História Inexplicável - Primeiros passos

Desde a proposta de Draco uma semana se passou relativamente tranquila, ele continuava não aparecendo muito na empresa, o que era estranho considerando o fato que tinha prometido surpreendê-la, talvez ainda estivesse pensando sobre, de qualquer forma ela não tinha um tempo livre abundante para pensar muito sobre o assunto.  Descobriu que tinha uma equipe que lhe ajudaria com a propaganda, ela apenas faria o grosso enquanto os designers especializados nisso davam os retoques finais e ela ajudava, dando conselhos aqui e ali de como deixar tudo melhor.

O final de semana chegou rapidamente e os pais de Hermione preocupados e corujas como sempre lhe chamaram para passar o final de semana na casa deles, ela aceitou, pois esses prometeram chamar Harry e Gina, Luna e Neville e fazer algum almoço especial. O que ela considerou ótimo, não via os todos juntos há um tempo, com toda certeza encontrá-los seria bom, uma reunião com os amigos e família era tudo o que ela precisava para descansar e aliviar a mente da tensão.

Bem cedo no sábado Hermione acordou, tomou um banho, se trocou e tomou um café demorado, como não fazia a um tempo, dispensando o comum chá. Depois de tudo isso pegou a mochila que havia preparado na noite anterior e foi até a garagem preferindo pegar o carro, afinal seus pais sabiam que ela não havia vendido e ela queria evitar as perguntas, não pela primeira vez pensou se deveria vendê-lo e enfrentar os transportes públicos de vez.

Meia hora depois ela já estava estacionando na frente da garagem dos pais e descendo na casa na qual costumava morar, pegou a chave de onde ela costumava ficar escondida e entrou, tirando os sapatos em seguida.

Bichento apareceu logo depois, parecendo mais velho e gordo do que a mulher se lembrava, ela ficou de joelhos no chão e acariciou o pelo alaranjado do gato que ronronou para ela, depois da separação, Bichento havia preferido a casa dos pais ao apartamento de Hermione que respeitou essa decisão, se Bichento achava que a casa onde teria toda atenção e salmão fresco sempre que quisesse era melhor ela não poderia julgar.

–Ei garoto, você está engordando cada vez mais, não é? Daqui a pouco está uma bola de tão gordo.

Ela pegou o gato no colo e foi até a cozinha onde sabia que a mãe estaria. E como de praxe lá estava ela, limpando e arrumando alguma coisa enquanto cantava baixinho uma melodia conhecida.

Hermione largou Bichento e a mochila sobre a bancada da cozinha antes de abraçar a mulher, que inicialmente se assustou, pois estava de costas, mas depois virou para retribuir o abraço.

–Como você está filha?–Perguntou enxugando as mãos no guardanapo.

–Estou bem, valeu mamãe e o papai, onde está? – Hermione se sentia uma criancinha chamando seus pais de papai e mamãe, mas ali ela não ligava e eles também não, o que era ótimo considerando que ela não pretendia parar.

–Ele foi comprar algumas coisas para preparamos o nosso almoço, afinal os meninos vão almoçar aqui hoje, não é?– A castanha mais velha sorriu.

Para sua mãe, sendo garoto ou garota, mais velhos do que ela se lembrava ou não os amigos de Hermione sempre seriam “Os meninos”. Depois de conversar mais um pouco com sua mãe e lhe contar detalhadamente sobre o trabalho ela subiu e foi para seu antigo quarto, com Bichento em sua cola. Colocou a mochila com as roupas para passar o final de semana em cima da cama. Olhou seu quarto, que não estava tão empoeirado como de costume e checou o celular, Rony não lhe ligava há alguns dias, ela esperava que ele estivesse se conformado e seguido em frente, então ela faria o mesmo.

Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo e colocou roupas mais confortáveis antes de descer para ajudar sua mãe a arrumar a casa, quando seu pai chegou do mercado ela o abraçou e juntos os três ficaram conversando, cozinhando e fazendo as brincadeiras que costumavam fazer quando Hermione era apenas uma garotinha, em determinado momento ela suspirou feliz, olhando seus pais discutirem por alguma coisa boba e aleatória e depois darem um selinho cúmplice, sua vida estava voltando aos eixos e ela adorava isso.

Depois de casa arrumada e mesa posta, Hermione subiu para tomar um banho por insistência de sua mãe. Enquanto ela se arrumava viu pela janela que seus amigos já estavam chegando para o almoço e desatou a sorrir. Vestiu-se rapidamente deixando os cabelos molhados soltos, colocou um vestido florido e mai leve que as roupas pesadas que usava no dia a dia e desceu para recebê-los.

