História Hey, soul sister - Um novo sentimento

Passaram-se algumas semanas desde que eu cheguei ao Japão. Meu relacionamento com os meus pais e a Natsu está ótimo e vejo que estão se esforçando ao máximo para que eu me sinta em casa. As aulas em um novo colégio começam amanhã, o que me deixa nervoso, estudei durante toda minha vida com as mesmas pessoas, além do mais existem várias diferenças entre o sistema de ensino russo e o sistema de ensino japonês. Devo ficar calmo, mas minha cabeça parece querer explodir. Desço pra tomar um copo da água, suspiro, me encontro numa situação onde não sei o que esperar, não sei o que vai mudar e isso é complicado demais até pra uma pessoa como eu. Murmurar que as coisas vão tomar um bom caminho e se resolverem não parece funcionar no momento. Sempre fui alguém ansioso com mudanças. Ainda mais mudanças tão repentinas.

-Filho?- minha mãe adentra a cozinha

-Oi- respondo com um meio sorriso

-Está tudo bem?

-É... Eu acho- largo o copo da água dentro da pia- Acho melhor eu subir, certo? Longo dia amanhã.

-Durma bem e boa noite filho.

***************************************************************************

7h22. ATRASADO. Pro primeiro dia de aula. Levanto correndo vestindo o uniforme de qualquer jeito. Isso não é um bom sinal. Coloco o celular no bolso e o fone nos ouvidos. Desço as escadas correndo e me dirijo à cozinha.

-FILHO?- Meu pai abaixa o jornal e me encara- Achei que já tivesse saído para ir à escola.

-AFORDEI ATRASADFO- falo com a boca cheia de torrada- Tenho que ir, pai, a gente vê mais tarde- digo limpando a boca enquanto saio correndo em direção à escola. Chego e de fato estou super atrasado. A cerimônia de abertura já deveria ter acabado a essa altura. Encaro os papéis e vejo o número da sala e da turma. Dirijo-me até o local indicado e abro a porta, todos os olhares se voltam a mim.

-Me desculpe- falo em reverência vendo o professor me encarar- Eu... - tiro rapidamente o papel do bolso- sou Hinata Shoyo. Não sou daqui. Sou novo na cidade e...

-Certo Hinata- ele diz passando os olhos pelo papel- Se dirija ao seu lugar, darei algumas instruções a vocês.- me sentei e logo o professor começou a falar- Bom, meu nome é Kazuichi Arai. Sou o professor de educação física- ‘’ótimo’’ penso comigo mesmo, educação física logo pela manhã- Não pensem que irei pegar leve, quero ver cada um de vocês dando o máximo de si por aqui. Serei também o representante de turma, espero que possamos nos dar bem, certo? Alguém aqui pratica esportes? Pretende entrar em algum clube?- logo alguns garotos e cerca de cinco garotas erguem as mãos, o professor vai perguntando ao garoto sentado ao meu lado.

-Certo qual o seu nome?

-Kageyama Tobio- ele diz já levantado

-Qual seria o clube de seu interesse?

-Vôlei, Kazuichi sensei.

-Ótimo, deixarei avisado ao Takeda e ao Sawamura do seu interesse. Obrigado- logo ele passa aos próximos garotos. Vôlei é? Apesar de já ter jogado algumas vezes na Rússia nunca levei muito a sério. Yakov vivia repetindo que eu era bom em pulos apesar da baixa estatura e que ele achava que eu me daria bem praticando o esporte. Acabei por não praticar nada, até porque a pratica de clubes, competições e coisas do tipo não era algo muito comum na Rússia. Sabia que isso mudava no Japão, era uma pratica comum e à qual todo mundo levava a sério.

-Com licença- ouço alguém me chamar para me cutucar logo em seguida- Me chamo Yamaguchi Tadashi. Prazer. - ele sorri.

-Hinata Shoyo- sorrio em resposta- Muito prazer. - durante aquele início de manhã, enquanto o professor conversava com os alunos e passava os olhos por algumas papeladas, Yamaguchi e eu conversamos muito, ele me contou que se interessava por vôlei, que tinha um amigo muito próximo que infelizmente não havia ficado na mesma turma que ele e que os dois costumam praticar juntos desde pequenos, ele disse que apesar de não ser muito bom acredita que com treinamento e empenho pode se tornar uma peça imprescindível para o clube.

-E você, Hinata?

-Eu? Não pratico nada há muito tempo, não gosto muito de atividades físicas pra falar a verdade. Com exceção a corridas, é algo bom pra extravasar. - sorrio

-Ah, deveria tentar aflorar algum potencial, tenho certeza que deve ter algum esporte que lhe interesse.

