Teus chifres saem da escuridão, e eles são o próprio breu, sua pele é a doença e seus olhos são a morte.
Surge das trevas, quando o céu se fecha em nuvens densas e o chão é maltratado pela água cruel, impiedosa natureza, é o fogo que mata e o mar que afoga, é o lobo que caça e o homem que destrói.
Torna-me em escuridão também, serei eu digna de teu poder?
Me joga no abismo do lado esquerdo, me faz deitar com os bodes e cometer atrocidades. Eu já não me importo, eu já desejo a dor, encontra alívio para a minha mente perturbada, deturpada e perdida no sangue alheio, no assassinato e no cinismo.
Encontra meu descanso na agonia de terceiros.
Quero ser parte da tua legião, teu exército de soldados mortos, teus filhos cegos e teus corvos despenados. Serei fiel a ti, como sou fiel a minha tristeza e melancolia.
Deus do submundo, existiria algum mais justo que tu? Não.
Pai dos esquecidos, dos mortos e feridos, dos entorpecidos, dos desistentes e dos mal entendidos, dos depressivos, esquizofrênicos e insanos. Pai dos bodes negros e dos insetos indesejáveis, das pragas e dos odiados, aquele que acolhe quem os outros fingem não ver.
Deus do sarcasmo, da frigidez e da mentira, Deus da dura e cruel realidade. Reflexo do meu ser, me toma, me possui, me cura com pragas e pestes.
Se eu enfiar espinhos na minha carne até que ela sangre, serei invencível, a dor é passageira, a glória é eterna. Erva daninha que asfixia as rosas, acaba com aquela beleza enjoativa e cliché, transforma jardim em cemitério.
Monótono, apático e viciante, és uma rotina terrivelmente pragmática, uma doença que mata devagar, um transtorno que desconheço, uma música clássica, trágica e triste, a cultura de um povo esquecido, o pó que sobrou das estátuas dos Atlantes, que espalha-se imperceptível no oceano.
Corpos de meninas desaparecidas estendidos sobre o chão sujo de uma van qualquer, o olhar de horror de quem perdeu a inocência cedo demais, os líquidos que se derramam sobre elas, corrompendo a pureza autêntica de ser criança, as mãos tremendo e a garganta ardendo de gritar. As teorias de Conspiração e a neurose dos ansiosos, o cansaço infinito dos depressivos e as vozes dos loucos. Um feto que nasceu morto, a mulher que aborta e morre no azulejo de um banheiro público, a hipocrisia dos religiosos, uma poesia sem rumo e a crise de criatividade. A mulher estuprada e os inocentes assassinados pelos tiranos, e também o rebelde que morre cantando liberdade, és o estágio mais crítico da aceitação, da realidade e da verdade, a prova de que a ignorância é uma bênção. A notícia que ninguém quer ler e a cena que ninguém consegue ver, a essência nojenta e vil da humanidade, as moscas que rodeiam a carniça, os urubus que sobrevoam os céus anunciando a morte, os tubarões que vivem dos restos e os vermes que acabam com os corpos.
Hades.
Tráfico de órgãos de crianças pobres
Hades.
Garotinhas vendidas como objetos.
Hades.
O ventre impuro.
Hades.
És o lado do mundo que a mídia esconde.
Que nós negamos.
Que ninguém quer
Mas continua lá
Vivo, pulsante, real.
Palpável.
Me leva para os labirintos do Sheol, eu prefiro enfrentar o Minotauro a viver aqui.
Eu prefiro cair no abismo de Chronos a viver aqui, meu Deus.
Me salva, eu prefiro amar com os demônios a odiar com os homens.
Lutarei contigo, servirei a ti.
Desde que me tire daqui
E me devolva
A preciosa ignorância
Que tanto conforta a humanidade.
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