.
  — Celular... Hazel, Hazel... celular. — disse Justin, apresentando-nos.
  — Palhaço. — eu ria de sua maneira debochada. — Posso pegá-lo?
  — Não, melhor não. Seria muito difìcil nos beijarmos nesse pequeno buraco. — fez piada.
  — O celular, idiota! — tentei me manter séria, mas vacilei e um meio sorriso escapou dos meus lábios.
  — Pode, entretanto tenha cuidado. — notei que essa foi uma das poucas vezes em que ele realmente falava sério,o que me levava a crer que este celular era importante para ele.   
   Ele me entregou o aparelho. Vi-me sem saber o que fazer. Como se mexia naquilo? O que cada tecla fazia?
  — Justin, como mexe nisso? — fui obrigada a perguntar.
  — Você deve ser a única pessoa que eu conheço que não sabe mexer num celular. — ele disse, rindo. — Primeiro, aperte a tecla do lado e o celular desbloqueará. Depois, pedirá uma senha e você digitará JB18. A partir daí, aparecerão vários aplicativos e você escolherá qual quer abrir. Tem um nome em baixo de cada que um facilitará as coisas para você.
   Eu fui fazendo o que ele disse. Quando chegou a hora de escolher o que eu queria abrir, cliquei em um tal de WhatsApp. O aplicativo abriu e apareceram inúmeras mensagens e pessoas. Então, apertei na primeira.
   "Vamos na festa hoje?Quem vai tocar é aquele DJ que você gosta."
   A mensagem era de uma mulher linda.
  — Louise é sua namorada? — perguntei.
  — Não, ela é minha amiga, mas a gente fica de vez em quando... Espera aí, como você sabe dela? Ah não, você está vendo meu WhatsApp? — assenti. — Pare agora! — ordenou, irritado.
  — Achei que você tivesse deixado eu mexer no seu celular. — rebati irritada com sua súbita mudança de ideia.
  — Eu deixei, no entanto não pensei que você tivesse pedido isto para ver minhas conversas pessoais, e, sim, para satisfazer sua curiosidade sobre como era um celular.
  — Quando eu entrei nesse aplicativo, eu não sabia que era um aplicativo de mensagens. Todavia, mesmo assim, peço desculpas por invadir sua privacidade. — Pedi, mais calma.  
  — Não precisa se desculpar, acho que exagerei um pouco também. Não tinha como você saber. Pode continuar a mexer, contanto que não entre nos aplicativos de mensagens.
— E quais seriam eles? — indaguei para não repetir o erro.   — Apenas Menseger e WhatsApp. Twitter pode entrar, desde que não vá nas mensagens diretas.
   Decidi começar por ir ao aplicativo que ele mencionara. Abri-lo e apareceu uma foto pequena do Justin, com uma foto de um maravilhoso castelo atrás, e, embaixo, um nome: @PrincipeJustin. Estava escrito que ele tinha dez milhões de seguidores.
  — Você é um príncipe? — tentei confirmar.
  — Hm... Acho que você descobriu meu segredo. Sim, eu sou o príncipe de Verde Claro.
   — Esse castelo ali atrás é o seu?
   — Sim.
   — Uau. Ele é fantástico! Nunca vi um igual.
   — Você nunca viu um castelo? Aí não tem monarquia? — questionou, espantado.
  — Claro que já, eu moro em um. Também sou uma princesa, porém, perto deste castelo, o meu não passa de um simples casebre.
    Pode parecer que eu estava exagerando, mas não. Aquele castelo era muito luxuoso por fora, imagine então como seria por dentro. Não que eu me importasse com isso, apenas estava admirando a sua beleza.
  — Que coincidência! Nunca poderia imaginar. — notei um tom surpreso.
  — Pois é. Sempre me dizem isso, que não pareço em nada com uma princesa e tenho que me arrumar mais, ter boas maneiras... — Justin me interrompeu.
  — Não, não falei neste sentido. Você parece perfeitamente uma princesa, é linda como uma. O que eu nunca poderia imaginar é o fato dos herdeiros de Verde Claro e Verde Escuro se tornarem amigos, visto que, aparentemente, são reinos inimigos. Aliás, acho que ninguém imaginaria. Que mundo louco!
   — Ah sim. — corou imediatamente. — Eu não contei antes porque não vi necessidade. Além do mais, eu queria ao menos uma vez ser tratada, bem ou mal, pelo o que eu sou e não pela minha pretensão ao trono. O que me fez gostar de você foi o fato de me tratar bem sem saber quem eu era.
   — É realmente difícil achar amigos verdadeiros quando se é da realeza, estou feliz por o tê-la.
  — Ah, queria tanto te abraçar agora. Odeio esta muralha.
  — Eu também. Contudo, quem sabe um dia ela é derrubada?
  — Seria isso possível?
  — Talvez a gente possa ajudar a derrubá-la. Mas, para isso, teremos que descobrir o motivo pelo qual ela foi criada
  — Eu perguntarei isso a todas as pessoas aqui. Uma delas terá que me dizer a verdade. — declarei, empolgada.
  — Eu também farei isso. Encontrar-nos-emos semana que vem para conversar sobre as respostas?
  — Sim, claro. Até breve então.