Luna foi a primeira a chegar, com Neville a sua cola. Ela vestia uma saia longa de um verde musgo e uma blusa branca, usava seus cabelos loiros esbranquiçados amarrado para trás com uma bandana exótica de nabos, além de brincos laranjas e grandes. Neville estava vestido normalmente e bem mais simples que a namorada, calça cargo, blusa confortável, sapatos combinando. Era incrível o contraste que os dois tinham e ainda mais fofo era o fato de se completarem.

Harry e Gina chegaram logo depois, Gina usava um macacão jeans escuro e uma blusa listrada de branco e cinza que deixava sua barriga já protuberante bem marcada e Harry estava bem menos formal que o costume, com os cabelos bagunçados, sandálias e blusa de flanela.

Cada um trouxe uma sobremesa diferente que foi colocada sobre a mesa. Começaram a conversar aos poucos colocando o papo em dia, até a mãe de Hermione chamá-los para comer, como costumava fazer quando eles eram pequenos e passavam vários finais de semana ali.

Em determinado momento retomavam a conversa enquanto comiam.  Falando sobre várias coisas, até o assunto chegar ao casal recém formado.

–E então Neville, quando vai pedir a Luna em casamento?–Perguntou Gina com seu costumeiro sorriso.

Neville engasgou com o suco que tomava e Luna bateu levemente em suas costas rindo.

– Eu...

–Você realmente acha que pode ficar circulando por ai com minha amiga, dormindo na casa dela e não terem nada? Cuidado Neville, eu e Mione podemos fazer uma cirurgiã de castração enquanto você dorme – ameaçou.

Neville ficou muito corado o que fez todos na mesa rirem, Luna fez algum comentário sem sentido baixinho apenas para Neville escutar e esse sorriu.

–Nada de sussurros conspiratórios. –Ralhou Gina brincando.

–E vocês dois?– Neville teve coragem de perguntar depois do suco ter descido garganta abaixo.

–Eu e Harry estamos muito bem, ora, já somos casados, temos um filho a caminho. Tudo maravilhoso. – A ruiva ergueu a sobrancelha, provocando alguém a falar o contrário.

Luna revirou os olhos.

–E você Hermione, como anda?– Perguntou Harry querendo incluir a amiga na conversa.

Hermione o fuzilou com o olhar. Já havia dito inúmeras vezes que não tinha nenhum comentário a fazer sobre sua vida amorosa horrível, e seu claro “dedo podre”, mas Harry não podia negar que passar tempo de mais com a ruiva estava deixando-o tão curioso quanto ela. Os pais da castanha que até então conversam entre si olharam para filha esperando uma resposta.

“Ótimo”–Ela pensou.

–Bem, vocês sabem que eu não tenho vida amorosa faz um tempinho, afinal estou me separando.

Dessa vez foi a vez de Gina revirar os olhos.

–Totaaaalmente mentira. –Esbravejou. – Você não contou a eles sobre o Malfoy?

Todos olharam para Hermione assustados, Gina riu satisfeita. Sério, Hermione a amava como irmã, mas às vezes tinha vontade de matá-la. Talvez assim herdasse suas roupas estilosas e pararia de se preocupar em comentários irônicos pelo resto da vida.

–Ginerva Molly Potter, eu já disse que eu não tenho nada com ele!

–Você dormiu na casa dele!

–O que?–Perguntou um Harry confuso.

–Vai conta!–Falou Gina.

Hermione fuzilou o casal Potter com os olhos novamente antes de começar a contar a história, deixando de fora a proposta de Draco, todos eles pareceram tão surpresos quanto Hermione e adicionaram comentários engraçados e alertas para a mulher, que rapidamente ficou com a paciência cheia da atitude exagerada deles.

O resto do almoço transcorreu bem, comeram mais do que deviam e jogaram muito papo fora. Foi extremamente divertido conversar com todos, Hermione não ria daquele jeito há muito tempo.

Quando terminaram todos ajudaram a limpar a cozinha e lavar as louças, depois disso os pais de Hermione resolveram sair para dar um pouco de privacidade aos amigos, que sentaram na sala e continuaram a conversar por um bom tempo. Luna fez uma pequena apresentação de uma dança estranha e cantou, tinha uma voz incrivelmente bela, apesar de não cantar muito.

Como foram os primeiros a chegar, também haviam sido os primeiros a sair, Neville e Luna se levantaram e Hermione os acompanhou até a porta.

–Vamos visitar minha avó amanhã, ainda temos que arrumar nossas coisas. Ela insiste em conhecer a Luna. –O homem sorriu e passou a mão no cabelo. – Tenho certeza que ela vai te adorar Luna.

