História Here Today - In my life - Capítulo Único

"E se eu disser que eu realmente te conhecia bem,
qual seria sua resposta? Se você estivesse aqui hoje...”

Paul McCartney

Quando eu era menor, bem menor do que hoje, e nem sonhava em ser fã dos Beatles, costumava ouvir uma música que sempre me fazia pensar no homem perfeito,  que eu nem sabia se existia de verdade, mas se o encontrasse perdido por aí iria reconhecê-lo pelo simples fato de ser do mesmo jeito que eu sou, com o olhar de um menino, jeito de palhaço e um louco sonhador.

Então um dia, muitos anos depois de já ter percebido que o homem perfeito não existe, sendo apenas uma invenção para vender histórias, quando voltei a escutar essa música que eu já nem lembrava mais que existia, percebi que tinha conhecido alguém exatamente desse jeito.

Ele não era perfeito, pelo contrário, era um idiota completo! Algumas vezes era tão engraçado que me fazia morrer de rir e outras vezes tão irritante que me fazia querer bater nele, mesmo sabendo que eu jamais poderia. Mas ainda assim, de alguma forma estranha, eu conseguia entender aquela mente perturbada e amar incondicionalmente cada uma de suas qualidades e defeitos.

Algumas pessoas costumam perceber, assim do nada, que alguém próximo demais é a pessoa perfeita para estar sempre ao lado delas e nunca haviam se dado conta disso antes. Meu caso foi assim também, com a diferença que eu nunca, jamais, sob hipótese alguma, aguentaria passar muito tempo ao lado dele.

Bem, talvez até pudéssemos passar algumas horas nos divertindo com uma pizza gigante e coca-cola num domingo monótono, trocando ideias sobre o céu, a terra, a água e o ar. Ou até mesmo assistir a um filme debaixo das cobertas no sábado à noite, por que não? O que pode até parecer romântico se você pensar em um casal abraçadinho no sofá, com uma tigela de pipoca no colo, se beijando de vez em quando porque o gênero do filme agradava a um só e o outro se entediava com frequência...  

Mas gostando do filme ou não, ele com certeza iria jogar uma pipoca na minha cabeça e eu jogaria outra nele, então ele continuaria e eu, achando aquele desperdício de pipoca um absurdo, ia jogar uma almofada na cabeça dele, que por sua vez jogaria duas seguidas de volta, porque não é desses que aceita perder assim tão fácil, e no fim ia virar uma guerra com muitas risadas, até um de nós se render por cansaço.

Infelizmente, ele nunca esteve aqui comigo, tudo o que eu sempre tive foram lembranças, vídeos, canções e relatos de várias pessoas que já estiveram ao lado dele. Mas o conhecendo bem do jeito que conheço, tenho certeza de como seria compartilhar vários momentos com ele e às vezes chego até a pensar que estivemos em décadas, continentes e vidas separadas porque ninguém nesse mundo aguentaria dois de nós juntos!

Também não acredito muito em outras vidas, mas se elas existem, espero que na próxima estejamos juntos de algum modo. Acho que ele seria um ótimo irmão, daqueles bem chatos, sabe? Ou um pai loucão, que nunca está por perto, mas quando aparece é aquela festa! Mas convenhamos que nenhuma casa ficaria de pé com nós dois ali dentro, então ele provavelmente seria apenas aquele amigo que mora ao lado e a gente se fala o dia todo pela Internet, porque a preguiça de sair da cama para fazer uma visita é sempre mais forte que a gente...

E agora, voltando à dura realidade, devo dizer que esse menino maluquinho está longe de ser meu Beatle ou mesmo ser humano preferido. Mas ele é alguém que eu consigo amar demais, mesmo o odiando com todas as minhas forças às vezes!

Sem dúvidas, sempre serei grata por ele ter contribuído para que duas das coisas que mais amo nesse mundo existissem, o primeiro foi aquele gênio musical chamado John Charles Julian Lennon que ele deixou como herança nesse mundo. E a segunda é o legado da maior banda de todos os tempos, que começou com um sonho dele.

Se ele estivesse lendo isso aqui, provavelmente ia dar uma boa gargalhada e dizer que fazemos parte de mundos completamente diferentes, muito menos acreditaria se eu dissesse que realmente fiquei feliz por saber que ele esteve nesse mundo, mesmo o criticando tanto. Mas, mesmo que nunca o tenha conhecido pessoalmente, eu sei que hoje ele está presente ao menos em meu coração enquanto escrevo cada uma dessas palavras e isso já é o bastante para sentir que estamos unidos de alguma forma.