-Um amigo meu me falou que com treinamento poderia ser bom no vôlei- dou de ombros- Mas sabe eu nunca dei muita bola. Até porque da onde eu venho não existem clubes ou muitas atividades extracurriculares, quem pratica costuma praticar sozinho, ou em alguma associação dos bairros.

-Legal. Você teria potencial para libero nesse caso?

-Apesar da minha estatura não sou bom em receber- rio- Pulo bem alto e tenho grande resistência. - sorrio

-Me mostre um dia. - ele responde empolgado- Se não se incomoda, de qual país você vem?

-Rússia- dou uma risada ao ver a surpresa estampada no rosto de Yamaguchi- Fui criado a vida inteira lá, mas nasci em terras japonesas.

-CERTO, TURMA- o professor interrompe antes que pudéssemos continuar a conversa- Coloquem suas roupas de educação física, já que muitos de vocês parecem não demonstrar interesse nos esportes, vamos lá fora testar esse potencial. Talvez aflore algo. - ele sorri e começa a sair da sala seguido dos alunos. Será um longo dia.

*****************************************************************************

Estamos na quadra, o professor decidiu começar justamente pelo vôlei visto o interesse de mais de um dos alunos pelo esporte. Estávamos parados enquanto ele dava instruções:

-A primeira aula será focada no vôlei, eu quero duplas- encaro Yamaguchi que prontamente entende o que quero dizer e acena positivamente com a cabeça- Duplas formadas?- ele faz uma pausa pegando a bola- Todos aqui sabem princípios básicos? Posições? Táticas?

-Sim- a turma responde em uníssono e logo todos se dispersam começando um treinamento em duplas. Acabamos treinando alguns saques.

-Certo, eu quero trocar as duplas agora- o professor falou chamando a atenção da turma- Eu vou formar elas- ele começou a nos analisar- Certo, certo, Hinata, o atrasado- ele disse me fazendo corar um pouco- e Kageyama Tobio.

Logo olhei para o lado, nossos olhos se encontraram e permanecemos ali por cerca de 20 segundos, era o garoto que estava ao meu lado na sala, certo? Kageyama resolveu quebrar a nossa troca de olhares começando a andar em minha direção

-Oi- ele disse seco e com cara de poucos amigos

-Oi- respondo não muito feliz também, que cara arrogante.

-Certo turma- Kazuichi sensei continuou- Quero que decidam alguém da dupla para levantar- Kageyama pareceu fazer uma mini comemoração ao meu lado- E o outro irá cortar, vamos lá- o professor disse já erguendo as redes. As duplas foram indo, eu e Kageyama permanecíamos num silêncio que ele resolveu quebrar

-Escuta você é baixinho- começou- E não sei se tem técnica e habilidade para cortar uma levantada minha. Seu físico também não parece ser dos melhores nesse momento- ele me encara dos pés à cabeça- Eu realmente quero demonstrar meu potencial aqui então se puder não fazer nenhuma merda e se esforçar pra acertar meu levantamento, eu agradeceria- ele disse com um ar superior e arrogante. Ele estava realmente falando assim?

-Bom, se puder não fazer qualquer levantamento porco, também agradeceria. - o encaro de canto. Parecem ter faíscas saindo de seus olhos.

-Certo, certo, próxima dupla- eu e Kageyama nos posicionamos, nunca havia me interessado verdadeiramente por algum esporte em especial, mas o jeito como esse garoto falou comigo despertou em mim algo que eu nunca havia sentido. Queria mostrar a ele meu potencial, queria mostrar a ele que eu era capaz. Mais do que isso, queria mostrar a ele que poderia superá-lo com facilidade caso assim desejasse. O professor apitou indicando que poderíamos começar. A bola chegou a Kageyama, que levantou pra mim. Por algum motivo corri e pulei com os olhos fechados. O que eu estava fazendo? Eu queria demonstrar a ele minha capacidade, mas nem se quer abri meus olhos pra observar a rota da bola e onde deveria acertá-la? Peguei impulso e pulei o mais alto que pude, senti a bola na palma da minha mão por milésimos de segundos, o que se seguiu foi o som estridente da mesma acertando a quadra do outro lado. Ecoou pelo ambiente. Abri meus olhos, todos me encaravam surpresos. Sorri quando percebi que Kageyama não era exceção. Que sensação era essa? Eu queria mais, eu queria muito mais. As coisas estariam começando a mudar?