Neville abraçou Hermione e foi ligar o carro, dando um momento de privacidade para as duas mulheres. Luna segurou as mãos de Hermione.

–Minha mãe dizia que as coisas que perdemos sempre acabam voltando para nós, mas nem sempre da forma que esperamos. Já disse isso para o Harry uma vez, acho que foi útil para ele, talvez seja para você também. – Ela piscou.

Hermione concordou apesar de não ter entendido o que a amiga queria dizer com aquilo. Luna olhou para o carro e para Neville, parecia apreensiva, logo ela que estava sempre tão animada e saltitante.

– O que foi Luna, aconteceu alguma coisa? –Perguntou Hermione, mas depois pensou mais um pouco. – Você está nervosa por que vai conhecer a vó do Neville amanhã?

Luna remexeu a saia sem responder.

–Ela vai te amar Luna, sério. Você é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço, um pouco doidinha, com um gosto diferenciado para roupas, mas as melhores pessoas são assim, tudo bem? Além do mais você faz Neville extremamente feliz, não tem porque a vó dele não gostar de você, ela realmente, realmente vai te amar – Ela segurou a mão da amiga e a puxou para um abraço rápido.

Luna assentiu voltando ao modo animado de sempre, Hermione sorriu ao ver amiga saltitar em direção ao carro com sua saia verde musgo dando pequenas voltinhas ao seu redor.

Hermione entrou e continuou a conversar com Harry e Gina. Até que a ruiva foi até o banheiro e Harry ficou sozinha com a amiga.

–Então é verdade, você está trabalhando com o Draco Malfoy?

Hermione enrolou um de seus cachos pensativamente

–Sim, não é bem trabalhando com ele e sim pra ele... Ele é meu chefe, o mundo da voltas, não é?

Harry assentiu assumindo sua expressão de “amigo preocupado”

–Eu quero acreditar que ele mudou, mas caso ele tente alguma coisa, qualquer coisa diferente que te incomode, você pode falar comigo. Entendeu? Não me importo com quem ele seja, se ele tentar alguma coisa eu acabo com ele. –Declarou.

Hermione sorriu com a preocupação do amigo e assentiu levemente com a cabeça.

–Pode deixar. – Fez uma continência de brincadeira que fez o moreno rir. – Agora você quer, por favor, conversar com a Gina e mandar parar de ser tão paranóica? Ela esta me deixando doida.

Harry fez careta.

–Eu posso tentar, mas não vou te prometer nada, afinal é a Gina, e ela também está grávida, é difícil brigar com ela, bem mais que o de costume. – Ele coçou a cabeça parecendo constrangido.

Hermione se levantou e apertou as bochechas do amigo.

–Ela tem razão, você fica muito fofo todo preocupadinho!

Harry corou e revirou os olhos e Gina voltou do banheiro sorrindo para os dois.

–Bom Hermione, acho que já te perturbamos de mais por hoje, já vamos.

Ela deu um abraço em ambos e os levou até a porta, os dois foram embora brincando um com o outro, enquanto Harry tentava sem sucesso fazer cara de bravo para a mulher.

Hermione fechou a porta rindo dos dois, seus amigos realmente era bons juntos e felizes. Sentia até uma certa pontada de inveja disso, mas preferiu não se abalar. Como seus pais estavam fora de casa e ela não tinha mais nada para fazer aquele dia resolveu ler um dos seus romances clichês empoeirados.

Pegou uma xícara de chá gelado na cozinha e seguiu para seu quarto, escolhendo entre tantos livros algum que lhe interessasse. Quando seus pais voltaram eles tiveram um jantar calmo e depois cada um foi até seu respectivo quarto, Hermione voltou para a  sua leitura e a noite passou assim: calma. Acabou dormindo com o livro sobre o rosto e só acordou quando o sol começou a bater nele. Ela fez careta tirando o livro da cara e se sentou na cama, ainda era muito cedo e lá estava ela, acordada em pleno domingo porque havia esquecido de fechar as cortinas.

Bufando ela levantou fechou as cortinas se jogando na cama logo depois, bolou para um lado e para o outro até perceber que não conseguiria mais dormir. Então ela apenas ficou ali, deitada esperando o tempo passar.

Ela não sabia ao certo quanto tempo ficou na mesma posição, apenas que seu braço doía por ter ficado deitada em cima dele tanto tempo. Seu celular tocou, e ela se arrastou até onde o mesmo estava para atendê-lo, no visor um número desconhecido, fazendo careta ela atendeu.

–Alô?– Perguntou ainda sonolenta.

–Desculpe Granger, eu te acordei?

Hermione gelou no mesmo momento ao ouvir a voz do outro lado, seus sentidos adormecidos despertaram.

–Não...

–Ótimo, porque pretendo colocar meu plano em pratica hoje para te mostrar que mudei.

–No domingo?– Ela perguntou preguiçosa olhando o relógio– As 06h30min da manhã, sério?

–Muito sério, é claro se você não quiser vir eu não vou insistir muito.

–Já estou acordada mesmo, tudo bem. – Hermione se levantou. – Aonde vamos no nos encontrar?

–Eu te pego, apenas me diz onde você está.

Hermione passou o endereço para Draco com uma pulginha atrás da orelha.

–Como sabe meu número, mas não meu endereço?–Ela pergunta.

Uma risada fraca do outro lado da linha.

–Li sua ficha, lá tinha apenas seu número, senão eu estaria agora na frente da sua casa para te convencer a ir comigo.  Você tem menos de uma hora pra se arrumar, seja rápida e coloque roupas simples, onde vamos não queremos chamar atenção.

Sem outras explicações ele desligou, Hermione ficou parada encarando o celular tentando entender o que diabos tinha acontecido ali.

Sem outras opções ela resolveu fazer o que ele havia pedido, tomou banho e colocou a roupa mais simples que encontrou em sua mochila, uma saia preta com uma blusa de manguinhas cinza com o detalhe de estrela preto, meias brancas e sua botinha confortável, amarrou um casaco fino na cintura, com o clima de sua cidade, era sempre possível pegar uma chuva. Desceu as escadas fazendo o mínimo barulho possível, já que seus pais ainda não tinham acordado. Deixou o café da manhã pronto e colocou comida para Bichento, que já fazia seu show se esfregando em suas pernas e miando cada vez mais alto.

 Depois de tomar café e escovar os dentes Hermione deixou um recado grudado na geladeira da cozinha avisando que iria sair e sentou na sala para esperar que ele, depois de um tempo o tédio começou a bater e ela começou a mexer no celular e olhar as redes sociais, coisa que não fazia há algum tempo, estava boa parte do tempo ocupada de mais para isso.

Uma mensagem chegou ao seu celular “Estou aqui”. Ela guardou o celular no bolso e sem saber o que esperar saiu.

Draco como prometido estava lá fora, com seu carro caro parecendo deslocado ali, naquele bairro de classe média, onde os carros não podiam valer mais que a casa, caso contrário a renda da família ficaria comprometida. Ele abaixou a janela e sorriu lá de dentro.

–Vamos mais rápido, Granger! Nos não temos tempo a perder.

Hermione revirou os olhos antes de entrar no carro encarou Draco com as sobrancelhas erguidas tentando parecer indignada.

–Para onde vamos?– Pergunta.

Draco está usando uma roupa bem simples que não combina em nada com o ambiente luxuoso do carro, seus cabelos estão bagunçados e ele havia tirado a barba, o que lhe deixava com o ar extremamente jovial.

–Você vai ver. –Falou ligando o carro soando misterioso.

Hermione notou pelo retrovisor que no banco de trás havia algumas sacolas com aparência pesada.

A viagem seguiu até que tranquila, com um silêncio não muito desconfortável, Hermione ficou olhando pela janela para evitar encarar Draco e principalmente não lhe fazer perguntas, pois ficaria ainda mais frustrada, já que ele não as responderia.

Draco estacionou em um local meio escondido onde não havia muita circulação de pessoas, Hermione o encarou assustada.

–Não se preocupe, não estou planejando te matar. Depois te explico o porquê disso. – Ele desceu do carro.

Mordendo os lábios para não perguntar mais nada ela desceu atrás dele. Draco pegou as sacolas do banco de trás e fechou o carro.

–Você quer ajuda?– Hermione ofereceu, já que as sacolas tinham aparência pesada e Draco carregava três.

Ele lhe encarou por um tempo.

–Não, já estou acostumado. Quando estivermos lá me chame apenas pelo primeiro nome, ok? Sei que você não gosta, mas ali dentro é necessário.

Hermione ficou sem saber o que dizer sobre aquilo, que diabos de lugar era aquele que tinham que fazer tudo tão às escondidas? Eles caminharam por um tempo, ate parar na frente de um abrigo, o porteiro sorriu e abriu o portão para Draco, lhe cumprimentando e parecendo lhe conhecer de longa dada.

–Vamos. –Ele chamou.

Estavam em um abrigo de animais, assim que entraram foram recebidos por dois voluntários que pegaram as sacolas das mãos de Draco, Hermione descobriu que dentro da sacola eram sacos de ração.

–Vou te mostrar o lugar e ai conversamos.

–Claro... –Ela falou ainda sem entender, ele havia lhe levado em um abrigo de animais para tentar surpreende-la? Uau, golpe baixo.

O lugar era grande, mas havia poucos animais atrás das grades, Draco guiou Hermione por uma porta que dava para um imenso jardim, lá muitos cachorros e gatos brincavam, alguns pareciam já conhecer o loiro e assim que sentiram seu cheiro o cercaram, abanando o rabo, pulando e tentado lhe chamar atenção. Era uma cena bonita de se ver.

Alguns animais também vinheram na direção de Hermione que acabou caindo no chão para brincar com todos eles, alguns funcionários olhavam ao longe, parecendo se divertir com a visita tanto quantos os animais do abrigo.

–Vai me falar porque me trouxe aqui?–Ela perguntou quando os funcionários conseguiram chamar a atenção dos animais chamando-os para a refeição. Que era coletiva e apesar disso não havia briga, todos muito acostumados a dividir.

–Esse lugar é meu, eu sempre quis ser médico, salvar vidas, mesmo que isso pareça meio irônico, dado meu histórico familiar, mas meu pai nunca autorizou, dizendo que era uma vergonha para família, que eu deveria continuar com os negócios e não “estragar sua reputação”. Então eu fiz o que ele disse, mas nunca me conformei realmente, por isso criei esse lugar logo após a morte dele, os animais gostam mais de mim do que os humanos, então larguei minha vontade de ser médico e salvei outro tipo de vida, pareceu justo.

A mulher encarou o loiro sem saber o que responder.

–Por que está vestido assim? E por que quer que eu te chame apenas de Draco?

–Eu criei esse lugar, mas ninguém sabe, apenas eu. Nem os funcionários sabem, para eles eu sou apenas um cara que vem uma ou duas vezes por mês entregar ração e brincar com os animais daqui. Eu custeio tudo, mesmo em um pais como o nosso existem muitos animais abandonados, dar a eles um local melhor enquanto eles se recuperam da rua e mostrar a oportunidade de terem novos donos e ganhar amor é incrível. Você é a primeira pessoa que trago aqui, a primeira que achei que se interessaria o suficiente para vir.

Hermione ficou encarando Draco embasbacada, naquele momento parecia que não havia nenhuma mascara em seu rosto, ele apenas sorria vendo os animais que ajudava. Suas roupas estavam sujas de terra e grama, seu cabelo parecia ter sido atacado por gatos (era exatamente isso que tinha acontecido), mas ele aparentava estar feliz e mais aliviado. Bem diferente do Draco vampiresco que ela tinha visto meses atrás.

O loiro se virou e viu a castanha encará-lo e como se lesse seus pensamentos disse:

–Na maior parte do tempo eu continuo sendo aquele cara recluso que você viu, mas quando eu estou aqui, sinto que estou vivo e não apenas existindo, não apenas no piloto automático. –Um suspiro– E então consegui te surpreender? – sua voz estava quase suplicante.

Hermione já estava preparada para dizer sim e algo fofo para completar, mas por que era Draco a sua companhia e conseguia estragar momentos apenas como aquela doninha irritante conseguia ele sorriu e a encarou.

–Se continuar me encarando desse jeito vou presumir que está apaixonada por mim. É claro que eu não julgaria você, se pudesse eu mesmo me encararia assim – Ele colocou a mão no queixo de Hermione com um rosto afetado, tentando fazê-la esboçar alguma reação.

Funcionou.

Ela fechou a cara tirando a mão dele dali.

–Você não me respondeu, consegui te surpreender?

–Por que não fez isso no trabalho?– Ela perguntou ignorando a pergunta e voltando seu olhar para os animais que comiam animados.

–As pessoas de lá não gostam de mim, não tem nada de impressionante para se mostrar por lá, alem do mais se eu começasse a perseguir uma funcionária do nada, eles iam presumir que estou planejando um crime e você é minha vitima– Ele sorriu irônico, mesmo parecendo ressentido com isso.

Hermione se levantou e bateu a terra das roupas ainda sem encarar o loiro.

–Tudo bem, você ganhou. Conseguiu me surpreender.

Ele também se levantou ainda tentando ajeitar o cabelo, olhando para os gatos de soslaio, como se a qualquer momento eles fossem voar novamente em seu cabelo.

–Serio? Então já podemos ser amigos e fazer uma festa do pijama? Achei que seria mais difícil te convencer, Granger.

Hermione se virou apenas para revirar os olhos para ele.

–Podemos ser amigos você conseguiu me surpreender, mas vai precisar mais do que animais e umas frases bonitinhas se quiser me mostrar que mudou.